ESCREVER É DIVINO!

ESCREVER É DIVINO!
BONS TEMPOS EM QUE A GENTE PODIA VOAR. ERA MUITO BOM SER PASSARINHO.

CAMINHOS DE UM POETA

CAMINHOS DE UM POETA
Como é bom, rejuvenescedor e incentivador para o poeta, poder olhar para trás e ver toda a sua caminhada literária, lembrar das dificuldades, dos incentivos e da falta deles, da solidão de ser poeta e do diferencial que é ser poeta. Olhar para trás e ver tudo que semeou, ver uma estrada florida de poesias, e dizer: VALEU A PENA! O poeta vai vivendo, ponteando, oscilando, e nem se dá conta da bela estrada que escreveu. Talvez ele não tenha tempo porque o horizonte o chama, e o seu norte é... escrever... escrever... escrever. Olho hoje para trás... não foi fácil, mas também ninguém disse que seria. E eu sabia que não seria, ser poeta não é fácil, embora seja lindo. Contemplo a estrada que eu fiz, e digo com orgulho quase narcisista: Puxa... como é linda minha estrada!

domingo, 11 de agosto de 2013

MEU PAI

Nunca falei muito de meu pai em meus escritos. Quando faleceu, eu era muito novo, tenros nove anos, mas o pouco que vivi vale ser lembrado. Acho que herdei algumas influências dele. A poesia, por exemplo. Gostava de fazer umas trovinhas e comprava muita literatura de cordel. Gostava muito de  dar conselhos citando ditados populares, gostava de frases de efeito, outra influência. Não tinha muita leitura, mas estava sempre com um dicionário na mão e contrariava quem dizia que o dicionário é o pai dos burros. “ O dicionário é  pai dos inteligentes. Burro é quem e não sabe e não pesquisa”. Meu pai era alto, moreno bem avermelhado, quase índio. Seus bisavós eram escravos ou índios, não me lembro bem.
Era bravo pai à moda antiga, durão, mas não posso me queixar, comigo não era. Pelo contrário, orgulhava-se de mim perante os amigos que reunia em casa para tocar sanfona e violão:  “O Carlos, mal chega da aula e já vai fazer os deveres”. Ou:  “Ele sabe rezar Pai Nosso e Ave Maria sozinho”. “Esse menino já lê qualquer coisa.”
Mas isso não era o mais engraçado. Ele simplesmente detestava Roberto Carlos, claro porque gostava da música caipira de raiz. Outra influência sobre mim, pois com o tempo fui lendo e vendo que a maioria dessas canções são verdadeiras poesias, obras primas mesmo.
Em meio aos amigos na sala, o fiel cachorro Famoso, debaixo do sofá, ele me colocava em sua perna esquerda, a sanfona na direita, e dizia. “Canta aquela do Roberto Carlos”. E eu cantava:  “Eu te amo... eu te amo... eu te amo. uou uou uou uou”. E eu ainda punha os dedos apertando o nariz para ficar fanhoso tentando fazer a voz do Roberto que tem o som bem nasal. Os amigos, e ele ainda mais, riam. Quando morreu, eu não tive de imediato a idéia exata do que era aquela perda. Uma semana após o sepultamento, andei a casa toda procurando por ele instintivamente. Não ouvi mais o estalar de chinelos pelo corredor. Vi a sanfona vermelha esquecida no canto do quarto. Só um travesseiro na cama de minha mãe. Assim entendi porque Famoso, na noite do sepultamento uivou a noite toda. Ele estava chorando. A radiola, minha mãe só andou ligando para ouvir a missa aos domingos. Ninguém mais ligou a VOZ DO BRASIL, que meus irmãos e irmãs diziam que era chato demais. Eu não me importava, ora se era o gosto dele. Além do mais, era a certeza que ele estava ali, em casa. Era muito seguro sentir a presença de um pai. Com o correr dos dias, das semanas, é que fui sentindo sua falta, fui percebendo o vazio, pois aquele momento de sentar na perna e poder agradá-lo me fazia bem também. Eu ia à sala, olhava o sofá e procurava aqueles tantos chapéus que os amigos penduravam numa espécie de cabide no canto. Não ouvia mais as gargalhadas de quando eu cantava. Eu gostava do Roberto Carlos, mas não daquela música, achava chata, repetitiva, era mais pela festa mesmo. Famoso nunca mais foi o mesmo. Ficava deitado na porta como se estivesse esperando a volta de alguém. Também já era velho e morreu não muito depois. Os anos passam, e é da natureza humana, aceitar, se acostumar, inclusive com a morte, o mistério mais claro dessa vida. Entre tropeços e vitórias cheguei até aqui, mas gostaria muito de ter crescido ao lado dele. É muito difícil crescer sem um pai. Quem já cresceu e ainda tem o seu, cuide dele. Seja tolerante. Respeite seus cabelos brancos. Não ria de seus erros de português, foi graças a ele que você aprendeu a ler. Tenha paciência com suas pernas lentas. Elas já correram muito por você.
Obrigado meu pai. As coisas boas que sei, herdei de você, as ruins foram do mundo mesmo.
Continuo gostando de rock, mas ainda me encanto ouvindo uma sanfona bem tocada, e quando estou numa roda de viola, peço pra tocar as suas caipiras. E as pessoas se surpreendem por eu saber cantar todas.
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“ O dicionário é  pai dos inteligentes. Burro é quem e não sabe e não pesquisa”.
 A partir disso eu saí para pesquisar a vida.
 

10 comentários:

Unknown disse...

Bom dia Carlos faz algum tempo que não te visito, mas hj vim deixar um abraço pelo dia dos pais se vc for..li o que escreveu, e senti saudade do meu pai que tbém já se foi há muitos anos, sinto falta dele nos meus bons momentos e nos que fico triste, mas cada um tem um caminho aqui na terra, pequeno ou grande,Deus que proteja eles la no céu....deixo um abraço com carinho de bom domingo
Bjusss
_____________Rita!!

Unknown disse...

Estou fazendo um sorteio la no blog pelo niver de 2 anos, passe por la espero vc bjãooooo!!!

Paula Barros disse...

Lembranças bonitas, saudosas.
Gostei de ler, um texto que me prendeu, que é muito visual.
abraço

Jessiiiih =) disse...

Quando meu pai faleceu, eu tbm era mtoo nova, gostei do texto
http://umagarotacitouu.blogspot.com.br/

Maria da Graça Reis disse...

Como sempre,uma linda postagem.
Recordar é viver.
bjs

Ritinha disse...

Belissimo texto!
Emociona.
bjs e excelente semana
Ritinha

Patrícia Pinna disse...

Amigo Carlos, emocionante o seu texto em homenagem ao seu pai.
Sei como é isso, também perdi o meu há 21 anos.
A falta dele é inegável, sempre será.
Sei que a vida é feita de ciclos, temos de aceitar, uma vez que quando alguém a quem amamos muito parte, geralmente está doente e sofrendo, assim sendo, melhor está ao lado de Deus onde não haverá sofrimento, e uma nova missão a pessoa terá.
O elo que você tinha com o seu pai foi preservado e isso é muito bom.
Sua postagem foi sábia, assim como o pensamento dos seu pai em relação ao dicionário.
Eu amo dicionário desde que me entendo por gente, traz mais conhecimento, e isso é procurar ampliar horizontes, logo, são para pessoas inteligentes sim, que não se conformam com o pouquinho que sabem, que não querem errar, e sim elucidar dúvidas.
Seu pai era sábio e sei que sempre estará em seu coração, pois o amor é eterno, não morre!
Um beijo imenso no seu lindo coração.
Seu pai descansa ao lado do meu.
Fique com Deus.

Wanderley Elian Lima disse...

Oi Carlos
Felizmente pude desfrutar mais tempo da companhia do meu pai, poi faleceu já com 80 anos. Hoje guardo dele a saudade, as lembranças e os ensinamentos.
Abraço

Lis Fernandes disse...

Olá amigo poeta!
Uma bela homenagem em um texto muito bem escrito.
Sabes muito bem colocar as emoções em palavras.
Parabéns!
Beijos, Lis

Anônimo disse...

Olá amigo Carlos! Nossa amigo que lindo seu relato... até me emocionei.
Fiz uma viagem lendo seu belo e extenso texto... Sabes da minha preguiça de ler, mas depois que termino de ler seus textos, digo: Valeu a pena!rs
Sabe amigo Carlos eu não tive pai...
E penso que faz muita falta mesmo.
Parabéns pelo amor e respeito que dedicou e ainda dedica a memória de seu Pai.

Beijos em seu coração!

Fernanda Oliveira