
“Brasil, mostra a sua cara!”. Com certeza, nessa música Cazuza fez uma crítica política, e eu , com todo respeito vou usar essa frase para fazer uma modesta crítica social, não com o mesmo impacto do famoso cantor, mas deixo minha impressões, e assim, me pergunto: Qual é a cara do Brasil? Duas semanas atrás, um fato dominou os noticiários da tevê, do rádio e internet, afinal era algo “raríssimo, “diferente”, “inusitado”. Um casal de moradores de rua encontrou vinte mil reais, e procurou a polícia para devolver, mesmo não sabendo quem eram os donos do dinheiro. Um morador de rua teria mil motivos para ficar com o dinheiro, entre eles, o principal que é a fome, mas um só motivo levou-os a fazer o correto. “Apesar de minha pobreza, minha mãe me ensinou a não ficar com nada de ninguém”, foram as palavras do senhor. A mulher, coitada, nem sabe a própria idade. Por que as palavras acima estão em aspas? São aspas de uma triste constatação. O que virou comentário geral, deixando um país inteiro boquiaberto devido à honestidade dos mendigos, era para ser um ato corriqueiro entre nós: devolver o que não nos pertence, mas como a honestidade e a ética, viraram “fato inusitado”, “diferente”, “raríssimo” no Brasil, não é mesmo de se estranhar tamanho destaque, pois, tornou-se algo cultural, enraizado no povo, tirar vantagem de tudo. Evidentemente, também estou aplaudindo aos moradores pela atitude, e corrijo, eles não teriam só 1.000 motivos para embolsarem os vinte mil, mas 1.001, lembrei-me de mais um agora: A raiva. Poderiam ter raiva da sociedade, pela exclusão e descaso que sofrem nas ruas. Deveriam ter raiva e ficar com o dinheiro, mas não. Falou dentro deles, muito mais que ensinamentos de escola que jamais tiveram, mas sim, ensinamentos de berço. Eles nem sabem o significado literal da palavra “ética”, mas praticaram essa tão falada “ética”. Deveriam ter raiva da sociedade que ateia fogo neles. Deveriam ter raiva por viverem num mundo invisível, no underground, talvez nem tão invisível assim, a sociedade é que vira o rosto para não ver a sua própria falência debaixo das marquises. Sim, um mendigo nas esquinas é sinal gritante de que a sociedade faliu nessa selva de pedra, onde é cada um por si, e não sabe que a falência é para todos. Viramos o rosto não é pelo mau cheiro, ou porque estão mal vestidos, mas por vergonha de nós mesmos. Vergonha de falarmos de liberdade, falarmos de igualdade, falarmos de Deus, enquanto assistimos passivos à degradação humana, o luxo e lixo dividindo as ruas das metrópoles. Citei acima como uma crítica social, porque não vejo só a classe política como responsável por tudo que é ruim, penso que os políticos apenas estão no topo dessa “cadeia alimentar”, onde quem tem a boca maior engole o outro. Eles têm grande culpa? Têm sim. Mas nós também temos porque também engolimos os menores que nós, no dia a dia. Nem sempre um país é uma nação. Um país é apenas um espaço geográfico divido em estados. Nação é muito mais que isso. O sentido de nação inclui, valores morais, ética (olha a palavrinha aí de novo), civismo, religiosidade, história, tradição, cultura, educação etc etc. O que sobrou de bom nisso tudo é que a honestidade foi recompensada, os empresários donos do dinheiro, vão dar àquele senhor um emprego de carteira assinada, e agora ele poderá ser chamado de cidadão brasileiro. Brasil, mostra a sua cara, mas antes disso, mude a sua cara.