ESCREVER É DIVINO!

ESCREVER É DIVINO!
BONS TEMPOS EM QUE A GENTE PODIA VOAR. ERA MUITO BOM SER PASSARINHO.

CAMINHOS DE UM POETA

CAMINHOS DE UM POETA
Como é bom, rejuvenescedor e incentivador para o poeta, poder olhar para trás e ver toda a sua caminhada literária, lembrar das dificuldades, dos incentivos e da falta deles, da solidão de ser poeta e do diferencial que é ser poeta. Olhar para trás e ver tudo que semeou, ver uma estrada florida de poesias, e dizer: VALEU A PENA! O poeta vai vivendo, ponteando, oscilando, e nem se dá conta da bela estrada que escreveu. Talvez ele não tenha tempo porque o horizonte o chama, e o seu norte é... escrever... escrever... escrever. Olho hoje para trás... não foi fácil, mas também ninguém disse que seria. E eu sabia que não seria, ser poeta não é fácil, embora seja lindo. Contemplo a estrada que eu fiz, e digo com orgulho quase narcisista: Puxa... como é linda minha estrada!

domingo, 28 de novembro de 2010

ESSES BÊBADOS ( PARTE II )


( imagem google )
Como já disse, Duquinha era o bêbado tipo intelectual. Nas poucas horas sóbrias, nos dava verdadeiras aulas de história geral, civilizações antigas, gostava de filosofia, tinha ideias futuristas e gostava de frases de efeito. Tinha bom português também, mas gabava-se mesmo era de ser bom em matemática. Falava de Pitágoras como se fosse um amigo dele. Jurava ter sido professor e eu acreditava, pois sei quando alguém está enchendo linguiça e ele pegava nossos cadernos e resolvia as questões. Tinha frases amarguradas também. “As únicas coisas exatas nessa vida são a matemática e a morte. Só que a matemática não me pega. A morte quando chegar, que me pegue dormindo, pois não quero ver a cara dela”. Talvez já estivesse vendo e não sabia.
No final do bairro, havia um abismo, depois desse abismo a uns cinco kilômetros, tinha o rio e depois a floresta. Era de lá que a lua saía e sempre proporcionava um bonito visual, principalmente se era lua cheia. Numa noite, vindo da aula umas onze e meia, a lua estava tão clara, chuveirando raios sobre a floresta que dava para ver mesmo de longe, algumas silhuetas de árvores. Avistei Duquinha, em pé, de braços abertos na beira do abismo. No princípio pensei no pior: suicídio. “Não. Ele é inteligente demais para fazer isso”. Parei, dei um tempo. “Nunca se sabe, vou lá”. Cheguei de mansinho, dei boa noite, ele respondeu. Não estava tão bêbado. Sentei-me na intenção de induzi-lo a sentar-se também e sentou-se mesmo, o que me deixou aliviado. Não era um abismo tão alto, mas cheio de rochas lá embaixo, além de ser bem íngreme. Perguntei. “Pensando na vida, Duquinha? Está fazendo o quê aqui, amigo?”. Olhando reto para a mata, respondeu. “Estou vendo uns satélites, umas espaçonaves, asteróides, cometas”. Prossegui. “E já viu algum?”. Olhou para mim rápido. Ah, é você, ‘Carlim?. Vi vários. Nada é mais poderoso que a imaginação. Podem lhe tirar de tudo na vida, menos a sua imaginação”. Falou de um jeito como se tivesse perdido muitas coisas na vida. Percebi que estava tranquilo, apesar de amargurado, e para mim já era tarde. “Preciso ir. Ainda vou jantar e acordo às cinco para trabalhar”. Sempre olhando para a mata, disse. “É isso mesmo, meu rapaz. Trabalhe muito, pois o trabalho é sua honra. Sem seu trabalho você não faz história”. Já de pé, tentei levá-lo junto. Fica aí não, está frio. Vai pegar uma pneumonia”. Ele disse. Você não está preocupado com pneumonia, eu sei. Obrigado por isso, mas não se preocupe, estou bem. E cantarolou uma música do Fagner. “Sem o seu trabalho, o homem não tem honra, e sem a sua honra, se morre, se mata. Não dá pra ser feliz, não dá pra feliz”. O “não dá pra ser feliz”, repetiu umas vinte vezes, até eu me afastar e não ouvir mais. No caminho, pensei. “Um dia vou escrever sobre isso”. Hoje escrevi. Duquinha, que era o mais novo dos velhos, foi o último a morrer da turma, e talvez por isso, mais solitário e mais bêbado. Se ainda morasse lá teria ido ao seu velório, não para comer salgadinhos com café ou ouvir piadas, mas para talvez falar com alguém que o tivesse conhecido no passado que pudesse me explicar por que um matemático acaba daquele jeito. Desde então, nunca mais contei piadas de bêbados. Alcoolismo é coisa séria. São cenas tristes travestidas de engraçadas.

14 comentários:

IT disse...

Muito bom!rsssss

Gostei quando já no início você escreveu:"enchendo linguiça" expressões regionais
(MG quem te conhece não esquece jamais)rsssss

É meu caro contador de anedotas! a MARVADA PINGA não escolhe quem leva não!Vai matuto,vai intelectual e até amigo matemático, vai também!

Beijos ao poeta contador de piadas.

Everson Russo disse...

Bebados de todos os generos e estilos...abraços de otima semana pra ti amigo...

Wanderley Elian Lima disse...

Olá Carlos
Realmente alcoolismo é coisas muito séria,um alcoólatra pode destruir toda uma família. Adorei o texto, como diria Roberto Carlos: "Essas recordações me matam...".
Abração

Anônimo disse...

Meu amigo, cutucou uma ferida social que lateja na sarjeta e nos palácios.Infelizmente é a pior droga, pois é barata e se encontra em cada esquina, sendo vendida licitamente. Ela rouba a paz, rouba o amor, rouba o emprego, rouba a família, rouba a honra e dignidade. E por último rouba a vida do farrapo humano que ela moldou. Muito pertinente seu texto.
Beijos carinhosos.

Sandra Gonçalves disse...

Eu me lembrei de uma frase que diz assim:Eu não bebo por vicio, eu não bebo por nada,bebo porque vejo no fundo do copo o rosto do homem amado.Então bebo até a ultima gota pra ele não morrer afogado. neh?
Esses bebados...Bjos achocolatados e linda semana pra ti

franciete disse...

Meu querido amigo tudo na vida tem um sentido e este poema, fala disso mesmo, eu espero que a filha que eu adoro, e, que não dá noticias, desde Junho deste ano e que esteve a 2km da minha casa e não veio ver os pais nem sequer um telefonema, vem ai o natal e de certo irá dizer alguma coisa.
Pois é a minha dor está ai focada.
Beijinhos de luz para você meu querido amigo.

Anônimo disse...

Um bebado cheio de conteúdo.
Ñ se pode julgar um livro pela capa ñ é mesmo?
Ainda morto inspira curiosidade.
Gostei muito.
Parabéns.
Abraços meu querido amigo.

Anônimo disse...

Meus êxtases, meus sonhos, meus cansaços...
São os teus braços dentro dos meus braços,
Via Láctea fechando o Infinito.

Florbela Espanca

Dias de amor & Paz...Beijos meus! M@ria

Everson Russo disse...

Uma linda terça feira pra ti amigo,,,abraços.

chica disse...

É verdade, são mesmo tristes esssas cenas!

Mas há tantas piadas deles,não? abraço,chica

Unknown disse...

Oi Carlos!

Alcoolismo é coisa muito séria mesmo!Muitas vidas e famílias são destruídas pelo vício. É terrível!

Abraços
Lia
Blog Reticências...

Paula Barros disse...

Sim, alcoolismo é seríssimo. E de difícil conscientização e tratamento.

Aqui na empresa que trabalho tem vários casos, e independe de classe social, é devastador.

Já tive casos na família, chegando ao suícidio.

abraço.

Eduardo Medeiros disse...

carlos, que história...

também conheci um bêbado intelectual que sempre discursava para as pessoas pela manhã na espera pelo ônibus.

ele dizia muitas coisas e andava com uma foto que ele dizia ser da mulher que o abandonou.

ele repetia sempre que ele era bêbado por que a "bandida" tinha lhe deixado..alguns riam dela, eu, achava tudo aquilo muito triste.

abraços

Dayse Sene disse...

Pois é! E assim termina a história...um tanto quanto interessante , porém dá uma tristeza profunda, por saber, que pessoas como o Duquinha, estão cheios deles nas ruas...sabe lá fazendo o que? Se tentando entender a vida, ou querendo mesmo morrer.O caso, que tem gente demais interessante perdido nesse mundo de meu Deus...tentado ter pelo menos a sorte desse seu amigo, que tinha você que parava e com ele conversava. Quantos precisam disso não é mesmo?O àlcool é apenas uma droga, para poder não ver a tristeza que assola a alma dessas pessoas...Será o que poderíamos fazer nè? Seu texto é reflexivo e me deixa angustiada em busca de uma solução.
Abraços meu querido Carlos.
Ah! Me parece que é cruzeirense? Também sou, rs..."zeiroooooooo...rsrs"