ESCREVER É DIVINO!

ESCREVER É DIVINO!
BONS TEMPOS EM QUE A GENTE PODIA VOAR. ERA MUITO BOM SER PASSARINHO.

CAMINHOS DE UM POETA

CAMINHOS DE UM POETA
Como é bom, rejuvenescedor e incentivador para o poeta, poder olhar para trás e ver toda a sua caminhada literária, lembrar das dificuldades, dos incentivos e da falta deles, da solidão de ser poeta e do diferencial que é ser poeta. Olhar para trás e ver tudo que semeou, ver uma estrada florida de poesias, e dizer: VALEU A PENA! O poeta vai vivendo, ponteando, oscilando, e nem se dá conta da bela estrada que escreveu. Talvez ele não tenha tempo porque o horizonte o chama, e o seu norte é... escrever... escrever... escrever. Olho hoje para trás... não foi fácil, mas também ninguém disse que seria. E eu sabia que não seria, ser poeta não é fácil, embora seja lindo. Contemplo a estrada que eu fiz, e digo com orgulho quase narcisista: Puxa... como é linda minha estrada!

sexta-feira, 30 de novembro de 2012

UM JEITO ESTRANHO DE OLHAR


O que define uma expressão
não está na quantidade de palavras,
mas na emoção do olhar.
Quando quero dizer o que se passa no meu coração,
eu me calo, e mostro meus olhos
que é meu melhor jeito de falar.
Há tantos gritos em mim quando me calo
e mistérios quando falo.
Sei que às vezes, eu demoro,
mas é meu jeito de andar.
Há um sorriso quando choro
e uma lágrima quando gargalho,
com o óbvio me atrapalho.
Ah, se eu arrumasse um jeito
de nunca mais ter que disfarçar
nem o sorriso, nem a dor.
Espinho é espinho, flor é flor,
é assim que eu quero acreditar.
Ah, se eu fosse normal
e não fosse tão dual.
O labirinto é uma aposta
entre mistérios e verdades que minha boca esconde,
e que gritam no olhar,
mas são gritos sem resposta
gritos que o eco não responde.

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

EU SOU UM ÍDOLO ( ANO 1986 )


Sou sim, um ídolo. Não um ídolo das canções ou da tv. Não um ídolo que fica no palco representando e que ao mesmo tempo está isolado dos fãs por uma barreira instransponível chamada fama. Não um ídolo moldado ou fabricado, como um boneco de barro, tão frágil que pode cair e quebrar. Sou um ídolo dos corações. Talvez seja a maior das minhas ambições nesta minha vida agitada: ver o mundo à minha volta sorrindo para mim. Por ter a imaginação fértil, cultivo no meu jardim um desejo simples de ser feliz. E só o mundo me faz feliz. Por isso vou andar por aí, criando espaços à amizade. Isso que é imaginação fértil... o mundo à minha volta sorrindo para mim. Como um verdadeiro ídolo. Feito de um barro especial, que só se encontra no solo fértil dos corações. Puxa, como estou otimista hoje... pela terceira vez falei em fertilidade. Talvez, por isso eu seja um ídolo. Quem pode dizer que não? Quem pode negar que nesse mundão de meu Deus há alguém que se lembra de mim? Alguém que gosta de minha cabeça. Que aprova minhas ideias, que delira quando estou sorrindo e que fica triste quando me vê triste. Alguém me adora. Alguém me ama. Alguém é meu amigo. Alguém gosta da minha voz rouca, do meu cantar, e meu cantar é uma estrada florida onde só se planta amizade. Uma estrada florida onde vivi de perfumes e espinhos. Cheguei a chorar as flores que morreram porque foram minhas mãos que plantaram, e só eu sei o trabalho que deu. Um dia eu disse: Aqui jaz uma flor! Pouca gente entendeu. Eu estava tão sozinho! Um dia eu li que os ídolos nunca serão compreendidos, mas, isso não me faz um ídolo triste. Posso não ser um John Lennon, mas sou muito querido. Sou simplesmente Carlos... e daí? Aquele moleque, aquele poeta. Aquele irritado. Aquele humorado. Mas acima de tudo, um ídolo. Porque alguém gosta de mim. Alguém vai ler isso aqui e dizer: Você é o maior! Sou um ídolo que não se preocupa com beleza física ou status, por saber que estarei estampado sim, mas nas páginas dos corações. Lá sim, quero ser manchete. Esses corações. Essas terras ocultas e misteriosas que tento compreender e desbravar. E foi chegando perto deles que virei ídolo. Alguém reza por mim, torce por mim. Alguém prega o que eu prego. Alguém me põe nas costas se estou cansado. Alguém confia na minha amizade. Alguém acha bonito os anéis dos meus cabelos. Acha bonito meu olhar, mesmo quando está perdido num ponto qualquer, como pedindo uma explicação pra esse piscar de olhos que é a vida. Alguém entre os rostos da multidão vai ser o meu alguém. E eu adoro os “ alguéns” da vida, porque todo mundo veio para ser alguém. E eu nasci para ser ídolo. Entre os rostos da multidão vejo gente que me diz bom dia, que me sorri. Gente que ouve as coisas grandes que digo, e que me perdoa quando digo besteiras também. Gente que me chama de amigo, ou irmão... ou de meu amor. Gente que sente saudades de mim. Às vezes sou ingrato quando reclamo solidão. Há gente que me convida ao instante confortável de um abraço. Gente que me faz ser gente. Que me faz ir para a frente. Pessoas que entendem a minha mentira, minha fantasia de sorrir. Todas as minhas utopias. Que me entendem por eu viver no mundo mágico da poesia que eu tiro do meu baú encantado, vulgo coração. Ainda bem, pois essa é a minha espada contra os dragões desse mundo de terror. Sem ela eu estaria enfraquecido. E foi essa espada que me fez virar ídolo, porque tem muita gente que se inspira quando estou inspirado. Mas, não quero ser um anjo, nem um líder dessa gente. Quero apenas ser um elo, entre os elos da corrente. São pessoas que me entenderam quando eu disse: Eu queria ser uma estrela. Por causa dessa gente a partir de agora, eu vou andar nos trilhos.



domingo, 25 de novembro de 2012

VAMOS FAZER AMOR!


Quando Deus fez o planeta, fez o amor,
Ele fez poesia
em forma de paisagens, lindas imagens.
Tentou fazer com o o homem uma parceria.
O que Ele não sabia
era do espírito destruidor
que o homem escondia,
e pela primeira vez no paraíso, morria o amor.
Mas Deus benevolente
como Pai paciente
enviou o Salvador,
e mais uma vez mataram o amor.
Para nossa sorte,
Ele venceu a morte,
e subiu ao céu para a direita do Criador.
Passaram-se dois mil anos
e o homem perdeu-se em desenganos
nos seus tantos planos
planos de matança, planos de guerra.
Mas ainda há esperança de salvar essa terra
pois, continua benevolente e paciente o Criador
que nos dá sempre uma nova chance;
É tão fácil, está ao nosso alcance,
é só fazer com Deus uma parceria
basta praticar o amor,
basta fazer poesia.

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

O HOMEM OU O POETA? ( ERA UMA VEZ... UM TEXTO SEM FIM )


Esse texto é uma grande indagação resumindo várias outras. Vai ser mais um texto com frases terminando com ponto de interrogação do que com exclamação ou ponto final, eu prefiro reticências, porém mesmo preferindo reticências, prendi-me à algumas perguntas. Bem, pelo menos posso fazer uma afirmação: Ser poeta é muito bom! Isso nos faz não melhores, mas diferentes, diferenciados, e chega a ser um charme. É como ter uma segunda pele, uma segunda identidade. O poeta e o homem em um só. Mas até onde o poeta ajuda o homem? E até onde atrapalha? E pelo outro lado, até onde o homem ajuda o poeta? E até onde atrapalha? Qual deles prevalece? Ou existe um equilíbrio? É possível ser 50% para cada lado, ou de vez em quando um se atreve e passa a linha do outro? Até que para essa pergunta, eu tenho a resposta. O poeta é mais “moleque”, mais ousado, mais desobediente, e ultrapassa quase sempre a linha do homem, e assim, o homem não pode viver uma vida normal, de pés no chão, porque o poeta não deixa. O homem tenta ser como todos os outros que gostam de futebol, de carros, de clube, pagam contas, namoram, casam, trabalham etc etc. Mas não tem jeito, o molequinho do poeta não deixa. Epa! Olhá só eu tomando partido e tentando dizer que o poeta é um grande vilão. Como vilão, se ele é o grande charme do homem? Se o homem não vive sem o poeta? Seria possível ao homem dizer que vai deixar de ser poeta? Meu Deus! Que confusão! Não, não estou tomando partido, talvez seja meu lado poeta tentando invadir a linha do Carlos homem, ou o Carlos homem tentando reprimir o Carlos poeta. E para provar que não estou tomando partido, quero dizer que o homem também invade a linha do poeta, limitando seus voos, seus sonhos, seus passos mais largos. O poeta é o balão, e o homem é a cordinha que segura o balão. Tudo bem que não se pode soltar o balão que ele some no espaço, mas às vezes, a cordinha é bastante chata. Às vezes até chego a pensar que o poeta, nessa junção de identidades, é o que mais sofre, porque a sociedade pensa que precisa somente do homem, que o lado do poeta é até bonitinho, sonhador, mas pouco soma. Mas quem vai dizer as coisas belas à sociedade? Não é o poeta? Quem vai amenizar as coisas ruins desse mundo, duro, calculista, indiferente, surdo e mudo, e que usa viseiras como um burro para enxergar num sentido só? Meu Deus! Que confusão! Parece que estou tomando partido de novo, agora fazendo parecer que o homem é o vilão, e não existe vilão entre as pontas do cordão dessa existência dual, mas um coração buscando o equilíbrio como já foi no passado. Pensando bem, será que algum dia foi? O homem perdeu muitas coisas por causa do poeta... e ganhou também. O poeta perdeu muitas coisas por causa do homem... e ganhou também. Preciso definir melhor o que é perda para mim, e se o homem tiver que invadir a linha do poeta, que não seja empurrado por terceiros, mas naturalmente, como é o poeta quando invade a linha do homem, que deixem o balão voar e escolher o lado para onde o vento estiver melhor. Outra curiosidade desse texto é que ele é um texto sem fim, como um círculo viciado e vicioso. Eu ficaria meses sobre essa mesa, e não o terminaria. Cervantes, disse uma frase interessante: “ A maior loucura que um homem pode cometer, é deixar-se morrer”. Estive por várias semanas tentando escrever esse texto, não conseguia começar, mas acho que essa frase foi o ponto de partida. Parafraseando Cervantes, eu diria: ‘A maior loucura que um homem pode cometer, é deixar morrer em si a poesia’. Porque se o homem morrer fisicamente falando, naturalmente a poesia morre junto, mas se a poesia morrer antes, o homem estará morto em pé. “Você voa demais, parece um balão, se a gente não segurar a cordinha, sai voando pro espaço”. Há muitos anos achei essa frase engraçada... hoje nem tanto. Que me desculpem o Carlos homem e os terceiros que o empurram para o lado de cá, mas não sou louco de deixar morrer a poesia em mim. Alguém pode perguntar: “Qual deles você prefere ser?”. Ah, para essa pergunta eu tenho resposta: Prefiro ser o Carlos poeta.

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

A LENDA DO PRÍNCIPE QUE QUERIA SER SAPO - PARTE FINAL ( atendendo a milhares de pedidos rs rs )


Vários dias se passaram depois que a fadinha se foi, o brejo voltou ao normal, o coaxar dos sapos, a gruta escura e um príncipe solitário lá dentro. Não, nem tudo estava normal. O príncipe olhou sua imagem no fundo da lagoa e chorou mais uma vez. Sentiu falta dos tempos em que era um rapaz galante, de seus pais, de sua vida comum, incomodado com aquela forma estranha, o instinto humano gritava dentro de si. Estranhamente começou a se lembrar da fadinha também, uma espécie de saudade que não sabia explicar, sentiu falta dela, dos poucos minutos em que se falaram, pode ser que o toque da varinha não tenha surtido efeito, mas o seu toque de mulher parecia ter agido nele, embora imperceptível naqueles momentos. Nem sempre os toques mágicos estão num varinha de condão, às vezes estão no olhar, no jeito de falar, o fato é que o príncipe sentiu vontade que ela voltasse. “Mas ela não vai voltar, fui muito enfático com ela”, pensou em voz alta. “Mas e se eu for atrás dela? Ora, mas nem sei onde ela vive”. Um velho sapo veio do fundo da gruta. “Ouvi toda a tua história, caro amigo. Desde o dia em que apareceste aqui senti algo diferente, vi que não eras um sapo normal, eras um sapo elegante, com requintes de nobreza. Vá... procura a fada! Não és sapo, és homem! Existe todo um reino precisando de ti, estás sendo egoísta, porque não estás proibindo o amor somente a ti mesmo, mas o teu próprio amor àqueles que precisam de ti. Só sapos sabem ser sapos, príncipes sabem ser príncipes”. Ele olhou para o velho e sábio sapo: “ É verdade. Perdi o amor daquela moça antiga, mas não perdi a capacidade de amar. O amor está dentro de mim”. E perguntou: “Mas o amigo sabe onde encontro a fadinha?” O velho sapo respondeu: “Claro que sei! Existe um vale encantado, o vale das fadas. Ande quinze léguas rumo ao nascer do sol, conte sete montanhas, quando estiver no topo da sétima montanha, avistará o vale das fadas. É um lugar lindo!”. O príncipe disse: “Pois sairei amanhã de madrugada”. Virou-se para o velho sapo e novo amigo: “Como você sabe disso tudo?”. Já retornando para a gruta, sem olhar par trás, respondeu: “Porque eu também sou sapo por opção, eu também fui príncipe, hoje estou velho e arrependido. Não roubes de ti a própria juventude. Lembra-te: Não és sapo, és homem!”.
O príncipe saiu logo cedo, andou vários dias, parava pouco para descansar à beira de alguma lagoa ou riacho, e quando estava na terceira montanha, pensou: “Como o amor é difícil!”. Mas a voz do velho sapo ecoando dentro de si... “Não és sapo, és homem!” , o impulsionava a seguir, afinal, é preciso merecer o amor, buscar o amor. Por fim, quando galgou a última montanha, avistou o lindo vale onde várias fadinhas brincavam. Esqueceu-se do cansaço, foi pulando até lá, procurando a fadinha Lili, entre tantas outras, mas nem precisou procurar muito. Ela o avistou e veio ao seu encontro. “Não sabes o quanto estou feliz de te ver, Príncipe! Não imaginas o quanto torci para esse momento, pensei em voltar ao brejo, mas não fui autorizada pela fada mãe, pois acima da mágica tem que estar o desejo, e teu desejo naquele momento era ser sapo”. Olhando a linda fada, ele respondeu: “Pois agora desejo muito ser príncipe!”. Ela se abaixou, pegou-o, dizendo: “Vamos até minha cabana”. Chegando lá, colocou-o num banco, ficou fitando-o, até que ele comentou: “Não vejo sua varinha”. Ao que ela respondeu: “Não preciso de varinha... não para essa mágica. Só preciso de um beijo”. E beijou-o. Fechou os olhos e esperou alguns segundos. Quando abriu, estava à sua frente um belíssimo rapaz ( qualquer semelhança com o autor é mera coincidência rs rs ). Pensou: “Que desperdício, um homem lindo desse virar sapo!”. Com esse pensamento, ela percebeu que estava voltando a ser mulher. Ele a abraçou em gratidão, fitou-a nos olhos, e teve certeza: O amor estava ali. Pediu-a em namoro. Beijaram-se longamente... loucamente. Foram até a fada mãe que abençoou a união, tirou dela os poderes de fada, permitindo-lhe uma última mágica: Foram juntos até o brejo, e transformaram o velho sapo em homem de novo, que se tornou além de grande amigo do Principe Adrian, um dos padrinhos do casamento. E o reino voltou a sorrir.

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

A LENDA DO PRÍNCIPE QUE QUERIA SER SAPO


( imagem aintmebabe.tumblr.com )

Havia num reino não muito distante um príncipe. Até aí tudo normal, todo reino tem um príncipe. Acontece que um dia o príncipe desapareceu, e uma grande tristeza se abateu sobre o reino, entre os habitantes, entre os bichos, e claro, entre o rei e a rainha, os pais dele, esses ficaram desolados. Todos se mobilizaram na procura que levou anos e anos, até que desistiram, afinal, a vida precisa seguir, mas o reino com certeza nunca mais foi o mesmo, pois o príncipe, além de ser muito bonito, era também muito querido, por ser um rapaz polido, gentil, nunca maltratava as pessoas por ser príncipe. Tratava bem os soldados, os plebeus, as donzelas e as não donzelas, gostava de cavalgar pelos floridos campos do lugar, colhia frutas do pé, bebia do riacho, enfim, levava uma vida normal, não se importando tanto com o título de nobreza. Perguntas ficaram no ar, mesmo tendo todos desistido da busca. “Será que ele morreu?”. Não, os cães de busca teriam encontrado seu corpo, e todas as pessoas se envolveram na procura, alguém teria encontrado, o reino não era tão grande assim. “Teria abandonado o reino?”. Claro que não. Por que um jovem abdicaria de um título tão nobre, das heranças do reino e da própria possibilidade de ser rei um dia? Além do mais era um rapaz feliz, de bem com a vida, e não teria mínimo de motivo para deixar seus pais. Certa tarde, a mãe amargurada debruçada na janela, ficou esperançosa ao ver chegar uma linda fadinha voando cheia de graça que foi logo se apresentando para procurar seu filho. “Tenho poderes, posso encontrá-lo”. A fadinha sobrevoou todos os lugares do reino, mas nada de encontrar, até que se lembrou de que faltava procurar no brejo, e mais adiante desse brejo havia uma gruta escura. Pensou: “Acho que o príncipe virou um sapo, não tem outra explicação”. Alguma bruxa terrível deve lhe ter jogado uma terrível maldição Ela foi lá e viu dezenas, centenas de sapos, e começou a chamar. “ Adrian... Adrian... estás aí? Sou uma fada, vim salvar-te ”. Mas tudo que ouvia era o coachar chato da ‘sapaiada’ ( existe isso? ). De repente na entrada da gruta, o sapo mais feio de todos, respondeu: “Estou aqui. O que quer de mim?”. A fada se aproximou e foi logo dizendo que chegou para tirá-lo daquele forma estranha, mas também não deixou de perguntar o que teria acontecido para que ele tivesse virado um sapo: “ O que houve para que ficasses assim, Príncipe Adrian? Alguma bruxa o deixaste assim? Alguma praga, uma maldição, tomaste algum veneno? Quem foi tão cruel transformando em sapo o príncipe mais belo de toda a região? Era o mais galante, o mais charmoso, o mais gentil, e agora vives como o sapo mais feio dos sapos?”. Ela percebeu que o sapo chorou. E ficou mudo. Nada de resposta. Compadecida, ela disse: “ Sei que estás triste, Príncipe, mas posso salvar-te com meus dons contidos nessa varinha mágica. É um toque em tua cabeça e serás de novo o Príncipe altivo, amado por todos”. Finalmente uma resposta dele: “Vá embora, por favor”. A fadinha chegou a estranhar, mas pensou que sua repulsa poderia fazer parte do feitiço a que estava submetido. Tocou com a varinha em sua cabeça, e nada de virar príncipe. Surpresa, tocou mais uma vez... e nada “. Mais uma vez. Várias. O sapo estava ali intacto, nada de príncipe. Confusa, perguntou: “Ora, será que o feitiço é assim tão forte que minha poderosa varinha, não funciona?”. O sapo interrompeu: “Não é culpa de sua varinha, fadinha. A culpa é minha. Uma bruxa colocou sim em mim, um feitiço, mas porque eu pedi”. Agora mais confusa ainda, a fadinha quis saber: “Como é isso? Você pediu à bruxa uma feitiço?”. E ele: “ Sim. Há muitos anos amei perdidamente uma moça de um reino vizinho, íamos nos casar e unir os dois reinos, mas um dia, inexplicavemente, ela se foi para terras distantes, nem ao menos se despediu. Montei em meu cavalo, fui atrás, andei vários dias, e quase fui morto pelos soldados que a protegiam, ela nem ao menos me recebeu. Desde então procurei uma poderosa bruxa e pedi que me transformasse em sapo... eu não quero mais ser príncipe. Sou sapo por opção. Por mais que toque em mim com sua varinha, nada vai acontecer, porque a maldição só se quebra com meu consentimento. Realmente estou enfeitiçado... enfeitiçado pelo amor... pior que isso, enfeitiçado pelo amor não correspondido. Olho para dentro de mim e ainda me sinto um príncipe... mas um príncipe que decidiu ser sapo. Os sapos sofrem menos”. A fadinha chorou. Sentada na pedra, disse em soluços: “ Eu também carrego um castigo. Fui condenada a ser fada para sempre, a ajudar as pessoas, a salvar amores, mas sou proibida para o amor. Serei fada para sempre, farei brotar o amor por todos ao lugares, para todos, menos para mim. Nâo nasci para o amor. Enquanto você deixa de ser homem para ser sapo, eu gostaria de voltar a ser mulher”. Passou a mão na cabeça dele, e despediu-se: “Entendo sua decisão, Príncipe. Direi a todos que não o encontrei. Adeus”. E alçou voo. Curiosamente, o brejo todo ficou em silêncio, todos os sapos ficaram calados, em reverência, pois perceberam que ali entre eles, havia um príncipe. Triste... mas era um príncipe.

sábado, 3 de novembro de 2012

AS MURALHAS

( imagem clickhandler.ashx )
AS MURALHAS
Já caíram os dentes de Jó
Já caíram as muralhas de Jericó
desmoronou a Torre de Babel,
elevador errado para chegar ao céu.
Foi abaixo o Muro de Berlim.
Estragamos o início, mas temos meios de melhorar o fim.
Tantas barreiras já caíram, já ruíram,
mas ainda há tantos muros a cair:
Da ignorância, da arrogância
Do egoísmo, do racismo
Da violência física e mental, da palavra banal
Da diferença social
Da paz mal resolvida
Da hipocrisia
E qualquer outra barreira que não deixe florir a vida
que não deixe passar a poesia.
Mas isso é tão fácil, pois esses muros estão dentro de cada um
É tão simples fazer desse mundo um lugar comum... uma casa só
Derrubemos dentro de nós a Torre de Babel
que nos impede de tocar o céu
para que tenha valido toda a paciência de Jó.
Que caiam meus dentes, mas eu sou persistente, e estou crente
de que tudo vai cair
tudo vai passar
tudo vai florir
a vida vai jorrar.