
( imagem google )
FÊNIX
Sou eterno!
Não há derrota ou sofrimento
que me impeçam de viver mais um momento.
Noutro instante me torno gigante.
Quando tudo estava perdido e eu estava caído,
ressurgi.
Levantei e venci!
Quando me sentia afogando
dei mais uma braçada e pisei firme em terra.
Quando mostrava estar mudo
soltei com força meu grito de guerra.
Se um dia tive medo
no seguinte fui pra batalha,
não temia escuro, nem represália.
Se às vezes, fui fogo de palha,
noutras incendiei o mundo com meu calor.
Se às vezes fui pequeno como gota d’água,
noutras saí inundando de ânimo, esperança e amor.
Se num momento fui grão de areia,
uma coisa feia ou estranha,
noutro fui uma bela e imponente montanha.
Sou assim!
Renasço, ressurjo, reacendo!
Quando eu parecia oco,
uma casa vazia,
eu estava cheio...
transbordando de poesia.
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NOTA:Fênix era um pássaro mitológico que renascias das próprias cinzas.A diferença é que eu não sou um mito.Sou real .
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Sempre digo que o poeta é do mundo. O poeta, em tudo que escreve, mesmo sobre assuntos alheios, diversos, põe um pouco de si. Ele sempre está inserido no texto, no contexto. Pelo menos eu sou assim. Se me pedirem para escrever sobre aquela árvore, escrevo, mas deixo um pouco de mim nela. Se for sobre o rio, sobre a pedra, enfim, qualquer coisa, darei um jeito de por algo de mim. Mas acontece o inverso também. Por mais que o poeta fale só de si, se pondo como o centro de um poema, esse poema estará servindo para alguém. As pessoas entram no seu poema e adotam para si. FÊNIX, um de meus poemas mais pessoais, é um exemplo disso. Leiam isso:
"Carlos, você nem me conhecia, mas fez esse poema para mim. Você nem imaginava me ver um dia, mas esse poema é meu". Jamais esqueci o que Lenir me disse. Ela acreditava nessas coisas de telepatia, troca de energia cósmica, etc. Pensando bem, acho que eu também. Não trabalhamos muito tempo juntos, talvez uns dois anos. Trabalhávamos em horários diferentes, mas a meia hora de troca de turnos era sempre muito divertida. Não sei quem era mais doidinho. Eu? Ou ela, apesar de oito anos mais velha? Fato é que éramos muito amigos. Pediu. "Faz uma cópia para mim com dedicatória à mão". Fiz e assinei de forma engraçada, puxando o S de Soares, fazendo uma carinha com óculos, sorridente dentro desse S. Ela achou muito engraçado e disse. "Aonde eu for, esse poema vai estar na minha bolsa. E vou falar de você para todo mundo". Ela saiu antes de mim, mudou-se para Vitória. Depois vim para cá. Na época não existia internet ou celular. Mesmo assim arranjou um jeito de pegar meu novo número de fone de trabalho e quando podia, ligava contando sobre seu tratamento contra câncer. Sim, estava doente. "Carlos. Meu peitinho, tão bonitinho, estão querendo tirar. Falei pro doutor. Se ele tirar ninguém vai querer namorar comigo", e ria. "Você tem parentes aqui. É bom você vir me ver logo, senão quando chegar, não vai me ver, pois cada dia tiram um pedaço desse corpinho". Falava disso tudo sempre com muito bom humor. Ou fingia. Antes de descobrir a doença, lá nos tempos áureos, eu notava seu olhar triste, mesmo quando brincando. Tinha vivido um casamento conturbado, violento, mãe de três filhos. "Puxa, Carlos. Você parece que tem olhos de raio x. Vê a alma da gente". Com o tempo as ligações foram ficando raras, eu também andava sem tempo, quase oito meses praticamente recluso fazendo cursos. No dia em que ela morreu, acordei com sensação muito ruim, um mal estar, uma tristeza sem saber porquê. Mal cheguei para trabalhar, o fone tocou. Era para mim. Não conheço a pessoa que ligou, disse apenas isso. "Você é o Carlos? Pediram para avisar que a Fênix morreu". Não falei nada. Desliguei o fone, fui para o banheiro e chorei muito. E fiz uma oração para ela. Sinceramente, trabalhei o dia todo com os olhos lacrimejando.