
Céu de brigadeiro é uma expressão muito usada na aviação para definir um céu perfeito, azul, sem nuvens, permitindo assim um voo tranquilo às aeronaves. Ao mesmo tempo homenageia com muito mérito, a patente maior da aviação militar, que é o brigadeiro. Num resumo rápido, a expressão quer dizer que um brigadeiro merece um céu lindo.
Foi aí que pensei deitado no sofá da sala “tentando” ver tv. Tentando sim, porque a tv não tinha nada. Aliás, tinha, mas nada compatível com meus anseios. Eram umas 20:00h. Telejornais repetiam notícias de dias e meses anteriores, ou até mesmo de décadas: o cara matou a ex-mulher, guerras, polícia, bandido e milícia se confundindo em tiroteio no Rio, roubalheira em Brasília, pedofilia, cracolândia, copa do mundo no Brasil, o galã vai casar, a atriz gostosona que se casou mês passado já separou, o outro pulou do vigésimo andar, rainha disso, rei daquilo, crise nos EUA, aids, apartheids. Notícia cultural não vi nenhuma. Que salada indigesta! Mas tudo dentro do “normal”.
Minhas perguntas eram: “E o céu de poeta, como seria? Que céu um poeta merece? Ou que céu ele visualiza com o dom de seus olhos?”.
Então já sem paciência, num gesto de desdém, sem nem mesmo olhar para a tv, apertei o botão do controle remoto, andando, joguei-o sobre o sofá e subi ao terraço, depois de passar na geladeira e pegar uma boa garrafa de vinho e um pouco de gelo. Ah, minha rede! Lá estava ela, aconchegante, doidinha para me abraçar. Moro num bairro comum, popular, mas por sorte com uma visão incrivelmente privilegiada. Minha casa dá de frente para uma serra de 1.123 metros, que fica a sete kms, então fica enorme aos meus olhos e é justamente onde a lua nasce. Não fui direto para a rede. Um certo visual pediu minha atenção. Encostei na paredinha e fiquei contemplando enquanto saboreava o vinho. Que lua redonda! Enorme e dourada! Estava um pouco acima da serra fazendo nela um clarão enorme. Exatamente acima do topo, raios desciam como se estivessem chuveirando a montanha . Estava tão claro, tão límpido que podia facilmente observar a silhueta da serra gigante. Ao fundo, bem distante, uma estrela solitária, diferente das demais. As simpáticas Três Marias. E o imponente e místico Cruzeiro do Sul apontando sul e norte. Outras estrelas, tantas, coadjuvantes daquele cenário, cintilavam, parecendo me dizer: “Eis a sua resposta. Esse é o céu de um poeta”. Coisas que a parabólica não pode captar... mas os olhos do poeta, sim. Os olhos que tudo veem. Os olhos da simplicidade. Um grande pensador já disse: “Onde a ciência pensa em chegar, o poeta já viajou por lá”.
Noite fria, corri para a rede e envolvi-me nela, pois agora podia ver a lua deitado, pela altura em que ela já estava. O vinho já estava no meio. Mais um gole. Mais uns para dizer a verdade.
Um terraço. Uma rede. Uma garrafa de vinho. Uma noite enluarada salpicada de estrelas. Muita tentação para um poeta.