
( imagem zastavki.com- google )
Ah, pensando assim rápido, essa é uma das minhas cinco preferidas dos anos 80. Ainda bem que Humberto Gessinger deixou de ser arquiteto, senão perderíamos belas letras como... “ um dia me disseram que as nuvens eram feitas de algodão”. E...”pra ser sincero não espero de você, mais do que educação, beijo sem paixão, crime sem castigo, aperto de mão, apenas bons amigos. Nós temos os mesmos defeitos, sabemos tudo a nosso respeito...”. “Toda forma de poder é uma forma de morrer por nada”. São muitos sucessos sempre com letras inteligentíssimas.
A gente não percebe ou não tem tempo de pensar que a vida da gente é uma verdadeira “infinita highway”. Talvez a gente não percebe porque a própria estrada não permite, não dá tempo. É uma saga. É um martelar. É uma água mole em pedra dura. É uma teimosia. Tem alegrias, tristezas, recomeço, contas a pagar, despedidas e chegadas, mais despedidas que chegadas, amor perdido, amor encontrado, amor proibido, amor que não era amor, fantasmas, anjos, sonhos, pesadelos, barreiras ofuscando, gente nascendo, morte de ente querido, emprego, desemprego, menino pensando que é homem, homem pensando que é menino, passarinho querendo voar, passarinho ferido, jardins, desertos. Ah, essa infinita highway é dura. Mas é a única que temos. Só nos resta tentar torná-la mais branda. Não precisamos passar na frente dos outros. Isso não pode ser visto como uma concorrência. É apenas a estrada da vida. Não ganha quem chega primeiro, ganha quem a vive melhor. Pra quê ser pole position se ela nem tem linha de chegada? Ela é a infinita highway. Minha bagagem é pesada, não tem problema, fui eu mesmo quem fiz. Levo na bagagem, esperança, amor, amizade, fé, retidão, perdão, abraços... e a minha poesia. Vez em quando jogo umas sementinhas às margens, ainda que eu mesmo não possa colher as flores e frutos, porque a infinita highway não espera. Pelo menos quem vem atrás pode dizer. “Passou alguém bom por aqui e deixou essa estrada florida”. E assim eu estarei com minha consciência tranquila, deitado numa nuvem branca, descansando no horizonte dessa infinita highway.
Com vocês...
INFINITA HIGHWAY ( HUMBERTO GESSINGER )
Você me faz correr demais os riscos desta highway
Você me faz correr atrás do horizonte desta highway
Ninguém por perto, silêncio no deserto
Deserta highway
Estamos sós e nenhum de nós sabe exatamente onde vai parar
Mas não precisamos saber pra onde vamos, nós só precisamos ir
Não queremos ter o que não temos, nós só queremos viver
Sem motivos, nem objetivos, nós estamos vivos e é tudo
É sobretudo a lei
Dessa infinita highway
Quando eu vivia e morria na cidade
Eu não tinha nada, nada a temer
Mas eu tinha medo, medo dessa estrada
Olhe só, veja você
Quando eu vivia e morria na cidade
Eu tinha de tudo, tudo ao meu redor
Mas tudo que eu sentia era que algo me faltava
E à noite eu acordava banhado em suor
Não queremos lembrar o que esquecemos, nós só queremos viver
Não queremos aprender o que sabemos, não queremos nem saber
Sem motivos, nem objetivos
Estamos vivos e é só
Só obedecemos a lei
Da infinita highway
Escute, garota, o vento canta uma canção
Dessas que uma banda nunca toca sem razão
Me diga, garota: será a está numa prisão?
Eu acho que sim, você finge que não
Mas nem por isso ficaremos parados
Com a cabeça nas nuvens e os pés no chão
"Tudo bem, garota, não adianta mesmo ser livre"
Se tanta gente vive sem ter como comer
Estamos sós e nenhum de nós sabe onde vai parar
Estamos vivos, sem motivos
Que motivos temos pra estar?
Atrás de palavras escondidas
Nas entrelinhas do horizonte dessa highway
Silenciosa highway
Eu vejo um horizonte trêmulo, eu tenho os olhos úmidos
Eu posso estar completamente enganado
Eu posso estar correndo pro lado errado
Mas "a dúvida é o preço da pureza"
É inútil ter certeza
Eu vejo as placas dizendo
"não corra, não morra, não fume"
Eu vejo as placas cortando o horizonte
Elas parecem facas de dois gumes
Minha vida é tão confusa quanto a América Central
Por isso não me acuse de ser irracional
Escute, garota, façamos um trato:
Você desliga o telefone se eu ficar um pé no saco
Eu posso ser um Beatle, um beatnik, ou um bitolado
Mas eu não sou ator
Eu não tô à toa do teu lado
Por isso, garota, façamos um pacto
De não usar a highway pra causar impacto
Cento e dez, cento e vinte, cento e sessenta
Só prá ver até quando o motor aguenta
Na boca, em vez de um beijo, um chiclet de menta
E a sombra do sorriso que eu deixei
Numa das curvas da highway