ESCREVER É DIVINO!

ESCREVER É DIVINO!
BONS TEMPOS EM QUE A GENTE PODIA VOAR. ERA MUITO BOM SER PASSARINHO.

CAMINHOS DE UM POETA

CAMINHOS DE UM POETA
Como é bom, rejuvenescedor e incentivador para o poeta, poder olhar para trás e ver toda a sua caminhada literária, lembrar das dificuldades, dos incentivos e da falta deles, da solidão de ser poeta e do diferencial que é ser poeta. Olhar para trás e ver tudo que semeou, ver uma estrada florida de poesias, e dizer: VALEU A PENA! O poeta vai vivendo, ponteando, oscilando, e nem se dá conta da bela estrada que escreveu. Talvez ele não tenha tempo porque o horizonte o chama, e o seu norte é... escrever... escrever... escrever. Olho hoje para trás... não foi fácil, mas também ninguém disse que seria. E eu sabia que não seria, ser poeta não é fácil, embora seja lindo. Contemplo a estrada que eu fiz, e digo com orgulho quase narcisista: Puxa... como é linda minha estrada!

domingo, 11 de setembro de 2011

FECHE OS OLHOS

Feche os olhos!
Mergulhe no abismo da escuridão, da solidão que às vezes é bem-vinda.
Não fale nada...só escute o silêncio, o som do íntimo...
de dentro para fora, não de fora para dentro.
Deixe fluir qualquer coisa de seu coração, há tempos ele não fala.
Porque nunca fecha os olhos pra falar consigo mesmo.
A visão nos cega, o óbvio escraviza.
Nós mesmos preferimos assim, criamos tudo isso.
E se criamos, podemos desfazer... é só fechar os olhos.
Você consegue ouvir a folhagem das árvores... o vôo da borboleta...
percebe até os insetos.
A brisa suave acaricia seu rosto... há tempos não sentia isso.
Veja como tudo ficou calmo.
Suas antenas naturais, seus instintos estão ligados, despertos.
Sinta à sua volta todas as coisas que não percebe de olhos abertos.
Não, não tente voltar atrás para recuperá-las.
São como as ondas do mar... vem e vão... vão e vem.
Apenas se prepare para a próxima onda.
Você agora é um barco... sua bússola é o sentimento.
Puxa, como é grande o oceano!
Seria assustador se não fosse lindo.
Agora você é um pássaro... altivo, festivo, voando alto olhando os seres lá embaixo.
Perde-se no horizonte, pousa nos montes, cruza o arco-íris, bebe das fontes.
Como é grande o céu!
Seria assustador se não fosse lindo.
Agora você é uma poesia, ou uma canção, cheia de notas e rimas, abertas ou em falsetes.
Dentro de você agora há um perfeito concerto.
Puxa, como é grande a inspiração!
Seria assustadora se não fosse linda.
De olhos fechados você é tudo, pode tudo num instante.
Pode ser flor... pode ser folha ao vento.
Pode ser palhaço, pode ser Peter Pan.
Pode ser menino, pode ser gigante.
Puxa, como é grande a imaginação!
Seria assustadora se não fosse linda.
Você abre os olhos... agora é um ser comum.
Na multidão, apenas mais um
que não escuta, só grita, que não afaga, só bate
que não planta, só arranca com mão destruidora
que buzina e acelera pra lugar nenhum.
Volta à vida normal,
que seria linda...se não fosse assustadora.

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

O EREMITA



Olhou para trás para ver seus passos, mas não os viu mais. O vento os apagou como se eles não tivessem sentido, a areia cobriu tudo que ele percorreu, dando a impressão de que tudo foi em vão. Seus passos agora só existiam dentro de si, desejou arrancá-los também de sua mente, mas isso era mais forte que ele. Onde estavam todas as pessoas agora? Ecoavam em sua mente, só lembranças, vozes, gargalhadas, lamentos, imagens pálidas, nada mais era palpável. Olhou à direita, à esquerda, e contemplou o vazio. Como vazio é grande! Como o vazio é pesado! O sol escaldante era menos cruel que tudo isso, a areia do deserto queimava menos em sua pele do que a areia do tempo. Pensou em encostar, não havia paredes. Pensou em chorar, não havia ombros. Recuperou-se do breve momento de fraqueza, balançou a cabeça e a alma, desvencilhando-se do surto de tristeza. Nunca se permitira ficar triste, nunca tivera muito tempo para isso, passou a vida toda cuidando de seus passos... mas onde estão aqueles passos? Apesar do deserto impiedoso, não sentiu sede, pois uma sede maior o movia, a sede dos acostumados a caminhar sozinhos. Olhou adiante, vislumbrou um horizonte confuso, difuso, mas era o único que tinha, e seguiu em frente. Andou, andou, andou... até ser engolido pela solidão do deserto. Como se tivessse direito, pediu ao vento que apagasse também suas últimas pegadas. Nunca teve certeza se o vento atendeu seu pedido, porque nunca mais olhou para trás.