ESCREVER É DIVINO!

ESCREVER É DIVINO!
BONS TEMPOS EM QUE A GENTE PODIA VOAR. ERA MUITO BOM SER PASSARINHO.

CAMINHOS DE UM POETA

CAMINHOS DE UM POETA
Como é bom, rejuvenescedor e incentivador para o poeta, poder olhar para trás e ver toda a sua caminhada literária, lembrar das dificuldades, dos incentivos e da falta deles, da solidão de ser poeta e do diferencial que é ser poeta. Olhar para trás e ver tudo que semeou, ver uma estrada florida de poesias, e dizer: VALEU A PENA! O poeta vai vivendo, ponteando, oscilando, e nem se dá conta da bela estrada que escreveu. Talvez ele não tenha tempo porque o horizonte o chama, e o seu norte é... escrever... escrever... escrever. Olho hoje para trás... não foi fácil, mas também ninguém disse que seria. E eu sabia que não seria, ser poeta não é fácil, embora seja lindo. Contemplo a estrada que eu fiz, e digo com orgulho quase narcisista: Puxa... como é linda minha estrada!

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

UMA SEMANA MUSICAL- CÁLICE OU CALE-SE?


(calangra.blogspot.com/google)
Sem dúvida, Chico Buarque é um dos maiores intelectuais do Brasil., embora não tenha nem um disco dele. Gosto mais de ler as composições do que ouvi-lo. Não vivi muito a ditadura, vivi o restinho dela. Embora pequeno, me lembro dos rapazes e até meus irmãos correndo da temida ‘toyota’ da polícia, só porque passavam das dez horas na rua. Se juntasse um grupinho de três ou quatro, a polícia dava logo um jeito de espalhar.
Chico foi o campeão de músicas proibidas. Atento para uma em especial dele em parceria com Gil: “Cálice”, que lembra a passagem da Bíblia, onde Jesus pede, que fosse feita a vontade do Pai, mas se possível que afastasse dele aquele cálice. Imagino que falava das dores que sofreria previstas nas profecias. Afinal, um Deus também sente dor. Porém, Cristo sabia que tudo aquilo era necessário para a sequência do projeto do Pai para a humanidade... e humildemente sucumbiu por nós. O cálice que Chico fala é um outro cálice de dor, de imposição, de maldade, de “amigos presos, amigos sumindo assim pra nunca mais”, como cantava Gil. O cálice de Deus, era necessário, era para o bem de toda a humanidade, mas e o cálice da ditadura? Para o bem de quem? Só de quem mandava. Mas será que Chico pedia, “afaste de mim esse cálice”, ou “ afaste de mim “esse cale-se”?. É aí que entra o intelecto do compositor, pois a letra em si, apesar de sugerir alguma rebeldia, não oferece muito perigo ao governo, ou não desperta tanta atenção, pois acabou passando pela peneira da censura, por causa de uma disfarçada conotação religiosa. A diferença era quando ele cantava. Com raiva e grande ênfase à palavra cálice no final da frase, que sonoramente parecia alguém dando uma ordem: CALE-SE. Verbo mais usado durante a ditadura. Mostrei esses detalhes ao amigo Marcelo, que disse: “Só mesmo sendo um poeta para captar essas coisas, Carlos. Jamais eu veria isso e agora concordo com você. E olha que sou fãzaço do Chico”
Tive experiência curiosa em 1984. Estávamos eu e amigos, tocando violão sentados no meio-fio.Cantávamos “Pra não dizer que não falei de flores”, música que levou o autor Vandré à prisão, e por ironia, quase quinze anos depois virou um hino das DIRETAS JÁ. No Brasil, hipocrisia pouca é bobagem. Espero que pelo menos tenham lhe pagado pelas direitos autorais. Dois policiais fardados chegaram. Um falou do alto da arrogância que a farda lhe permitia e imputava. “Não pode cantar essa música. É proibida”. Concordo que exagerei quando respondi. “Desculpe, mas o senhor está mal informado. A música foi liberada, a censura acabou”. Em tom imperativo, falou. “Mas eu estou dizendo que não pode”. Ironizei. “Toca Balão mágico aí, Zé”. Vi que ficou com raiva. “Está conversando demais, rapazinho”. Vendo que podia piorar para mim, consertei. “Desculpa. Só quis mostrar pro senhor que a gente está só cantando, divertindo. Mas essa pode?”. E comecei a cantar Cálice. Ele concordou. “Essa pode”. E foram embora. Comentei com os amigos que a ditadura oficial havia acabado, mas ela ainda estava dentro dele, impregnada. Ele não havia conseguido se livrar dela. No fundo quando nos repreendeu, ele não havia se doído pela sua própria pessoa, mas sim pelo par de roupas que lhe ensinaram a defender.Pelo jeito,Vandré não foi o único a sofrer lavagem cerebral. Gostaria muito que ele tivesse se doído sim, na segunda música que diz trechos de profunda revolta humana contra a mordaça do silêncio como, “Como beber dessa bebida amarga tragar a dor, engolir a labuta, mesmo calada a boca, resta o peito...”. “Como é difícil acordar calado, se na calada da noite eu me dano..”. Mostraria que ele havia evoluído, porque essas coisas são ruins para todo mundo, até para ele, que também é povo.

Esclarecendo: 1) Sou a favor da democracia com ordem. No Brasil confundem democracia com bagunça.
2) Tenho 3 irmãos policiais( um morreu) e tenho amigos policiais. Não falei das pessoas ou mesmo da profissão que respeito, mas sim do poder de domínio das forças inteligentes que comandam. O poder é muito inteligente. Aliás, está cheio de ditaduras por aí, em outras modalidades.

13 comentários:

Everson Russo disse...

Dizem por ai que Chico entende a alma feminina, escreve com a alma feminina, se isso realmente for verdade, ele é mais do que maximo, porque pra entender uma mulher que pra nós pobres mortais vem sem manual de instruçoes...rs..rs....mas vamos lá, assim como voce, tambem não tenho nenhum cd dele, mas vivo roubando ele pela net...rs..rs...adoro ouvir as Vitrines, acho lindo o "passas sem ver teu vigia, catando a poesia que entornas no chão" isso é muito lindo, acho muito lindinha aquela da bailarina...rs..rs...é gostosinha de ouvir dentre outras, pena que pra mim como roqueiro, tenho problemas com os acordes de Chico..rs..rs...abraços meu amigo querido e uma bela semana pra ti.

Edna Lima disse...

Há o Chico!!!!Quem não ama o Chico. Ainda bem que ele é nosso.
Esta é poca eu vivi e estive na mira do pessoal Acho que me deixaram ,porque aos 18 anos eu já era arrimo de família e já tinha 2 empregos aí no Inhapim.
Mas amigos e professores meus sumiram.Grande bj. Edna

(CARLOS - MENINO BEIJA - FLOR) disse...

Caro, Everson.Adoro VITRINES dele.Entre outras,ainda cito mais essa. " agora eu era o herói e o meu cavalo só falava inglês... ". O fato de ser roqueiro( e eu também sou, embora não sendo músico) não te afasta da sensibilidade de captar bons textos. Aliás, como tem rock com conteúdo. Eu gosto mais do rock é justamente pela atitude, é o único estilo que tentou até hoje mudar as coisas. Como eu disse... prefiro ler o Chico, que ouvir. Vou pegar o gancho do que ele mesmo disse, com toda autoridade que tem, que não é um grande cantor, é desafinado. E sobre o Chico conhecer bem a alma feminina,até ele se deu mal um dia. Mulheres de Atenas,que é lindíssima tambpe,há uns meses, eu o vi reclamando, que as mulheres da época acharam a música machista. Eu não me atrevo mais a conhecer alma de mulher neeeeeem. Um abraço e ótima semana

Sandra Botelho disse...

Ele é demais amo, amo, amo.
E o que vc disse em relação á "cale-se" foi muito interessante, eu tbem não tinha visto por esse lado.
Como disse seu amigo só mesmo sendo um poeta prá notar...
Tenha uma semana abençoada. Bjos no coração!

Secreta disse...

Cálice ... :)
Um assunto complicado, este.

Amanda disse...

Olá Carlos!! Gostei muito do blog, das coisas que li aqui.. te encontrei em algum outro blog, algum lugar que já não sei onde..
mas enfim..

Ahh e quer saber, a voz do Chico é meio chinfrim mesmo! é tão bom ler quanto ouvir!
beijoss

Wanderley Elian Lima disse...

Meu amigo, sobre a ditadura prefiro não falar, ela foi tão abominável (e continua sendo) que prefiro esquecê-la. Quanto ao Chico, ao contrário de você e o meu amigo Everson, tenho todos os CDs dele, sou simplesmente fanático já paguei o mico de pedir autógrafo e dormir em fila para assisti-lo. Amo.
Abração

Anônimo disse...

Eu amoooooooooooo o Chico, também não tenho nehum disco, mas isso não me deixa triste, por que como vc eu gosto mesmo é de ler tudo que ele escreve... E realmente essa eu nunca tinha pensado..."afasta de mim esse cale-se" realmente agora faz sentido.
Ah poeta, to pra te perguntar isso faz muitos dias: vc tem twiter?
Parabéns pelo texto.
bjocas..

Linda Simões disse...

Carlos, Chico é mesmo um monstro sagrado...

A ditadura existe ainda,em grande escala. Tem outros nomes,outras faces,mas existe...


Vivemos uma democracia falaciosa?...


...


Um beijo,boa semana.

Anônimo disse...

Uai Carlos!
Ficou muito bom meu querido.
Bjs.

Anônimo disse...

Boa escolha meu amor, gosto das canções dele e o tom de voz é muito peculiar. A ditadura está nas arrogâncias das pessoas, no poder demasiado dos humanos. Adorei o texto, ficou excelente, como sempre é.

Bjs meu lindo menino.

Paula Barros disse...

Sim, existe muito tipo de ditadura.

Conheço pouco desse período, nunca me interessei em ler mais, me aprofundar, até porque quando comecei a entender um pouco, já fui pegando a hipocresia, dos que iam para a rua gritar contra a ditadura, e falar da elite, e tinham comportamento de elite. Uma elite deslumbrada, e caótica.

Muitos que li, e até conheci, tinham comportamento contraditório com a prática. (mais isso é algo bem pessoal)

Observo que dessa fase tivemos um poder criativo incrível nas artes incrível, e me mostra que quando não podemos expressar ideias e sentimentos, podemos criar.

abraços

nd disse...

Oi,
Voltei !
E li teu comentário sobre mim...
Não poderia deixar de te agradecer,

Vc é muito gentil,
Obrigada mesmo amigo !

BEIJOS !