ESCREVER É DIVINO!

ESCREVER É DIVINO!
BONS TEMPOS EM QUE A GENTE PODIA VOAR. ERA MUITO BOM SER PASSARINHO.

CAMINHOS DE UM POETA

CAMINHOS DE UM POETA
Como é bom, rejuvenescedor e incentivador para o poeta, poder olhar para trás e ver toda a sua caminhada literária, lembrar das dificuldades, dos incentivos e da falta deles, da solidão de ser poeta e do diferencial que é ser poeta. Olhar para trás e ver tudo que semeou, ver uma estrada florida de poesias, e dizer: VALEU A PENA! O poeta vai vivendo, ponteando, oscilando, e nem se dá conta da bela estrada que escreveu. Talvez ele não tenha tempo porque o horizonte o chama, e o seu norte é... escrever... escrever... escrever. Olho hoje para trás... não foi fácil, mas também ninguém disse que seria. E eu sabia que não seria, ser poeta não é fácil, embora seja lindo. Contemplo a estrada que eu fiz, e digo com orgulho quase narcisista: Puxa... como é linda minha estrada!

segunda-feira, 20 de julho de 2009

UM "ROMEU E JULIETA" DIFERENTE


Dona Zelina era uma alegre professora de educação artística na 6ª série. Ela adorava pintura. Sua frase preferida era. “Vocês cansam minha beleza”. Eu gostava muito daquelas aulas coloridas, todo mundo falando ao mesmo tempo. Eu nunca soube desenhar direito. Meus desenhos eram basicamente, uma casinha com chaminé, um riacho, uma nuvenzinha rindo, um sol surgindo por trás dos montes e uma vaquinha pastando. A professora falava. “Você está sendo repetitivo. Tente criar outro tipo de desenho”. Um dia,de brincadeira, fiz o mesmo desenho, porém com duas vaquinhas. Ela disse. “Não estou vendo nada de diferente”. Retruquei. “Tem sim. Agora tem duas vaquinhas. A fazenda está crescendo”. “Pelo menos no humor você foi criativo. Vou te dar um 7 por isso”.
Na semana das crianças, foi organizada uma gincana cultural entre as salas, e teria apresentação de palhaços, teatrinhos, dança, coisas regionais, folclore, etc. Nem éramos tão crianças, tínhamos entre treze e dezesseis anos.Eu, quatorze. Tinha um rapaz, que deve ter virado artista, pois na época era muito bom no que fazia. Ele faria teatro de bonecos, fantoches, marionetes, desses que se fica escondido manipulando e fazendo vozes. Nossa sala seria a última na sexta-feira e depois o encerramento. O rapaz escolheu ROMEU E JULIETA, mas teve um pequeno acidente e não poderia representar. Dona Zelina, endoidou. “E agora,gente? O que faço? Vai ser feio cancelar. Colocar o quê no lugar?”. E assim cada um ia dando sugestão, umas engraçadas, outras malucas, outras boas, mas nenhuma se aproximava da intenção da festa. Dona Zelina preocupada. “Nada disso serve. Tem que ser o teatrinho ou algo parecido, pois foi anunciado assim. Vocês não conhecem alguém que saiba fazer? Eu pago. Está tudo prontinho, o cenário, vai ser uma pena não ter”. E começou a andar pela sala, mãos nos quadris. Ela amava o que fazia. Senti certa tristeza em seu olhar e talvez isso me tenha feito dizer uma loucura, numa atitude impensada. “Eu sei quem faz”. Levantou a cabeça. “Quem? Me apresenta”. “Eu”. Entre feliz e surpresa, perguntou. “Sabe mesmo,Carlos? Espero que não esteja zombando de mim”. Sei sim, ‘fessora. É só decorar o texto, mudar as vozes. Só preciso treinar a manipulação. Sou bom de memória”. Ritinha, uma menina magrinha disse. “ele deve saber sim, ‘fessora. Ele é poeta,né?”. Dona Zelina veio se aproximando devagar, me olhando, apontando o dedo. “É verdade. Tem a ver. Arte é arte. Tem certeza mesmo,Carlos, que pode salvar a pele da professora mais querida e linda da escola?”. “Deixe comigo, ‘fessora”, piscando pra ela. A senhora é linda mesmo. De boniteza nessa escola,a senhora só perde pra mim”. Riso geral, com direito a algumas vaias. Sentada ao meu lado, falou. “Menino, você merece um beijo”. E estalou um beijão na minha bochecha. Adoro ganhar beijo na bochecha. Passei dois dias decorando, manipulando na frente do espelho, treinando vozes. Não vou negar que fiquei preocupado. Era coisa nova para mim, nunca tinha feito e era muita responsabilidade. A escola inteira estaria lá. Felizmente deu tudo certo. Meu teatrinho ficou legal. Só que mudei o final. O romance termina com drama. Pensei. “Dia das crianças terminar em drama? As pessoas vão estar ali para sorrir e não para chorar.”. No meu texto, fiz o amor dos dois reconciliando as famílias. Antes perguntei à professora se podia alterar daquela forma. “Você pode tudo, menino. Com uma pequena observação. É um tipo de plágio,hein?”. Balancei o dedo. “Não. É um alternativa. É um direito de sonhar que as coisas vão terminar sempre bem. Quem sou eu para plagiar Shakespeare, um gênio, mas não gosto de ROMEU E JULIETA, porque morrem no final. Prefiro um “ viveram felizes para sempre”. Custava as famílias fazerem as pazes e deixarem o casal namorar? Então o ódio venceu?”. Ela ponderou. “Mas foi esse toque de tragédia que fez a obra ficar tão famosa”. “Eu sei. Tragédias vendem mais. A maior obra literária de todos os tempos, é um tragédia.”. Ela riu, mas aconselhou. “Cuidado co messe mundo que você visualiza dentro de você. O desengano pode ser grande.”. “Fique tranquila. Eu manipulo esse mundo melhor do que fiz com as marionetes” Ela finalizou.”Não vou discutir com meu geniozinho poeta. Importa que ficou muito bom”.
No ano seguinte, eu iria para o turno da noite. No fim do ano, quase saindo no portão, me chamaram. Olhei e era ela. “Vai embora assim, sem me dar um abraço?”. “Desculpe ‘fessora. É que não gosto de despedidas.”. Segurando meu rosto, fixando nos meus olhos, falou. “Desculpo não. Não tive a felicidade de ter um filho rapaz. Tenho três moças que amo. Mas se tivesse um filho rapaz e eu pudesse escolher, ele seria você. Pode ter certeza que você é sim, o mais lindo da escola”. Abaixei a cabeça, pois fico tímido nessas situações. Com muito custo consegui falar. “Mas a senhora também é pessoa boa”. “Sou nada, sou uma velha chata. Ser bom não é para qualquer um. Ser bom é muito difícil. Seja sempre esse rapaz reto, conciliador, culto, interessado pelas pessoas que você vai ser muito feliz. Levantou meu queixo pedindo. “Dá um sorriso pra mim”. Tentei... mas não consegui. Nos abraçamos demoradamente. Sua última frase antes de eu sair foi. “Você não precisa aprender a desenhar. Você já é uma pintura. Deus te abençoe sempre.”.

11 comentários:

Anônimo disse...

Suas histórias são sempre tão bonitas e infelizmente sobre uma escola que já não existe mais.
Como nós dizemos aqui:
um beijos estalado para vc meu amigo.

Majoli disse...

Gosto quando aqui venho e leio pedacinhos de sua vida, acho isso muito tocante.

Fiquei emocionada no finalzinho, muito lindo.

Obrigada por dividir com seus amigos lembranças suas.
Tenha uma boa semana, beijos.

(CARLOS - MENINO BEIJA - FLOR) disse...

Retribuo a todos(as)vocês um beijo e um abraço. Que bom que gostam. Muito obrigado memso, é muito importante para mim.

~*Rebeca*~ disse...

Carlos,

Ah se todo mundo soubesse que pode mudar um final triste. Muita gente só faz chorar e esquece que pode fazer tudo diferente. Você sempre ensina algo com suas histórias e experiências. O final de Romeu e Julieta ficou fantástico.

Um beijo para o casal que mora no meu coração.

Rebeca

-

Anônimo disse...

Obrigada por dividir conosco suas histórias. E que bom que desde criança você fez a diferença!! Parabéns!!

Abçs
Adriana

Gilbamar disse...

Crônica perfeita num relato cheio de emoção.

Poético abraço.

EDUARDO POISL disse...

Bem, agora um dia mais velho e curado da ressaca do churrasco e da cerveja rssssssssssssss quero agradecer pelos parabéns.
Obrigado do fundo do meu coração e que possamos passar muitos e muitos dia dos amigos juntos, mesmo que seja por aqui.
Abraços

♥ ♥ Eu disse...

Carlos,

Vc é uma pessoa muito especial, seu interior é completo, passa uma alegria e um jeitinho tão belo de ser.
Adorei esse momento da tua vida e não muda nunca, vc tem o dom e deve cultivar prá sempre.

beijos!

Unknown disse...

Lindo texto amigo, como todos os seus a que já nos habituou,e escusado será dizer a Dona Zelina tinha mesmo razão.Pois você é uma das bonitas obras que Deus criou.
Beijinho em seu coração

maria claudete disse...

Como lava nossa alma e nos levanta recordar coisas boas e que nos fizeram crescer na vida sem perder a nossa essência... Parabéns Carlos por continuar sendo aquele menino poeta e sonhador.Obrigada por sua visita .
abraços.

maria claudete disse...

Muito legal a maneira de contar o que nos aflingiu sem deixar ninguém com medo de enfrentar o que vier em termos de mal estar.Ainda bem que você está se cuidando. Abraços.