ESCREVER É DIVINO!
CAMINHOS DE UM POETA
terça-feira, 6 de outubro de 2009
UMA SEMANA DE CRIANCICE- MEU PRIMEIRO AMOR ( ? )
( imagem google)
Quem de nós nunca fantasiou um namoro quando criança? Eu tive Amélia. Amélia era uma menina lindinha. Branca, de cabelos muito pretos, curtinhos, cortados rente à orelha. As pontas eram puxadas para perto da boca. Sobrancelhas bem definidas, vivas e cílios enormes lindos. Para completar o charme, uma pinta na bochecha direita. Nos olhávamos tempo todo na aula e no recreio, porém quase não nos falávamos. Timidez de criança. O máximo que aconteceu, foi num dia, quando me deu uma maçã no recreio, e de propósito, deixei meus dedos escorregarem em sua mão, mas ela recuou, tirando logo. Francisco, meu amiguinho viu e me gozou depois: “Aeeê Carlos. Ganhando maçã, hein? Quem sou eu”.
Pedi a ele que não espalhasse. Concordou, mas cobrou. “Chega na menina, rapaz”. Aí me entreguei. “Não é bem assim. Essas coisas têm hora”. Ele ironizou. “Você é um homem ou um rato?”. Eu acabei rindo e disse: “Sou homem, mas na hora fico do tamanho de um rato”. Francisco, era um menino moleque demais, e brincávamos de na hora do recreio, trocar os cadernos de todos. Num desses dias olhei os cadernos da Amélia. Estava escrito mais ou menos assim na contra-capa: “Meu namorado chama Carlos... Soares, sobrenome igual ao meu. Ele mora no Bom Retiro. Pena que é bobo, porque nunca fala comigo. Eu também tenho vergonha, mas sou menina, e menina não pode ser pra frente. Ele é bagunceiro, mas eu gosto dele. Eu acho que amo ele”. Mostrei para Francisco que quis zoar, mas o repreendi e ele parou e ainda me ajudou. “Não falei? Ela gosta de você”.. Chegou fim do ano e a primeira comunhão. Depois da missa ia ter um bailinho com comes e bebes na escola. Ainda me lembro de todos de branquinho, vela na mão, entrando na igreja. Minha mãe nunca foi chegada à festas e da missa voltou para casa.
Alguns casaizinhos dançavam, menos eu e ela. Francisco me empurrando: “Chama a menina pra dançar. Ah, se fosse eu”. “Calma. Daqui a pouco eu vou”. E ele: “Daqui a pouco acaba a festa e vai ficar chupando dedo e a menina com raiva... vamos comer cachorro quente por enquanto”. E eu. “Está doido? Vou beijar a menina com boca suja?”. Fomos, mas não comi nada até a hora de dançar, numa fome danada. Nossa distância no salão era de uns seis metros, mas parecia seis kilômetros. Enfim fui. “Oi, Amélia. Você está a fim de dançar?”. “Estou sim”, estendendo o braço charmosinha toda. Eu nem sabia dançar direito, mas sabia que eram dois pra lá, dois pra cá, pois via meus irmãos dançando. Estivemos tensos no começo, mas depois fomos nos soltando, até falamos coisas bobinhas de criança, tipo. “Você mora onde mesmo?”. “Você tem mais irmãos?”. “Festa boa, né?” Dançamos umas cinco músicas até que ela falou. “Vamos parar um pouco, estou cansada”. Aproveitei, dando uma de Don Juan mirim. “Aqui está muito quente. Vamos lá fora respirar um pouco”. Fomos e sentamos na parte cimentada do jardim, atrás de nós uma fonte. Depois de falarmos mais bobeirinhas, fiquei calado muito tempo e enfim investi pegando na mãozinha dela. “Amélia, posso te dar um beijo?”. Ela ficou ainda mais branca e se calou um tempão. Agora era eu quem morria de vergonha. “Ai que resposta demorada. Vou sair correndo daqui”. Depois de longos minutos, me olhou e respondeu com meiguice. “Pode, mas não quero agarramento, senão empurro você nessa água”. Lembrei de como os galãs das novelas faziam para beijar. Me senti um verdadeiro Tony Ramos. Viraria o rosto, começaria suave, abrindo os lábios, abraçando e depois ia aumentando. Que nada. Não saiu muito mais que um selinho tímido. Os dois ficaram mudos. Eu estava completamente trêmulo e suando frio. Ela também. Depois de um novo longo silêncio ela disse. “Vamos pra dentro, Carlos?”. Sem responder nada, só acenei que sim com a cabeça e fomos. Ainda dançamos outras, sem trocar uma palavra mais. Era fim de ano, vieram as férias, e mesmo ainda rolando olhares no ano seguinte, aquele romancinho foi acabando, fantasia que era. Pura e inocente. Sempre que posso gosto de passar por aquelas ruas. Já com uns 35 anos, num desses passeios, parei numa padaria. Quando fui pagar quem estava no caixa? Amélia. Mais gordinha como eu, de óculos como eu. Bonita ainda. Levei um pequeno susto e fiquei olhando fixo pra ela, não por nada, mas queria que ela me reconhecesse pra gente rir de tudo. Pois, não me reconheceu nada. Estranhou, eu ali parado, olhando. “Bom dia senhor. O senhor deseja alguma coisa?”. “Bem... é... sim... eu... quero pagar um café com leite”. Respondeu: “1, 50, se tiver trocado, agradeço”. Tirei dois reais, ainda olhando pra ela, que franziu a testa curiosa, me deu o troco e vendo que eu não saía, perguntou: “O senhor deseja mais alguma coisa? Está passando bem?”. “Não, não. Obrigado”. E saí. Na porta olhei pra trás e ela levantou os dois braços para sua funcionária num gesto de “ não entendi nada”. E completou. “Só dá maluco”. Claro que fiquei um pouco frustrado. Ah... mulheres! Como entendê-las? Acho que não agradei como Don Juan mirim.
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40 comentários:
Que graaça! É sempre assim, no começo, é igual pra todo mundo.
Uma semana mais do que válida. Muito legal, vc escreve muito bem!!
Bjos
Glória
Obs: olha!, que eu estou dor de cabeça.
ô dó... essa Amélia não está com nada.
Mais uma história hilária. Amei
Grande abraço
kkkk pois é Wanderley.Ri de gargalhada de seu comentário.Tinha que chamar Amélia,a mulher de verdade? Que eu fiquei p... da vida, fiquei.Ô raiva
Obrigado,Glória.bjssss
Gostei do texto..gostoso de ler viu. abraços
Hugo
Que coisa mais saudável lembrar disso!
Homem feliz você!
Ah carlos que delícia ler! Me lembrei de qdo tinha dez anos lá em São João da Boa Vista,passava férias na minha tia e ao entardecer minha prima e eu nos arrumávamos pra ir na praça. Meninas por dentro e meninos por fora a volta toda. Ficávamos passeando enquanto eles mexiam com a gente. Conheci o Francisco e me apaixonei. A noite não dormia, ficava pensando nele. Eu o achava lindo! Era bastante dentuço,mas, pra mim...rs Você faz isso, escreve tão bem que me reporta a um passado que nem lembrava mais! Bjs
Não se sentiu um pouco triste por a menina não o reconhecer? amor de criança é assim namora-se muito mas depressa se esquece. Inocência.Bjo.
Aff...adorei..delícia. O primeiro amor(?) mas claro que é. Agente vai desenvolvendo ao longo da vida várias formas de amar e essa é uma das primeiras: gostosa, leve, sem muitas dores mas inesquecível.
Ô poeta..adorei sua visita, volte sempre e obrigadinha pelas palavras.
já to ansiosa pra ver a aventura de amanhã..rsrsr
bjitos.
Meu amigo, como sempre digo, voce me faz vijar longe, longe na vida, longe no amor, naquelas coisas do coração, engraçado, aconteceu comigo tambem, um pouco pior...rs..rs..rs...tinha uma menina numas das series que estudei, setima se nao me engano, linda, morena, olhos verdes, apaixonei no primeiro dia de aula só porque ela olhou pra mim e sentou se ao meu lado, pronto, lá estava eu sofrendo da doença do Biquini Cavadão, Timidez...rs..rs..rs...era tão simples, era tão facil, ela tão ali ao lado, tão linda, sorrindo pra mim, e eu nada, ela vinha, brincava comigo, pegava na minha mão e eu so me perguntando, porque voce é tão bobo? rs..rs..rs..rs..bom, resumindo, passamos um ano inteiro amigos, e eu com medo de dar o primeiro passo e tomar um sonoro não, e ela se manifestando do jeito feminino de ser, sempre com toques, dicas, e eu ali parado feito poste, não atravessa a rua e não sai do lugar....rs...rs..rs..final do ano chegou, ela mudou de escola, e todas as minhas fichas que separei e disse a mim mesmo, "na primeira aula do ano que vem eu aposto tudo", perdi, cheguei a conclusao que, não se deve mesmo deixar pra amanhã o que se pode fazer hoje, muito menos se esse hoje foi um ano letivo inteiro...rs..rs...hoje fico pensando, porque eu nao escrevia naquela epoca? porque eu não tocava violão naquela epoca? poderia ser uma saida....ou uma entrada....rs..rs...rs..bom, foi um passado que voce me fez lembrar, e quanto as mulheres e suas maluquices, e nós pobres mortais tentando entende las, bobagem, o bom delas é não ter manual de instrução, sabe porque? a gente não iria ler mesmo....rs...rs...rs...forte abraço meu amigo, tenha uma bela quarta feira....
Ah, esqueci de dizer, eu era feliz e não sabia....
Caro amigo, Everson.Você disse tudo. As mulheres, mesmo antigamente, sempre foram mais atiradinhas, mais desinibidas nessa quetão de amor.Eu agitador que era, ficava tímido na hora. Agora,com certeza, se vocêe já tocasse e escrevesse na época, ia ter mais chances sim,porque essas "monstrinhas" também tem seus pontos fracos. rs rs
Obrigado, Sandra. Vai ter sim.Amanhã vou contar uma peraltice do bem.beijos
Eu sei, Kotta.Mas custava pelo menos me reconhecer? Então não valeu nada pra ela?
Lembro disso também ,Elaine. as meninas passando e a gente olhando.bjss
Obrigado, Bárbara, pelas palavras.bjs
Caro poeta, seus contos e textos poéticos são sempre de grande sensibilidade e expressam sua criatividade e capacidade de levar o leitor á reflexão. Obrigada por sua presença sempre afetuosa em meus espaços. Grande abraço.
Vou lá com prazer, Úrsula.Seus blogs, principalmente o "gotinhasdepoesia", me remetem à Cecília Meireles e Monteiro Lobato,duas grandes influências sobre mim na infância.Beijos
Eu vou com o Everson : EU ERA FELIZ E NÃO SABIA !
Paixões de criança me parece que são melhores e doem menos.
Bjs amigo
Adorei o post! Obrigada por abrir o seu arquivo particular e nos encantar com suas lembranças.
Bjs
Ói amigo que historinha tão carinhosa. tão suave, se sobece como eu voei nessa nave que suou tão familiar.
Enfim todos nós neste Planete, sempre temos qualquer coisa em comum.
Beijinhos de luz para eluminar seu dia.
Com certeza,Graciete.Temos sim. o universo é uma troca constante de energia. Obrigado pelo carinho.beijos
Oi Stela.Obrigado a você por vir compartilhar também.deve ter visto que dediquei a semana toda à criancice. na verdade,se for só pela semana, não vai dar tempo.Tem até uma que voc~e já ocnhece, que publiquei no seu blog, sobre a Virgem Maria,assim você poderá ler na íntegra.bjs e obrigado
Sim,Bandeira. Bem menos, muito menos.beijos
Oi, Glória. Quem sabe você riu um pouco e a dor de cabeça passou.Espero que sim.Volte sempre.beijos
Carlos,
Esses amores de infancia sao os melhores... deixam marcas a vida toda e nao nos deixaram responsabilidades... a gente cresce e esse negócio de amor fica tao diferente né?
Tadinha da Amélia viu...rsrsrsrs
to adorando essa semana de posts...
Bjs
Marcia
Adorei, achei fantástica a tua história.
M.obrigada por compartilhar conosco.
Beijo e um grande abraço.
Hey Carlos!
É na ingenuidade que se configura um verdadeiro sentimento. Muito boa a escrita, gostosa e cativante!
Parabéns!
abraços
Aii que fofo rsrs ...
Muito bom ler, rs
Obrigada mais uma vez por gostar
do que escrevo.
Abraços.
Aiiiiiiiiiiiiii
Que delicia ler isto,
como é gostoso brincar, deu uma saudades!
Mas melhor ainda foi saber que esta no meu cantinho e me curtindo um pouquinho.
Voce é bom com as palavras...
Meus parabéns!
Devagar vou lendo tudo.
Beijo
Amizade
T I N I N
Carlos,bom dia!Muito lindinha essa sua história!A inocencia de um primeiro amor retratada maravilhosamente bem,com sensibilidade e bom humor!Dava um começo para um livro.Já pensou?Abraços,
Oi,Anne. obrigado. A ideia está amadurecendo.beijos
Oi,Tinin.Obrigado e volte mais,né.bjs
Gosto sim Suany,do que escreve.Volte mais aqui,tá.bjs
Oba.Mais um amigo. Valeu Guilherme.Abração e volte sempre,meu caro. Com diz o velho ditado.É igual coração de mãe,sempre cabe mais um.
Obrigado,Mariana.Você já é uma amiga querida de algum tempo.bjs
Muito feliz com seus comentários, Márcia.Quer saber? Eu também estou adorando.Acho que foi uma ideia feliz,criativa,como as que eu tinha quando criança.bjs
Alô,Guilherme. Não consegui acessar seu blog ,amigo. Diz "perfil indisponível". Queria retribruir a gentil visita.
Ah que linda história de primeiro amor, me fez lembrar do meu primeiro amor, eu com 12 anos e ele também, eu apaixonada, boboca, tímida, na mesma sala de aula, olhares discretos...e um belo dia ele foi me levar até mais perto de minha casa, escondido..ah se meu pai pegasse, estaria morta...rs.
Falávamos pouco no caminho e quando chegou no ponto limite, onde menos riscos corríamos de meu pai nos pegar, ele me pediu um beijo, demos esse famoso selinho, como dizem hoje em dia, viramos, cada um pra um lado sem nem mesmo dizermos tchau, e no outro dia na sala de aula ele me mandou um bilhete, que triste bilhete, dizia mais ou menos assim: "O beijo foi uma aposta que fiz com o Leopoldo, nada mais do que isso".
Chorei por demais da conta.
Meu mundo ruiu, fiquei dias sem ir a escola, dizia aos meus pais estar doente.
Bem, agora lembro com carinho disso.
Beijos amigo.
Ah,Majoli.Fiquei com raiva desse menino.
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