ESCREVER É DIVINO!

ESCREVER É DIVINO!
BONS TEMPOS EM QUE A GENTE PODIA VOAR. ERA MUITO BOM SER PASSARINHO.

CAMINHOS DE UM POETA

CAMINHOS DE UM POETA
Como é bom, rejuvenescedor e incentivador para o poeta, poder olhar para trás e ver toda a sua caminhada literária, lembrar das dificuldades, dos incentivos e da falta deles, da solidão de ser poeta e do diferencial que é ser poeta. Olhar para trás e ver tudo que semeou, ver uma estrada florida de poesias, e dizer: VALEU A PENA! O poeta vai vivendo, ponteando, oscilando, e nem se dá conta da bela estrada que escreveu. Talvez ele não tenha tempo porque o horizonte o chama, e o seu norte é... escrever... escrever... escrever. Olho hoje para trás... não foi fácil, mas também ninguém disse que seria. E eu sabia que não seria, ser poeta não é fácil, embora seja lindo. Contemplo a estrada que eu fiz, e digo com orgulho quase narcisista: Puxa... como é linda minha estrada!

terça-feira, 15 de abril de 2014

MINHA MÃE E EU


Nada de chorar mais, é isso que senti na rápida imagem que tive do rosto de minha mãe no meu sonho, não é isso que ela quer, senti que ela me dizia isso, como sempre fez a vida toda; falava comigo pelo olhar, principalmente quando eu era criança. Vou contar algumas passagens emotivas e engraçadas. Sempre estive muito perto de minha mãe, já na infância, assim, algumas imagens ficaram gravadas para sempre. Não dá para contar tudo aqui, daria um livro. Ela andando distâncias comigo atrás de médicos, eu tinha uma desinteria crônica terrível que não me dava paz, tinha tanta dor de barriga que dentro de casa, ficava mais nu do que vestido, as roupas não paravam limpas. Isso me atrapalhou até na escola, nem pude fazer o pré-primário. Lembro-me também dela no fogão colocando feijão na minha mão para eu ver se estava bom de sal. Eu colocando linha na agulha para ela. Ou no tanque, lavando roupa, cantando músicas da jovem guarda. Sua preferida era “Sentado à beira do caminho”, de Erasmo Carlos. Eu até fiquei fã do Erasmo por isso. Essa eu achava engraçada: “Você é meu amorzinho, você é meu amorzão, você é o tijolinho que faltava na minha construção” rs rs. Ela gostava muito também do Wanderley Cardoso. Ela me avisando: “Ah ,se eu pegar esse bochechudo” rs rs, mas eram só raivinhas que eu fazia, só para ela correr atrás de mim. Quando conto minhas travessuras, todos imaginam que eu era terrível, era sim, mas sabia dos limites, sempre blindei minha mãe, nunca levava problemas para ela, sabia que ela já tinha muitos, incrível como eu era pequeno e tinha consciência disso. Tinha uma professora que a casa dela dava fundos para a nossa, muro com muro, eu estava conversando demais, ela havia me chamado atenção várias vezes, e nada de eu parar de falar, até que de repente ela gritou: “Carlos, vou chamar sua mãe no muro, hein?”. Pronto, rapidinho calei a boca. Assim foi na juventude, tive chances de usar drogas, graças a Deus, não usei por causa de minha mãe, tinha sempre o rosto dela na minha mente. Como sempre, eu a blindava. O tempo passou, mesmo não sendo o mais velho, me transformei no arrimo da família mesmo ainda menor de idade, meu irmão mais velho muito doente, o outro abaixo dele quase sempre desempregado, minhas irmãs se arrumando na vida, mas também com dificuldades, abaixo de mim mais quatro crianças. Acabei me tornando a segurança e confiança de minha mãe. Eu sonhava ser um piloto ou controlador de voos da aeronáutica, era fascinado, mas para isso precisava morar no RJ. Lembro do que um amigo me disse: “Tá louco? Você não pode deixar sua mãe, ela precisa de você. Não é uma questão de dinheiro, é a sua presença”. Depois, Deus justo que é, ajeitou as coisas no meu caminho, passei a batuta para minha irmã mais nova que acabou se formando muito bem, tornando-se empresária bem sucedida e cuidou muito bem de minha mãe nos últimos anos. Tenho outras lembranças, de quando eu brincava: “Mãe, como a senhora conseguiu fazer um filho tão bonito como eu?”. Ou... “Mãe, a senhora e meu pai deviam estar muito apaixonados quando me fizeram... porque eu saí lindo demais”. Eu dizia isso para ela e minhas irmãs rirem... e dizerem: “Esse aí é um narcisista mesmo, não tem jeito”. Até bem pouco tempo, quando ela aguentava, eu me sentava no colo dela. Ah... e os casos? Ela gostava muito de contar casos da roça, e eu pedia: “Conta aquele caso, mãe...”, e ela contava com prazer. Esse é bem engraçado. Logo depois que meu pai morreu, um velho começou a se engraçar com ela, ela deu nele um “passa fora”, e falou lá em casa: “Deixa ele vir aqui na minha porta. Vou sentar uma vassourada na cabeça dele”. E exclamou: “Eu tenho uma raiva de véi safado”. Eu pensei: “Se aquele véio vier encher minha mãe, ele vai ver comigo”. Eu... com nove anos defendendo a mamãe rs rs. Minha mãe só me bateu uma vez, e mesmo assim, o chinelo acertava mais a parede do que minhas pernas. Quando tinha festinha de aniversário nos vizinhos, ela dizia: “Não vá bancar o enxerido. Espera te servirem”. Eu obedecia direitinho. Meu cabelo era comprido até nos ombros, tinha algumas ondinhas nas pontas, ainda molhado,.ela penteava bem no meio certinho para eu ir pra escola, mas quando virava a esquina, eu atrapalhava tudo com a mão, eu gostava do meu cabelo mais rebelde. Era minha única desobediência. Na juventude, eu saía todos os dias para as farras, para mim sábado e segunda-feira eram iguais, eu avisava: “Mãe, não precisa tirar comida pra mim pois vou chegar muito tarde, talvez nem venha hoje”. Pois, não adiantava, eu chegava lá pelas madrugadas, o prato de comida estava enroladinho num pano, dentro do forno do fogão, às vezes estava ainda meio quentinho, desconfio que ela levantava e esquentava. Minhas irmãs tinha um pouco de ciúme disso, mas ela dizia: “O que é que tem eu colocar comida pra ele? Vocês não se metam”. Quando eu tinha uns catorze anos, eu disse: “Mãe, eu prefiro que a senhora me veja morto do que eu ver a senhora morta”. Ele deu um bravo: “Pare de falar besteira, menino”. Poucas vezes vi minha mãe tão brava. Pois chegou a vez de eu vê-la assim. Na ordem natural, os filhos enterram os pais. Ficam duas certezas... a saudade... e que ela amou e foi amada pelos treze filhos. Aliás, três certezas: ela está muito bem... eu sinto isso... e é por isso que me sinto fortalecido, muito melhor do que pensei que estaria. Saber que ela está bem é meu maior conforto. Fica com Deus, Mãe!

17 comentários:

Cidália Ferreira disse...

Bom dia Carlos Menino.

Pocha!! Lindo e emocionante texto...Que saudades que fiquei da minha.


Beijinho

http://coisasdeumavida172.blogspot.pt/

Ana Bailune disse...

Ainda bem que existem as lembranças do vivido. Sinal de que foi bom, valeu a pena. É o que me consola quando eu fico triste. Tenha um lindo dia... teu texto é comovente.

chica disse...

Emocionante teu amor e carinho que dedicaste em vida e agora, na saudade de tua mãe, que certamente não quer te ver chorrar e sim, prosseguir! abração, fica bem,chica

Lua Singular disse...

Oi Carlos,
Eu nem gosto de falar da minha família. Foi tão triste que prefiro viver e lembrar o dia de hoje. Mais nada, minha mente eu a fechei para o passado.
Se eu fosse contar minha história daria uma novela de muitos capítulos e tenho certeza que faria o maior sucesso. Um sucesso dolorido.
Linda a sua história
Beijos
Lua Singular

PAULO TAMBURRO. disse...

Parabéns Carlos, que tesouro a seu lado.

Deus irá derramar sobre ela as suas dádivas.

Um abração carioca.

Marli Soares Borges disse...

Com certeza tua mãezinha quer ver-te sempre alegre. COm saudades sim, mas alegre. Bjs Marli

Anônimo disse...

Que linda amigo a sua forma de descrever sua vivência com sua mãe. Chorei, ri... me emocionei, você me conhece né...
Em meio a tristeza, o que traz felicidade são estas lindas lembranças que você irá guardar por toda a sua vida.

Beijos meu amigo talentoso !
Amo você de coração !

Estrela disse...

Quanta lembrança maravilhosa!
Ah,Menino Beija Flor! Você não esquecerá nunca o rosto de sua mãezinha,posso assegurar. Experiência própria. Mas onde quer que ela possa estar, estará mesmo em um lugar fantástico. Bjs! Fique com Deus.

MARILENE disse...

Carlos, relatos como o seu mostram aquela convivência abençoada entre mãe e filho. Ela, certamente, se foi orgulhosa da missão que bem cumpriu em vida. A saudade será sua companheira e também sua inspiração, pois tantas lembranças belas ninguém quer esquecer. E as mães tem um lugar especial no plano divino. Bjs.

© Piedade Araújo Sol (Pity) disse...

ela está bem.

e deve estar orgulhosa do filho que tem.

emocionante.

:)

Vera Lúcia disse...


Oi Carlos,

Que linda relação você teve com sua mãe. Restou belos momentos para serem recordados. Não deixe que suas lágrimas perturbem sua mãe, pois ela precisa ficar em paz. O tempo amenizará a sua dor e você poderá recordá-la com a doce alegria de ter tido uma mãe amiga e que o amava muito.

Fique bem!

Feliz e abençoada Páscoa!

Abraço.

Janita disse...

Olá, querido Amigo.

L e reli com gosto e emoção este belo relato do convívio com a senhora tua Mãe. Com que saudade fiquei da minha!...
Todas essas boas recordações, escritas com o carinho que transborda de cada palavra tua, daria um belo livro de memórias.
Porque não? Pensa nisso, Carlitos. Adorei a foto e os vossos sorrisos de encantamento e amor recíproco.
Ela, lá em cima, olha e abençoa você, meu amigo.

Um beijo e o desejo de Páscoa Feliz!

Anônimo disse...

Lembranças deliciosas, Carlos.Gostei muito de ler e conhecer uma pessoa tão maravilhosa.

Beijinho, querido e Boa Páscoa.

Cristina Lima disse...

Carlos

Sim, é melhor recordar que chorar...

Somos egoístas, não queremos que as pessoas que amamos nos deixem, mas temos de refletir que a pessoa está sofrendo, que é melhor descansar...

Mas é triste, muito triste, uma dor que não cabe no peito. Mas foi Deus mesmo que inventou essa dor, ela existe para, de certa forma, demonstrarmos e colocarmos para fora toda a tristeza... A lágrima, o choro nos conforta...

Que Deus conforte os nossos corações.

Um abraço e um beijo, com muito carinho, amigo

Cris

Anne Lieri disse...

Que maravilhosas lembranças,Carlos! E ela aparecer em sonho e dizer:chega de chôro foi bem significativo. Tb creio que ela está num lindo lugar! Com saudade de vcs todos,mas com certeza mais tranquila ao ver que pararam de chorar. Que lindo texto,adorei as histórias!bjs,

LUCONI MARCIA MARIA disse...

Antes de ler o último poema do anjo, tive que ler este teu relato, que lindas lembranças meu amigo, nossa me emocionou muito, que filho maravilhoso você é, Deus o abençoe sempre, beijos Luconi

Patrícia Pinna disse...

Boa tarde, Carlos. Emocionante demais o teu texto. Certamente você a ama e jamais irá esquecê-la.
Sei o quanto é difícil perder alguém, ainda mais uma mãe.
A relação de vocês era amável, protetora e carinhosa, isso já faz com que não guarde no coração remorso algum.
Ela está bem ao lado de Deus, também sinto isso, pois uma pessoa de alma pura não poderia estar em outro lugar.
A missão dela já iniciou no céu e quem sabe minha mãe e ela já não são amigas?
Ela saber que você está bem já é um alívio, assim, ela não sofrerá.
Certamente ela te protegerá e continuará te amando, assim como você a ela.
Tenha uma abençoada semana de paz!
Beijos na alma!