ESCREVER É DIVINO!

ESCREVER É DIVINO!
BONS TEMPOS EM QUE A GENTE PODIA VOAR. ERA MUITO BOM SER PASSARINHO.

CAMINHOS DE UM POETA

CAMINHOS DE UM POETA
Como é bom, rejuvenescedor e incentivador para o poeta, poder olhar para trás e ver toda a sua caminhada literária, lembrar das dificuldades, dos incentivos e da falta deles, da solidão de ser poeta e do diferencial que é ser poeta. Olhar para trás e ver tudo que semeou, ver uma estrada florida de poesias, e dizer: VALEU A PENA! O poeta vai vivendo, ponteando, oscilando, e nem se dá conta da bela estrada que escreveu. Talvez ele não tenha tempo porque o horizonte o chama, e o seu norte é... escrever... escrever... escrever. Olho hoje para trás... não foi fácil, mas também ninguém disse que seria. E eu sabia que não seria, ser poeta não é fácil, embora seja lindo. Contemplo a estrada que eu fiz, e digo com orgulho quase narcisista: Puxa... como é linda minha estrada!

quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

O AMOR TRANSCENDE TEMPO, LUGAR E RAZÃO...


Como toda menina ela também gostava de bonecas. Como toda menina, ela gostava de sandalinhas novas, de pentear os cabelos, de brincar de roda, de passear, de comer chocolate, enfim, era uma menina quase normal. Porém havia uma diferença; sonhava muito mais do que na frente do espelho, ela gostava de ir para dentro do espelho, para além dele, e então criou um mundo mágico só para si que resolveu chamar de Terra do Sempre, pois acreditava que em algum lugar todos os sonhos bons eram possíveis, um lugar de gente generosa e feliz. E ela tinha uma parceira, só que não era uma parceira de sua idade, era a própria mãe quem entendia suas inquietações. Ah, quantos questionamentos! A mãe paciente ouvia: “Mãe, por que Pinocchio faz o velho Gepetto sofrer tanto?”... “Por que Peter Pan é tão sonhador e só vive na Terra do Nunca?”... “Que injustiça é essa, a Princesa adormecer cem anos para encontrar o grande amor?”. “Por que as famílias de Romeu e Julieta não fizeram as pazes deixando que eles vivessem juntos? Foi necessário o ódio vencer para uma obra ficar tão famosa?”... “Por que motivo alguém podia o tempo todo querer cortar o pé de laranja lima do Zezé? E por que o Portuga morreu?”... “Eu queria um dia, mamãe, poder mudar todos os finais dessas histórias”. A mãe respondeu olhando-a nos olhos. “Um dia vai chegar alguém, tão inquieto quanto você e que vai mudar tudo isso para você. Nesse mundo tão grande tenho certeza de que em algum lugar existe alguém que pensa como você. Com o passar do tempo a mãe se foi, como é natural, mas a menina não deixou de sonhar, embora já em corpo adulto. Certa vez, nas esquinas da vida deu um encontrão com um rapaz, jogando no chão um monte de escritos que ele carregava, e depois de ajudá-lo a apanhar tudo, pediu desculpas, e daí houve uma empatia tão grande que após se falarem alguns minutos, ela disse: “Não sei por que, mas sinto que já lhe conheço... de algum lugar... de algum tempo... de uma outra esfera”. Ele: “Engraçado, tive a mesma impressão. Parece que lhe conheço há séculos, senti um elo, uma energia desde nossa trombada rs rs”. Ela sorriu tímida. “Bem, eu sou uma sonhadora, e acredito nessas coisas, nada a ver com religião, entende? Mas creio em dimensões, eras passadas, esferas diferentes, mundos distintos, mágicos, alternativos. Como é seu nome? O meu é Jana”. Ele respondeu: “Ora, ora. Será que conheci hoje alguém que pensa como eu? Eu não só acredito em tudo que você falou, como eu vivo em tudo que você falou, não gosto muito do mundo real. Meu nome é Liam”. E ela: “Você tem nome de príncipe. Não é uma grande coincidência?”. Ele sorriu. “E você tem nome de fada”. Com jeito, ela disse. “Nunca reparei, mas que bom que viu assim”. Ele lamentou. “Preciso ir agora... podemos nos ver amanhã? Aqui mesmo, mesma hora? Quero saber mais desse seu mundo mágico que falou há pouco, acho que temos ideias a trocar”. Ela gostou e apontou para a praça. “Mesma hora naquele banco”. E saiu pulando mais do que Alice no País das Maravilhas. No dia seguinte, ninguém chegou primeiro ou atrasado, chegaram juntos. Um “olá”, um beijinho no rosto, sentaram-se e começaram a se apresentar melhor para o outro. Estavam ali sentados num banco real, numa praça real de uma cidade real, mas suas mentes e palavras estavam num outro mundo, cada vez mais maravilhados com as descobertas recíprocas. Só falaram de contos de fadas, de fantasias, de esperança, de sintonia, ela citou todas as inquietações de quando era criança, do seu desejo de mudar as histórias tristes, e foi então que veio a surpresa maior, quando ele interrompeu. “Lembra daqueles papéis que você derrubou ontem? Eram escritos meus, eu escrevo coisas”. Ela. “Você é escritor?”. Ele respondeu quase triste: “Escritor? Não sei. Acho que sou um fabricador de sonhos. Um alquimista das palavras que fica tentando mudar o que não tem jeito... isso dói um pouco, mas eu não sei viver diferente. Há quantos anos escrevo tudo isso e nunca encontrei alguém que pensasse como eu. Pelo menos agora chegou você, o que me dá um alento, pois vejo que nada foi inútil, hoje sei que após todos esses anos encontrei uma empatia com o que penso e sonho”. Ela se emocionou. “Meu Deus, como é lindo isso que você disse! Deixa eu levar seus escritos para casa? Gostaria de ler”. Emocionado também, ele disse. “Claro que pode! Agora preciso ir. Amanhã aqui mesmo na mesma hora?”. “Sim!”, disse ela convicta. Já de bem de noite depois de terminar todos os afazeres de casa, finalmente, foi ler os escritos do rapaz. Nos textos, Pinocchio parou de aprontar, virou bom menino e cuidou da velhice de Gepeetto. As famílias de Romeu e Julieta fizeram as pazes e eles foram felizes para sempre. Ninguém conseguiu cortar o pé de laranja lima do Zezé e o Portuga não morreu. O mundo de Peter Pan finalmente virou Terra do Sempre. Não aguentou muito tempo sem chorar, pois lembrou-se do que dissera sua mãe no passado longínquo. Foi até a janela, mirou uma estrela afastada das demais, e disse. “Mãe, a senhora como sempre acerta tudo. A pessoa que a senhora disse apareceu para mudar as coisas, para me dar as respostas. A senhora disse com a sua certeza que alguém em algum lugar pensava como eu. A senhora sabia, não é?”. A estrela de repente emitiu um brilho maior como se estivesse piscando para ela, dizendo “SIM, EU SABIA!”. Naquela noite ela não dormiu, fez questão de não dormir, estava encantada demais... apaixonada? Hum, talvez, só o tempo iria dizer. No outro dia na praça, um abraço diferente, mais apertado, mais demorado. De mãos dadas, sentaram-se e ela já foi dizendo. “Obrigada por me mostrar tudo isso, por me proporcionar o mundo que eu sabia que existia, que havia dentro de mim e eu não tinha com quem compartilhar. Hoje eu sei, a gente já se conhecia sim. Eu no meu lugar, você no seu, mas as almas se comunicam sem os corpos saberem, nós sempre estivemos juntos. A gente já se amava e não sabia. Tínhamos e temos um amor pelo outro... um amor diferente... que transcende qualquer razão. Ora, e o que é a razão? Onde está a razão? A razão está naquilo que nos faz felizes. E você me faz feliz, eu faço você feliz”. De voz embargada, ele só conseguiu dizer. “Você além de tudo adivinha minhas palavras. Obrigado também por completar a outra metade do meu mundo”. E beijaram-se longamente, deram-se fisicamente um beijo que já se davam há muitos anos, muito tempo antes de seus olhos se cruzarem, pois suas almas já cuidavam disso. E foram felizes para sempre... na TERRA DO SEMPRE!
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imagem amordalves1258.wordpress.com)

Um comentário:

Cidália Ferreira disse...

Lindo texto, como sempre

FELIZ NATAL...REPLETO DE ALEGRIA
Beijos
http://coisasdeumavida172.blogspot.pt/