ESCREVER É DIVINO!

ESCREVER É DIVINO!
BONS TEMPOS EM QUE A GENTE PODIA VOAR. ERA MUITO BOM SER PASSARINHO.

CAMINHOS DE UM POETA

CAMINHOS DE UM POETA
Como é bom, rejuvenescedor e incentivador para o poeta, poder olhar para trás e ver toda a sua caminhada literária, lembrar das dificuldades, dos incentivos e da falta deles, da solidão de ser poeta e do diferencial que é ser poeta. Olhar para trás e ver tudo que semeou, ver uma estrada florida de poesias, e dizer: VALEU A PENA! O poeta vai vivendo, ponteando, oscilando, e nem se dá conta da bela estrada que escreveu. Talvez ele não tenha tempo porque o horizonte o chama, e o seu norte é... escrever... escrever... escrever. Olho hoje para trás... não foi fácil, mas também ninguém disse que seria. E eu sabia que não seria, ser poeta não é fácil, embora seja lindo. Contemplo a estrada que eu fiz, e digo com orgulho quase narcisista: Puxa... como é linda minha estrada!

sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Pérolas de minha infância IV ( Amor de criança)


Sempre digo que devemos tomar cuidado com o que falamos ou fazemos a uma criança, pois, penso que ela vê tudo numa dimensão maior. No seu mundo fantasioso, tudo ganha proporções enormes. E assim pergunto: Quem de nós nunca fantasiou um namoro quando criança? Eu tive Amélia. Amélia era uma menina lindinha. Branca, de cabelos muito pretos, curtinhos, cortados rente à orelha. As pontas eram puxadas para perto da boca. Sobrancelhas bem definidas, vivas e cílios enormes lindos. Para completar seu charme, uma pinta na bochecha direita. Nos olhávamos tempo todo na aula e no recreio, porém quase não nos falávamos. Devia ser timidez de criança. O máximo que aconteceu, foi um dia, quando me deu uma maçã no recreio, e de propósito, deixei meus dedos escorregarem em sua mão, mas ela recuou, tirando logo. As meninas antigamente eram mais acanhadas. Francisco, meu amiguinho viu e me gozou depois: “Aeeê Carlos. Ganhando maçã, hein? Quem sou eu”. Como não queria que aquilo se espalhasse falei: “Que isso, rapaz? A menina é minha amiga”. E ele insistiu: “Amiga? Ela te olha tempo todo. Chega na menina, rapaz. Ela está afim”. Aí me entreguei. “Não é bem assim. Essas coisas têm hora”. Ele ironizou. “Você é um homem ou um rato?”. Eu acabei rindo e disse: “Sou homem, mas na hora fico mesmo do tamanho de um rato”.
Francisco, era um menino moleque demais, e tínhamos mania de na hora do recreio, trocar os cadernos de todos. Na volta do recreio era aquela confusão. Um dia ele me chamou, eu fui, mas com outra idéia. Olhar os cadernos da Amélia. Estava escrito mais ou menos assim na contra-capa: “Meu namorado chama Carlos... Soares, sobrenome igual ao meu. Ele mora no Bom Retiro. Ele é bonito e inteligente, mas é muito bobo, porque nunca fala comigo. Eu também tenho vergonha, mas sou menina, e menina não pode ser pra frente. Ele é bagunceiro, mas eu gosto dele. Eu acho que amo ele”. Mostrei para Francisco que quis zoar, mas o repreendi e ele parou e ainda me ajudou. “Não falei? Ela gosta de você”. Chega nela”.
Chegou fim do ano e faríamos primeira comunhão. Escola e igreja eram muito ligadas. Depois da missa ia ter um bailinho com comes e bebes na escola. Ainda me lembro de todos de branquinho, vela na mão, entrando na igreja. Minha mãe nunca foi chegada a festas e da missa voltou para casa.
Alguns casaizinhos dançavam, menos eu e ela. Francisco me empurrando: “Vai lá, vai lá. Chama a menina pra dançar. Ah, se fosse eu”. “Calma, estou tomando coragem. Daqui a pouco eu vou”. E ele: “Daqui a pouco acaba a festa e vai ficar chupando dedo e a menina com raiva... vamos comer cachorro quente por enquanto”. E eu. “Está doido? Vou beijar a menina com boca suja?”. Fomos, mas não comi nada até a hora de dançar. Eu numa fome danada.
Minha distância para ela no salão era de uns seis metros, mas parecia seis kilômetros. Enfim fui. “Oi, Amélia. Você está a fim de dançar?”. “Estou sim”, estendendo o braço charmosinha toda. Eu nem sabia dançar direito, mas sabia que eram dois pra lá, dois pra cá, pois via meus irmãos e irmãs dançando. Estive tenso no começo e acho que ela também, mas depois fomos nos soltando, até falamos coisas bobinhas de criança, tipo. “Você mora onde mesmo?”. “Você tem mais irmãos?”. “Festa boa, né?” Dançamos umas cinco músicas até que ela falou. “Vamos parar um pouco, estou cansada”. Respondi, dando uma de Don Juan mirim. “Aqui está muito quente. Vamos lá fora respirar um pouco”.
Fomos e sentamos na parte cimentada do jardim, atrás de nós uma fonte. Depois de falarmos mais bobeirinhas, fiquei calado muito tempo e enfim investi pegando na mãozinha dela. “Amélia, posso te dar um beijo?”. Ela ficou ainda mais branca e se calou um tempão. Agora era eu quem morria de vergonha. “Ai que resposta demorada. Vou sair correndo daqui”. Depois de longos minutos, me olhou e respondeu com meiguice. “Pode, mas não quero agarramento, senão empurro você”. Lembrei de como os galãs das novelas faziam para beijar. Me senti um verdadeiro Tony Ramos. Viraria o rosto, começaria suave, abrindo os lábios, abraçando ela e depois ia aumentando. Que nada. Máximo que saiu foi um selinho tímido. Os dois ficaram mudos. Eu estava completamente trêmulo e suando frio. Depois de um novo longo silêncio ela disse. “Vamos lá pra dentro, Carlos?”. Sem responder nada, só acenei que sim com a cabeça e fomos.
Ainda dançamos outras, sem trocar uma palavra mais.
Era fim de ano, vieram as férias, e mesmo ainda rolando olhares no ano seguinte, aquele romancinho depois foi acabando, fantasia que era. Pura e inocente, como realmente têm de ser as crianças.

Os anos passaram e passaram e passaram. Já com uns 30 anos parei numa padaria pra tomar café. Depois de tomar, fui pagar e quem estava no caixa? Amélia. Mais gordinha como eu, alguns fios de cabelo branco como eu, óculos caindo sobre o nariz. Levei um pequeno susto e fiquei olhando fixo pra ela, não por nada, mas queria que ela me reconhecesse pra gente rir de tudo. Pois, não me reconheceu nada. Estranhou, eu ali parado, olhando “Bom dia senhor. O senhor deseja alguma coisa?”. “Bem... é... sim... eu... quero pagar um café com leite”. Respondeu: “1, 50, se tiver trocado, agradeço”. Tirei dois reais, ainda olhando pra ela, ela franziu a testa curiosa, me deu o troco e vendo que eu não saía, perguntou: “O senhor deseja mais alguma coisa? Está passando bem?”. “Não, não. Obrigado”. E saí. Na porta olhei pra trás e ela levantou os dois braços para funcionária dela num gesto de “ não entendi nada”. E completou. “Só dá maluco”. Claro que fiquei um pouquinho frustrado. Ah... mulheres! Como entendê-las?

3 comentários:

Parapeito disse...

:) Ah...vamos lá entender os homens...
Gostei imenso de ler esta sua viagen á sua infãncia...Não consegui deixar de pensar...enquanto o lia...de um bonito poema do Jairo Anibal Niño:

Se a Maria

- Se a Maria tem três maçãs
e dá uma ao Nicolás,
com quantas fica?

- Em que pensas, Nicolás?
Não sabes a resposta?

- Se a Maria me dá uma maçã,
ainda me resta uma esperança.
*
:)) E que a esperanÇa nunca se perca.

Um Abraço*

Izinha disse...

Amigo,

q este novo ano q se aproxima traga à vc um universo de felicidade e q seus sonhos
sejam conquistados, suas esperanças renovadas e q a paz tão necessária seja encontrada...

Feliz 2009!

Tem um presentinho esperando por vc, com muito carinho...

bjos...Izinha.

EDUARDO POISL disse...

Passei por aqui só para te desejar uma semana de grandes realizações.
Está tudo muito lindo aqui
Abraços