ESCREVER É DIVINO!

ESCREVER É DIVINO!
BONS TEMPOS EM QUE A GENTE PODIA VOAR. ERA MUITO BOM SER PASSARINHO.

CAMINHOS DE UM POETA

CAMINHOS DE UM POETA
Como é bom, rejuvenescedor e incentivador para o poeta, poder olhar para trás e ver toda a sua caminhada literária, lembrar das dificuldades, dos incentivos e da falta deles, da solidão de ser poeta e do diferencial que é ser poeta. Olhar para trás e ver tudo que semeou, ver uma estrada florida de poesias, e dizer: VALEU A PENA! O poeta vai vivendo, ponteando, oscilando, e nem se dá conta da bela estrada que escreveu. Talvez ele não tenha tempo porque o horizonte o chama, e o seu norte é... escrever... escrever... escrever. Olho hoje para trás... não foi fácil, mas também ninguém disse que seria. E eu sabia que não seria, ser poeta não é fácil, embora seja lindo. Contemplo a estrada que eu fiz, e digo com orgulho quase narcisista: Puxa... como é linda minha estrada!

terça-feira, 30 de junho de 2009

NOS JARDINS DE NEVERLAND



(imagem macilioliveira.wordpress.com)
Tentei não falar de Michael Jackson. Tudo sobre ele já foi falado. Muitas perguntas, poucas respostas e uma certeza: morreu o grande astro do mundo. Mas a coincidência me fez escrever. Não para falar do astro, mas do menino Michael Jackson. Sim, eu sempre o achei, meigo, doce. As controvérsias e excentricidades são próprias das grandes estrelas e o fã e a imprensa principalmente, não entendem e não respeitam isso. Achei interessante e diferente de tudo, uma entrevista de um médico psiquiatra falando da Síndrome de Peter Pan, ou seja, adultos que se recusam a crescer. E disse que isso é perigoso. Pode até ser, mas no meu caso sei que conduzo bem essa vida dúbia. Sabemos que Michael teve uma infância difícil, de carência afetiva e violenta. O pai batia severamente com fios elétricos, mangueiras grossas e tudo mais, para que dançassem certo. Os pais projetam nos filhos o que eles não conseguiram ser. Descontam neles suas frustrações. Isso sim, é muito perigoso.
Quem acompanha meu blog desde o início, sabe que falei tempo todo nos poemas e textos que me sinto um Peter Pan. Guardando as devidas proporções, acabei fazendo um paralelo. Todos viram minha ligação com temas infantis, falando além do menino Peter Pan, também de Monteiro Lobato, do Pateta, de estórias em quadrinhos, de super-heróis. Não muito diferente do grande astro, tive infância difícil, privado de muitas coisas, mas aí está a diferença: sem violência. Ah, como a violência pesa numa infância. Eu já tinha cabecinha boa e entendia as dificuldades. Ao contrário do já pequeno grande astro que já tinha agenda lotada, tive oportunidade de buscar minha infância. Eu mesmo fui fazê-la. Era um menino brincalhão, feliz. Peralta não muito, evitava levar mais problemas para dentro de casa. Jogava bola até dez da noite. Não era nenhum craque, mas todos queriam jogar do meu lado. Não era nota dez, mas as professoras me amavam. Era agregador. Não deixava amiguinhos brigarem. Sempre preservei a vida. Jamais matei um passarinho. Tentava convencer os amiguinhos a não fazerem aquilo. Um dia, achei um estilingue e quebrei: “Esse não mata mais ninguém”. Gostava de escrever meu nome nas árvores com canivete. Quando a professora disse que as plantas sentem dor como a gente, nunca mais escrevi. Certa vez vigiei por muitos dias, numa árvore dentro da escola, um casulo, e pedia encarecidamente que não destruíssem. Todos os dias antes de entrar para a sala, eu ia ver se estava lá. Até que num belo dia, durante o recreio, um amiguinho veio ofegante. “Corre, Carlos, corre. Sua borboleta nasceu”.Engraçado...minha borboleta.. Corremos e lá estava ela, ainda pousada sobre a casca do casulo. Azul cheia de bolinhas cinzas.Virei-me e vi uns quinze meninos atrás de mim. Quando ela voou, todos gritaram: “Êêêêêêê”.
Já passei dos quarenta e as pessoas ainda me tratam como menino. Ainda me chamam de Carlinhos, de Cal, de menino feliz. Confesso que gosto. Ainda falam comigo com cuidado. Ainda ouço as mesmas frases da infância. “Você é um menino diferente”. “O Carlos que é feliz, conserva sua meninice”. “Você nunca tem problemas?”. “Você não ri muito, mas está sempre com carinha boa”. “Quem não gostar do Carlos, não gosta de mais ninguém”. “Vou fazer uma festa lá em casa. Você é o primeiro da lista dos não parentes”. Mas eu não faço nada de especial para tudo isso. Só ando despreocupado, distraído. Se tenho inimigos não os conheço.. Não tenho espaço para mágoa, porque sei que ela só corrói quem a carrega. Ainda tenho medo de injeção e engasgo feito criança na mesa do dentista. Se durmo sozinho, deixo a luz acesa. Gosto de pegar em bebês. Ainda ajudo velhinhas a atravessarem a rua. Tudo isso, porque eu também não quis crescer muito. Nunca dei muita bola para a vida, esnobei-a um pouco, não levo muito a sério o mundo externo. A não ser meu trabalho, que preciso para comer e vestir. Ah, comer eu gosto mesmo... como uma criança. Me sujo todo comendo... como uma criança. Os meninos de minha rua me cumprimentam como se eu fosse um amiguinho deles. As pessoas exageram comigo. Não sou tão bom, nem tão feliz o tempo todo. Tenho momentos tristes e de raiva sim, porém só aqueles causados pela covardia, pela mentira, injustiça, injúria, mas para resolver isso a gente precisaria ter mais Peter Pan’s. Não se preocupe, Michael. Estou tentando fazer minha parte. Neverland não está tão vazia e acredito sim que um dia todos os sonhos serão possíveis, onde veremos pelo menos crianças mais felizes.

sexta-feira, 26 de junho de 2009

CÉU DE POETA



Céu de brigadeiro é uma expressão muito usada na aviação para definir um céu perfeito, azul, sem nuvens, permitindo assim um voo tranquilo às aeronaves. Ao mesmo tempo homenageia com muito mérito, a patente maior da aviação militar, que é o brigadeiro. Num resumo rápido, a expressão quer dizer que um brigadeiro merece um céu lindo.
Foi aí que pensei deitado no sofá da sala “tentando” ver tv. Tentando sim, porque a tv não tinha nada. Aliás, tinha, mas nada compatível com meus anseios. Eram umas 20:00h. Telejornais repetiam notícias de dias e meses anteriores, ou até mesmo de décadas: o cara matou a ex-mulher, guerra no Irã, polícia, bandido e milícia se confundindo em tiroteio no Rio, roubalheira em Brasília, pedofilia, cracolândia, copa do mundo no Brasil, o galã vai casar, a atriz gostosona que se casou mês passado já separou, o outro pulou do vigésimo andar, rainha disso, rei daquilo, gripe suína, aids, apartheids, eleições 2010. Notícia cultural não vi nenhuma.Que salada indigesta! Mas tudo dentro do “normal”.
Minhas perguntas eram: “E o céu de poeta, como seria? Que céu um poeta merece? Ou que céu ele visualiza com o dom de seus olhos?”.
Então já sem paciência, num gesto de desdém, sem nem mesmo olhar para a tv, apertei o botão do controle remoto, andando, joguei-o sobre o sofá e subi ao terraço, depois de passar na geladeira e pegar uma boa garrafa de vinho e um pouco de gelo. Ah, minha rede! Lá estava ela, aconchegante, doidinha para me abraçar. Moro num bairro comum, popular, mas por sorte com uma visão incrivelmente privilegiada. Minha casa dá de frente para uma serra de 1.123 metros, que fica a sete kms, então fica enorme aos meus olhos e é justamente onde a lua nasce. Não fui direto para a rede. Um certo visual pediu minha atenção. Encostei na paredinha e fiquei contemplando enquanto saboreava o vinho. Que lua redonda! Enorme e dourada! Estava um pouco acima da serra fazendo nela um clarão enorme. Exatamente acima do topo, raios desciam como se estivessem chuveirando a montanha . Estava tão claro, tão límpido que podia facilmente observar a silhueta da serra gigante. Ao fundo, bem distante, uma estrela solitária, diferente das demais. As simpáticas Três Marias. E o imponente e místico Cruzeiro do Sul apontando sul e norte. Outras estrelas, tantas, coadjuvantes daquele cenário, cintilavam, parecendo me dizer: “Eis a sua resposta. Esse é o céu de um poeta”. Coisas que a parabólica não pode captar... mas os olhos do poeta, sim. Os olhos que tudo veem. Os olhos da simplicidade. Um grande pensador já disse: “Onde a ciência pensa em chegar, o poeta já viajou por lá”.
Noite fria, corri para a rede e envolvi-me nela, pois agora podia ver a lua deitado, pela altura em que ela já estava. O vinho já estava no meio. Mais um gole. Mais uns para dizer a verdade.
Um terraço. Uma rede. Uma garrafa de vinho. Uma noite enluarada salpicada de estrelas. Muita tentação para um poeta.

segunda-feira, 22 de junho de 2009

MENINO FELIZ


( imagem recantodasletras.uol.com )
Eu acredito em anjos, em duendes e fadas.
Acredito em Deus e nos seres humanos.
Acredito nos meus planos.
Minha rua é encantada.
Amo a noite e o arrebol.
Irmão da lua e do sol.
Eu acredito na sorte.
Ando sul e norte chutando lata, brincando à toa.
Meu sorriso ecoa... contagia.
Acredito na vida, acredito na poesia..
Empino pipas e aviões,
enfeito avenidas e corações.
Bola de meia, bola de gude.
Se alguém não me amou, fiz o que pude.
Acredito no aperto de mão vencendo o canhão.
Acredito na nova tentativa, na alternativa, no recomeço.
Acredito que a paz não tem preço.
Compreendo a inconstância dessa roda gigante
Desse vaivém, dessa gangorra
Respeito o espinho e o perfume de uma flor.
E por mais que se mate e se morra,
eu acredito no amor.
Doce destino!
Eterno menino, alguém me diz.
Mas é por tudo isso que ainda me sinto,
um menino feliz.

segunda-feira, 15 de junho de 2009

O DIA EM QUE A POESIA FALOU COMIGO


( imagem anjodeluz.ning;com )
Em toda a minha vida, as coisas aconteceram comigo sempre rodeadas de poesia. De um tempo para cá, tenho explicado aqui o porquê e origem de alguns poemas e textos antigos. Dessa vez a personagem central é uma senhora de oitenta e oito anos.
Eu estava em Ipatinga, no teatro para receber uma honrosa premiação de 8º lugar conquistado em 2004, num festival estadual. Festival que persegui por dezenove anos, afinal era na minha cidade, onde passei infância e maior parte da juventude. Era uma questão de honra para mim, ganhar algo na minha cidade, mesmo já não morando lá há tanto tempo. Participei das primeiras reuniões daquele clube de escritores. Fui membro ainda nos seus primeiros passos. Daí imaginem minha empolgação de estar ali.
Os poetas sentados em meio à platéia, eram chamados conforme categoria literária e por classificação em ordem regressiva. Um senhora ao meu lado, muito simpática e elegante, estava empolgadíssima com tudo. De vez em quando colocava a mão no meu braço e comentava algo. Eu, atencioso respondia a tudo e acabava comentando às vezes também. Nos intervalos das premiações, havia show de palhaços. O próprio apresentador, muito engraçado, fazia a premiação ficar bem divertida. E a tal senhora não parava de falar comigo. “Que maravilha!”. Era a expressão que mais usava.
Por fim chegou minha vez. Chamaram meu nome e fui viver meus trinta segundos de aplauso, da passarela até o palco. Aqueles aplausos ainda ecoam dentro de mim. Pisei onde muita gente famosa pisou. Foi minha primeira vez num palco, pois participava na maioria em concursos distantes, e minha inexperiência, apesar de já com 37 anos, acabou me atrapalhando. Pensei que não podia tirar fotos. Fui tolo, não tirei. Mas importante é que eu estava lá. Quando retornei à minha cadeira com meu certificado de menção honrosa, a tal senhora falou. “Que maravilha! Você também é poeta. Eu devia ter imaginado. Que tola eu fui. Um rapaz tão... tão... tão... gentil e atencioso só podia ser poeta”. Respondi, ainda me refazendo da tremedeira de ter ido ao palco. “A senhora também é muito simpática. Obrigado pelo ‘rapaz’. Tenho 37 anos”. Ela interrompeu logo. “Ah, mas o coração é jovial. Eu sinto meu coração com vinte anos”. A premiação seguiu. No final teve um rápido coquetel no salão de festas e fiquei ali andando entre os stands, falando com alguns poetas e vendo livros.
Pois a senhora me abordou de novo. “Seu nome é Carlos, não é?”. “Sim e o da senhora?”, perguntei. “Dolores, sou de João Monlevade, o menino primeiro colocado do juvenil, posso dizer que é meu aluno. Sou educadora. Vim acompanhá-lo. Eu adoro vir aqui a essa festa linda, sempre que posso eu venho. Alguém sempre me traz. Você é de onde?”. Antes de responder, fiquei admirado. Tão idosa, encarando uma viagem de carro perigosíssima de duas horas e meia, numa rota montanhosa.E ainda numa noite chuvosa. Disse a ela.
“ Dolores, nome bonito a senhora tem. Nome romântico. Sou daqui mesmo, mas moro em Governador Valadares”. Ela segurou minhas duas mãos, com as suas trêmulas da idade e disse. “Olha, meu filho. Tenho oitenta e oito anos, escrevo desde uns oito. Eu sou simplesmente apaixonada com poesia. Nunca pare de escrever. Isso é a coisa mais linda do mundo. Respeite-a, porque foi Deus quem colocou dentro de você. Deixe que lhe façam qualquer coisa, que lhe batam, xinguem, riam de você, mas não deixe jamais que lhe tirem a poesia. Ela é a sua essência”.Sinceramente engoli seco. Deu-me um tapinha no rosto e antes que se afastasse, agradeci pela sabedoria e prometi a ela, manter o respeito que já trago pela poesia, desde criança..
Respeito sim, a poesia. Quem é de meu convívio sabe. Poesia já tem nome de mulher não é à toa. Digo às pessoas que a poesia é o melhor que tenho. É a minha maior convicção. A poesia é meu charme.
Fiquei ainda um tempão parado num canto, olhando-a entre tantas pessoas bonitas, onde ela, com certeza, era a mais bela, com seus cabelos de neve, com sua simpatia e com sua aura poética. Já era meia-noite quando voltei dirigindo pela rodovia, onde tinha que parar às vezes, porque uma lágrima teimosa, mas boa, gostosa, insistia em embaçar minha visão. Se a lágrima é salgada, o sonho é doce. Justo no dia em que alguém querido me decepcionou dizendo, “isso tudo é utopia, não leva a nada”, tive um contato mágico com aquela senhora me mostrando exatamente o contrário. Agora para mim, o mais importante já não era o prêmio que recebi ou as fotos que não tirei, e sim, ver a poesia rejuvenescida numa senhora de oitenta e oito anos, me dizendo para nunca parar. Acho que a própria poesia falou comigo. Quando finalmente dominei a lágrima, retomei a estrada. Demorei quase o dobro do tempo da viagem, porque voltei feliz, sem pressa, intrigado, durante 100kms me perguntando. “Por que essas coisas acontecem comigo?” Tudo tem que ser assim, com emoção? O que tem em mim que atrai essas coisas? Sou por acaso um para-raios? ”. Perguntas que nunca vou saber responder.
Daí uns dias escrevi sobre aquele momento e espero reencontrá-la, lá mesmo, para presenteá-la com o poema que ela me inspirou e dizer que aquele encontro foi para mim...

ESSENCIAL
Deixa que te batam.
Que te vaiem,
que te xinguem.
Deixa que te isolem, que te amolem.
Não liga que teus sonhos eles esqueçam, que te aborreçam.
Que amanheçam à tua porta cobrando verdades e até mentiras.
Deixa que zombem, ironizem, na vida tudo passa.
Sê como a caravana que ouve os cães e segue em graça.
Deixa que não se encantem contigo, que plantem toda maledicência
Só não deixes jamais que mexam na tua essência.

quinta-feira, 4 de junho de 2009

QUANDO DRUMMOND MORREU




Quando Drummond morreu em 1987, recebi muitas ligações de amigos, se solidarizando comigo, como se fosse um parente meu que havia morrido. Sabiam do quanto eu gostava e gosto dele. A literatura brasileira é muito rica e nem dá para ficar escolhendo o melhor, e seria até injusto, de tantos grandes nomes que temos. Além de tudo, em poesia não existe o melhor. Existem todos e pronto.Mas Drummond é diferente. Diferente em tudo, a ponto de recusar propostas de ingressar na Academia Brasileira de Letras, onde a briga é feia por uma cadeira. Eu diria que até se “acotovelam” por uma cadeira da imortalidade. Mas ele estava acima disso tudo. A imortalidade está na obra. Gosto tanto dele e não sei falar dele. Sei que nele me fascinava, além dos poemas, contos e crônicas, seu jeito recluso, restrito e até tímido de ser. Sabia ser ao mesmo tempo profundo e singelo. Eu amava sua simplicidade de falar até das coisas mais duras, como por exemplo: “Hoje Itabira, é só um retrato na parede. Mas como dói”, vendo o grande buraco em que a cidade estava se transformando.Isso foi em protesto contra uma mineradora que até hoje explora a cidade. A mineradora se não me engano é uma das mais ricas do mundo, já a cidade, não cresceu muito economicamente. Mas ganhou em fama, em notoriedade por causa do cidadão mais ilustre. Não quero falar muito disso. Quero falar de poesia e não de minério.
Quando Drummond morreu, escrevi AQUI JAZ UMA FLOR. Claro que a poesia falava de mim, mas fiz uma pequena homenagem a ele numa das estrofes dizendo: ‘e esse mundo já tão vazio de amor, esvazia-se mais agora, porque morreu uma flor’. Há alguns meses li certa frase: “cada poeta que morre é como uma flor que morre deixando mais triste o grande jardim do mundo”. Não sei de quem é, mas achei incrível a coincidência, além de linda frase. Eu ia participar de um concurso nacional e quis colocar no final da poesia uma nota dizendo: HOMENAGEM A CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE. Mas alguém me intimidou. “A família pode não gostar e te processar. Sabe como é gente famosa”.
Não entendi por que me processar se eu estava homenageando e não difamando, mas inexperiente que era, tirei e coloquei outra nota no final. Talvez se tivesse colocado a nota que pretendia colocar se referindo a ele, eu teria uma colocação melhor no concurso, pela sua morte em evidência, principalmente nos meios literários
De qualquer forma me rendeu meu primeiro grande prêmio de poesia. Ficar no número 96 entre 15.600 trabalhos inscritos, foi para mim sim, um grande prêmio. A editora na época, pertencia a ninguém menos que Paulo Coelho, ex parceiro de Raul Seixas, hoje um best seller.
Houve gente amiga que se preocupou comigo por causa do teor das palavras, pelo grande grau de solidão que a poesia refletia. Alguém disse: “Parece alguém se despedindo da vida, entregue, meio suicida”. “Aí que está”, respondi. “Você não sabe como ressurgi nessa poesia, nessa premiação. O poeta faz da dor o seu triunfo. A dor é passageira, a vontade não. Quando se está no fundo do poço, você tem duas opções: permanecer no fundo ou escalar as paredes. Eu prefiro a segunda opção, ainda que seja para sangrar os dedos”.
Eu preferi ficar com o comentário de um professor de literatura a quem dei um livro, que nem sabia de minha grande admiração por Drummond e disse: “Você conseguiu dar um toque drumondiano a essa poesia”. Fiquei duplamente feliz. Muito motivador numa fase de transição.
Ainda bem que os homens passam, mas as obras ficam... como ficou a de Carlos Drummond de Andrade, norteando a mim... um passarinho aprendiz.

AQUI JAZ UMA FLOR

Aqui jaz uma flor.
Beira de vida, beira de estrada.
Ela foi esquecida, ela foi ignorada
e esse mundo já tão vazio de amor
esvazia-se mais agora porque morreu uma flor
Quem nessa vida somente exalou o melhor dos perfumes
vive hoje de queixumes;
eram fortes as ervas daninhas.
Até quando vão as flores viver sozinhas?
Na beira da estrada?
Na beira da vida?
Aqui jaz uma flor... uma flor esquecida.
Sobre ela se fez sol, se fez chuva, se fez sombra
mas, não se fez atenção.
Que bobagem,
pensam que as flores não têm coração.
Como não, se elas emanam o amor?
Chegará a primavera desfalcada de uma flor.
Quem não foi regada
quem não foi cultivada
quem foi esquecida,
morre na beira da estrada...
morre na beira da vida.

Nota: Inspirada na solidão que me assusta

segunda-feira, 1 de junho de 2009

HIPOCRISIA

Ache essas e outras imagens no site Mensagens & Imagens

[red][b]Mande mais imagens pelo site www.mensagenseimagens.com.br[/b][/red]
Desculpem a repetição. Mais uma do meu amigo Zé Soares, de quem já falei outra vez aqui. Ele sempre foi muito despojado, espontâneo, liso leve e solto, como dizem por aí. Além de muito inteligente. Nunca se importou com o que as pessoas falam ou pensam dele. Mas me corrigia. “Não dou a mínima, Carlos, é para pessoas do mal. Claro que me importo com o que as pessoas falam de mim ou como me veem. Se uma pessoa do bem me der um conselho, uma sugestão, eu acato e dou muito valor. Eu não gosto é de hipócritas, gente cínica”. Eu também não.
Estávamos, eu e ele na frente de sua casa ouvindo umas músicas internacionais e umas mpb também. Sempre fomos bem ecléticos. desde que dentro desse ecletismo tenha qualidade. Coisa ruim tem em todos os estilos.
Estava uma tarde bonita, sabadão, sol fraco. Numa dessas músicas brasileiras, o refrão repetia: “ bom dia sooool, bom dia sooool... bom diaaaaa soooool”. Zé Soares, de repente abriu os braços e começou a cantar olhando para o sol, acompanhando o disco. As pessoas que passavam e os vizinhos, começaram a rir dele. Ele parou por instantes e me disse. “Veja, Carlos que gente mais idiota. Aposto que estão dizendo que devo estar bêbado e blá blá blá. Sendo que só tomamos uma cerveja. As pessoas não podem ver a gente feliz. O que tem demais eu cantar? Vou voltar essa música quinhentas vezes e vou cantar até eles saírem das janelas”. Não foram quinhentas repetições, mas uma dez foram. E ele cantava alto, tem voz forte e afinada. É um exímio tocador de violão.
Quando tudo terminou lembrei a ele uma estorinha em quadrinhos do Pateta, que eu sempre comparava com ele, pelo jeitão simplório e despreocupado do personagem. Muito embora, sua esposa o comparasse a outro, Mr Magoo, personagem míope que anda derrubando tudo.
Um dia, Pateta, desligado que é, saiu às ruas com uma meia azul e outra vermelha. Por onde passava ou ia, as pessoas riam dele disfarçadamente, ou tentavam disfarçar. Sentindo-se incomodado ele subiu no banco da praça e fez um discurso mais ou menos assim:
“Hoje por um mero descuido ou por estar sonolento, saí de meias trocadas, mas não deixei por isso, de ser eu mesmo. Tentei tomar um café na padaria, mas não pude... porque estou de meias trocadas. Tentei cumprimentar pessoas, fazer novos amigos, mas não pude...porque estou de meias trocadas”. Sempre enfatizando a expressão “meias trocadas”. E continuou, a praça foi ficando lotada “Estão rindo de mim por causa das meias trocadas, mas alguém se preocupou comigo, com minha pessoa? Se estou passando bem, se tenho algum problema? Como foi minha noite? Se preciso de algo? O que um par de meias pode alterar no comportamento ou valor de uma pessoa? Será que as pessoas que riram das minhas meias trocadas cuidam bem de suas vidas? Será que não há algo mais importante nessa sociedade do que umas simples meias trocadas?”. Falou mais algumas coisas que não me lembro e encerrou. “Vocês além de tudo estão mal informados. Não sabem que lá no país ............( citou um pais fictício), essa é a última moda? Pois sim. Lá eles usam uma meia de cada cor”. E retirou-se deixando uma platéia entre curiosa, boquiaberta e envergonhada.
No dia seguinte, Pateta levantou-se, agora atento, calçou as meias certas, nada de trocadas, e saiu às ruas e para seu espanto... o que viu?
Todas as pessoas estavam de meias trocadas. Depois do susto, no último quadrinho, Pateta abriu os braços, com as mãos espalmadas, como quem diz: “Fazer o quê, né?”.
Quando terminei, Zé Soares disse rindo demais. “É, Cal. Você não existe. Sempre com suas tiradas. Filosofia em quadrinhos. Agora fiquei fã do Pateta. Eles eram hipócritas e continuaram hipócritas. Passaram a usar as meias trocadas, só porque alguém disse que era bonito. Sem personalidade, próprio mesmo dos hipócritas”. Não concordei muito e falei. “Sou otimista e penso que talvez eles deixaram de ser convencionais, deixaram de ser chatos”. Ele rebateu.”Vou discordar do meu amigão, coisa rara entre nós. Ainda fico com minha opinião. Eles são é idiotas mesmo. Mas isso também é um problema deles, né ”.

A hipocrisia é a fuga mais comum daquele que não tem coragem de ser ele mesmo o que o leva a sufocar seus medos e frustrações no preconceito para com o outro.
(Elias Raik Miranda de Carvalho.Autor do pensamento)