ESCREVER É DIVINO!
CAMINHOS DE UM POETA
segunda-feira, 13 de julho de 2009
DESFAZENDO CARRANCAS
( imagem neuroticos.wordpress.com )
Senhor Nelson era negro, gordo, homem de poucas amizades. Andava o bairro todo sem dar um “olá”, nem mesmo aos de sua idade. Parecia alguém frustrado, revoltado com algo.Alguns, principalmente os jovens, tinham um certo medo dele. Tinha cara de mal, carrancudo mesmo. Era pai de três amigos nossos: Edmilson, Ademir e Nelson(filho). Copa do mundo de 1986. A turma planejava fazer um churrasco no jogo de estreia do Brasil, mas tinha dificuldade de arranjar uma casa com quintal ou área boa para isso. Quando Ademir disse, “vamos fazer lá em casa”, alguém gritou logo. “Tá doido? Seu pai expulsa a gente de lá”. Ele respondeu rindo. “Que isso, rapaz? Meu pai não é assim também não. O velho é gente boa”. Eu falei. “Sei não, mas se quiser tentar, eu topo”. Na antevéspera do jogo, Edmilson reuniu a turma de novo. “O pai deixou fazer o churrasco, mas foi bem claro: não ligar som de carro, nem falar palavrão”. Combinado. Dia do jogo, começamos bem cedo. Senhor Nelson veio trazendo a cadeira, sentou-se ao meu lado e sem olhar para a cara de ninguém, falou“ Bom dia”.Todos responderam. Tentando entrosamento ofereci-lhe cerveja e ainda sem olhar para mim, respondeu: “Agora não, obrigado. Mais tarde”. Times em campo e agora foi ele quem puxou conversa. “Acho que o Zico devia entrar logo no primeiro tempo”. Zico era o craque do momento, mas passara por várias contusões e assim seria escalado sempre no segundo tempo, em caso de resultados ruins.Expliquei para senhor Nelson que não concordou. “Se o cara é craque e vai resolver no segundo tempo, por que não põe logo no começo e resolve logo a parada? Me passe a garrafa aí”. E assim foi ficando mais solto. O Brasil ganhou até fácil . No segundo jogo não fizemos nada, cada um viu em sua casa. Mas aproximando o terceiro , Edmilson veio rindo para a turma. “Meu pai está perguntando se não vamos fazer mais churrasco lá”. E imitou a voz grave dele. “Cadê seus amigos? Não vai mais ter churrasco? Chama para virem de novo no próximo jogo. Meninos bacanas, gostei deles. Principalmente o de oclinhos. O de oclinhos era eu, que usava ‘óculos John Lennon’. Lá fomos nós de novo. E assim o Brasil foi evoluindo na copa e a cada jogo era um churrasco.
Semifinal. Brasil x França. No intervalo, acabou a cerveja. Ninguém tinha dinheiro. Êta rapaziada que só andava dura. Senhor Nelson, sem camisa, tirou da carteira uma nota de cem ( cruzeiro ou cruzado?... não me lembro) e falou alto para o filho. “Ô Edmilson. Futebol sem cerveja não é futebol. Vá buscar duas grades para nós”. Agito geral. Nelson( filho) beijou ele no rosto e disse: “Por isso que gosto desse pai ‘véio’. Achei aquilo bonito. Como eu gostaria de ter meu pai vivo pra beijar seu rosto várias vezes.
Infelizmente o Brasil perdeu nos pênaltis. O próprio Zico errou. Eu que na época era muito ligado a futebol, hoje nem tanto, fiquei triste. Marquinhos ficou desolado, afinal era super fã do Zico. Senhor Nelson já parecia não se importar muito, estava feliz. Quando tudo acabou, pegando em minha mão, mas se dirigindo a todos, disse: “Vocês são uma juventude muito bonita. Que rapaziada boa! Eu me senti com 18 anos no meio de vocês. Minha casa estará sempre aberta para vocês. Amigos de meus filhos são meus amigos também. Aproveitem, eu não tive juventude, era igual bicho do mato e me arrependo demais. Vocês têm mais é que brincar mesmo, jogar bola, tomar cerveja, namorar. Mas nada de drogas, hein? E o que achei mais bonito é que não teve um palavrão sequer”. Logo interrompi. “Teve palavrão sim. O senhor falou 'puta que o pariu' quando o Zico perdeu o pênalti”. Todos riram. A partir desse dia, via-se um senhor Nelson remoçado, cumprimentando a todos nas ruas. Virou bonachão. Até ia nas tardes de domingo ver a turma no campinho. Chegava gritando. “Como vai essa juventude?”. Eu atravessava o campo todo para ir pegar na sua mão. Às vezes a aproximação é tão fácil e não vemos. As pessoas precisam se permitir mais umas às outras. Graças a Deus, ao longo de minha vida, pude desfazer algumas carrancas
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16 comentários:
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Carlos, que belo exemplo de interação você nos trouxe aqui...
Sim! Ninguém é tão duro que não seja tocado por uma palavra gentil e sincera... Fico feliz que tenham mudado a maneira desse homem que poderia, caso contrário, ter ficado sempre fechado em sua casca!
Adorei a história!
Beijos no coração e uma semana feliz!
Zélia (Mundo Azul)
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Carlos, vc foi um belo exemplo para seu Nélson, com sua alegria, seu carisma. Sua espontaneidade conseguiu libertá-lo do seu mundo fechado, sisudo, e mostrar-lhe que a vida é bem mais interessante e colorida e que devemos ser mais solidários uns com os outros.
Te amo por isso, pelo menino lindo que vc é.
Bjs
Muito obrigado, Zélia.Sempre tão atenciosa.beijos
Anita,meu bem. Era tempo gostoso, a gente se divertia semter dinheiro. Você não imagina como foi divertido ver todos aqueles jogos.Não falei tudo pra não ficar muito extenso, mas teve muita brincadeira. Eu sempre fuo agregador,gata.Era líder sem querer ser. Quando olhava em volta,tudo estava acontecendo em torno de mim. Era tudo sem querer mesmo,espontâneo, eu apenas vivia a vida.Obrigado.E amo você também que me viu assim,que gostou de mim assim. E digo mais.Atualmente estou até mais menino por sua causa.beijos
Oi amigo que bom seria dizer sempre assim da mocidade de cada epoca, mas infelizmente o nosso pequeno planeta está cada vez mais contaminado, se não são drogas são pestes e cada uma maior que a outra.
Verdade até os machos estão desaparecendo e vão dando assim o lugar ás femeas, e isso de curtir um fetebol não há como o bicho-homen.
Beijinho em seu coração
Ai, eu adorei seu texto, tão bom recordar.
Às vezes na primeira impressão que temos de uma pessoa às julgamos de maneira errada e depois vemos que não é nada daquilo que pensamos, basta alguns contatos pra termos por elas admiração.
Foi bom vir te ler, tenha uma boa semana meu amigo.
Beijos.
Oi Carlos!
Lindo texto!
Me fez lembrar do meu pai que tb era bravo que só ele. Namorar lá em casa era um desafio. Só tenho irmãs, então vc já viu como era o ciúme. Quando os rapazes descobriam que era nosso pai quase sempre desistiam de enfrentar a fera. Mas graças a Deus sempre existem homens com coragem e deu pra namorar direitinho.
Ele só não amoleceu, foi bravo até Deus buscá-lo de nós.
Bjs querido.
As vezes só é preciso ocasião e paciência, rsss
um abraço
Excelente texto, amigo poeta, como sempre! Estou aqui para convidá-lo a uma visita no meu novo blog. Perdi o meu dengo, lado intimo, meus amigos e seguidores de lá. Não consigo mais acessá-lo. Aguardo.
Abçs
Adriana
O Néctar da Flor oferece um selo DIGA NÃO AO PLÁGIO! Somos originas, porque somos únicos. Cada ser um humano tem uma emoção individual. Por mais que as palavras e os pensamentos sejam parecidos, não temos o direito de pegar algo de alguém e dizer que é nosso. Não podemos trocar palavras e rasurar o sentir do próximo. Encontramos inspiração em alguém, na natureza, na vida, mas não temos o direito de copiar sentimentos. Inspiração é uma coisa, xerocar palavras alheias é outra.
Beijos jogados no ar, sempre!
[para pegar o selo clique na imagem]
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Carlos,
Seus textos são verdadeiras lições de vida. A emoção rola solta nesse seu blog. Você transmite o bem sem olhar a quem. Às vezes fazemos uma imagem tão assim das pessoas e quando abrimos o sorriso da alma tudo muda.
Olha, adoro de verdade sua musa-menina-flor-mulher. Anita tem uma alma linda e cristalina. Você não poderia ter encontrado um amor tão igual ao seu.
Vocês são dois queridos por nós.
Que seu dia seja de luz!
Rebeca
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Carlos,
Sabe quando você não espera uma surpresa? Nunca passou pela minha cabeça, que o poeta que fala com o coração fosse emocionar nossa alma. É uma honra receber, de braços abertos, suas palavras. Iremos colocar do lado esquerdo do nosso blog e guardar pra sempre. Palavras benditas são eternizadas. Ô mundinho virtual cheio de gente boa, meu Deus! Anita é uma mulher linda, Carlos. Sempre vi isso nessa menina. Acho maravilhosa a forma que ela sempre chega de mansinho, até mesmo nos textos que escrevemos sem pudor. Somos adultos, somos amantes das palavras e sabemos diferenciar o que se faz vivo e que mexe. É isso que buscamos quando escrevemos, a agitação na alma, seja serena ou forte. Aiai... essa sensação que a emoção causa faz tão bem!
A vontade que fico é de abraçar vocês dois...
Rebeca
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Carlos,
E essa admiração mútua é totalmente verdadeira. Ler palavras reais é saber sentir de verdade. Vocês dois são lindos demais.
É muito bom sentir felicidade, quando o presente é feito pelas próprias mãos do coração.
Deus abençoe suas vidas.
Rebeca
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Caro amigo,
Vi que está a seguir o meu blog e venho agradecer e também conhecer o seu. Virei mais vezes para ficar a conhecer melhor. Para já, comentando "Desfazendo Carrancas" diria que quem vê caras não vê corações.
Um abraço,
Maria Emília
Que linda homenagem heim amor pro casal Rebeca e Jota Cê. Confesso que fiquei emocionada ao ver o carinho e ternura que eles tiveram ao postar no blog Néctar da Flor. Muito fofos mesmo.
"Quando fala o amor, a voz de todos os deuses deixa o céu embriagado de harmonia."
William Shakespeare
Bjinhos e boa noite.
Sim, Anita. Também fiquei emocionado, gata. Gostei muito, mas lembre-se, foi inspirado em você,por isso a poesia ficou tão boa.beijos
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