ESCREVER É DIVINO!
CAMINHOS DE UM POETA
segunda-feira, 1 de junho de 2009
HIPOCRISIA
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Desculpem a repetição. Mais uma do meu amigo Zé Soares, de quem já falei outra vez aqui. Ele sempre foi muito despojado, espontâneo, liso leve e solto, como dizem por aí. Além de muito inteligente. Nunca se importou com o que as pessoas falam ou pensam dele. Mas me corrigia. “Não dou a mínima, Carlos, é para pessoas do mal. Claro que me importo com o que as pessoas falam de mim ou como me veem. Se uma pessoa do bem me der um conselho, uma sugestão, eu acato e dou muito valor. Eu não gosto é de hipócritas, gente cínica”. Eu também não.
Estávamos, eu e ele na frente de sua casa ouvindo umas músicas internacionais e umas mpb também. Sempre fomos bem ecléticos. desde que dentro desse ecletismo tenha qualidade. Coisa ruim tem em todos os estilos.
Estava uma tarde bonita, sabadão, sol fraco. Numa dessas músicas brasileiras, o refrão repetia: “ bom dia sooool, bom dia sooool... bom diaaaaa soooool”. Zé Soares, de repente abriu os braços e começou a cantar olhando para o sol, acompanhando o disco. As pessoas que passavam e os vizinhos, começaram a rir dele. Ele parou por instantes e me disse. “Veja, Carlos que gente mais idiota. Aposto que estão dizendo que devo estar bêbado e blá blá blá. Sendo que só tomamos uma cerveja. As pessoas não podem ver a gente feliz. O que tem demais eu cantar? Vou voltar essa música quinhentas vezes e vou cantar até eles saírem das janelas”. Não foram quinhentas repetições, mas uma dez foram. E ele cantava alto, tem voz forte e afinada. É um exímio tocador de violão.
Quando tudo terminou lembrei a ele uma estorinha em quadrinhos do Pateta, que eu sempre comparava com ele, pelo jeitão simplório e despreocupado do personagem. Muito embora, sua esposa o comparasse a outro, Mr Magoo, personagem míope que anda derrubando tudo.
Um dia, Pateta, desligado que é, saiu às ruas com uma meia azul e outra vermelha. Por onde passava ou ia, as pessoas riam dele disfarçadamente, ou tentavam disfarçar. Sentindo-se incomodado ele subiu no banco da praça e fez um discurso mais ou menos assim:
“Hoje por um mero descuido ou por estar sonolento, saí de meias trocadas, mas não deixei por isso, de ser eu mesmo. Tentei tomar um café na padaria, mas não pude... porque estou de meias trocadas. Tentei cumprimentar pessoas, fazer novos amigos, mas não pude...porque estou de meias trocadas”. Sempre enfatizando a expressão “meias trocadas”. E continuou, a praça foi ficando lotada “Estão rindo de mim por causa das meias trocadas, mas alguém se preocupou comigo, com minha pessoa? Se estou passando bem, se tenho algum problema? Como foi minha noite? Se preciso de algo? O que um par de meias pode alterar no comportamento ou valor de uma pessoa? Será que as pessoas que riram das minhas meias trocadas cuidam bem de suas vidas? Será que não há algo mais importante nessa sociedade do que umas simples meias trocadas?”. Falou mais algumas coisas que não me lembro e encerrou. “Vocês além de tudo estão mal informados. Não sabem que lá no país ............( citou um pais fictício), essa é a última moda? Pois sim. Lá eles usam uma meia de cada cor”. E retirou-se deixando uma platéia entre curiosa, boquiaberta e envergonhada.
No dia seguinte, Pateta levantou-se, agora atento, calçou as meias certas, nada de trocadas, e saiu às ruas e para seu espanto... o que viu?
Todas as pessoas estavam de meias trocadas. Depois do susto, no último quadrinho, Pateta abriu os braços, com as mãos espalmadas, como quem diz: “Fazer o quê, né?”.
Quando terminei, Zé Soares disse rindo demais. “É, Cal. Você não existe. Sempre com suas tiradas. Filosofia em quadrinhos. Agora fiquei fã do Pateta. Eles eram hipócritas e continuaram hipócritas. Passaram a usar as meias trocadas, só porque alguém disse que era bonito. Sem personalidade, próprio mesmo dos hipócritas”. Não concordei muito e falei. “Sou otimista e penso que talvez eles deixaram de ser convencionais, deixaram de ser chatos”. Ele rebateu.”Vou discordar do meu amigão, coisa rara entre nós. Ainda fico com minha opinião. Eles são é idiotas mesmo. Mas isso também é um problema deles, né ”.
A hipocrisia é a fuga mais comum daquele que não tem coragem de ser ele mesmo o que o leva a sufocar seus medos e frustrações no preconceito para com o outro.
(Elias Raik Miranda de Carvalho.Autor do pensamento)
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5 comentários:
Oi Carlos!
Seus textos sempre ótimos!
Tb detesto hipocrisia.
Obrigada pela visita carinhosa. Já estou bem melhor, as vezes a gente fica pensando nos "ses" da vida como se adiantasse alguma coisa.
Volte sempre viu e é um prazer ter vc me seguindo por ai...
Bjs.
P.S. Não liga pro time do São Paulo não, um dia o seu consegue ganhar!!!
Do meu (vc já sabe qual é)não se pode falar nada porque este ano eu nem sei se ele já entrou de verdade em campo. Rsrs.
É o medo de ser diferente, socialmente não aceito, politicamente rejeitado, que faz com que as pessoas, como dizia Raul Bopp, sejam sempre galinhas e esquecem a águia que eram ao nascer.
um abraço e ótima semana
Você tem uma facilidade de falar em assuntos diversos com a mesma magia e poesia.Impossível não ficar maravilhada.de vez em quandi venho dou uma lida em algumas páginas e me encanto.Gosto de todas.Como disse seu amigo,acho que você não existe. Que talento!
Luciana.beijão
Obrigado,Fátima, amiga nova e à Sônia,amiga de mais tempo. Obrigado também à Luciana pela gentileza; Não sei se é poesia, magia ou talento, ou um pouco detudo,ma acima de tudo, escrever como coração. Quem bom que lê de vez em quando,deve voltar sempre.Fico muito feliz que conheçam,não só o poeta,mas a pessoa Carlos.Não existe um sem o outro, apesar de o poeta se sobressair um pouco. Muito grato. E a você ,Anita,vou dizer muito mais que "obrigado". Vou dizer que você sim é encantadora e talvez por isso tenha despertado um pouco mais do homem.beijoss
Quero deixar meu abraço, mas bem apertado, porque você é "10".
Somos patetas sem perder a pose!!!
Seja feliz sempre, ao lado de uma flor desabrochando pra você. Beijos!
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