
( imagem google - cinema.com)
Quando a gente é adolescente ( aborrescente ), fica doido para fazer dezoito anos. Para ter algumas vantagens, como se houvessem só vantagens em ser adulto. Algumas das supostas vantagens são, chegar mais tarde em casa e ter acesso a lugares e filmes proibidos. Até os anos 80, 70% dos filmes brasileiros eram eróticos. Vez ou outra aparecia um “Lúcio Flávio, o passageiro da agonia”. “Quem matou Lúcio Flávio?”. “Pixote”. “Terra em transe”. Não tinha jeito, maioria esmagadora, era de eróticos. Nelson Rodrigues tinha presença muito forte no cinema nacional. E tem ainda. Soube falar de sexo e das vontades femininas como ninguém. Ainda bem, como ele mesmo dizia, que “toda unanimidade é burra”, então se fazia filmes com outros conteúdos também.
Meu amigo Marquinhos dizia que gostava de mim, porque tirando confusão, o resto eu topava tudo. Nem tudo, sabia de meus limites. Esse caso não foi com ele, foi com outro amigo... Luís. Era tapadão, parecia que tinha um certo desvio mental, mas gente boa que só ele. Grande coração, gostava de ajudar as pessoas. Fazia muitos bicos, nunca ficava sem dinheiro.
O filme em cartaz era: “Bonitinha, mas ordinária”. Com um título tão chamativo, ficamos doidos para ver, mas éramos menores. Eu tinha quase dezessete. Ele dezessete e pouco. Como íamos entrar? Aí entrou minha “criatividade”. Será?. Tive ideia de pegar lápis creon, não sei se nome está correto, nem se existe ainda, que minhas irmãs usavam para colorir as pálpebras. Para desenhar um bigode visando parecer mais velho. Fiz um bigodinho bem cínico, safado mesmo, tipo cantor de bolero. Luís faria em sua casa. Eu já tínha ralo bigodinho, era preciso só sombrear mais. Sabendo que ela era muito sonso, avisei. “Não vá dar ‘oreiada’ lá. Na porta do cinema, fique calado, fique atrás de mim.Deixe só eu falar. Tudo que eu falar, você concorda”. E fomos ver “a gostosa da Lucélia Santos”( ele falava assim). Andamos um bom pedaço sob chuva fina. Tudo era diversão. Chegamos , compramos os ingressos e fomos para a fila. Ficamos fazendo tipo, estufando o peito, tentando crescer, sérios. Quando chegou minha vez, o porteiro, negão forte, me olhou de cima pra baixo, no princípio sério, mas fui notando um certo sorriso querendo sair dele. Perguntou. “Quantos anos você tem?”. Quase sem ar de tanto estufar o peito, respondi. “Dezoito anos e dois meses”. “Hummmm....”, desconfiou. “E cadê os documentos?”. Despistando, enfiei a mãos nos bolsos procurando e levei a mão à testa. “Pôxa, você não imagina o que aconteceu. Cheguei agora do trabalho, tomei banho rápido pra não perder o filme, acabei deixando na outra calça. Mas pode acreditar. Eu tenho dezoito sim”. Olhou para Luís atrás de mim e perguntou. “E você... esqueceu os documentos também?”. O tonto respondeu exatamente assim. “Sim. Mesmo motivo dele. Tudo que ele falar aí eu concordo”. “Aiiiii... essa doeu”, pensei. O pessoal da fila já estava impaciente. “Ô anda logo aí, estamos na chuva”. O porteiro pensou um pouco, franziu a testa e acabou sendo camarada, irresponsável, mas camarada e disse baixinho, entre os dentes. “Vou quebrar o galho”. E rindo concluiu. “Entra logo que seu bigode está derretendo”. Enquanto recolhia as entradas, comentou para uma moça que estava atrás, rindo de tudo. “Essa molecada está cada vez mais sem vergonha”. “Com certeza....bonitinhos, mas ordinários”, completou a moça, inteligentemente, em trocadilho com o nome do filme.
Fomos direto ao banheiro lavar os bigodes. Foi aí que vi direito o rosto do meu amigo. Luís estava parecendo um vampiro, com aquele cabelo atrapalhado, molhado e a boca toda roxa, além de ter olhos esbugalhados. Não sabia se ria ou brigava.. “Caramba. Você foi usar logo lápis roxo?”. Sempre num jeito aéreo, simples e inconsequente de falar, abriu os braços. “Ora, era o que eu tinha, né? Estressa não, amigão. Importante é que nós entramos e vamos ver a gostosa da Lucélia Santos”. Falava de um jeito engraçado só para me fazer rir.
O filme Debbye&Lloyd, só saiu muito depois, mas se fosse na época, seríamos uma boa dupla para o filme. Meu amigo ganharia o Oscar.
OBS: Aproveitando, Jim Carrey é um artista sensacional. Gosto muito dele
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(amigos talvez nesse final de semana não os visite como eu gostaria e merecem, mas darei um jeitinho de passar rapidinho nos blogs. Como sabem estarei em Vitória. Acho que dou dar L.E.R, de tanto operar churrasqueira. Comentem `a vontade que eu gosto. Um abraço a todos e tenham um grande e poético final de semana