ESCREVER É DIVINO!

ESCREVER É DIVINO!
BONS TEMPOS EM QUE A GENTE PODIA VOAR. ERA MUITO BOM SER PASSARINHO.

CAMINHOS DE UM POETA

CAMINHOS DE UM POETA
Como é bom, rejuvenescedor e incentivador para o poeta, poder olhar para trás e ver toda a sua caminhada literária, lembrar das dificuldades, dos incentivos e da falta deles, da solidão de ser poeta e do diferencial que é ser poeta. Olhar para trás e ver tudo que semeou, ver uma estrada florida de poesias, e dizer: VALEU A PENA! O poeta vai vivendo, ponteando, oscilando, e nem se dá conta da bela estrada que escreveu. Talvez ele não tenha tempo porque o horizonte o chama, e o seu norte é... escrever... escrever... escrever. Olho hoje para trás... não foi fácil, mas também ninguém disse que seria. E eu sabia que não seria, ser poeta não é fácil, embora seja lindo. Contemplo a estrada que eu fiz, e digo com orgulho quase narcisista: Puxa... como é linda minha estrada!

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

GATOS ESCALDADOS

Como chovia! Parecia que ia arrasar o mundo. Só que ele não ligava muito. Andava na chuva despreocupado. Um pouco com pressa sim, mais pelo horário. Não queria chegar atrasado ao show de rock. Avenidas alagadas. Rajadas de vento e trovões. Nada o intimidava. De repente uma garota atravessou a avenida com sapatos na mão, correndo, linadamente molhada e falando alto. “Ei, ei. Você sabe onde tem táxi por aqui?”. Ele também teve que gritar, o barulho da chuva era demais. “Aqui perto tem não garota. Mas ali tem ponto de ônibus”. Ela completou. “Mas pra onde vou não adianta muito o ônibus, vou pro show, chega lá tenho que andar mais”. E ele. “Eu também estou indo e vou a pé e do jeito que nós estamos não adianta muito mais chamar táxi. Vamos andando. A gente vai conversando”. Ela concordou. “Quer saber? Você está certo. Eu só não queria ir sozinha nessa chuvarada”. “Legal”, disse ele. “Só vou parar no bar ali e comprar alguma bebida quente. “Oba! Aí gostei porque está um frio danado”. Comprou e foram andando. À medida que a chuva ia passando podiam conversar melhor. Andaram ainda uma meia hora e nesse tempo, perguntas normais e formais como:”Onde mora?”“.Qual seu nome ““.Trabalha em quê?”. Sempre no bico da garrafa e passando à mão do outro.
O show nem tanto foi bom. O cantor parecia muito bêbado e drogado e não saiu muita coisa, mas para quem é fã, tudo vale. Na saída, já com a chuva bem fininha ele disse a ela apontando para um táxi parado. “Aqui tem táxi”. Ela recusou: “Ah, não. Foi muito divertido vir a pé. A gente pode conversar mais”. O taxista ouviu e disse: “Leve meu cartão, pode precisar um dia”. O rapaz quase sem ver guardou no bolso o cartão. E seguiram. Agora mais lentos. O show acabou. Chuva quase nada. Noite gostosa. Entre tantas perguntas formais, outras nem tanto, ele disse numa forma despistada de saber se ela era livre: “Você é muito bonita para estar indo ao show sozinha. Cadê o namorado?”. “Não tenho mais. Terminamos há uns cinco meses”. Ele investiu. “E quem é o maluco de deixar uma menina bonita?”. “Fui eu que não quis. O cara nem me beijava. Mulher gosta de ser tocada”. E emendou devolvendo a pergunta. “Você também é bonito para estar sozinho. Não tem namorada?”. “Não”. “Que “não” mais seco!”, exclamou a moça. “Ele respondeu ainda seco”.Cachorro mordido de cobra tem medo até de lingüiça. E gato escaldado tem medo de água fria”. Por enquanto não quero. Estou mais para aventuras, mas não ando procurando também. Só se for mesmo alguém muito diferente para eu entrar nessa de novo e não estou com pressa. Amor é bom, mas mete medo”. Segundos de silêncio. A moça foi mais atrevida... ou curiosa. “Vocês transavam?”. Ele disse. “Não. Apenas ficávamos na intimidade quase total, muita carícia mesmo, mas nada de penetrações e talvez tenha sido meu erro. Dei flores demais, levei bombons demais. Telefonei demais. Como você disse, mulher gosta de ser tocada e pode ter faltado algo a mais na hora da intimidade”. Ela perguntou. “Ela era virgem?”. “Sim e eu respeitava isso. Mas eu achava gostoso assim mesmo porque era com amor. Tinha maior cuidado com ela” .“Que diferença e que ironia. Você perdeu porque deu carinho demais e eu reclamando porque não tive. Eu daria tudo para ter um homem assim. Mais emoção e carinho. Mais conversa. Quando falei “ tocada”, era mais nesse sentido. Meu namorado só queria saber de ir direto ao ponto final e eu ficava sempre com uma impressão de carência, de ter sido usada. Não se culpe de nada. Você fez o certo. E digo mais. Ela, já que era virgem, não acho que tenha ficado com sensação de faltar um algo mais. Ela deve ter encontrado um homem muito legal que era você e se assustou, e viu que não saberia cuidar. Pode crer, é por ai”. “Obrigado por suas palavras, amiga estranha. Agora não muito mais estranha”. “Estou no 3º ano de psicologia e tenho tino para perceber quando as pessoas são sinceras, além de instinto de mulher. Você não me parece uma pessoa ruim. Mas também não podemos tirar o direito dela de escolha, não é mesmo?”. “Claro, claro. Por isso eu disse que não quero mais tão cedo porque eu não sei amar diferente, só sei ser assim. E amor pela metade não dá. Às vezes penso que nunca mais vou querer mais ninguém”. “Ah, não”, ela discordou. “Aí não concordo e também não acho que você vai matar dentro de você uma capacidade tão grande de amar. Seria como morrer aos poucos. A gente pode perder as pessoas, não a capacidade de amar”. O rapaz ficou impressionado com a inteligência, sensibilidade e boa cabeça da moça e retribuiu o apoio moral. “Então lhe digo o mesmo. Você é uma garota moderna, mas romântica, sabe das coisas e quer ser feliz. E vai ser, porque você procura, quem procura acha. Com certeza vai encontrar um rapaz ao nível que merece, carinhoso, atencioso”. Ela respondeu. “É, concordo. Por acaso hoje eu encontrei você e gostei muito.Você é muito amigo”.
O assunto foi aos poucos se esgotando dadas tantas perguntas, umas bem íntimas, outras curiosas. Às vezes variavam e voltavam ao início.
Vendo que o local onde se encontraram na ida já tinha passado, ela perguntou. “Você não vai pra casa?”. Ele disse. “Não, vou acompanhar você até a sua. O papo está muito gostoso, inspirador e diria... até sexual”, e riu. “Oh, quanta honra! Obrigadíssima! Viu? Homem bom é isso. Eu também estou adorando esse papo inspirador e até sexual”, e riu também.
Andaram ainda uns cinco quarteirões. Chegaram frente a uma casa grande, quase escondida pelas flores, tudo apagado. Ela disse. “É aqui que me escondo, literalmente. Minha mãe adora flores, ama esse jardim”. Ela em cima do meio-fio, ele no asfalto olhando para ela disse contemplando sua beleza tendo como moldura , as flores do imenso jardim. “Você precisa ir agora? Amanhã é domingo. Fica mais”. Ela pensou, pensou. “Hummm... só porque você veio me trazer fico um pouco com você está bem? Vamos sentar no meio-fio, mas está molhado. Ah, não tem problema, uma noite tão gostosa dessa e vamos molhar o que mais?”.
Sentaram-se e falaram de tudo. Inclusive se acreditavam em amor à primeira vista. Ela disse que sim, mas acredita em engano à primeira vista também. Já ele também disse que sim, pois é no primeiro contato visual que a química acontece. Claro que o conhecimento vem depois. Ele pediu desculpas por perguntar a idade dela, não era muito gentil perguntar isso a uma mulher. Ela disse: “Isso não é uma pergunta indiscreta, é normal, isso é tabu que as pessoas inventam, como, mulher não paga a conta. Mulher é fragilzinha. Mulher não pode cantar homem. Acho isso tudo um saco. Tenho vinte e dois anos. Quer saber mais? Pergunte o que quiser”. Estando mais à vontade ele perguntou no embalo. “E você já cantou ou cantaria um homem?”. A moça pensou e respondeu. “Claro, não com banalização, que isso também não gosto. Mas encontrando um homem bonito, interessante, me insinuo mesmo, senão como ele vai saber que o quero?”.
O rapaz ficou calado por minutos, tentando encontrar um meio de dizer o que estava entalado. Até que ousou, afinal era uma menina moderna, embora sabendo do risco de ofendê-la. “E a mim, você cantaria? Tudo que você disse agora combinou com o que você mesma disse sobre mim ainda no início de nosso papo. Você sem querer me elogiou”. A menina se calou por longos minutos, não longos pelo tempo em si, mas longos pela ansiedade que a pergunta gerou no próprio rapaz que a fez. Sentados lado a lado no meio-fio ela olhou pra ele, cabelos cobrindo um lado do rosto e disse com charme e sedução. “Você está me cantando, seu malandrinho?”. Fitando seus lábios ele respondeu. “Sim”. Se olharam... e se beijaram... suavemente. Depois loucamente. Gulosamente. Repetidamente. De rostos colados, ela disse. “Acho que vamos precisar de um táxi”. Ela mesma tirou do bolso dele o cartão do taxista e riram muito juntos. Correram rápido a um telefone público... e fizeram amor até oito horas da manhã.
Encontraram-se ainda mais algumas vezes e com o tempo foram parando. Talvez porque eram dois gatos escaldados e o amor é bom... mas mete medo.

2 comentários:

TERE disse...

"Gato escaldado de água fria tem medo"

Votos de bom fim de semana.

Carinhoso abraço.

Sonia Schmorantz disse...

O amor costuma escaldar mesmo, por isso é tão bom, tão surpreendente.
Mas passei aqui só para deixar um abraço e votos de um feliz final de semana