ESCREVER É DIVINO!

ESCREVER É DIVINO!
BONS TEMPOS EM QUE A GENTE PODIA VOAR. ERA MUITO BOM SER PASSARINHO.

CAMINHOS DE UM POETA

CAMINHOS DE UM POETA
Como é bom, rejuvenescedor e incentivador para o poeta, poder olhar para trás e ver toda a sua caminhada literária, lembrar das dificuldades, dos incentivos e da falta deles, da solidão de ser poeta e do diferencial que é ser poeta. Olhar para trás e ver tudo que semeou, ver uma estrada florida de poesias, e dizer: VALEU A PENA! O poeta vai vivendo, ponteando, oscilando, e nem se dá conta da bela estrada que escreveu. Talvez ele não tenha tempo porque o horizonte o chama, e o seu norte é... escrever... escrever... escrever. Olho hoje para trás... não foi fácil, mas também ninguém disse que seria. E eu sabia que não seria, ser poeta não é fácil, embora seja lindo. Contemplo a estrada que eu fiz, e digo com orgulho quase narcisista: Puxa... como é linda minha estrada!

sexta-feira, 30 de julho de 2010

A SOLIDÃO ASSUSTA


( imagem olharbrutal.fotosblogue.com- google )
Outro dia fazendo nada, estava vendo o seriado Chaves, onde os meninos fantasiam que uma senhora que mora na casa 71, é uma bruxa. Começam a ver coisas, devido à imaginação fértil de criança misturada ao medo. Veem-na mexendo um caldeirão, corujas e morcegos voando, gatos miando, etc. Quando eu era criança, acontecia algo assim, nem tanto, mas parecido. Tínhamos medo de uma senhora, diziam que era feiticeira. Não era pra menos. Andava sempre descabelada, vestido amarrotado, longo, arrastando no chão. Quase não era vista. Saía pouco de casa, quase sempre se limitava ao terreiro para regar seu parco e falhado jardim, que tinha mais terra do que flores. Respondia ao bom dia de algumas pessoas que passavam, mas nunca levantava os olhos. Dormia muito cedo e com a casa totalmente escura. O que mais intrigava os meninos era que tinha uns dez ou doze gatos e falava com eles com muita intimidade. Todos tinham nomes e a obedeciam, até na ordem de comer. Se um, por exemplo, de nome 'Chico', (nome fictício) viesse comer sem ter sido chamado, ela o repreendia. 'Não te chamei aqui. É a vez do 'Leo'. Agora, por sua falta de educação você vai ser o último. O gato humildemente afastava-se e esperava nova chamada. “Viu? Ela fala com animais. Só pode ser feitiço”. Da porta ao pequeno portão, tinha uns seis metros e a gente ficava ouvindo-a lá dentro, travando longas conversas com os gatos, como se estivesse confidenciando algo.
Improvisávamos um campinho ali mesmo no asfalto. De vez em quando, um pé torto chutava a bola no terreiro de alguém. Tirando dona Maria preta, que já citei aqui que furava nossas bolas, todos os vizinhos jogavam a bola de volta. Quando essas pessoas não estavam em casa, a gente pulava para buscar. Na casa dessa senhora Maria sei lá do quê (não me lembro do sobrenome), nunca caía, mas se caísse, ninguém pularia. Motivo: medo. "Sei lá se ela manda um feitiço, uma praga". Era o que todos diziam. Pois um dia caiu. Sempre tem a primeira vez. Claro, o jogo acabou. Cadê o homem pra pular lá e pegar a bola? Até porque a gente nunca sabia se estava em casa, pois era hábito deixar sempre fechada, independente de calor. Fomos embora murchinhos pra casa. No dia seguinte, estávamos sentados na esquina, falando de qualquer assunto, quando sua porta se abriu, ela saiu com a bola debaixo do braço, descabelada como sempre, andou uns vinte metros até nós. Todos surpresos, em silêncio. Aproximou-se, entregando a bola a um dos meninos e disse com voz simpática. "Acho que essa bola é de vocês. Por que não me chamaram lá dentro para pegar? Por isso estranhei que pararam de jogar cedo". Passou a mão na minha cabeça. "Você é o que mais grita, né? Ô menino pra gritar". E foi embora. Pela primeira vez, senti que ela "não era tão bruxa assim".
Um dia, foi achada morta sobre a cama, os gatos, em volta do corpo, como se a estivessem vigiando. Os vizinhos estranharam porque apesar de não falar com quase ninguém, não deixava de sair para regar o jardim. E os gatos estavam sumidos. Rebuliço geral no bairro. No velório, poucas pessoas, mais curiosas que condolentes. Todos queriam ver o interior da casa. Nas paredes, várias imagens de Jesus Cristo, da Virgem Maria e uma Bíblia, ilustrada, bonita de capa vermelha, sob a mesinha da tv. Nenhuma foto de parente, nenhuma agenda. Não tinha nada de feiticeira. Coitada, era só uma velha solitária.

12 comentários:

Anônimo disse...

O medo e não sim a solidão, o medo de não tentar, de não pronunciar, dos que os outros irão pensar, tudo isso eu denomino solidão, o medo de não ser ela mesma, pois as pessoas sempre são rotuladas por um simples olhar crítico!
Eu mesma ...
Bom final de semana!

Everson Russo disse...

Sabe meu amigo,,,já assustou mais por essa vida, as vezes eu pensava como eu estaria numa determinada idade,,,o que já teria construido na vida, aqueles medos e sonhos,,,uma mistura perfeita,,,o tempo foi passando,,,não escrevi muitas linhas na minha historia,,,não inventei muita estoria, e depois de tanto tentar o amor, ela enfim chegou,,,a solidão,,,no começo ela é meio estranha,,,,é fiel,,,,sombria,,,depois a gente vai se acostumando estranhamente com ela..e pior,,,perigosamente....abraços fraternos de otimo final de semana.

RENATA CORDEIRO disse...

É isso aí. Às vezes, a bruxa é a próprio reflexo de alguém que não o encara, porque o teme. E acaba morrendo sem ver que era a gata-borralheira.
Amei!
Beijos amigo!
Bom fim de semana*
Muito obrigada
Renata

Eduardo Medeiros disse...

Oi Carlos, tudo bem?

Cara, gostei muito desse teu texto. Acho que todos nós tivemos as nossas "bruxas" na infância. Eu tive a minha também..rsss

mas a narrativa ensina não só sobre solidão, mas também sobre suposição fantasiosa. Não é verdade que tendemos a rotular tudo aquilo que nos é desconhecido? que nos é "esquisito"? Que foge ao padrão "normal"?

Na maioria das vezes por debaixo das nossas pressuposições infundadas, só existe mesmo uma "velha solitária".

abração

Rosa Carioca disse...

Cheguei aqui através da Pérola Marinha e gostei muito do que li. Voltarei mais vezes.
Abraço.

Secreta disse...

A solidão assusta quando é incompreendida!
Beijito.

Hugo de Oliveira disse...

Vivo com a solidão...ela é minha inimiga intima.

Felina Mulher disse...

Realmente assistir ao Chaves é estar literalmente na solidão...kkkkkkk...olha, lembro que na minha infancia conheci uma senhora igual a esta, ela se chamava "Maria do Gato", era assutadora tds diziam, mas era apenas solitária. Qdo eu ficar MAIS velha eu ja tenho minha companhia, minha cadela, vc pode não acreditar,mas ela sabe exatamente o que falo com ela e as vezes eu penso que ela ate tenta falar,me aconselhar, mas prefere ficar caladinha me ouvindo....eu gosto da minha solidão.

Um beijo querido.

Anônimo disse...

Momentos de reclusão e isolamento as vezes são preciosos, são essenciais principalmente para por em ordem pensamentos. Mas o ser humano não foi feito para viver sozinho, isso é bíblico. E também e filosófico afinal, foi Platão quem disse que eramos círculos, nos primórdios; fomos cortados ao meio e por isso buscamos a nossa cara metade ao longo das nossas vidas. Talvez por isso a solidão assuste tanto, porque sozinhos estamos sempre incompletos. Beijos meu querido. Amei, como amo tudo que você escreve.

Anônimo disse...

Ñ se julga um livro pela capa.
Perfeito!!!
Uma lição de vida para mim.
Parabénssssssssss.
Beijos amado e obrigado pela visita carinhosa.
Beijokas millllllllllll.

maria claudete disse...

Como as aparências enganam...É bom este resgate real da nossa infância...e como temos tantos. Você fez-me lembrar o homem que corria de capa preta toda noite de lua cheia no interior onde eu morava. Pequena, morria de medo. Quando cresci descobri que na verdade ele não virava lobisomem , rs, era o gerente da Usina que corria encapuzado para casa da enfermeira, rs, ele era casado com minha professora e tinha um caso com a fulaninha que morava num lugar escuro, dai a preferência pelas noites de lua cheia,mexia com o imaginário local. Bjs. Amei.

Everson Russo disse...

Abraços de bom sabado pra ti amigo...paz e poesia sempre.