ESCREVER É DIVINO!
CAMINHOS DE UM POETA
sexta-feira, 18 de setembro de 2009
EU ADORAVA FOFOCAS
( imagem google)
Uma vez, uma amiga de escola me disse. “Você gosta de escrever. Por que não cria um jornalzinho da escola? Com brincadeiras, curiosidades, fofocas. Essa escola está muito parada”. Pensei, pensei e perguntei. “Você me ajuda?”. “Claro”, e completou. “Na minha cidade a gente fazia, era super legal”. Levei a ideia para casa. No dia seguinte, ficamos escolhendo nomes, até chegarmos ao consenso e definirmos. “Fatos&Boatos”. E começamos. Ela dava cores ao mural, levava material como pincéis, fita adesiva, etc. O famoso toque feminino. E manipulava bem o mimeógrafo(caramba... mimeógrafo? Estou ficando velho), que a diretora permitia desde que levássemos tinta. A secretária também a ajudava. E não eram só impressos, colocávamos manuscritos também. Os próprios alunos também escreviam coisas . Além de poesias, colocávamos frases minhas, frases de gente famosa, receitas de bolo, temas folclóricos, informativos da própria escola, gozações de futebol, até passagem da Bíblia conforme o feriado. Sem dúvida, a melhor parte era a das fofocas. “Fulano está flertando com fulana”. “Soninha ... volta pro Márcio. Coitado. O cara está mal”. Acabaram voltando. Márcio, que era meu amigão, no princípio não gostou muito, mas depois agradeceu meu papel de cupido. “Ei, Rodrigo. Moto nova. Está ganhando bem, hein?”. “Dia tal é aniversário da Júlia”. Por aí. Um dia coloquei uma só para teste de consciência. “Olá, Sílvia. Eu vi você ontem, hein?”. Ela chegou para mim toda assustada e curiosa. “Onde você me viu?”. Ri demais. “Vi nada não, bobona. É só um teste para saber se você anda aprontando alguma. E pelo jeito está, né? Olha o peso na consciência. Toma juízo, menina”. Me deu um tapa nas costas que está doendo até hoje. “Ah, Carlos. Assim você me mata do coração. Dando susto na gente”. Ela era a doidinha da escola, gente fina demais. Eu me divertia de longe, vendo as pessoas lerem o mural no pátio. Ninguém brigava comigo, eram fofoquinhas bem humoradas e eu tinha um acesso muito bom entre a rapaziada. Só um rapaz não gostava de mim. Eu até tentava me aproximar, ele não permitia. Acabou isolado, as meninas gostavam de mim. Eu parecia um Don Juan rodeado de mulheres. Só que eram amigas. Brincava com elas. “Estou parecendo uma ilha. Cercado de mulheres por todos os lados”. “Deixa de ser convencido, Carlos”, dizia uma. E eu dava o troco. “Convencido não. Convicto. Vocês me amam”. Eu ganhava tanto beijo no rosto. Ah, eu gostava. Quem não gosta de um afago? Numa dessas fofocas, um dia alguém colocou uma sobre mim. “E esse poeta cego que não enxerga que tem alguém afim dele?”. Quem escreveu isso, talvez ela mesma, se referia à Silvana, a mesma que deu a ideia do jornalzinho. Diziam que era afim de mim. Eu não queria saber de namorar. Fingia que não notava, embora fosse quase impossível, pois estava sempre com a mão no meu ombro e conversava com a boca muito perto da minha. Talvez eu fosse um gato... rs rs... mas um gato escaldado. Tinha acabado de sair bastante arranhado de uma relação e resolvi preencher meu tempo com várias coisas, menos namoro. Talvez tenha sido um erro. Cachorro mordido de cobra, tem medo até de linguiça. Talvez por isso eu tenha trancado meu coração e guardado a chave bem escondidinha para só reabrir anos depois. Além do mais, já planejava sair da cidade. Não posso jurar amor, se não vou dar. Pratico com sinceridade, “ não faças aos outros o que não queres que te façam”. Sentimento é coisa séria. Às vezes ficam marcas profundas quase irreversíveis.
Enfim o jornalzinho foi perdendo a força. Eu fazia tudo praticamente sozinho, era quase tudo datilografado. Além de ter que passar pelo crivo da diretora, que era boazinha, mas precisava censurar. Falava de temas polêmicos, como aids, voto de analfabeto, racismo, reforma agrária, política. “Carlos. Essa é uma escola estadual, mantida pelo governo e certas coisas não se falam”. Eu tinha que correr, mudar os textos, nem sempre dava conta e não pregava no mural. Eu até entendia o lado dela, mas aquilo foi me enchendo e fui parando. Mas foi divertido enquanto durou. Eu era mesmo uma ilha... rodeado de amigos. Quando precisei daquela turma, eles estavam do meu lado.
Vejo alguns de vez em quando. Silvana não vi mais. Deve ter se casado bem. Era muito bonita e talentosa. Num de nossos últimos diálogos, numa mesa, disse à ela. “Você merece um cara bem bacana”. Me olhando de lado,, respondeu. “É muito mais fácil quando o cara bacana está ao lado”. Num quase sorriso e com muito cuidado, falei. “No momento não estou muito bacana. Você merece um mais bacana ainda”.
Contrariando o título, detesto fofocas, mas aquelas eram legais.
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38 comentários:
Meu amigo, como sempre uma viagem gostosa ao passado seus posts, infelizmente...rs..rs..rs...eu tambem me lembro do mimeografo...rs..rs...aquelas provas com cheiro de alcool e de vez em quando meio borradas...rs..rs...mas eram sem duvidas good times, quanto ao jornalzinho de fofocas, penso que nessa fase de colegio tudo é valido, todas as cores, todos os amores, todas as dores, para que num dia como o de hoje, tenhamos essas memorias pra contar, tambem participei de um uma vez, conteudo parecido, mas morreu logo...rs..rs...o pessoal da diretoria não ficou muito feliz com algumas revelações...rs..rs...coisa de adolescente....um forte abraço a ti meu querido amigo, tenha muita paz e um belissimo final de semana.
Carlos,muito legal esse texto!Nada como recordar esses bons momentos da vida!Fico contente que gostou de participar do meu blog!Abraços,
QUERIDO CARLOS, MARAVILHOSO TEXTO.
FIQUEI ENCANTADA COM O EXCELENTE RELATO DA TUA INÂNCIA!!!
VOTOS DE UM FELIZ FIM DE SEMANA, ABRAÇOS DE CARINHO E TERNURA,
FERNANDINHA
Amigo vou já entrando e pedindo desculpa pelo meu afastamento, mas passei por momentos atribulados pois tive o meu marido hospitalizado. E nem sequer abria o pc, portanto dai o meu interregno, mas agora acho que daqui em diante já venho com mais assiduidade.
Beijinho em sua alma nobre
Olá Carlos, venho me desculpar pela ausencia, mas não estou bem de saude.
Estamos muito traumatizados e tristes com tudo o que aconteceu, (viste la no meu blogue)
Vim agradecer teu carinho,
e dizer que é sempre uma delicia "viajar" aqui no teu cantinho, caminhar por tuas palavras...
Bom fim de semana.
Meu amigo, as suas lembranças me encantam, na minha escola também tinha um jornalzinho muito parecido com o seu. Viajei agora também em minha lembranças. Obrigado.
Abração
Eu gosto de conversar com meus amigos e lembrar do passado também. É maravilhoso.
abraços
amigo,
Hugo
Olá, passei aqui para para saber de quais as fofocas gostavas...rs.
Rapaz tenho medo de entrar nas rodas que as vizinhas da minha rua fazem pois assim que sai da roda o assunto é VOCÊ!
´Como sempre ótimo texto.
Bom fim de semana.
Abçs
Quem diria heim!
Um moço tão sério!Rsrsrsrsrsrs
Eu tb já usei muito mimeografo. Tamo ficando velho amigo!
Bjks.
Muito bom relembrar é viver! As provas no mimeografo me arrepiavam, mas o jornalzinho da escola era muito legal! Tudo é sintonia e não estamos juntos ao acaso né?!
Qdo cheguei nessa parte:
"mas um gato escaldado. Tinha acabado de sair bastante arranhado de uma relação e resolvi preencher meu tempo com várias coisas, menos namoro. Talvez tenha sido um erro. Cachorro mordido de cobra, tem medo até de linguiça. Talvez por isso eu tenha trancado meu coração e guardado a chave bem escondidinha para só reabrir anos depois. "
Veio a calhar com uma conversa que tive hoje, mexer com isso de novo. Abrir da mesma forma que abro aos amigos, meu coração pra alguém. Deixá-lo atravessar a ponte, rs...Vamos ver se aparece alguém legal! Tô abrindo! rs... Obrigada amigo
Sempre é bom te ler...
Hoje viajei no passado e foi bom por demais! rs
Beijo e mais beijos..
Estes jornaizinhos eram o máximo, e o editor o ídolo da garotada e o xodó das meninas, rsss
Um abraço, lindo final de semana
Um jornalista atento aos outros e de costas voltadas para si mesmo... às vezes é a única forma de prosseguir, calando o coração como se não fosse toda a essência de vida, buscando no bem para o alheio o fôlego do próximo passo.
Obrigado, Lia. Era mais ou menos isso mesmo.Beijos
Sim, Sònia.Eu me sentia um reizinho, mas eu sabia conduzir e aquilo me fazia muito bem. Não sabia ficar sozinho então gostava mesmo de chamar atenção da turma.Beijos
Sim,Elaine.A gente fica escaldado e começa a fugir. Como eu disse,"talvez tenha sido um erro", então abra sim o coração. Alguém interessante vai passar por essa ponte.Beijos
Fátima. Ufaa,pensei que era só eu que lembrava do mimeógrafo. Mas tem mais,trabalhei até com telex sabia? Velhos não,Fátima.Experientes
rs rs. É verdade, Adriana. Quando a gente sai do bolinho,sempre sobra pra gente,com certeza.bjs
Grandes revelações,caro Everson. Precisa contar umas pra nós aqui.Nós ainda gostamos de umas leves fofocas.do bem. Que bom,pensei que era só eu que me lembrava do mimeógrafo. Mas trabalhei com telex também.Vê se pode. Grande final de semana
Sinto minha amiga Glória,tristinha e com problemas. Uma das primeiras amigas(os) do blog. Acabo ficando triste também. Desejo que fique bem logo. Que Deus a abençoe
Obrigado,Ni. Saudades de você aqui no blog.Beijos
Abração, amigo Hugo.Obrigado
Claro,Anne. Quero estar lá mais vezes.;bjs
Carlos querido...
como você escreve gostoso...me fez sentir o cheirinho gostoso daquelas provas que eu fazia e eram rodadas em mimeógrafo!...
Lhe desejo um lindo final de semana!
Beijos com carinho!
Biazinha
Obrigado,Bia. Para você também.Obrigado pelo carinho.bjs
Que nada,,,rs,,,rs,,respondendo sua resposta...rs..rs..tambem vi o mimeografo...rs..rs...mas não somos tão antigos assim, eu to com motor 4.1...rs..rs...e quanto ao contar hisotrias, não tenho a categoria que voce tem, que alem de poeta sabe contar historia, eu me complico todo, imagina que no Livro mesmo, pra falar de mim e minhas passages, crio aquele monte de personagens que voce ve por lá..rs..rs..e pra colocar uma foto minha num post, levou 4 anos e meio..rs..rs..rs...porque o post e a foto iriam e entregaram tudo..rs..rs..mas é assim, algumas passagens ou "fofocas do bem" como voce disse, do passado, são gostosas de se lembrar, assim como voce bem o faz aqui, cada leitura uma viagem ao passado e ao nosso interior,,,parabens sempre pela sua sensibilidade...forte abraço e um sabado cheio de paz...
Olá xará,
Li esta história e pareceu que vc estava aqui a meu lado contando. Ela é viva e de sabor bem gostoso. Aquela do cachorro mordido de cobra, tem medo até de linguiça, fez-me sorrir.
Vc era mesmo uma ilha rodeada delas por todos os lados!? Sortudo, hem!
Abraço, bfs
Carlos,
Dessas lembranças não se parte nunca...
Junto com as suas, trouxe-me as minhas... jornalzinho da escola, rodinhas de amigos, fofoquinhas do bem... quanta coisa boa...
Beijo querido...
Adorei o post. Tempos movimentados e de intensa criatividade, hein? Vale a pena relembrar e compartilhar.
Bjs
Olá!
Este é um comentário-lembrete:
Amanhã, dia 20 de setembro, é o dia da Blogagem Coletiva em comemoração ao 1º aniversário do meu blog: Uma carta para mim.
Como seu blog é um dos inscritos estou passando para lembrar.
Espero por você!
Elaine
Nunca usei um mas sei o que é mimeógrafo.
Tbém devo tá ficando velha.
E quem não tá, né?
Beijo e bom final de semana
Ah...Que lembranças mais carinhosas...Conheço bem o mimeógrafo!rsrsrs E o jornal da escola,acabou junto com a turma que se formou...Uma pena...
Amei!
Beijos,bom domingo!
Por que não tá bacana?
Sua carta é uma viagem gostosa...
Nossa estou encantadas com tantas cartas, tantos estilos, é emoção demais.
Parabéns!
Abraços,
Marise.
Há fofocas e fofocas ... e algumas são divertidas e não fazem mal a ninguém :)
Obrigado,Marise. Que bom que gostou.Volte sempre .Meu coração sempre cabe mais um
Celine,querida. Naquele tempo eu não estava mesmo.Mas agora estou bem bacaninha.Beijos
Belas lembranças sim,Linda.bjs
Que legal, Claudete.Boa coincidência entre nossos jornais.
Mariana,está velha nada.bjs
Graciete,desejo plena recuperção ao marido
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