ESCREVER É DIVINO!

ESCREVER É DIVINO!
BONS TEMPOS EM QUE A GENTE PODIA VOAR. ERA MUITO BOM SER PASSARINHO.

CAMINHOS DE UM POETA

CAMINHOS DE UM POETA
Como é bom, rejuvenescedor e incentivador para o poeta, poder olhar para trás e ver toda a sua caminhada literária, lembrar das dificuldades, dos incentivos e da falta deles, da solidão de ser poeta e do diferencial que é ser poeta. Olhar para trás e ver tudo que semeou, ver uma estrada florida de poesias, e dizer: VALEU A PENA! O poeta vai vivendo, ponteando, oscilando, e nem se dá conta da bela estrada que escreveu. Talvez ele não tenha tempo porque o horizonte o chama, e o seu norte é... escrever... escrever... escrever. Olho hoje para trás... não foi fácil, mas também ninguém disse que seria. E eu sabia que não seria, ser poeta não é fácil, embora seja lindo. Contemplo a estrada que eu fiz, e digo com orgulho quase narcisista: Puxa... como é linda minha estrada!

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

VAMOS DANÇAR?

Veja, menina !
O horizonte que se descortina
nos convidando a voar nesse sonho azul
a fazer o amor maior do mundo,
maior que o próprio céu .
O arco-íris como um véu
nos coroa, nos celebra, nos festeja.
Veja, menina, veja !
A felicidade é ali, é agora.
Vamos sem demora.
Vamos beijar, no espaço infinito... como é o amor,
dê-me seu braço, vamos dançar sem pudor.
E se a noite chegar,
estrelas vão se afastar
para verem duas estrelas a bailar.
Cúmplice e testemunha, a lua cheia
e nosso beijo, ela clareia
até a dança terminar.

CHAMPANHE


( imagem google )

hoje vou de champanhe

Quero champanhe pra beber,
pra reviver... em tragos suaves,
saborear você.
Luzes apagadas, corações acesos.
E antes que eu me refaça
você me pede outra taça.
Acho que vou me embriagar
no seu gosto de champanhe
e que você me acompanhe,
nesse trago, nesse afago.
Nesse sonho com você,
nesse afã de se ter.
E antes que você se refaça ,
eu quero outra taça.
Luzes apagadas, almas acesas,
mutuamente presas...
do mesmo abraço,
mesmo sentido, mesma direção,
numa só razão.
E antes que a gente se refaça
servimo-nos outra taça.
E que nunca se acabe o champanhe
e você me acompanhe,
nesse afago, nesse afã
trago por trago,
até amanhã de manhã.

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

PAIXÃO E VINHO


( imagem 4dp-blogspot.com)
Vinho que enobrece
que agita e inebria
que o desejo enaltece.
Se algo muda da água para o vinho
é porque o vinho é mais gostoso,
pode até ser perigoso...mas aquece.
Paixão que esquenta
a cada trago o calor aumenta,
faz perder o juízo, mas na vida tudo é preciso.
Existem inferno e paraíso,
inverno e verão, amor e solidão.
Dos lados eu prefiro o mais quente
pois, onde há um fogo ardente
pode ser simplesmente o sol
revelando um lindo arrebol.
Não afaste de mim esse cálice,
o cálice do amor
que me agita e me acalma,
inebria e orienta
que eu bebo e que me bebe.
Esquenta tão rápido que o coração não percebe.
Aí é tarde.
O sangue ferve, a chama arde.
É paixão e é fogo, naturais do jogo,
o jogo que pergunta a mim: Mais um trago?
Eu respondo: Tim Tim!

Nota: Uma chuva fina , um terraço ,uma garrafa de vinho. Isso promete

QUANDO EU TE ENCONTRAR


( imagem orbitastarmedia.com)
Quando eu te encontrar
serás rainha...
do meu dia, da minha noite
só beijos como açoite.
Também serei teu dono
Amarei-te sem perdão
ficarás trancada em meu coração.
Quando eu te encontrar
serás amada, serás amante
como nunca foste antes.
Serás menina mimada
alucinante e alucinada.
Vou pousar em tua flor
como passarinho atrevido que busca o mel,
o néctar do seu amor.
Quando eu te encontrar quero tudo.
Quero boca, quero olhos
quero teu corpo e teus cabelos .
Serás deusa... e eu obediente
atenderei teus apelos.
Quando eu te encontrar
vou ser gigante domado
vou ser menino em desatino,
deliciosamente perdido
entre braços e pernas
com tal afã
que nem veremos nascer a manhã.

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

EU NUNCA DIGO ADEUS


( imagem images.katrix.com.br )
Os nomes são fictícios.
Lúcia era pessoa difícil, metida,não combinava com ninguém. Tinha sempre pedras à mão. A ideia não foi minha, mas achei boa.Todos resolveram não mais falar com ela, isolar mesmo. Um dia cheguei para trabalhar e a vi de cabeça baixa na mesa, chorando. Com dó, me aproximei perguntando o porquê . Levantou os olhos vermelhos. “Por que as pessoas não falam mais comigo, agem como se eu não existisse”. Respondi. “Quer mesmo saber? As pessoas não se afastaram de você, você as expulsou. Você parece porco espinho, não tem lado, não deixa ninguém chegar a você. Até eu que não me importo muito com as coisas, não sei que dia posso falar com você. Já reparou que trato as pessoas que têm boas condições, com respeito e educação, mas é aos colegas diretos e principalmente, aos humildes, que trato com mais carinho? Sabe por quê? Porque essas pessoas precisam mais. A menina da cantina por exemplo, vem todo dia nos trazer café. Nós podemos ir lá, mas ela gosta de trazer e isso faz bem a ela. Pra essa gente isso vale muito. Você está grávida. Que energia ruim está passando pro seu filho! Está fazendo mal a ele. Se lhe causaram algum rancor, não lhe passe essa herança. Nem os animais vivem sozinhos.Você está envelhecendo precoce e não sabe”. Com dificuldade, conseguiu falar. “Quem é você, afinal? Que fala todas essas coisas duras e bonitas?”. Senti o bom efeito e respondi. “Sou o Carlos. Normal. Cheio de problemas, mas gosto de viver a vida. Problemas virão sempre, mas eu não vou buscá-los. Peça a Deus para tirar de você toda essa mágoa. Isso corrói feito ferrugem e só faz mal a você mesma”. Voltou a chorar. “Isso, chore mesmo. Quem sabe é o restinho da velha Lúcia que está indo embora?”. Num esforço, murmurou. “Prometo que vou tentar, mas não espere que seja da noite para o dia, porque não é fácil. É como nascer de novo”. “Usou a palavra certa: nascer de novo. Mas se você quiser, muda amanhã mesmo. E não diga: Vou tentar. Diga:Vou mudar!”. Quase sorriu. “Vou mudar!”. O feriadão foi bom para ela. Já na terça-feira, chegou com um belo bom dia, todos responderam surpresos. Certa hora me pediu que reunisse a todos. Até o chefão geral do aeroporto, que não tinha muito a ver com nosso trabalho, foi chamado. Ela, mais chorando que falando, pediu desculpas a todos e disse que a partir dali, veriam uma nova colega. A faxineira, a quem mais maltratava, lhe trouxe um copo d’água e lhe disse. “Nunca é tarde. Seja bemvinda ao nosso meio”. Aí que ela chorou mesmo. Tudo terminado, senhor Antônio, chefão geral, me convidou para tomar café em sua sala. Me servindo, perguntou. “Você foi o responsável por isso, não foi?”. “É... um pouco”. Continuou. “Eu pensei que a Lúcia era caso perdido. Parabéns pelo que conseguiu. Recuperar pessoas não é fácil”. Agradeci. “Fiz nada demais. A oportunidade apareceu e eu aproveitei. Vi nos olhos dela que queria mudar”. E ele. “Confesso que balancei ali e olha que sou durão”. Discordei. “Se o senhor balançou, não é tão durão assim. Ninguém é tão durão assim. Mas se ficar mentalizando, fica mesmo”. Ficou me olhando e falou. “Você é muito novo para saber tudo isso”. Discordei desanimado. “E eu sei o quê? Minha vida está toda parada”. Depois de me estudar de novo, perguntou. “Vai mesmo embora pra Vitória?”. “Em breve, se Deus quiser .Estou dependendo de meu acerto que não sai. Preciso de dinheiro pra recomeçar”. Me garantiu. “Vou falar com Paulo, gerente financeiro da empresa em BH. Ele é meu amigo, seu acerto vai sair”. Pedi licença, era hora de pico e quando saía na porta, chamou de novo. “Você vai deixar uma grande lacuna. Vai fazer falta, garoto”. Num gesto de continência, falei. “Bom saber que vou deixar saudades. Sinal que valeu”. Dali uns dias o acerto saiu. Cheguei com a mochila ao trabalho. Me repreenderam por não ter avisado, queriam fazer uma festinha de despedida. “Por isso mesmo”, falei... “não gosto de despedidas. Estou vendo umas carinhas tristes e não quero ninguém triste”. O dia até correu normal. Quase. Todos trabalhando calados, menos eu que cantei o dia todo. Acho que não queria pensar. Terminado o expediente, pedi ao motorista que parasse perto da rodoviária. Me despedi de todos e desci. Dados alguns passos, ouvi Lúcia chamar. “Carlos, espera”. Me deu um longo abraço. “Nunca vou te esquecer”. Graças a Deus essa é uma das frases que mais ouvi na minha vida. Continuou. “É um adeus?”, perguntou. “Não. Eu nunca digo adeus. É um recomeço”. “Então fico tranquila, porque de recomeço você entende”. Olhei para sua barriga. “Já tem nome?”. “Não... mas tenho uma ideia”. “Deixe-me ir que vai chover. Tiau”. Não fiquei muito em Vitória. Por sorte, havia dado à Márcia, fone de minha irmã em Vitória, que chegou trazendo a notícia que era para eu me apresentar urgente em Valadares, onde iria ganhar muito mais que ganhava. Ainda disse. “A moça que ligou mandou dizer que “alguém lá em cima gosta muito de você” . Referia-se a um bordão que eu usava apontando pro céu. Incrível como as coisas vão e voltam para mim. Como ondas. Anos depois encontrei um ex colega de trabalho, que me deu notícias de quase todos e de Lúcia. Que seu filho era um adolescente, estudioso, educado... e um “menino feliz”. Outra expressão que eu usava. Para minha grata surpresa o nome dele... é João Carlos. Homenagem a mim? Não sei, não tive a pretensão, mas fiquei com a gostosa impressão que sim.

sábado, 24 de outubro de 2009

UM ANJO SEM ROSTO


( imagem google )
Eu sou um anjo...
Não me pergunte se do bem ou do mal
do cara ou coroa, do sim ou do não,
pois é tudo igual.
Depende de que lado se está para dar a condenação.
O seu não pode ser o meu sim
o seu sim pode ser o meu não.
Nas pontas de todo cordão
não se distinguem o princípio e o fim.
Eu sou um anjo...
não tente entender
se às vezes arranjo ou desarrumo você .
Confusões da mente são próprias do ser humano,
ele erra todo dia porque tenta.
A dúvida nos atenta, alimenta.
Uma força nos eleva... a rebeldia.
Foi assim que pensou Eva:
De que adianta o paraíso sem sabedoria?
A nudez sem poder ser tocada?
A timidez é uma fachada.
Por isso sigo sendo um anjo... um anjo indefinido
entre o pecado e o permitido.
Sem Madalenas, sem pedras para atirar.
Sem juiz e sem réu
no desejo de que todos virem anjos
fazendo na terra o novo céu.

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

POEMA NOTURNO


( imagem charquinho.weblog.com.pt )
O silêncio do topo das montanhas.
O vazio dos trilhos depois que o trem passa.
A fumaça que se esvai.
O seresteiro teimoso que canta pra janela fechada.
Tudo isso remete-me ao meu próprio coração... que também é noite.
Uma estrela estranha, desgarrada das demais,
chama-me de amigo.
O vaga-lume, o bêbado e eu... também somos muito semelhantes.
Não exatamente nessa ordem,
mas um brilha quando quer. O outro fala o que quer.
E o outro escreve linhas tortas .
O copo d’água alivia meus lábios, mas longe de saciar.
Tento rir da coruja desconfiada, piando para mim.
Parece perguntar o que faço nessa janela.
Vim compor um poema noturno em parceria com a insônia.
Vim ser um pouco vaga-lume porque estou bêbado de poesia.
Transcendo, extrapolo, transbordo
nesse transe, nesse êxtase.
O labirinto não me deixa muitas opções,
por isso, às vezes tenho de pular no escuro,
mas, isso não é tão perigoso,
porque eu tenho asas... asas da imaginação.
Até fiz da insônia, minha melhor amiga.

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

PSEUDO


( imagem manda-me.com)

Homenagem ao dia do poeta ( nós ), que confesso que não sabia. Como acho que todo dia é dia de poesia ainda é tempo e abraço a todos que escrevem. E também aos que não escrevem, mas deixam a poesia fluir. A poesia tem dois lados: O lado que escreve e o lado que lê, que acolhe, pois sem este, tudo seria em vão, como bolhas de sabão ao vento.Cada vez que alguém leu minha poesia, não sabe como me completou. Às vezes penso que o poeta não faz poesia. Digo isso porque tem coisas que escrevo e me pergunto. "Fui eu quem escrevi isto?". Não que seja tudo maravilhoso. Modestamente, sei que agrado a maioria, mas escrevo umas coisas esquisitas também. É que às vezes parece uma grande viagem. É como se a poesia estivesse em algum lugar, numa outra dimensão, esperando que alguém lhe sirva de ponte. O poeta tem essa antena. Obrigado, meu Deus por eu ser ponte. Nessa vida de faz-de-conta a poesia é a minha maior certeza.
//////////

PSEUDO
È tudo pseudo!
È tudo faz de conta.
A felicidade é pseudo.
A coragem é uma maquiagem,
A liberdade é uma afronta.
Quase gênio, quase louco.
Quase tudo, quase nada.
Quase estive lá.
Quase a morte, quase a sorte.
Quase um doce, quase fel.
Quase fiel, quase na lei.
Quase amado, quase amei.

Anônimo!
Pseudônimos?
Escolhi tantos a esmo. Sinônimos de mim mesmo.
Já fui... (Estrela. Passarinho aprendiz. Só um poeta só. Menino feliz)
Quase lírico.
Quase romântico, quase rebelde.
Quase satírico.
Quase lúcido, quase cego.
Só uma coisa me conforta e me completa é a certeza que carrego;
Nessa vida mais abstrata que concreta,
fui verdadeiramente poeta.

terça-feira, 20 de outubro de 2009

O SOM DE DEUS


( imagem fisofix.com.br)

O SOM DE DEUS

Tenho observado que de uns tempos pra cá, vem aparecendo de novo passarinhos e borboletas que a gente via antigamente com facilidade. Na minha infância e adolescência não existiam leis duras contra matança e caça indiscriminadas. Nem muita consciência. Era normal menino passar de bornal do lado e estilingue na mão. Eu não. Acho que fui o único menino de minha época a nunca matar um passarinho. Embora meio tardiamente, hoje existem sim, mais leis contra isso e até mesmo uma consciência maior das pessoas, com a natureza em geral. A natureza por si só, sem a interferência do homem, se recupera. E isso nos permite ver de novo pássaros e borboletas. Todos os dias, uma sabiá tem me acordado, cantando no meu quintal. Então me levanto e vou fazer minha caminhada poética. Dia desses, cinco da manhã, ouvindo várias sabiás ao longo da caminhada, me lembrei de caso antigo. Eu era rapazote. Tinha no bairro um louco que andava pelas ruas, o dia todo, cabisbaixo, sem falar com ninguém. Só comigo e mesmo assim, raro. Deve ser porque a maioria ficava lhe zoando. É preciso respeitar a loucura das pessoas. E quando eu podia lhe pagava algum salgado. Não falava direito meu nome. “Ô Caulo, me dá uma coxinha”. Eu nem sabia se ia ter dinheiro e liberava. “Ô, seu Silvestre. Pode dar a ele, pago depois”. Emprego para menor era difícil na época. Quando muito era em boteco e lava-jatos. E a concorrência era grande. Como dizia “seu” Mário. Tinha “mais menino do que gente”. Acabava pagando depois. Sobre o tal louco, era sui generis. Diziam que ele era normal, mas teve um acidente ou doença sei lá e ficou com problemas mentais. Subia num barranco e ficava de braços abertos, cantando “inglês”, segundo ele. Eu passava. “Aêê, Geraldo. Está arrasando hoje”. Sabia nome de todos os passarinhos. Eu perguntava. “Que passarinho é aquele?”. “Coleirinho”. E aquele. “Canário belga”. Pintassilgo. Cardeal. Azulão. Trinca-ferro. Sabia tudo. Eu tentava enganá-lo trocando os nomes, ele me corrigia. Mas tinha dia que estava agressivo, perigoso. Nesse dia estava demais. Gritava palavrões e tinha uma pedra enorme na mão. Ameaçava quem passava. Não cheguei de imediato, pois nunca o tinha visto daquele jeito. Falei seu nome várias vezes de longe, de olho na pedra. “Geraldo. Sou eu... o Caulo. Seu amigo da coxinha”. Nada. E tome xingamentos. Deve ter se cansado, acabou sentando no meio-fio, ainda xingando baixo. Cheguei perto e me sentei. “Que é isso rapaz? Fica brigando aí. Fazendo medo em todo mundo. Xingando, gritando. Depois vai reclamar, sua cabeça vai doer. Larga essa pedra, toma um picolé”. Não falou nada, mas deixou a pedra e pegou o picolé”. Falei. “Pedra feia. Vou jogar fora”. Finalmente, ele falou. “Pode jogar”. Mas voltou a xingar, baixinho, cada nome feio. Num desses lances de Deus, comecei a ouvir um canto. No fio do poste, um passarinho cantava lindamente. Falei pra ele. “Se você não parar de xingar, não vai ouvir uma coisa linda, que eu sei que você gosta. Para, por favor. Escuta.”. Foi parando aos poucos à medida que eu induzia. “Está ouvindo?”. Foi se desmontando, mudando fisionomia. Ficou ouvindo por muitos minutos. Olhou pra mim, depois pra cima, pra mim de novo, e eu perguntei. “Que passarinho é aquele?”. Parecendo maravilhado, pelo menos calmo, respondeu. “Sabiá. Não conhece uma sabiá?”.
E emendou balançando o dedo negativamente. “ É de Deus. Não pode matar”. Achei aquilo sensacional. Ele na sua loucura plena era mais lúcido que muita gente. Da fúria de sua loucura, ele ficou amável. Fiquei me perguntando. Será que o canto do pássaro acalmou o coitado? Acho que ela sabiá foi enviada por Deus. Os sons de Deus estão por toda parte.

O SOM DE DEUS.

De manhã pelas ruas andei
quando um som diferente escutei.
Era uma melodia de muita harmonia.
Jamais ouvi semelhante canção,
em rádios, em bares
nem nas cordas de um violão.
E eu pensei nos seres humanos.
Fiquei ali no meio da praça
domado, contagiado.
Então vi pessoas correndo pra lá e pra cá
e triste fiquei;
na multidão que passava
somente eu escutei.
E eu pensei nos seres humanos.
Como as pessoas têm pressa!
Correm tanto para ver o futuro
e não veem que o presente é mais real, mais seguro.
Não veem que a simplicidade é irmã da felicidade.
Passam por um jardim, pisam numa flor
e ainda ficam pedindo amor.
Mas eu estava encantado demais
e deixei tudo isso pra lá.
Só queria saber de onde vinha aquele som
que me trazia algo de bom
coisas que a parabólica não pode captar.
Então vi.
Não era nenhum cantor,
não era nenhum instrumento.
Era apenas um passarinho
mostrando o seu talento.

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

LUA DE TODOS


( imagem trovador.files.wordpress.com )

(Amigos, esta semana vou dedicar às minhas madrugadas. Mostrarei alguns de meus poemas noturnos. Ontem comecei com LUA DE FASES).

LUA DE TODOS

Lua, bonita cor de prata
iluminando a mata e o sono dos animais.
Mais bela que a cascata
embeleza o horizonte e os amantes lá do cais.
Lua, companheira do vigia
para ele é a guia e não cobra jamais.
que inspira os poetas
que ajuda os profetas a fazerem previsões.
Conselheira dos errantes
que incentiva os amantes a unirem os corações.
que escuta o seresteiro
que nas cordas da viola faz suas lamentações.
Lua, é o relógio do boêmio
quando ela se esconde, ele volta para o lar.
Aos coitados da insônia,
o seu visual bonito serve pra lhes consolar.
Lua, para quem vaga sozinho
ela manda os seus raios para lhes acompanhar.
- Lua,quando a coruja pia
ela mostra alegria,
com certeza já lhe viu.
Lua, de manhã o galo canta,
ele mostra a tristeza
é porque você partiu.

sábado, 17 de outubro de 2009

LUA DE FASES


(Imagem www.gazeta-rs.com.br
Por que choras,lua minguante?
Ontem brilhavas tanto.
Hoje derramas teu pranto cor de prata,
misturando às cascatas.
Tu que abrigas canções e serenatas,
és a lua de todos...não tens por que chorar.
És do poeta,do amante.
Do astronauta,do navegante.
Do insone,do boêmio.
Do cantor que não tem a quem cantar.
Do guerreiro que mata dragões.
Ah,lua mulher...
queria tanto entender tuas estações!
Tu que anseias de dia e passeias à noite
brincas de esconde-esconde entre nuvens e montanhas...
hoje estás estranha.
Noites são assim mesmo...
acendem estrelas e recordações.
Por que choras, lua menina?
Ainda minguante, és vibrante.
Pergunta às estrelas ao redor.
Teu brilho ainda é maior.
Sei que és mulher e vives de fases.
És diferente,inconstante ,inconseqüente,
amanhã estarás cheia novamente.
/////////////////////////////////////////////////////////////////
Nota: A insônia é a melhor amiga do poeta

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

ARCO-ÍRIS


(imagem google )
Se o branco é paz,
se o amor é azul,
se o verde é esperança,
e o vermelho é paixão...
eu tenho um arco-íris quase completo no coração.
E meu arco-íris é imenso
cobre todo o espaço pra todo mundo ver
que meu abraço é forte, é intenso
é assim que eu sei querer.
Mas para ficar completa essa aquarela
só me falta a cor dos olhos dela
onde eu quero me ver.

RECADO AOS AMIGOS

Não sei porquê, mas não estou conseguindo comentar blog de ninguém hoje. O quadro de comentário mensagem está voltando quando mando enviar. Talvez durante o dia normalize. Um abraço a todos

ESSE TAL DE EGO


Tentei encontrar o autor desta fábula, até na internet, para citar autoria, mas não consegui. Eu a conheço desde criança. Sempre gostei de fábulas porque têm moral da história no final, com bons exemplos e ditados. Monteiro Lobato era mestre nisso. Essa até tem uma dose de humor, mas por trás desse humor, fala também de arrogância, de soberba. Vamos à fábula, ou parte do que me lembro dela. Entre aspas, claro, porque não é minha.
“ O Rei Leão resolveu andar pela floresta para testar sua autoridade entre os bichos. Altivo, imponente, bela juba, garras afiadas. O primeiro a avistar foi o macaco. Já chegou com voz imponente: ‘Macaco, quem é que manda na floresta?’. O macaco subiu logo na árvore e foi respondendo: ‘Claro que é o senhor, Rei leão’. Satisfeito, o rei prosseguiu na caminhada. Agora era a vez da cobra. Perguntada, foi logo rastejando e dizendo: ‘Quem manda em toda a floresta, é o senhor, Rei Leão’. Lá foi ele. Mais à frente viu uma coruja( que não é a Elaine Barnes... rs rs): ‘Dona coruja. Quero saber, quem é o maioral da floresta?’. Ela resmungou, jogou algumas pragas, mas reverenciou o rei. Cada vez mais satisfeito e nariz levantado, foi andando. Lá na frente, um tigre. O rei pensou. ‘Tigre é animal perigoso. Preciso falar firme com ele. Mostrar quem manda aqui’. Com um belo e poderoso urro, digno de um rei, foi logo se impondo. ‘Tigre. Sem pestanejar, responda. Quem manda nessa floresta? Quem é o mais poderoso dos bichos? O maior caçador?’. O pobre do tigre até tentou resmungar algo e mesmo a contragosto, acabou se curvando diante do rei. ‘... grrr grrr...humpf... é o senhor, Rei Leão’. A certeza, a imponência, orgulho foram aumentando. O ego lá em cima..E assim, foi com a onça, com o coelho, com o tamanduá, com o jacaré, todos enfim, até que avistou... tomando água sossegado na beira da lagoa, estava o elefante. Ora tomava, ora jogava água em si mesmo. O rei pensou. ‘Esse gordo aí? Derroto os animais maiores e ferozes da floresta, não vai ser um gordo, molenga desses que não vai me respeitar’. E chegou. ‘Elefante. Responda rápido. Quem é o rei da floresta? O mais temido de todos? O mais belo?’. O elefante não estava nem aí. ‘Será que a gordura atrapalhou o cérebro ou os ouvidos? Vamos responda. Quem é o rei de toda a floresta?’. O elefante nada. Só olhou com desdém. O rei urrou alto, muito alto para se impor e voltou à carga. ‘Pela última vez responda. Ou sentirá minha ira implacável. Quem é o rei da floresta?’. O elefante foi se enchendo daquilo. E o rei cada vez mais enfurecido pronto para atacar. O elefante, agora sim, impaciente com tanta insistência, pegou-o pela tromba, rodopiou, rodopiou, rodopiou e o jogou de cara no tronco da árvore. E saiu andando. O leão meio grogue, de cara amassada falou: ‘Que cara mau humorado. Só porque não sabia a resposta não precisava ficar tão nervoso’.” ( fechei aspas porque termina aí a fábula).
O leão, na sua caminhada tentou o tempo todo se impor, por sua força física e por seu status de rei. E mesmo estando derrotado, na pior, não deixou a arrogância. Preferiu acreditar ou fingir acreditar que o elefante ficou nervoso só porque não sabia a resposta, a enxergar que respeito não se impõe, se conquista. Permaneceu arrotando de rei mesmo jogado no chão. Assim, são algumas pessoas da vida real. Tomam tombos da vida, mas não deixam a soberba, o orgulho, quando um simples ‘por favor, um ‘obrigado’, um ‘me desculpe’, até mesmo um simples ‘olá’, podem abrir tantas portas. A arrogância termina namoros, separa casais, faz perder emprego, rompe amizades e causa até guerras.
Ah... esse tal de ego!

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

O ÚLTIMO PASSO





Há uns oito anos, uma amiguinha cursando jornalismo tinha um trabalho a fazer com tema livre. Dizia: Escolha alguém que você gosta ou admira, de preferência poetas, professores, psicólogos, pensadores. Ela me procurou e escolheu o tema: MORTE. Falei. “Que bom que você gosta de mim”. “Claro. Quem não gosta de você?”. Lisonjeado, respondi. “Ah, obrigado. Você que é muito doce. Pode começar”. Eu respondia e ela anotava. Foi mais ou menos assim a “entrevista do ano”... rs rs.
- Já vi muitos trabalhos seus. Já lhe vi recitando, participa de muitos concursos, mas não nunca li algo seu sobre a morte. O que você acha da morte? Por que nunca escreve sobre morte? Todos os grandes escritores já falaram e falam dela
- Assunto complexo. Assim rapidamente, a morte é o único momento que nivela todas as pessoas. Independe de cor, classe social, sexo. Não adianta currículo, empurrãozinho, poder, o destino é o pó. Por isso a gente precisa valorizar a vida. Por que não falo de morte? Acredito muito na autosugestão, por isso prefiro falar de vida, luta, amor, sexo, amizade, música.
- Isso quer dizer que você tem medo da morte?
- Da minha não. A das pessoas que me cercam, que eu amo, tenho sim. Tenho cabeça boa pra tudo, menos para isso. Ainda não sei aceitar
- Você acha que existe céu e inferno? Vida após a morte?
- Claro que sim. Não tenho ideia do formato físico do céu e inferno, mas creio haver uma compensação e uma cobrança. Deus não ia mandar pro mesmo lugar Hitler e Madre Tereza. Eu gostaria de ter esse poder, de morrer e voltar pra contar a todos como é lá.
- Como assim?- riu
- Ora, porque qualquer coisa que padres, pastores e ciência disserem sobre isso é especulação. Ninguém sabe de nada. É cada um defendendo sua facção. Igreja e partido político é a mesma coisa. E a ciência está no papel dela, investigativo, descobridor.
- Você fala muito de Deus. Mas essa não é uma declaração meio ateísta?
- Não. Porque creio muito em Deus. Eu não creio é no homem. Grandes benfeitores da história estiveram acima das religiões. Gandhi, por exemplo. Deus olha de cima para baixo e não vê igrejas, nem muros, nem quintais. Ele vê o homem. Ele vê como você vive com seu vizinho, com seu colega de trabalho. O cristianismo não é físico, é espiritual, interior.
- Mas a igreja é necessária.
- Evidente que sim. Eu também vou à igreja e isso me faz bem. Só que não adianta eu estar lá, se meu espírito não estiver.
- Agora você está falando como um pregador. Você sabia que têm pessoas que viram líderes sem querer?
- Não,longe de mim isso. Eu só prego poesias. Poesia não faz mal, só bem.
- Fale sobre Jesus Cristo
- Não sei falar de Jesus Cristo sem me emocionar. É o maior nome da história. Nem os o que O seguiram O entenderam direito. Jesus não veio ao mundo para matar a fome de ninguém.Veio combater a hipocrisia, a intolerância, a soberba. Todas as suas parábolas falam disso.
- Fale sobre o Diabo
- O pai da inveja. Lúcifer é um anjo rebelde, invejoso, que desceu à terra para aprontar. Mas ele só age onde deixam. As pessoas deixam a porta do coração aberta.
- Acabamos nos desviando do tema inicial. O que você gostaria que escrevessem em sua lápide?
- O título de um de meus poemas. AQUI JAZ UMA FLOR.
Ela já tinha terminado quando brinquei. “ De uma coisa pode ter certeza. Quando eu morrer, a primeira coisa que vou fazer quando chegar do outro lado, é escrever uma poesia. Mas não vá escrever isso aí, hein?”. E ela. “Claro que vou. Você acaba de dizer uma coisa linda”. Naqueles dias, deitado no meu divã, digo sofá, acabei escrevendo sobre a morte.

O ÚLTIMO PASSO
Cada poesia é uma flor que sai de mim,
que rego... e entrego. E que esse jardim seja fértil até o fim.
Que meu último suspiro seja um perfume de amor.
Quem sabe esse será o último passo para eu viver o verdadeiro SONHO DAS ESTRELAS
e alguém que tenha entendido escreva numa lápide fria: AQUI JAZ UMA FLOR .
Sim... o último passo é sempre triste.
E não sei se ainda existe algo tão certeiro nessa terra
Não importa a forma que virá...violento... dormindo... sorrindo
fazendo amor ou fazendo guerra.
A lápide é fria, mas a lágrima arde
assim como a saudade covarde.
Não chore por mim. A vida é assim. A morte também é assim.
Mas pior que ter saudade é não ter em quem pensar.
E ai daquele que parte sem deixar saudades.
Sinal que não valeu, não viveu.
Vão ficar os quadros na parede.
No terraço, a minha rede
Onde tantas vezes deitei sozinho
No chão, um copo esquecido com um resto de vinho.
Mas que eu não seja lembrado apenas pelo último passo, e sim
por todos os meus passos, pelo meu sorriso raro, mas sincero, meus abraços
minhas letras tortas do dia a dia.
E quando eu adentrar a porta que se oferece
farei uma prece em forma de poesia,
ainda que digam do outro lado: Que teimosia!
Ora, fazer o quê? Só sei escrever.
Todos têm seu dia de último passo
e o mais cruel é que não se sabe quando,
e às vezes não temos tempo pro perdão, pro abraço
por isso é bom dignificar todos os passos
que antecedem o último passo,
pois quando a lápide se fecha, cerrando a cortina, é o adeus.
fim do espetáculo que é a vida
que alguém superior nos deu... e tomou
mas que tenha sido , embora árdua... também divertida.

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

CUCA COLORIDA





Quando eu tinha uma cuca colorida
era um turbilhão de vibrações.
Meu coração era um arco-íris de sensações
dia e noite, noite e dia.
E todo mundo dizia:
“Menino, você escreve demais
Você fala demais.
Você brinca demais.
Você briga demais.
Você chora demais.
Você ri demais.
Você sonha demais.
Você ama demais.
Você reclama demais.
Você é todo demais".
Eu sorria e respondia:
“O que fazer dessa vida
se eu tenho uma cuca colorida?
O tempo passa, o corpo envelhece,
mas o coração não esquece
e tudo de novo acontece:
“Você escreve demais
Você fala demais.
Você brinca demais.
Você briga demais.
Você chora demais.
Você ri demais.
Você sonha demais.
Você ama demais.
Você reclama demais.
Você é todo demais".
E eu ainda respondo do mesmo jeito
com o mesmo turbilhão no peito:
“Que culpa tenho eu nessa vida
se nasci assim...
com uma cuca colorida?”

Nota: Mudar sem perder a essência, é tão raro quanto belo

terça-feira, 13 de outubro de 2009

PILATOS MODERNOS


(imagem www.valrede.com/cercife)
No grande ciclo da história
juntas, a vergonha e a glória
isso é vicioso e perigoso
e a cada vez que termina, recomeça
entre a traição, a negação e a inércia.
Quem é o pior? O traidor, o negador
ou quem tem a solução, a condição... e lava as mãos?
E assim vamos construindo esses infernos
olhando de lado os fatos, porque somos Pilatos...
Pilatos modernos.
Muitas vezes as omissões
alteram mais a história do que as decisões
uma mão lava a outra, dizem assim
as duas lavam a essência, o âmago, a consciência.
E volta o ciclo como se o fim fosse o início
e o início fosse o fim.
E vamos cultivando esses invernos
nos apegando mais aos boatos,
porque somos Pilatos... Pilatos modernos.
E num domingo musical entre escrituras e partituras
numa deliciosa contramão
ensaiamos mais uma canção
que não nos lembre essa guerra de egos
onde todos são cegos
com seus egoísmos exatos
esses monstros eternos
porque são Pilatos... esses Pilatos modernos.
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Nota: “ Se você vê a injustiça sendo praticada e não faz nada, então a injustiça passa a ser sua também ( GANDHI )

CARLOS SOARES DE OLIVEIRA

Dedicado ao meu amigo ZÉ SOARES, num domingo musical
11 de outubro de 2009.

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

UMA SEMANA DE CRIANCICE- RÁPIDO NO GATILHO


( imagem google)
Eu e os amigos resolvemos brincar de faroeste. Duas turmas de cinco ou seis, como se fossem dois times. A vitória consistia, em qual dos times rendesse primeiro o outro um por um dos adversários. A prisão se dava assim. Quem via o outro primeiro tinha que falar: “MÃOS AO ALTO”. Pronto, o inimigo estava dominado e era levado preso. Era uma brincadeira super gostosa e emocionante. Usávamos pequenos revólveres de pau que fazíamos. Lá no bairro tinha uma imenso matagal que separava de outro bairro. Hoje não.Está tudo cheio de casas. Nem campinho tem mais. Ô saudade! Na turma adversária, tinha um menino que era gaguinho de tudo, coitado. E mais novo. Quando criança, três anos de idade de diferença, é muita diferença. O coitado não falava quase nada. Palavras começando com M, P,B eram piores, não saíam mesmo, mas no geral era difícil. Difícil mesmo eram as gozações. Menos de minha parte, nunca fui disso, nunca gostei de apelidos, brincadeiras de por a mão. Meu negócio era brincar. Tínhamos de nos embrenhar no mato para sair à caça dos inimigos. De vez em quando até topávamos com algum amigo no mato e estrategicamente nos espalhávamos. Eu ainda não havia prendido ninguém, mas pelo que senti e vendo que o movimento do matagal ia diminuindo, percebi que estava perto do fim. De repente, pisei mal e acabei rolando pelo morro por uns metros. Até me arranhei um pouco. Perdi meu revólver e fiquei deitado procurando, passando a mão no mato. Quando me virei, o tal gaguinho, Wendell, estava de pé me olhando e apontando a arma. Pensei. “Perdi”. Só que ele não conseguiu dizer “MÃOS AO ALTO”. Ficou MMMM. MMM. Foi rápido no gatilho, mas não na fala. Então fui mais rápido e o prendi. Não tinha como não rir. Só que o coitado chorou, pois os meninos já o deixavam constrangido com as piadinhas, imagina se soubessem do caso. Ele já era complexado demais. Fiquei com dó e deixei ele ganhar. Afinal, ele tinha me visto primeiro. E nós éramos os finalistas. Todos já estavam rendidos. Depois disso virou um grande amiguinho meu, só ficava do meu lado. Onde eu ia, lá estava ele. Já estava até me incomodando. Dizia com a dificuldade de sempre . “Você é meu melhor amigo”. Mas não ficou muito tempo no bairro. O pai arrumou emprego bem longe. Ele, além da gagueira, tinha problema sério de respiração e a cidade era muito poluída. Tinha mesmo que se mudar. No dia da mudança, despediu-de todos na campinho e para mim ele disse. “Não sei direito nem pra onde estou mudando, mas vou falar de você para meus novos amigos. Quem sabe eu volto aqui um dia... sem gaguejar”. Pena, mas não voltou. Espero que tenha se curado.

sábado, 10 de outubro de 2009

UMA SEMANA DE CRIANCICE- VIRGEM MARIA

MAIS UMA DE FÉ

Este não é um conto comum. É uma história de arrepiar, mas positivamente. Em quase todas ou todas, ponho um tom poético, em outras, humor. Algumas são românticas, outras tristes. Essa é de fé. Tive uma infância muito gostosa apesar de dificuldades financeiras e ter sido muito doente. Já nasci com um tal sarampo preto que quase me matou ainda bebê. Depois uma pneumonia. E depois uma desinteria crônica implacável que me maltratou por dos anos.
Quando meninote, não me lembro a idade certa, mas sei que era muito novinho, eu tinha muitos pesadelos. Era sapo gigante com boca enorme correndo atrás de mim. Corujas e morcegos voando pra me pegar. Mãos cabeludas aparecendo sobre a cabeceira da cama. Eu corria pro quarto de minha mãe. “Mãe, mãe, tem sapo lá”. Às vezes, ela deixava eu dormir na cama dela e de meu pai. Às vezes, ele não deixava, até que estava certo. Tive uma fase tão aguda de pesadelos, que ela arrumou um colchãozinho perto da cama dela. Incrível como a presença da mãe afasta qualquer monstro. Meu pai falava: “Esse menino está é com lombriga”. E me tacava um remédio fedorento e amargo, chamado lombrigueiro. Quando tinha jeito, eu fingia que tomava e colocava dentro dos buracos do muro. De vez em quando via uma formiga carregando. Eu morria de medo dele ver a formiga. Ficava torcendo pra ela passar rápido, porque matar, eu não tinha coragem.
Houve uma noite em que minha mãe me convenceu a dormir em meu quarto. Noite quente. Não tinha ventilador. Janela fechada, claro, por causa do medo. Porta aberta pra eu poder correr de noite na hora dos monstros.
Tenho quase certeza de que ainda não estava dormindo. Eu custava a fechar os olhos porque o pavor não deixava. De repente senti um frio. Um frio gostoso, saudável. E notei um facho de luz chegando. Parecia os contornos do corpo de alguém. Só que não tive medo. Estava deitado de lado e assim fiquei, só olhando. A imagem foi se definindo. Era uma mulher branquinha, muito bonita, de vestido longo, branco, arrastando no chão. Em volta de seu corpo, uma aura, uma luz misturada de amarelo e branco. Tinha um semblante de paz, angelical. Ela se aproximou de minha cama e sentou-se. Passou a mão em meu rosto algumas vezes. Depois na minha cabeça... e disse com voz branda. “Reze, Carlos. Reze muito”. E foi se afastando... até sumir na porta. E dormi.
No outro dia, minha mãe estava no fogão, cheguei perto dela e disse. “Mãe, eu tive um sonho”. Ela ocupadíssima de serviço e problemas, queimando os dedos disse. “Ai, ai, meu Deus. Lá vem você com seus sonhos”. Eu falei. “Não, mãe. Não foi sonho ruim. Foi sonho bom”. Ela parou um pouco pensando e respondeu. “Deixa eu desligar isso aqui senão queima tudo”. Desligou o que precisava, sentou numa cadeira do lado do fogão. Fiquei em pé, com as mãos nos joelhos dela e comecei a contar. “Mãe, ontem à noite, antes de eu dormir, uma mulher branca, bonita, cheia de luz em volta, apareceu perto de minha cama, colocou a mão na minha cabeça e me mandou rezar sempre”.
Minha mãe emocionada, chorou e me abraçou. “Oh, meu filho. Você é um menino abençoado. Foi a Virgem Maria que apareceu pra você. Eu pedi a ela pra tirar esses sonhos ruins de você porque não temos condições de tratamento. Por que não pensei nisso antes? Venha cá. Ponha as mãozinhas assim, juntas e reze comigo. E me ensinou o Pai Nosso e Ave Maria. Minha mãe ainda disse. “A gente precisa ser digno dela”. Nunca mais tive aqueles pesadelos.
Uns dias depois fui até a porta do quarto dela e disse. “Boa noite, mãe. Boa noite, pai. Durmam com Deus e a Virgem Maria”. Eles responderam. “Deus te abençoe”. Antes de sair, falei. Viu pai, como meu problema não era lombriga?”. Meu pai não entendeu muito, também já estava quase dormindo. Minha mãe sorriu e eu fui dormir um sono de paz... com direito à porta aberta.

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

UMA SEMANA DE CRIANCICE- "MEU PAI" e "DORME, MENINO"


( imagem senado.gov.br/saude )

MEU PAI

Nunca falei muito de meu pai em meus escritos. Deve ser porque convivemos pouco. Quando faleceu, eu era muito novo, tenros oito anos. Ele com sessenta e três. Mas o pouco que vivi vale ser lembrado. Sim, desde criança vivi tudo intensamente.Tenho uma memória afetiva incrível, sempre guardei tudo que vivi e ouvi. São tijolos na construção do meu ser. Acho que herdei algumas influências dele. A poesia, por exemplo. Ele gostava de fazer umas trovinhas e comprava muita literatura de cordel. Era pai à moda antiga, mas não posso me queixar, comigo não era. Pelo contrário, orgulhava-se de mim perante os amigos que reunia para beber, comer e tocar sanfona e violão. O fiel cachorro chamado ‘Famoso’, debaixo do sofá. Se gabava. “Ihhh, esse menino já lê qualquer coisa. Sabe rezar Pai Nosso e Ave Maria sozinho”. Mas isso não era o mais engraçado. Me colocava em sua perna esquerda, a sanfona na direita, e dizia. “Canta aquela do Roberto Carlos”. E eu cantava. “Eu te amo... eu te amo... eu te amo. uou uou uou uou”. Eu ainda punha os dedos apertando o nariz pra ficar fanhoso tentando fazer a voz do Roberto que tem o som bem nasal. Os amigos, e ele ainda mais, riam. Aquele cenário ficou na minha retina e no meu coração. E ele simplesmente detestava Roberto Carlos. Claro, porque gostava da música caipira de raiz. Outra influência sobre mim, pois fui lendo essas canções e fui vendo verdadeiras poesias, obras primas mesmo. Mas com tendência muito maior para o rock que era muito forte. Quando morreu, não tive de imediato a ideia exata do que era a perda. Uma semana após o sepultamento, andei a casa toda procurando por ele instintivamente. Não ouvi mais o estalar de chinelos pelo corredor. Vi a sanfona vermelha esquecida no canto do quarto. Na cama de minha mãe tinha apenas um travesseiro. Assim entendi, porque Famoso durante o velório uivou a noite toda. Ele estava chorando. A radiola, minha mãe só andou ligando para ouvir a missa aos domingos. Ninguém mais ligou a VOZ DO BRASIL, que minhas irmãs diziam que era chato demais. Eu não me importava, ora se era o gosto dele. Além do mais, era a certeza que ele estava ali, em casa. Era muito seguro sentir a presença de um pai. Com o correr das semanas, é que fui sentindo sua falta, fui percebendo o vazio, pois aquele momento de sentar na perna e poder agradá-lo me fazia bem também. Eu ia à sala, olhava o sofá e procurava aqueles tantos chapéus que os amigos penduravam numa espécie de cabide no canto. Não ouvia mais as gargalhadas de quando eu cantava. Eu gostava do Roberto Carlos, mas não daquela música, achava chata, repetitiva, era mais pela festa mesmo. Famoso nunca mais foi o mesmo. Ficava deitado na porta como se estivesse esperando a volta de alguém. Também já era velho e morreu não muito depois. Acho que se cansou de esperar. Um novo cenário se desenhava para mim... e meu pai não estava nele. Os anos passam e é da natureza humana, aceitar, se acostumar, inclusive com a morte, o mistério mais claro dessa vida. Entre tropeços e vitórias cheguei até aqui, mas gostaria muito de ter crescido ao lado dele. É muito difícil crescer sem um pai. Quem já cresceu e ainda tem o seu, cuide dele. Seja tolerante. Respeite seus cabelos brancos. Não ria de seus erros de português, foi graças a ele que você aprendeu a ler. Tenha paciência com suas pernas lentas. Elas já correram muito por você. Obrigado, meu pai. As coisas boas que sei, herdei de você. Valorizar as coisas na mão, não lamentar as perdidas. Chorar se preciso, mas levantar a cabeça. Ser humilde, não humilhado. Brincar, mas ter responsabilidade. Respeitar os mais velhos. As coisas ruins peguei do mundo mesmo. Continuo gostando de rock, mas ainda me encanto ouvindo uma sanfona bem tocada e quando estou numa roda de viola peço para tocar as suas caipiras. E as pessoas acham incrível como eu sei todas.
//////////

DORME, MENINO
Dorme, menino!
Desliga o mundo.
Que o sonho de um tempo melhor
seja mais profundo que o próprio sono.
Que não sintas abandono
que jamais te sintas só.
Que exista papai Noel
que a ilusão seja doce,
mais doce que o mel.
Que o céu vire chão.
Que o chão vire céu.
Que não sejam necessários super-heróis
porque todos, um ao outro se ajudarão.
Que não sejam necessários muros, nem prisão.
Que as nuvens sejam de algodão, não de guerra
que o ar seja puro nessa terra.
Que o futuro seja um lugar seguro para se brincar
com riachos cristalinos para se banhar.
Dorme, menino!
Sonha reinos encantados
iluminados pela poesia
pela fantasia de quem sabe sonhar.
Que o mundo seja um grande berço,
sem perigos, sem medo,
apenas brinquedos a te cercar.
Dorme, menino!
Embalado por essa canção de ninar.
Dorme, menino ...
mas, sem medo de acordar.

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

UMA SEMANA DE CRIANCICE- "NÃO HÁ VAGAS" e "AQUELA RUA"


Hoje vou ter que copiar meu amigo Everson, colocando dose dupla. É que vou viajar no feriado,passear por aquelas ruas, que consegui trazer até vocês. Os coleguinhas já cresceram, mas eu vou lá assim mesmo.Sendo assim nãodevo postar nada no domingo e segunda. Mas comentem por favor,pois leio todos com alegria de menino.
//////
NÃO HÁ VAGAS

Particularmente não gostei muito da reforma ortográfica. Acho que ela beneficia quem não gosta de estudar. Estudei num tempo em que mesmo nas provas de matemática, se a gente escrevia errado, a professora tirava meio ponto. Isso forçava o aluno a procurar escrever de forma correta. E eu nunca fui cdf, pelo contrário, era mediano, nota 7, quando muito 7,5, mas com o português, fui sim, dedicado. Peguei o hábito de consultar o dicionário e o faço até hoje. Não acho vergonha nenhuma. Tenho certeza que até os grandes mestres faziam isso.Cresci sabendo quem eram Castro Alves, Olavo Bilac, Drummond, Monteiro Lobato, Cecília Meireles, Casimiro de Abreu, Guimarães Rosa, Lúcia Casassanta, Eça de Queiroz, Stanislaw Pontepreta, José de Alencar e outros tantos, porque éramos induzidos à pesquisa e à leitura. Hoje não vejo essa preocupação nas escolas.Até vemos professores abnegados, mas o sistema não. Algumas mudanças até acho que não alteram muito, como o fim do trema, por exemplo. Mas outras, como extinguir acento de “vôo”, “vêem”, ou de “pára”, do verbo parar , é simplesmente ajudar os acomodados. Que profissionais estaremos formando? Não se trata apenas de escrever correto dentro do novo padrão, mas de induzir, de forçar à pesquisa, ao raciocínio. A língua de um país é um patrimônio a ser respeitado ao nível da própria bandeira. Por outro lado sei também que quem fez as mudanças tem intelecto e competência para isso, são catedráticos, estou apenas dando minha modesta opinião.
Escrevendo isso acabei me lembrando de uma pequena peraltice que fiz na sexta série. Peraltice do bem. Por coincidência, a professora naquela semana havia batido muito na tecla, sobre a letra H, no verbo haver. Ainda frisava brincando, “não confundam com expressão ‘a ver’, porque não tem nada a ver ”. Assim acabou ficando fixo na minha cuquinha. Eu e mais dois amiguinhos voltando da escola, avistamos na porta do escritório de uma grande empresa, multinacional mesmo, o seguinte aviso bem grande: NÃO Á VAGAS. Meu colega perguntou se estava errado. Falei. “Claro que está. Me empresta canetinha vermelha”. Escrevi bem grande debaixo do aviso. “NEM PARA UM “H”? O guarda da empresa viu e correu atrás de nós. Minhas pernas que eram magras correram demais. Ficamos à meia distância, provocando-o na certeza de que não nos pegaria. Jamais conseguiria, era gordo demais. Só restou a ele ficar esbravejando: “Seus pestes. E não voltem aqui para atrapalhar”. Eu respondi: “Atrapalhar? Estamos é ajudando essa empresa que não sabe nem escrever”. E gritei. “Ôôôô vergonhaaaaa!”. E saímos correndo porque ele vinha de novo. Daí uns dias passamos lá em frente, de olho no guarda, claro, e o aviso estava lá, mas modificado como deve ser no bom português: NÃO HÁ VAGAS.
Contamos para professora, Dona Janice, ela riu muito e nos parabenizou. “Vocês prestaram um grande serviço à língua portuguesa. Estou orgulhosa de vocês. Continuem vigiando”. Com certeza, algum grandalhão da empresa, leu, deve ter achado engraçado também e mandou consertar. No fundo me senti um pouco orgulhoso, sabendo que “colaborei com a língua do meu país”.
Vez em quando, quando vejo em grandes jornais impressos ou mesmo na internet algum erro grave, vou no “fale conosco” e mando email informando do erro. O bacana é que eles reconhecem e agradecem. Não fico fixado nisso, mas alguns são gritantes e o próprio computador tem correção ortográfica. Então escreve errado quem quer.
Alô, Dona Janice: Continuo vigiando, mas infelizmente no Brasil ainda NÃO HÁ VAGAS para a cultura.
/////

AQUELA RUA

Nunca mais aquela rua
de jogo de bola na esquina,
de botões na calçada,
de onde a garotada olhava as meninas,
respeitava as senhoras,cumprimentava os senhores.
Passavam peões e doutores,mas,a rua era só nossa
a gritaria misturava noite e dia.
Nunca mais aquela rua de onde se ouvia o sino da igreja,
respeitando o senhor tempo.
Só que o tempo para o menino não é nada;
ele faz dele o que quer,
como faz com a bola no pé.
As mães,penteando os cabelos da meninada,
preparando o almoço,preparando para a escola,preparando para a vida.
Ah!O tempo...
o tempo é covarde, e às vezes arde a vontade de voltar,
mas,o tempo não é mais como a bola
que se faz o que quer com ela no pé.
É o senhor tempo!
Vez em quando volto lá.A rua ainda está lá...
mas,não é mais "aquela " rua.


Nota: Saudades da “ Vital Brasil “... aquela rua

terça-feira, 6 de outubro de 2009

UMA SEMANA DE CRIANCICE- MEU PRIMEIRO AMOR ( ? )


( imagem google)
Quem de nós nunca fantasiou um namoro quando criança? Eu tive Amélia. Amélia era uma menina lindinha. Branca, de cabelos muito pretos, curtinhos, cortados rente à orelha. As pontas eram puxadas para perto da boca. Sobrancelhas bem definidas, vivas e cílios enormes lindos. Para completar o charme, uma pinta na bochecha direita. Nos olhávamos tempo todo na aula e no recreio, porém quase não nos falávamos. Timidez de criança. O máximo que aconteceu, foi num dia, quando me deu uma maçã no recreio, e de propósito, deixei meus dedos escorregarem em sua mão, mas ela recuou, tirando logo. Francisco, meu amiguinho viu e me gozou depois: “Aeeê Carlos. Ganhando maçã, hein? Quem sou eu”.
Pedi a ele que não espalhasse. Concordou, mas cobrou. “Chega na menina, rapaz”. Aí me entreguei. “Não é bem assim. Essas coisas têm hora”. Ele ironizou. “Você é um homem ou um rato?”. Eu acabei rindo e disse: “Sou homem, mas na hora fico do tamanho de um rato”. Francisco, era um menino moleque demais, e brincávamos de na hora do recreio, trocar os cadernos de todos. Num desses dias olhei os cadernos da Amélia. Estava escrito mais ou menos assim na contra-capa: “Meu namorado chama Carlos... Soares, sobrenome igual ao meu. Ele mora no Bom Retiro. Pena que é bobo, porque nunca fala comigo. Eu também tenho vergonha, mas sou menina, e menina não pode ser pra frente. Ele é bagunceiro, mas eu gosto dele. Eu acho que amo ele”. Mostrei para Francisco que quis zoar, mas o repreendi e ele parou e ainda me ajudou. “Não falei? Ela gosta de você”.. Chegou fim do ano e a primeira comunhão. Depois da missa ia ter um bailinho com comes e bebes na escola. Ainda me lembro de todos de branquinho, vela na mão, entrando na igreja. Minha mãe nunca foi chegada à festas e da missa voltou para casa.
Alguns casaizinhos dançavam, menos eu e ela. Francisco me empurrando: “Chama a menina pra dançar. Ah, se fosse eu”. “Calma. Daqui a pouco eu vou”. E ele: “Daqui a pouco acaba a festa e vai ficar chupando dedo e a menina com raiva... vamos comer cachorro quente por enquanto”. E eu. “Está doido? Vou beijar a menina com boca suja?”. Fomos, mas não comi nada até a hora de dançar, numa fome danada. Nossa distância no salão era de uns seis metros, mas parecia seis kilômetros. Enfim fui. “Oi, Amélia. Você está a fim de dançar?”. “Estou sim”, estendendo o braço charmosinha toda. Eu nem sabia dançar direito, mas sabia que eram dois pra lá, dois pra cá, pois via meus irmãos dançando. Estivemos tensos no começo, mas depois fomos nos soltando, até falamos coisas bobinhas de criança, tipo. “Você mora onde mesmo?”. “Você tem mais irmãos?”. “Festa boa, né?” Dançamos umas cinco músicas até que ela falou. “Vamos parar um pouco, estou cansada”. Aproveitei, dando uma de Don Juan mirim. “Aqui está muito quente. Vamos lá fora respirar um pouco”. Fomos e sentamos na parte cimentada do jardim, atrás de nós uma fonte. Depois de falarmos mais bobeirinhas, fiquei calado muito tempo e enfim investi pegando na mãozinha dela. “Amélia, posso te dar um beijo?”. Ela ficou ainda mais branca e se calou um tempão. Agora era eu quem morria de vergonha. “Ai que resposta demorada. Vou sair correndo daqui”. Depois de longos minutos, me olhou e respondeu com meiguice. “Pode, mas não quero agarramento, senão empurro você nessa água”. Lembrei de como os galãs das novelas faziam para beijar. Me senti um verdadeiro Tony Ramos. Viraria o rosto, começaria suave, abrindo os lábios, abraçando e depois ia aumentando. Que nada. Não saiu muito mais que um selinho tímido. Os dois ficaram mudos. Eu estava completamente trêmulo e suando frio. Ela também. Depois de um novo longo silêncio ela disse. “Vamos pra dentro, Carlos?”. Sem responder nada, só acenei que sim com a cabeça e fomos. Ainda dançamos outras, sem trocar uma palavra mais. Era fim de ano, vieram as férias, e mesmo ainda rolando olhares no ano seguinte, aquele romancinho foi acabando, fantasia que era. Pura e inocente. Sempre que posso gosto de passar por aquelas ruas. Já com uns 35 anos, num desses passeios, parei numa padaria. Quando fui pagar quem estava no caixa? Amélia. Mais gordinha como eu, de óculos como eu. Bonita ainda. Levei um pequeno susto e fiquei olhando fixo pra ela, não por nada, mas queria que ela me reconhecesse pra gente rir de tudo. Pois, não me reconheceu nada. Estranhou, eu ali parado, olhando. “Bom dia senhor. O senhor deseja alguma coisa?”. “Bem... é... sim... eu... quero pagar um café com leite”. Respondeu: “1, 50, se tiver trocado, agradeço”. Tirei dois reais, ainda olhando pra ela, que franziu a testa curiosa, me deu o troco e vendo que eu não saía, perguntou: “O senhor deseja mais alguma coisa? Está passando bem?”. “Não, não. Obrigado”. E saí. Na porta olhei pra trás e ela levantou os dois braços para sua funcionária num gesto de “ não entendi nada”. E completou. “Só dá maluco”. Claro que fiquei um pouco frustrado. Ah... mulheres! Como entendê-las? Acho que não agradei como Don Juan mirim.

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

UMA SEMANA DE CRIANCICE- HOJE NÃO TEM MERENDA


(imagem alcobaca.bahia.net)
A merenda seria salada de frutas, que eu adorava. Os próprios alunos levavam as frutas. Eu só levava abacate, porque lá em casa tinha no quintal. A professora achava engraçado eu colocando aquele abacatão pesado na mesa. Antes de irmos para as salas, ficávamos no pátio aguardando a hora do hino nacional. Dona Eva era responsável por nós no pátio. Eu e um coleguinha de outra turma, brincávamos de jogar uma taruíra morta no outro. Dona Eva falava. “Menino, larga esse bicho nojento”. A gente nem ouvia. “Parem com essa correria que hoje o diretor tá que tá”. Boazinha ela. O diretor era ruim. Feio pra danar. A gente ficava arremedando ele andar quando virava as costas. Um dia se virou de repente e quase me flagrou. Nessa de taruíra pra lá, taruíra pra cá, teve uma hora que joguei e o danado do menino se esquivou. E onde foi parar a taruíra? No panelão de merenda. A cozinheira mexia a colherona e falando com sua ajudante, não viu. O menino sumiu. Fiquei entalado, travado. “E agora? Conto ou não conto? Se contar, vou pegar suspensão. Ai, ai”. Sentei na escada pensando numa solução, tinha que fazer algo. “Já sei. Entro lá brincando e derrubo a panela. Mas não dá. Tenho que pular a mureta, a portinha está sempre fechada e todos vão ver”. Até que deu a hora do hino. Que hino nada. Eu estava é rezando. “Ai, meu Deus. Não deixa me acontecer nada. Me ajuda de novo. Mostra uma solução, prometo não aprontar mais nada”. As duas primeiras aulas eram de português, depois o recreio e dona Marli, me cobrava mais atenção, que estava muito distraído, dando respostas sem nexo. . Claro, minha cabeça estava na panela de merenda. Tenso, suando frio, tentando pensar em algo. “Vou pedir à professora para ir ao banheiro e falar pra cozinheira, mas pedindo que não conte a verdade. Que invente algo, que tem algo azedo sei lá., ou até que a taruíra caiu do teto. Ele deve aceitar, afinal é amiga de igreja de minha mãe”. Logo desanimei. “Ah, não. Essas ‘véias’ de igreja, não gostam de mentira. Minha mãe mesmo é uma. Preciso pensar em outra coisa, nem que seja mesmo pra derrubar a panela”. Certo momento, lembrei de um caso que ouvi alguém contar de uma taruíra que caiu no coador de café e matou uma família inteira envenenada. Sei lá se é verdade, mas o desespero aumentou. “Vai morrer todo mundo e o culpado sou eu. Preciso avisar a cozinheira de qualquer jeito. “Levantei o braço. “ ‘fessora. Posso ir no banheiro?”. “Pode não. Só faltam quinze minutos pro recreio, você pode aguentar. Não vem me enrolar”. Insisti, mas ela não deixou. Pensei em sair assim mesmo, mas eu podia ser bagunceiro, desobediente não. Mãos trêmulas, suadas, inquietas. “E se a cozinheira comeu? Já morreu. Elas sempre comem antes da gente”. Imaginei a cozinheira estirada no chão. Agora não tinha mais jeito. Fui à frente, puxei vestido de Dona Marli.”Se a senhora não me deixar ir ao banheiro, vai acontecer uma tragédia”. A sala toda riu, pensando que eu estava com dor de barriga. Apesar que já quase estava mesmo. Pus as mãos juntas. “Pelo amor de Deus, ‘fessora. Deixa”. Ela assustada. “Menino, você está com algum problema?”. Comecei a chorar. Um problemão, ‘fessora... sem querer joguei uma taruíra na merenda”. “Ai, meu Deus”. Saiu em disparada, se equilibrando nos tamancos e eu atrás. Eu queria ver se a cozinheira estava bem. A coitada sentou com a mão no coração aliviada. “Eu ia comer agora.. O que esses pestinhas não fazem? Chamem o diretor”. Deu o sino de recreio, o pátio logo se encheu de meninos fazendo fila. Com muito custo, o diretor conseguiu silêncio e falou. “Hoje não tem merenda. Por causa de dois irresponsáveis que jogaram uma taruíra na merenda”. Zum zum zum. Quase todos vaiaram. Pedindo silêncio de novo, anunciou. “E por isso, estão liberados, podem ir pra casa”. Alegria geral. Menino não vale nada. Falou que não tem aula, vira festa. “Vocês dois. Direto pra secretaria”. Depois de um grande sermão de palavras rudes para nós, tão meninos, nos deu três dias de suspensão. Deve ser por isso que hoje tenho tanto nojo de taruíra. Perguntou. “Vocês tem algo a dizer?”. “Eu tenho, senhor diretor. Fizemos errado, mas somos só crianças. O senhor nunca foi criança? Nunca aprontou nada?Nunca quebrou uma vidraça? Nunca roubou goiaba?”. Me olhou curioso e deu finalmente na vida, uma risadinha . “Já, claro que já. Mas não façam de novo. Puseram muita gente em risco”. Mal demos de costas, ele falou. “Teve uma vez brincando de pau na lata, que o pau escapuliu e quebrou a vidraça logo de uma inimiga de minha mãe. Fiquei até de noitinha na beira do rio, tremendo de medo e frio. Minha mãe não me bateu, só brigou muito por eu ter fugido”. Respondi. “Eu faria diferente. Contaria logo pra minha mãe, pois nunca precisei fugir dela. Depois eu venderia picolé e daria o dinheiro a ela. Sou um grande vendedor de picolé, o melhor do bairro”. E ele. “Está certo. Agora vão pra casa. Ah... e vê se para de me arremedar. Pensa que não vejo?”. “Como ele sabe?”, pensei. “E se sabe, ele não é tão ruim assim”.
Na escola, virei o menino da taruíra.

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

UMA SEMANA DE CRIANCICE


( imagem retirada de fotoideia.blogpsot.com, mas o autor original da mesma,consta na própria imagem)
Bem, amigos(as) queridos(as). Como estamos entrando na semana das crianças,e mais, respeitando as crenças de cada um, também é semana de Nossa Senhora, com a qual fui muito ligado na infância. Assim,resolvi dedicar este blog, que na verdade não é só meu, é de todos nós, à essa semana tão gostosa. Espero que tenham paciência, pois contarei algumas peraltices e por fim, no último dia, dedicado à Nossa Senhora,vou repetir uma história de fé que se passou comigo. Hoje começo com:

O VELHO, O MENINO E O TEMPO.

Roda, menino
roda o pião.
Brinca com ele na palma da mão
Às vezes o próprio menino é o pião
gira como quer nessa brincadeira.
E lá vai o menino subindo a ladeira
dono da própria emoção.
- Menino, vá deitar
guarde esse brinquedo.
-Não, mamãe...
veja o relógio na parede
ainda é muito cedo pro meu coração.
Roda, homem
o mundo roda rápido como um pião
já não cabe na palma da mão.
- Levanta,homem!
Vá ser brinquedo no meio desse tufão
veja a foto na parede
já não é tão cedo no seu coração.
O tempo não é brincadeira
e lá vai o homem descendo a ladeira
sem ser dono da própria emoção.

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

MEU AMIGO INVISÍVEL


( na falta de imagem, vai eu mesmo)
Sei que existem blogueiros(as) que são psicólogos(as) e talvez tenham uma opinião específica sobre o texto, mas quero também, claro, a opinião dos poetas. Falei dos psicólogos porque acho que envolve mente humana, não só emoção. Dia desses vi um filme em que o menino projeta ou imagina um amigo invisível. Que fala com ele, que dá opiniões, etc. Muitos meninos já fizeram isso e eu também. Só que no filme, o amigo imaginário leva o menino a fazer coisas más. No meu caso não, mas ele me incomodou um dia. Não me lembro agora o nome que pus nele.Vamos chamá-lo de Zezinho.
No meio da turma, até mesmo entre família, sobre qualquer assunto, eu olhava de lado e dizia. “O que você acha, Zezinho ?”. Quando me chamavam para fazer algo ou ir algum lugar, eu dizia. “Espera. Vou perguntar meu amigo”. Quando a professora me pedia silêncio, justificava. “Desculpa, ‘fessora. Meu amigo não me deixa quieto”. Olhava de lado e falava pro amigo imaginário. “Se ficar fazendo isso, não trago você mais”. Alguns parentes e amigos diziam. “Ihhhh, lá vem o Carlos com isso de novo”. Eu não estava nem aí, me divertia.
Até que um dia, cheguei da aula cansado, nem almocei, adormeci no sofá. Contaram que dormindo, falei muito com Zezinho... e mais... mudava a voz, como se fosse ele respondendo. Meu irmão perguntou se eu estava fazendo hora, eu disse que não, mas eu gostava sim de brincar e acabei fingindo uma ironia, porém, por dentro falei sério. “Esse Zezinho já está me perturbando,vou me livrar dele”. Por causa de meu espírito brincalhão não ligavam, mas eu senti sim que o amigo imaginário tomava um espaço meio perigoso. Eu o manipulava, só que ele foi se agigantando e ficando sem controle.A gente cria o monstro e depois não domina. Por causa do Zezinho, não estudava para a prova. “Devo fazer isso, Zezinho?”. Se alguém, contava uma piada, eu perguntava ao Zezinho se ele havia gostado. Fazia coisas boas também, mas estava meio demais...e parei.
Já bem rapaz, até já trabalhava e tinha uma namoradinha. Um dia brinquei com ela. “Você sabia que tenho um amigo invisível, que vai à toda parte que estou?”. “Como assim?”, perguntou assustada. “Um amigo que só eu vejo, me dá conselhos, que brinca comigo, briga, fica do meu lado quando tenho problemas. Meu parceiro”. Ela pediu. “Ah, para com isso, Carlos.Tenho medo dessas coisas. Isso é coisa do mal. Cruz credo!”, fazendo o Nome do Pai. Entre assustada e brincando, perguntou. “Mas quando a gente está namorando ele não fica, né?”. Ah, como eu ri. “Claro que não. Ele é muito discreto, eu peço, ele sai”. Um dia quando seus pais não estavam, deitei a cabeça no colo dela. Gostava de passar a mão no meu cabelo e acabei dormindo. Não sei por quanto tempo, mas acordei numa sensação boa. Dizem que o subconsciente, às vezes aflora quando estamos dormindo e libera sensações. Com a palavra, os entendidos, sou leigo. Ainda com preguicinha, permaneci deitado. A namorada disse. “Você quase me matou de medo, mas tomei coragem e fui deixando para ver até onde ia, até porque pensei ser brincadeira sua. Você falou umas coisas estranhas, como se estivesse conversando com alguém. Falou de tristezas, frustrações, seu sonhos e desejos, suas alegrias, sua poesia. Teve um momento que parecia que ia chorar. De uma parte eu gostei. Disse que gosta de mim e lamentou não poder me dar muitas coisas. Não sei por onde começo. Não quero muitas coisas. Só uma. O que está aqui dentro do seu coração”, pondo a mão no meu peito. “Seu sentimento. Quero sua transparência, seu jeito cristalino de ser. Sua forma explícita de viver, de falar, de mostrar o que você é. As pessoas disfarçam o tempo todo, mas você não.Você é exatamente isso que a gente vê. Quem te ama, te ama com suas qualidades e defeitos. Nunca vi alguém mostrar tanto seus próprios defeitos. Tem um jeito menino, mas é cheio de responsabilidades. Se adapta a qualquer ambiente e à qualquer pessoa. Se sua alegria contagia, quando está triste também, dá vontade de pegar no colo. Fala umas coisas sem nexo, mas é muito inteligente.
Fica feio quando está bravo, mas é tão cavalheiro. Não sei se ficaremos juntos ou até quando, mas eu não quero mudar você. Você nasceu pronto”. Pensei muito e emocionado falei. “Sabe por quê gosto de você? Porque você me entende. Zezinho foi algo que eu criei para ter com quem falar nas horas ruins. E partir de hoje, não precisarei mais dele. Vou pedir que vá embora. Se eu criei, também posso desfazer”. A namorada mudou-se para São Paulo.. Foi embora chateada comigo. Não consegui ser o grande amor da vida dela. Seguramente foi a que mais me amou, mas não foi a que mais amei ( na época). A vida tem disso. Talvez se eu tivesse pedido conselhos ao Zezinho... mas ele estava contando coisas minhas enquanto eu dormia.