ESCREVER É DIVINO!

ESCREVER É DIVINO!
BONS TEMPOS EM QUE A GENTE PODIA VOAR. ERA MUITO BOM SER PASSARINHO.

CAMINHOS DE UM POETA

CAMINHOS DE UM POETA
Como é bom, rejuvenescedor e incentivador para o poeta, poder olhar para trás e ver toda a sua caminhada literária, lembrar das dificuldades, dos incentivos e da falta deles, da solidão de ser poeta e do diferencial que é ser poeta. Olhar para trás e ver tudo que semeou, ver uma estrada florida de poesias, e dizer: VALEU A PENA! O poeta vai vivendo, ponteando, oscilando, e nem se dá conta da bela estrada que escreveu. Talvez ele não tenha tempo porque o horizonte o chama, e o seu norte é... escrever... escrever... escrever. Olho hoje para trás... não foi fácil, mas também ninguém disse que seria. E eu sabia que não seria, ser poeta não é fácil, embora seja lindo. Contemplo a estrada que eu fiz, e digo com orgulho quase narcisista: Puxa... como é linda minha estrada!

sábado, 24 de janeiro de 2009

SOBRE DAMAS E PROSTITUTAS


Nem sei por que vou contar isso. É muita coragem. Deve ser falta do que escrever. A idéia veio no terraço, noite de insônia, céu triste, chuvoso.
Um dia desses vi na tv uma ex dona de bordel sendo entrevistada. Ela dizia que ao contrário do que muita gente pensa, os homens não vão lá só para transar. Claro que a grande maioria é, mas tem uma boa faixa daqueles que além de sexo, procuram alguém para conversar, se abrir, falar de problemas, do emprego, enfim acabam virando psicólogas, conselheiras, amigas mesmo. Contou até uns casos engraçados, outros tristes.
Passei uma fase bem rebelde na minha vida, diria até perigosa, pois, falava o que queria e onde queria. Sem contar os problemas de ordem pessoal e familiar que ajudava um pouco naquele jeito tresloucado. Quando se tem 20 anos, a gente pensa que pode mudar o mundo. Pura bobagem! Mas também não fiquei alheio depois, só não pretendo mais ser um paladino da justiça. Não gostava (e não gosto) de injustiças e covardia. Então não agüentava ver ninguém deitado nas esquinas, menino pedindo na rua. Um dia cheguei perto de um policial que batia num malandro e disse: “Por que o senhor está batendo se ele está algemado, deitado?”. “Saia daqui senão leva também”. Um dia, apesar de não ser preso, andei no camburão da polícia, porque me indignei com um cobrador que tratou mal a um idoso. Então eu era assim. Tomava as dores de todo mundo. Mas parei, graças a Deus. Ainda fico indignado, mas só por dentro. Eu era contra o vento dos new wave do fim anos 70,início dos 80. Aquele falso “ tempos da brilhantina” lançado por John Travolta. Os tempos da brilhantina existiram sim, mas nos anos 50, 60 com Elvis e James Dean, essa sim, uma juventude que fez acontecer, foi lá e buscou. A juventude dos anos 80, pegou tudo pronto da mídia e achava bonito andar de calça preta e bota. Enquanto via os amigos acertandoo cabelo com gel eu não penteava o meu pra ele ficar mais enrolado.Aquilo era só uma moda, eu tinha era estilo.Tanto é que Travolta se transformou num grande ator. James Dean, Little Richards, que subia em cima do piano, todos morreram rock’n roll. Chuck Berry ainda é vivo. Meus ídolos era meio assim polêmicos, alguns malditos, mas gente que fez acontecer. De diversas áreas e culturas. Gandhi, Raul Seixas, John Lennon, Che Guevara,Tiradentes ( o verdadeiro herói brasileiro), Rita Lee, Zé Ramalho e até Lampião. Eu não queria ser tão contundente como eles, apenas mostrar às pessoas, um jeito novo de querer.
Todas as vezes que tentei entender a raça humana (que prepotência a minha), fui ao fundo do poço. Era com os bêbados, com os mendigos, com as mães pobres que eu conversava. Essa gente tem muito a nos passar. Escrevi “Da minha janela”, de onde eu descia às mazelas humanas, ao submundo da sociedade. A miséria sendo tratada como piada. Só indo aonde as pessoas sofrem é que temos a verdeira idéia do que passam. Certa vez falei com um mendigo por mais de uma hora no banco da praça, enquanto aguardava o banco abrir. Escrevi “Um bêbado me disse”. Um professor me alertou. “Nenhum jornal vai publicar isso. Você está mais é vomitando que falando. Falando mal até dos jornais”. Uma outra vez, falei com um louco lá do bairro que só falava quando queria. Ficava dia todo andando na rua, sem dar uma palavra. Quando falava era dia todo. Gostava de subir no barranco também e cantar de braços abertos. Um dia mostrei a ele um passarinho vermelhinho lindo no fio do poste. Ele pôs a mão no meu ombro e com a outra fez sinal com o dedo, de negativo e disse: "De Deus. Passarinho bonito. Não pode matar”. Achei incrível isso.
Mas o que tudo isso tem a ver com as prostitutas? Quando me sentia em fase extrema de revolta, com ego altamente elevado, costumava me exilar. Não pelos cantos, mas em outros lugares, onde não conhecia ninguém. Nunca usei drogas, até mesmo porque apesar da rebeldia, era medroso. Um “amigo” me ofereceu na palma da mão um cigarro de maconha e eu disse a ele. “Não tenho nada com sua vida, mas se você me oferecer isso mais uma vez nunca mais falo com você”. No outro dia foi na minha casa, pediu mil desculpas e falou: “Deus me livre perder sua amizade”. Mas bebia muito, de tudo que é tipo de bebida numa só noite. Gostava de ir à uma zona boêmia, em especial numa boate. Claro que de vez em quando ficava com uma, mas eu gostava mesmo era de sentar no meu canto, tomar umas doses e ouvir música. Passava horas ali. De vez em quando me sentava ao balcão, conversando com a dona do bordel, Jandira. Só que não mexia com ela, uma mulher tão bonita devia ter parceiro. Era morena bem brasileira mesmo, devia ter uns 35 anos, cabelos
longos, pernas grossas e bumbum grande e certinho. Na primeira vez que estive lá pedindo algo ela disse: “O que um rapaz tão jovem e bonito está fazendo aqui?”. Com o tempo ficamos um pouco amigos. Um dia pedi a ela papel e caneta, ela riu: “Vai escrever uma cartinha para minhas meninas?”. “Não, vou escrever uma poesia”. “Ai, que chique. Um escritor na minha boate?”. Respondi: “Escritor não, escritor é Carlos Drumond de Andrade. Eu sou um rabiscador de sonhos”. E escrevi um poema que começava assim:
ESSE MUNDO COLORIDO ENGANANDO MEUS OLHOS
QUERENDO ME IMPOR QUE SOU FELIZ,
MAS É MEU PEITO QUEM DIZ;
QUERIA UM MUNDO EM BRANCO E PRETO
PARA EU COLORIR DA FORMA QUE QUERO.
NADA DO QUE ME DIZEM SE APROXIMA DO QUE VENERO
DO QUE DESEJO.
NÃO QUERO ESSAS LUZES, ESSE ARCO-ÍRIS.
QUERO APENAS UM BEIJO.
Era sempre assim, letras fortes, revoltadas, mas melancólicas, pedindo socorro. Lia ao mesmo tempo o mundo encantado de Alice no país das maravilhas e Peter Pan, e Romeu e Julieta, o maior clássico literário da história. Sim, o maior clássico literário da história é uma tragédia. Temos tendência à tragédia. Morrer por amor! Eu também já quase morri por amor, não por suicídio, mas por intensidade. Outra bobagem, já sanada. Tudo que fazia e faço é intenso. Se amo é para valer. Se rio, é bem alto. Se choro, choro em qualquer lugar. Se tenho raiva, fico irreconhecível. Quando recito, levito. Saio do chão.
Mas voltando ao poema, não me lembro do resto porque ela leu e quis ficar. “Ai que bonito, menino! Dá para mim?”. Se dei poesia até para os calhordas, porque não a uma prostituta, uma mulher tão bacana? O que tem de diferença entre as prostitutas e os calhordas? Pensando bem, tem sim. Pelo menos, elas dão prazer. Os calhordas só dão desgosto.
Só avisei. “Não vá jogar fora depois, hein? Não faço poesia pra jogar fora”. Ela apelou: “Está pensando que sou o quê? Sou prostituta, mas tenho dignidade”. Achei interessante a expressão “prostituta, mas com dignidade”. É que às vezes associamos qualidades como honestidade, dignidade, aos cargos que as pessoas ocupam, pelas roupas que vestem. Então um gari, uma prostituta, não podem ter esses quesitos?
Numa de nossas conversas ela falou. “Você trata as prostitutas como damas. Elas não estão acostumadas com isso”. Respondi dando mais um gole. “Não conheço damas, nem prostitutas. Conheço mulheres”. Ela avisou: “Está bem, mas não vá criar problemas para minhas meninas, viu? Prostituta apaixonada não dá certo, só dor de cabeça”.
Ela deve ter falado isso por causa da Janete, que um dia deitada no meu peito na cama, revelou: “Você me faz ter vontade de voltar para casa dos meus pais. Você é tão legal. Se eu pudesse deitaria com você, até de graça... mas vivo disso”.
Felizmente essa fase passou rápido, um dia na frente do espelho vendo meu rosto horrível após um quase coma alcoólico por causa de vodka, falei: “Deixe de ser idiota, cara!.”. E parei. Hoje bebo moderado. Mas de música ainda gosto demais. Passo meus domingos ouvindo. Continuo respeitando os bêbados, os mendigos, os loucos e as prostitutas.

Chamar a vida da prostituta de vida fácil é tão injusto e mentiroso, quanto chamar a mulher de sexo frágil.

Nota: O texto foi retocado hoje, mas o original foi criado em 1995.

4 comentários:

O mar me encanta completamente... disse...

Não Carlos...
Nada é fácil, para ninguem não é?
De fato, aqueles que são sensíveis aos acontecimentos atuais que desse mundo, percebem as coisas como você. Vivemos num tempo em que os valores e a ética se deterioram e o abuso e a maldade do homem sobre o homem, se multiplica.
Mas não podemos ser passageiros nessa viagem, precisamos ser condutores.
Precisamos fazer alguma diferença com nossas atitudes no pequeno espaço de convivência em que estamos inseridos, nem que seja através de um grito, como esse que você ecoou através do seu texto. Meu carinho sempre...

Sonia Schmorantz disse...

Para refletir:
Aprendi que não posso exigir o amor de ninguém...
Posso apenas dar boas razões para que gostem de mim...
E ter paciência para que a vida faça o resto...
Não importa quão boa seja uma pessoa, ela vai feri-lo
de vez em quando e você precisa perdoá-la por isso.
(William Shakespeare)

Faça dessa nova semana um novo início rumo à
felicidade.
abraços

EDUARDO POISL disse...

Chega o vento assobiando
fazendo riscos imaginários
como ondas no céu soprando sobre folhas ,
flores, vidas chega a brisa manhã
canta suaves carinhos
envolve numa doce,
fresca brincadeira
lembranças num rastro
manso luz vento , brisa,
vida tocam rios janelas
todas as casas calçadas
soprando sorrisos
lembrando todos os caminhos
colorindo como se fosse carrossel
verdadeiros roda moinhos
deixando correr a vida
como fosse melodia...
(Maria Thereza Neves)

Tenha uma linda semana
Abraços

Elaine Barnes disse...

Entendi o que disse, rs...Obrigada! Para mim foi um elogio gigante. A sua história me fez sentir as emoções em cada passagem. Isso é que faz um grande poeta, escritor! Quero aprender muito com você. Adorei a maneira que descreve as coisas.Adorei ter mais um amigo tb. bjão