ESCREVER É DIVINO!

ESCREVER É DIVINO!
BONS TEMPOS EM QUE A GENTE PODIA VOAR. ERA MUITO BOM SER PASSARINHO.

CAMINHOS DE UM POETA

CAMINHOS DE UM POETA
Como é bom, rejuvenescedor e incentivador para o poeta, poder olhar para trás e ver toda a sua caminhada literária, lembrar das dificuldades, dos incentivos e da falta deles, da solidão de ser poeta e do diferencial que é ser poeta. Olhar para trás e ver tudo que semeou, ver uma estrada florida de poesias, e dizer: VALEU A PENA! O poeta vai vivendo, ponteando, oscilando, e nem se dá conta da bela estrada que escreveu. Talvez ele não tenha tempo porque o horizonte o chama, e o seu norte é... escrever... escrever... escrever. Olho hoje para trás... não foi fácil, mas também ninguém disse que seria. E eu sabia que não seria, ser poeta não é fácil, embora seja lindo. Contemplo a estrada que eu fiz, e digo com orgulho quase narcisista: Puxa... como é linda minha estrada!

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

PÉROLAS DE MINHA INFÂNCIA IV ( MEU PAI)


Recados e Imagens - Pai - Orkut

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Nunca falei muito de meu pai em meus escritos. Deve ser porque convivemos pouco. Quando faleceu, eu era muito novo, tenros nove anos. Ele com sessenta e três. Mas o pouco que vivi vale ser lembrado. Sim, desde criança vivi tudo intensamente.Tenho uma memória afetiva incrível, sempre guardei tudo que vivi e ouvi. São tijolos na construção do meu ser.
Acho que herdei algumas influências dele. A poesia, por exemplo. Gostava de fazer umas trovinhas e comprava muita literatura de cordel. Aquelas estórias e lendas nordestinas tipo “a peleja de Lampião contra o Diabo”, ou “Deus e o Diabo na terra do sol”, “o dia em que Maria Bunita quis deixar Lampião”. Literaturas sempre bem humoradas apesar de algumas com nomes feios. Depois disso me interessei muito pela cultura nordestina que acho muito rica. Gostava muito também de nos dar conselhos citando ditados populares, gostava de frases de efeito, outra influência. Não tinha muita leitura, mas estava sempre com um dicionário na mão e contrariava quem dizia que o dicionário é o pai dos burros. “Pai dos inteligentes. Quem pesquisa, é inteligente. Burro é quem e não sabe e fica parado”. Outra boa herança. Às vezes exagero um pouco e digo que metade do que sei, foi buscando, pesquisando, que a escola me ensinou apenas a ler e escrever, exageros à parte, tenho uma certa dose de razão. Quando não sei algo ou alguma palavra vou procurar. Uma controvérsia é que ele quando via um avião passar dizia. "Não entro num troço desse nunca". Mal sabia ele que seria meu ramo de trabalho. Nem eu,mas já ficava maravilhado.
Meu pai era alto, moreno bem avermelhado, quase índio. Seus bisavós eram escravos ou índios, não me lembro bem.
Era bravo com os filhos, pai à moda antiga, mas não posso me queixar, comigo não era. Pelo contrário, orgulhava-se de mim perante os amigos que reunia para beber e comer pé de porco e tocar sanfona e violão. “O Carlos, mal chega da aula e já vai fazer os deveres”.Ou. “Ele sabe rezar Pai Nosso e Ave Maria sozinho”. “Ihhh esse menino já lê qualquer coisa.”
Mas isso não era o mais engraçado. Ele simplesmente detestava Roberto Carlos. Claro porque gostava da música caipira de raiz. Outra influência sobre mim, pois com o tempo fui lendo e vendo que a maioria dessas canções são verdadeiras poesias, obras primas mesmo.
Em meio aos amigos na sala, o fiel cachorro Famoso, debaixo do sofá, ele me colocava em sua perna esquerda, a sanfona na direita, e dizia. “Canta aquela do Roberto Carlos”. E eu cantava. “Eu te amo... eu te amo... eu te amo. uou uou uou uou”. E eu ainda punha os dedos apertando o nariz pra ficar fanhoso tentando fazer a voz do Roberto que tem o som bem nasal. Os amigos, e ele ainda mais, riam. Só sei que no final de tudo acabei ficando bem eclético em termos de cultura musical, pois simultaneamente ouvia, Led Zepellin, Bob Dylan, Raul Seixas, Luiz Gonzaga. Tonico e Tinoco, Elton John, Queen, John Lennon, Fagner, enfim, menu bem variado. Acho que os anos 60 e 70 foram os melhores na música.

Quando morreu, eu não tive de imediato a idéia exata do que era aquela perda. Uma semana após o sepultamento, andei a casa toda procurando por ele instintivamente. Não ouvi mais o estalar de chinelos pelo corredor. Vi a sanfona vermelha esquecida no canto do quarto. Só um travesseiro na cama de minha mãe. Assim entendi porque Famoso, na noite do sepultamento uivou a noite toda. Ele estava chorando. A radiola, minha mãe só andou ligando para ouvir a missa aos domingos. Ninguém mais ligou a VOZ DO BRASIL, que meus irmãos e irmãs diziam que era chato demais. Eu não me importava, ora se era o gosto dele. Além do mais, era a certeza que ele estava ali, em casa. Era muito seguro sentir a presença de um pai. Com o correr dos dias, das semanas, é que fui sentindo sua falta, fui percebendo o vazio, pois aquele momento de sentar na perna e poder agradá-lo me fazia bem também. Eu ia à sala, olhava o sofá e procurava aqueles tantos chapéus que os amigos penduravam numa espécie de cabide no canto. Não ouvia mais as gargalhadas de quando eu cantava. Eu gostava do Roberto Carlos, mas não daquela música, achava chata, repetitiva, era mais pela festa mesmo. Famoso nunca mais foi o mesmo. Ficava deitado na porta como se estivesse esperando a volta de alguém. Também já era velho e morreu não muito depois. Os anos passam e é da natureza humana, aceitar, se acostumar, inclusive com a morte, o mistério mais claro dessa vida. Entre tropeços e vitórias cheguei até aqui, mas gostaria muito de ter crescido ao lado dele. É muito difícil crescer sem um pai. Quem já cresceu e ainda tem o seu, cuide dele. Seja tolerante. Respeite seus cabelos brancos. Não ria de seus erros de português, foi graças a ele que você aprendeu a ler. Tenha paciência com suas pernas lentas. Elas já correram muito por você.
Obrigado meu pai. As coisas boas que sei, herdei de você. Uma delas é respeitar os mais velhos. As ruins foram do mundo mesmo.
Continuo gostando de rock, mas ainda me encanto ouvindo uma sanfona bem tocada e quando estou numa roda de viola peço pra tocar as suas caipiras.

Um comentário:

ARMANDO MAYNARD disse...

Que saudade em Carlos, eu também as vezes fico pensando no meu, que também já se foi. O mesmo gostava demais de rádio e cinema, duas paixões que me foram transmitidas. Imagino se vivo fosse como iria achar fantástico o dvd e a internet. Um abraço, Armando