ESCREVER É DIVINO!

ESCREVER É DIVINO!
BONS TEMPOS EM QUE A GENTE PODIA VOAR. ERA MUITO BOM SER PASSARINHO.

CAMINHOS DE UM POETA

CAMINHOS DE UM POETA
Como é bom, rejuvenescedor e incentivador para o poeta, poder olhar para trás e ver toda a sua caminhada literária, lembrar das dificuldades, dos incentivos e da falta deles, da solidão de ser poeta e do diferencial que é ser poeta. Olhar para trás e ver tudo que semeou, ver uma estrada florida de poesias, e dizer: VALEU A PENA! O poeta vai vivendo, ponteando, oscilando, e nem se dá conta da bela estrada que escreveu. Talvez ele não tenha tempo porque o horizonte o chama, e o seu norte é... escrever... escrever... escrever. Olho hoje para trás... não foi fácil, mas também ninguém disse que seria. E eu sabia que não seria, ser poeta não é fácil, embora seja lindo. Contemplo a estrada que eu fiz, e digo com orgulho quase narcisista: Puxa... como é linda minha estrada!

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

O AMIGO DO PATETA


Minhas amizades são sempre muito duradouras e eu as prezo muito. Ninguém gosta de apertar a mão como eu. Não vivi, mas sei que houve um tempo em que as pessoas se cumprimentavam mais. Paravam para uma prosa na esquina. Um café. Claro que os tempos são outros e ninguém tem tempo mais. A gente mecanizou o mundo... e o mundo mecanizou a gente.
Conheci Marquinhos em 1988, quando foi trabalhar no aeroporto, mas não ficou muito tempo lá, talvez um ano. Fez cursos de radiologia e foi trabalhar num hospital onde está até hoje. Éramos amigos de todas as horas. Das gandaias, do futebol, dos problemas. Moleque que só ele, ria até de velório, mas quando precisava, puxava a orelha também. Acho que sempre gostei e precisei disso. Éramos tão inseparáveis que alguns nos chamavam de Mickey e Pateta. Eu, mais alto, era o Pateta. Desligado, despretensioso, atrapalhado, mas bonzinho. Além disso, ele vivia dizendo que eu só o colocava em enrascadas,lembrando o Pateta das estorinhas, que se mete em confusões e não está nem aí, segue a vida. Lembro de um dia que bebendo muito sentados no meio-fio de minha casa, me disse: “Cal, estou bêbado demais, não sei como vou montar nessa moto. Eu disse tomando a chave dele. "Você não vai sair daqui de moto. Pode ficar com raiva, até me bater que não deixo". Ele custou a responder, mas tropeçando nas palavras, pediu: "Então você guarda aí pra mim. Mas você podia ir até em casa comigo que estou muito mal". Eu disse. "Claro". Depois de guardar a moto nos fundos fui acompanhá-lo. Passavam das 3 horas da manhã. Demoramos a chegar, morava num morro terrível, asfaltado, mas bem a pique. No outro dia, no trabalho, me agradeceu, não só por tê-lo levado, mas principalmente porque lhe tomei a chave. Respondi. "Esquenta,não. Você faria o mesmo. Pra que servem os amigos?"
Desde que mudei de cidade, eu só o tinha visto por duas vezes. A terceira foi em 2.004, quando fui passear na casa de uma de minhas irmãs. Acordei com uma leve dor de cabeça, tomei um remédio, mas eu não imaginava que era alérgico. Daí a pouco comecei a sentir meu olho meio inchado, mas seria normal, já que acordei tarde. Senti um formigamento nos lábios também. Deu vontade de deitar de novo, dormi mais de uma hora. Quando acordei, percebi meu olho esquerdo totalmente tampado. Meus lábios também incharam muito. Vendo no espelho uma imagem grotesca, gritei minha irmã. Ela se desesperou, correu comigo para o hospital.
Chegando lá, o caos fazia minha cabeça doer mais. Gente esbravejando contra o atendimento, criança chorando, gente chegando na maca. Tinha que esperar, não teve jeito. Comentei com minha irmã. “Está piorando”. Aí ela foi mais uma a brigar no balcão, mas não adiantou muito. Encostei a cabeça no colo dela de olhos fechados. Quando de repente ela disse. “Cal, aquele ali não é o Marquinhos? Com dificuldade abri o olho que me sobrava e disse: “É ele mesmo”. Minha irmã não pensou. Correu até ele, “Marquinhos,Marquinhos. Você lembra de mim?”. “Humm... deixa eu ver. Você é Adélia, irmã do Cal?”. “Sim, graças a Deus encontrei você aqui”. “Se eu puder ajudar. E ele? Está tudo bem com ele?”. Ela. “Que nada, por isso que estou aqui. Ele está ali encostado na parede”. Chegando perto ironizou como sempre: “Cara onde você tomou desta? Agüenta a mão aí”. Foi lá dentro, trouxe uma cadeira de rodas e me levou
Me deram duas injeções e um comprimido na boca, e me deixaram duas horas em observação.
Quando a doutora veio me checar, Marquinhos já estava lá. Como se fosse um enfermeiro, ajeitando meu travesseiro, me oferecendo água e perguntando como estava minha vida. Ela encostou: “Vamos ver como está nosso paciente. Está se sentindo bem, Carlos?”. Respondi que sim, que só estava meio zonzo. “É normal”, disse ela .Só vou tirar sua pressão e te liberar. Só não pode dirigir”. Talvez vendo o carinho e atenção com ele me tratava e o empenho para que eu fosse atendido rápido, emendou ao meu amigo. “Ele é seu irmão, Marcos?” Marquinhos me olhou fixo nos olhos uns 5 segundos e respondeu de forma bem frisada: "Sim ele “É” meu irmão". A doutora deu um sorrisinho de ternura, de canto de boca, achando bonito ele chamar de irmão o velho amigo. “Pronto! Seu irmão já pode ir pra casa”. E saiu.
Depois que me vesti, apertei a mão dele com minhas duas mãos e agradeci. “Obrigado por tudo,cara”. E ele. “Pra que servem os amigos? Vê se não me dá mais trabalho, Pateta”.
No final do corredor dei uma última olhada para trás, lá estava ele me olhando. Fiz um aceno de mão, dando tiau para o amigo do Pateta.

Nota:Eu adoro quadrinhos e por coincidência meu personagem favorito é o Pateta, por ele ser simples e bonachão

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