ESCREVER É DIVINO!

ESCREVER É DIVINO!
BONS TEMPOS EM QUE A GENTE PODIA VOAR. ERA MUITO BOM SER PASSARINHO.

CAMINHOS DE UM POETA

CAMINHOS DE UM POETA
Como é bom, rejuvenescedor e incentivador para o poeta, poder olhar para trás e ver toda a sua caminhada literária, lembrar das dificuldades, dos incentivos e da falta deles, da solidão de ser poeta e do diferencial que é ser poeta. Olhar para trás e ver tudo que semeou, ver uma estrada florida de poesias, e dizer: VALEU A PENA! O poeta vai vivendo, ponteando, oscilando, e nem se dá conta da bela estrada que escreveu. Talvez ele não tenha tempo porque o horizonte o chama, e o seu norte é... escrever... escrever... escrever. Olho hoje para trás... não foi fácil, mas também ninguém disse que seria. E eu sabia que não seria, ser poeta não é fácil, embora seja lindo. Contemplo a estrada que eu fiz, e digo com orgulho quase narcisista: Puxa... como é linda minha estrada!

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

SEM "POBREMA"


Vocês já viram que gosto de contar histórias antigas, não é mesmo? Dessa vez contar uma recente. Esta aconteceu sábado e foi muito engraçada. Tem uma senhora na minha rua que não sabe ler direito, mas a coitada é esforçada, gosta de saber, perguntar. Acabei dando um dicionário pra ela e com isso, está descobrindo novas palavras. Qualquer coisinha, corre ao dicionário. Nos finais de semana gosto de andar a pé pelo bairro. Pareço um vereador, um chama dali, outro chama de lá. Às vezes ando dia todo de tanto ficar parando, nas padarias, mercearias e bares. Graças a Deus por isso..Tem gente que sabe meu nome e não sei os nomes deles. Quando cheguei do passeio vi um grupinho de seis pessoas na frente da casa dessa senhora numa amigável discussão. Quando me viu, gritou logo. “O Carlos vem ali, pergunta pra ele. Ele sabe”. Com moral pelo aval que ela me deu, cheguei, puxei um toquinho e sentei. “Quê isso, gente? Que briga é essa? Vocês nunca combinaram, agora vão brigar?”. Ela indignada. “É esse burro aqui, Carlos”, apontando para o genro. O genro dela é um carroceiro, bem matuto, mineiro das antigas apesar de não velho, bem interiorano. E duro na queda. Pra começar já anda igual ao Mazzaropi. Alguns até o chamam de Jeca, em referência ao famoso personagem. Ela prosseguiu. “Mais teimoso que a égua dele. Estou falando que o certo de falar é ‘problema’ e ele teima que é ‘pobrema’ e nós apostamos uma galinha caipira”. Falei com a mão levantada e espalmada. “Deixa que vou dar o veredito”. Ela interrompeu. “Dar o quê?”. Respondi. “Veredito... quer dizer, vou dar a decisão, a palavra final. Como um juiz, determinar quem está certo e quem está errado”. Ela desafiou o genro de novo. “Viu? Não falei que ele sabe tudo? Olha a palavra que ele usou. VE RE DI TO. Eu nem conheço essa palavra. VE RE DI TO. Parece nome de gente”. Brinquei. “É... deve ser uma mistura de Viriato com Benedito”. E me virei pro genro. “Pode pagar a galinha pra ela, você perdeu”, e emendei. “Ô Marlene, mostra pra ele no dicionário”. E ela. “Já esfreguei na cara dele, Carlos.”. E foi folheando o dicionário com maior cuidado para não amassar. “P R O. .. pro ble ma. Viu, seu teimoso?”. Por fim ele abriu a boca. “Ah, mas esse dicionário seu nem é o ‘orélio. Eu só confio no ‘orélio’. O meu é ‘orélio´ e é muito melhor que esse aí. “Essa doeu”, pensei. E ela cada vez mais nervosa. “Ai meu Deus, como minha filha foi casar com um homem desse? Joguei pedra na cruz”. Mas isso é só o jeito de dizer, pois se adoram. Vendo que a discussão não ia dar em nada, me levantei. “Dá licença que vou ver meu Cruzeiro jogar. Só sei que quero comer dessa galinha. Eu dou o quiabo”. Antes de sair ainda falei. “Ô Marlene. Não vá colocar o nome do seu neto de ‘veredito’, não hein?”. E fui embora rindo sozinho. No fim do dia, já de noitinha, fiquei sentado na frente de casa e o vi passar, puxando a égua pra levar pro pasto. Brinquei. “E aí, Zé. Já matou a galinha?”. Do jeito que estava andando, sem olhar pro lado, me respondeu de um jeito engraçado. “ Nãããããão. Só depois que eu consultar o ‘orélio’. Sou besta não”. E já mudou logo de assunto. “E nosso Cruzeiro, como ficou?”. Respondi. “Ganhou. 4x2”. E para fechar com chave de ouro um dia muito engraçado. “Ah... então sem ‘pobrema’ nenhum”. E foi embora cantando a música religiosa “Noites traiçoeiras”.... “entregue sua vida e seus ‘pobremas’ ” . Que bom, ainda tem gente assim.

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Aproveito para fazer aqui uma homenagem ao Mazaroppi, nosso Charles Chaplin, o homem que inventou o cinema brasileiro, que desafiou o preconceito da elite contra a brasilidade e o jeito simples do matuto. Mazzaropi não representou um personagem, ele foi o próprio. Em meio à bossa nova, tropicálias e iê iê iê, lá estava ele com seu cigarrinho de palha e sua espingarda torta. Homem simples e bom, sempre preocupado com outros atores que tinham menos condições. Na certeza de grandes bilheterias de seus filmes, chegou a atuar em várias deles de graça para evitar o fechamento por falência da produtora nacional. Uma multinacional de Hollywood acabou comprando os direitos, mas contam que jamais repassou o dinheiro. Mas brasileiro já é acostumado a ser explorado. E vamos comendo ‘maquidonald’.

32 comentários:

Maria Bonfá disse...

vim correndo retribuir a visita.pelo jeito vc é muito querido onde mora.. e quanto ao pobrema.. dificil em ? dificilmente alguem vai mudar o modo dele pensar.. e adoravel sua homenagem ao Mazzaropi.ele merece todos os creditos mesmo.. tenha um lindo dia..beijão

(CARLOS - MENINO BEIJA - FLOR) disse...

Obrigado,Maria Bonfá. Acho que sou sim. Mas justo porque me adapto à cada pessoa, tal qual ela é. Tenho essa facilidade. Esses por exemplo. Não posso ficar falando bonito perto deles, né? Senão não se sentem à vontade . Também não ando falando errado, mas intelectualidade não combina com a simplicidade deles.Beijão

~❤ ~º♥º ~Graciete ~º♥º~❤ ~ disse...

Oi Carlos adorei a história, haja quem saiba fazer uma boa omelete com poucos ovos, e o meu amigo melhor que ninguém.
Que bom que já nos habituou a esta narrativas de classe.
beijinhos de luz em seu coração amigo.

Felina Mulher disse...

Uai, é esse "jeitim" mineirinho que vc tem, que faz esse cantinho, um "trem bom” para ser visitado.Quando a marlene fizer a Galinha com quiabo ,me manda um tiquim, pq apesar de ser paraense a comida mineira é Bom di mais sô....Adoro ler-te!

Beijinhos meu anjo, uma excelente semana pra vc!

(CARLOS - MENINO BEIJA - FLOR) disse...

Obrigado, Graciete.Um beijão
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Mando sim, Felina. Que bom ,vejo que você é afinada com as coisinhas de Minas. O estado é lindo. Precisa vir conhecer... pode vir semn "pobrema" rs rs.Beijos

Juliana Sphynx disse...

"Meu Orélio"
AHHUauhAUHUHauhAH

Everson Russo disse...

Voce é muito bom com as palavras e os causos...rs..rs..rs....eu sempre gostei daquela frase assim,,,,"quem diz que tem um pobrema, na verdade já tem dois problemas...rs..rs....agora foi demais, eles já estavam em pé de guerra pela lingua portuguesa, e voce vai e solta um veredito,,,,devem estar sonhando até agora...e pode apostar,,,vai ter esse nome na familia....rs...rs..rs....muito boa,,,,uma otima semana pra ti amigo,,,forte abraço....

Juliana Sphynx disse...

"Meu Orélio"
aUHHUahuaHUau

(CARLOS - MENINO BEIJA - FLOR) disse...

Pois é, Everson.Nunca ri tanto.Ainda cai uma oportunidade dessa no meu colo, aí já viu. Prato cheio. Duvido nada o nome veredito entrar pra família. O povo é doido. Um abração

Anônimo disse...

Ah Carlos,
ocê e suas histórias!
Gosto dimais da conta!
Bjs.

Bia disse...

A próxima criança que nascer nesta cidade se chamrá VEREDITO!

Rsrsrsrsr!

beijos , meu querido e linda semana!

Bia

Sonhadora (Rosa Maria) disse...

carlos
Adoro ler suas histórias, sempre nos deixa bem dispostos.
Linda sua maneira de contar causos.

Beijinhos
Sonhadora

(CARLOS - MENINO BEIJA - FLOR) disse...

Obrigado,Fátima.Beijos
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Estive pensando,Bia É um nome até bem sonoro... rs rs.Beijos
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Obrigado, amiga Sonhadora.Beijos

Ana Cristina Cattete Quevedo disse...

HAHAHAHA
Ri a som aberto...principalmente no final como Noites traiçoeiras (to rindo tanto ainda que nem consigo digitar direito, só imagino o senhorzinho saindo e cantando kkkk)

Adoro o jeito que escreves!

beijo!

Anônimo disse...

Carlos,sempre um texto maravilhoso!É realmente um "pobrema"essa palavra pro povo brasileiro!Morri de rir!Uma linda e merecida homenagem ao grande Mazzaroppi,que lembra tanto minha infancia!Amanhã vc estará no menina voadora.Abraços,

(CARLOS - MENINO BEIJA - FLOR) disse...

Pois é ,Ana Cristina.Cada figura,né.Beijos
///
Obaaaaa, Anne. Vou lá,claro e muito honrado por isso.Beijos

Maria Ribeiro disse...

CARLOS: morri de riso com tantos " causos" e demais pobremas...
Também nós temos destas coisas com a nossa Língua, mas você conta-as deum modo irresistível!
BEIJO
LUSIBERO

(CARLOS - MENINO BEIJA - FLOR) disse...

Que bom que gostou,Maria.Muito me anima.Volte sempre.Beijos

Karol ---de BH--- disse...

Minha mãe me conta dos filmes do Mazaroppi. Tenho curiosidade de ver um.

(CARLOS - MENINO BEIJA - FLOR) disse...

Deve ver sim, Karolina. Vai gostar.Beijos

Elaine Barnes disse...

O costume de falar errado as vezes vem da família. Tenho uma tia educadora que me contou que mesmo sendo já professora era difícil falar:" Ajoelhar" ela dizia com a mãe e pai" Enjoelhar". Sua bela maneira de contar o que viveu esses dias contagia, a gente chega a ver a cena de tão bem descrita.Quanto as homenagens,merecidíssimas,são os pais do cinema e da simplicidade.Fazer a arte podendo explorar a beleza das coisas simples da vida e ter todo reconhecimento do mundo, mostra que esse é o caminho. Bjs

Majoli disse...

Ah que deliciosa história, primeiro por saber o quanto você é querido e como és atencioso com todos.

Eu tenho uma tia que em vez de falar ASSIM, ela fala "ANSSIM"...eu me controlo pra não rir, mas é tão engraçado...rs

Ri bastante do "orélio"...a simplicidade é algo lindo.

E o danado ainda é teimoso e mesmo vendo o dicionário ainda ia conferir no "orélio"...eita, eita.

Obrigada por dividir com a gente, eu pelo menos fico sorrindo por demais aqui.

Beijos meu amigo.

nd disse...

Oi Carlos,

Sabe que moro na cidade grande ( Recife ), mas meus parentes estão quase todos no interior, que por sinal eu adoro, não há lugar mais gostoso do que uma cadeira na calçada e gente a conversar, coisa que na cidade grande não fazemos.
Mas tua história é legal e engraçada.
E que bom vc é uma pessoa assim tão simpática com a vizinhança, coisa rara hoje em dia, aqui no prédio em que moro, as vezes passo até um mês sem ver meu vizinho, só na reunião de condominio. Estamos rodeados de gente, mas estamos sós.
Um dos meus sonhos ainda é ter uma casinha no interior de varanda e uma rede prá balançar. Mas preciso primeiro me aposentar !!!!
Sobre Mazzaropi, creio assisti todos os filmes dele. E hoje, o que temos de comediantes, são apenas cópias do Mazzaropi, numa versão que deixa muito a desejar.

Parabéns por ser esse vizinho tão legal e querido, coisa rara hoje em dia.

Bjs

PS: gostei do texto teu que tá lá em Anita. Só quem ama, sente tudo aquilo, e vcs se amam de verdade. Mantenham essa chama acesa, sempre. Pq amar, é como uma plantinha, precisa regar todos os dias, para que não seque e morra.

(CARLOS - MENINO BEIJA - FLOR) disse...

Oi Bandeiras.Aqui no bairro ainda tem isso de vizinhança. Eu não falo tão errado, mas sou bem interiorano também.Gosto assim.Vocêdisse bem sobre Mazzaropi.E obrigado pelas dicas para com Anita.Beijão

Sandra Ribeiro disse...

Esse post me emocionou, primeiro foi seu lindo gesto de dar o dicionário de presente àquela senhora, e senti saudade de quando morava no interior, e andar pelo bairro era tão gostoso.
Eu mal frequentei a escola sabe, mas sempre procurei aprender lendo, e observando as pessoas também...
Ficou lindo o seu relato, um abraço pra vc meu querido!

Cristal de uma mulher disse...

Ele parece tão inocênte...eu gosto da simplicidade das gentes humildes...Que bom que vc pode trazer para teus leitores coisas esquecidas e vividas com alegrias

Beijos lindos para ti.

Secreta disse...

Isto é uma historia de "teimosia" :D

Rosa dos Ventos disse...

Uma delícia de história!
O meu dicionário mais antigo é o Francisco Torrinha, imagina...

Abraço

Unknown disse...

muito boa essa, tambem assistia muitos filmes do jéca, até hoje quando meu filho puxa a bermuda pra cima da cintura eu e meu marido brincamos... lá vai o Mazaropi... cultura meu povo olha o "Orélho ai "
Carlos sou sua fã!
Abraço
Priscila Lima.

Anônimo disse...

Carlos,voltei para dizer que teu conto está fazendo sucesso no meu blog!Obrigada!Abraços,

JoeFather disse...

Vim parar aqui no blog do amigo, devido seu belo conto infantil no blog da Menina Voadora.

Quem bom!

O amigo já demonstra que é um grande artista das palavras e nobre do coração, não tem como não prestigiá-lo também!

Parabéns por essa bela crônica ou como o amigo entenda ser, afinal aqui eu sou o leitor!

Concordo plenamente com os elogios ao saudoso Mazzaropi, inigualável!

Concordo também e assino em baixo da conclusão do seu belo texto: ainda bem que existem pessoas cuja simplicidade ainda é a maior qualidade!

Abraços renovados!

Paula Barros disse...

Carlos, vai selecionando para fazer um livro só de poemas e outros de causos.

É muito interessante a forma como você transforma em histórias.

Gosto de ler.

abraço