
O menino avistou uma fadinha caída na beira do lago e correu em seu socorro. Ela contou que havia sido ferida por um bruxo terrível, e que só uma florzinha mágica do topo da montanha poderia salvá-la. O menino não poupou esforços, foi em busca da tal flor, a fadinha comeu as pétalas e logo ficou boa. “Salvastes minha vida e posso recompensá-lo com um desejo. Faz teu pedido!”. O menino respondeu. “Tenho vontade de voar”. Ela assegurou. “Será feito. Amanhã quando acordares, terás asas. Serás o único menino com asas, basta pedir e elas brotarão de teu corpo sempre que quiseres. Terás também o dom de alternar, sendo, ora menino beija-flor, ora homem. Voarás tão alto quanto um condor. Tua idade não passará, serás sempre jovem. Mas não esqueças. Jamais poderás revelar tua idade, pois o encanto se quebrará e estarás condenado a arrastar tuas asas por toda a vida, mas sem o dom de voar”. No dia seguinte, ao acordar ele sentiu algo incomodando... eram asas. Não foi um sonho. Subiu na janela e decolou sem medo. Voou alto, soberano, efetuou evoluções no ar, voou de cabeça pra baixo, de ré, mergulhou no espaço, fez o que quis. Alguns passarinhos que passavam, disseram. “Vejam, é um menino passarinho”. Ele cumprimentou acenando com as asas, e seguiu viagem. Ultrapassou até o arco-íris, mas nem quis saber de pote de ouro, o tesouro estava em voar. Voou tão alto que pensou ter visto um anjo. Gostava tanto que passava a maior parte do tempo como menino beija-flor. Todos perguntavam sua idade por vê-lo sempre jovial e feliz, enquanto a idade de todos passava. Ele disfarçava, nunca dizia. Porém um dia, o amor. O amor tem muitas armadilhas. Apaixonou-se por uma passarinha, e inebriado de amor, revelou a ela sua idade. Quando acordou no dia seguinte, tentou voar e caiu ao chão. Lembrou-se do que a fada disse, correu até ela em busca de solução, mas não teve jeito. “Eu não tenho o poder de mudar a magia. Eu mesma sou escrava de um encanto. Pensas que eu gostaria de ser fada o tempo todo? Queria ser uma mulher comum, ou pelo menos poder alternar como tu fazias, mas eu também não obedeci as regras, e agora sou fada para sempre. Uma fada solitária”. E assim, o menino beija-flor ficou condenado a arrastar suas asas pelas ruas. Triste demais... ter asas e não poder voar. A passarinha? Ao ver que o menino beija-flor não podia mais voar, deixou-o para trás, foi voar em outro espaço.
A ele, restou sentar-se na beira do abismo todos os dias, e contemplar o horizonte com saudades no olhar. Saudades de um céu que ele um dia ousou desbravar.