ESCREVER É DIVINO!

ESCREVER É DIVINO!
BONS TEMPOS EM QUE A GENTE PODIA VOAR. ERA MUITO BOM SER PASSARINHO.

CAMINHOS DE UM POETA

CAMINHOS DE UM POETA
Como é bom, rejuvenescedor e incentivador para o poeta, poder olhar para trás e ver toda a sua caminhada literária, lembrar das dificuldades, dos incentivos e da falta deles, da solidão de ser poeta e do diferencial que é ser poeta. Olhar para trás e ver tudo que semeou, ver uma estrada florida de poesias, e dizer: VALEU A PENA! O poeta vai vivendo, ponteando, oscilando, e nem se dá conta da bela estrada que escreveu. Talvez ele não tenha tempo porque o horizonte o chama, e o seu norte é... escrever... escrever... escrever. Olho hoje para trás... não foi fácil, mas também ninguém disse que seria. E eu sabia que não seria, ser poeta não é fácil, embora seja lindo. Contemplo a estrada que eu fiz, e digo com orgulho quase narcisista: Puxa... como é linda minha estrada!

domingo, 27 de dezembro de 2015

UM “ROMEU E JULIETA” DIFERENTE





Esse texto é um de meus xodós.
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Dona Zelina era uma alegre professora de educação artística na 6ª série. Ela adorava pintura. Sua frase preferida era: “Vocês cansam minha beleza”. Eu gostava muito daquelas aulas coloridas, todo mundo falando ao mesmo tempo. Eu nunca soube desenhar direito. Meus desenhos eram basicamente, uma casinha com chaminé, um riacho, uma nuvenzinha rindo, um sol surgindo por trás dos montes e uma vaquinha pastando. A professora falava: “Você está sendo repetitivo. Tente criar outro tipo de desenho”. Um dia,de brincadeira, fiz o mesmo desenho, porém com duas vaquinhas. Ela disse: “Não estou vendo nada de diferente”. Retruquei: “Tem sim, agora existem duas vaquinhas, a fazenda está crescendo”. Ela riu: “Pelo menos no humor você foi criativo. Vou te dar um sete por isso”. 
 Na semana das crianças, foi organizada uma gincana cultural entre as salas, e teria apresentação de palhaços, teatrinhos, dança, coisas regionais, folclore etc. Nem éramos tão crianças, tínhamos entre treze e dezesseis anos. Eu, quatorze. Tinha um rapaz, que deve ter virado artista, pois na época era muito bom no que fazia. Ele faria teatro de bonecos, fantoches, marionetes, desses que se fica escondido manipulando e fazendo vozes. Nossa sala seria a última na sexta-feira e depois o encerramento. O rapaz escolheu ROMEU E JULIETA, mas teve um pequeno acidente e não poderia representar. Dona Zelina, endoidou: “E agora, gente? O que faço? Vai ser feio cancelar. Colocar o que no lugar?”. E assim, cada um ia dando sugestão, umas engraçadas, outras malucas, outras boas, mas nenhuma se aproximava da intenção da festa. Dona Zelina preocupada: “Nada disso serve. Tem que ser o teatrinho ou algo parecido, pois foi anunciado assim. Vocês não conhecem alguém que saiba fazer? Eu pago. Está tudo prontinho, o cenário, vai ser uma pena não ter”. E começou a andar pela sala, mãos nos quadris. Ela amava o que fazia. Senti certa tristeza em seu olhar e talvez isso me tenha feito dizer uma loucura, numa atitude impensada: “Eu sei quem faz”. Levantou a cabeça. “Quem? Apresenta para mim”.  “Eu”. Entre feliz e surpresa, perguntou: “Sabe mesmo, Carlos? Espero que não esteja zombando de mim”. Sei sim, fessora, é só decorar o texto, mudar as vozes. Só preciso treinar a manipulação. Sou bom de memória”. Ritinha, uma menina magrinha, disse: “Ele deve saber sim, fessora. Ele é poeta, né?”. Dona Zelina veio se aproximando devagar, olhando-me, apontando o dedo. “É verdade, tem a ver, arte é arte. Tem certeza mesmo, Carlos, que pode salvar a pele da professora mais querida e linda da escola?”. “Deixe comigo, fessora”, piscando para ela. A senhora é linda mesmo. De boniteza nessa escola, a senhora só perde pra mim”. Riso geral, com direito a algumas vaias. Sentada ao meu lado, falou: “Menino, você merece um beijo”. E estalou um beijão na minha bochecha. Adoro ganhar beijo na bochecha. Passei dois dias decorando, manipulando na frente do espelho, treinando vozes. Não vou negar que fiquei preocupado. Era coisa nova para mim, nunca tinha feito e era muita responsabilidade. A escola inteira estaria lá. Felizmente deu tudo certo. Meu teatrinho ficou legal. Só que mudei o final. O romance termina com drama. Pensei: “Dia das crianças terminar em drama? As pessoas vão estar ali para sorrir e não para chorar”. No meu texto, fiz o amor dos dois reconciliando as famílias. Antes perguntei à professora se podia alterar daquela forma. “Você pode tudo, menino. Com uma pequena observação. É um tipo de plágio, hein?”. Balancei o dedo. “Não, é um alternativa. É um direito de sonhar que as coisas vão terminar sempre bem. Quem sou eu para plagiar Shakespeare, um gênio, mas não gosto de Romeu e Julieta, porque morrem no final. Prefiro um “viveram felizes para sempre”. Custava as famílias fazerem as pazes e deixarem o casal namorar? Então o ódio venceu?”. Ela ponderou: “Mas foi esse toque de tragédia que fez a obra ficar tão famosa”. “Eu sei, tragédias vendem mais. A maior obra literária de todos os tempos é uma tragédia”. Ela riu, mas aconselhou: “Cuidado com esse mundo que você visualiza dentro de você. O desengano pode ser grande”. “Fique tranquila, eu manipulo esse mundo melhor do que fiz com as marionetes” Ela finalizou: “Não vou discutir com meu geniozinho poeta, o que importa é que ficou muito bom”.No ano seguinte, eu iria para o turno da noite. No fim do ano, quase saindo no portão, me chamaram. Olhei e era ela: “Vai embora assim, sem me dar um abraço?”. “Desculpe fessora, é que não gosto de despedidas”. Segurando meu rosto, fixando nos meus olhos, falou: “Desculpo não. Não tive a felicidade de ter um filho rapaz. Tenho três moças que amo. Mas se tivesse um filho rapaz e eu pudesse escolher, ele seria você. Pode ter certeza que você é sim, o mais lindo da escola”. Abaixei a cabeça, pois fico tímido nessas situações. Com muito custo consegui falar: “Mas a senhora também é pessoa boa”. “Sou nada, sou uma velha chata. Ser bom não é para qualquer um. Ser bom é muito difícil. Seja sempre esse rapaz reto, conciliador, culto, interessado pelas pessoas que você vai ser muito feliz. Levantou meu queixo pedindo: “Dá um sorriso pra mim”. Tentei... mas não consegui. Abraçamo-nos demoradamente. Sua última frase antes de eu sair, foi: “Você não precisa aprender a desenhar, você já é uma pintura, Deus te abençoe sempre.”
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( imagem google ) 

3 comentários:

GLUOSNIS disse...

Felize Natal !!!!!!!!!

GLUOSNIS - LlITHUANIA

Lucia disse...

Você não precisa mais fingir que nÃO É POETA, poetisa, como quiser. Pra mim você sempre foi.

(CARLOS - MENINO BEIJA - FLOR) disse...

Brisonmattos... POETA... Hetero com orgulho. bjs