ESCREVER É DIVINO!
CAMINHOS DE UM POETA
quinta-feira, 11 de dezembro de 2008
O ÚLTIMO VÔO DA FÊNIX
Quando escrevi Fênix, claro que falava de mim mesmo, das voltas por cima sobre as adversidades, financeiras, emotivas, depressões e pressões, enfim, ressurgia mais forte... mas não imaginava que ela fosse adotada. Eu já trabalhava no aeroporto de minha cidade, quando chegou nova funcionária de nome LENIR, que quando a leu disse: “Puxa, Carlos.Essa poesia foi feita para mim”. Eu disse: Pode ser. Eu não faço poesia pra mim, faço para as pessoas que gosto.É como uma flor que estou te dando, é um pedaço de mim, trate com carinho.” Ela respondeu: ” Pode deixar, vou levar para sempre comigo “.
Um dia no meio da sala, perante os outros funcionários ela brincou. ”Se você não fosse meu amigo, acho que ia me apaixonar por você”. “Epaaaa...” eu falei.”Pode parar aí. Somos amigos... e eu tenho namorada”. Ela me deu um soquinho no ombro.” Ei, só estou te elogiando, não posso mais elogiar um amigo querido?”. E me beijou no rosto, adorava beijar. “Claro que pode... rs rs”. E ela completou na gozação. ”E eu também não sou papa-anjo, você é muito novinho pra mim”. Eu arrematei. ”Mas não facilita muito não que não costumo perdoar”. “Ah, seu safado”. Era sempre assim, descontraído o ambiente.
Não trabalhamos muito tempo juntos. Minha mãe havia se mudado para Vitória-Es, eu morava já por quase um ano com dois amigos e acabei sendo convidado a trabalhar em Governador Valadares, no aeroporto também, numa função melhor e ganhando mais. Não pensei duas vezes, estava meio desanimado na cidade. A aviação sempre foi minha segunda paixão, Deus sempre foi muito bom pra mim.
Ainda mantivemos contato por fone e, sobretudo por telex. Eu adorava telex e sabia muito. Lia aquelas fitas cheias de buraquinhos e sinaizinhos como ninguém. Certa vez ela me contou que mostrou minhas poesias, no balcão de passagens, ao cantor Wanderley Cardoso, aquele mesmo, que fôra ícone da jovem guarda. Ele muito educadamente teria dito. ”Seu amigo é bom mesmo”. “Ele é um grande poeta, meu grande amigo mesmo”, disse a exagerada, não na parte do amigo. Mostrando Fênix, ela disse uma mentirinha fantasiosa. ”Essa ele fez pra mim”.
Naturalmente com o tempo os contatos ficaram um pouco mais raros. Num desses, ela me surpreendeu ao fone: “Carlos, não tenho boa notícia. Arrancaram um pedaço de mim”. Não entendendo direito, perguntei: “Como assim, um pedaço de você?”. “Tiraram meu seio esquerdo, tão bonitinho”. “O quê? Pelo amor de Deus, você está com câncer?”.
Ela em tom triste disse. ”Sim. Eu vinha fazendo exames, constatou e agora tive que tirar. Mas o médico disse que vou ficar boa”. Dei força. “Claro que vai. Você é forte, vai superar isso. Você é a Fênix, lembra?”.
O tempo foi passando, outra vez ela ligou, agora morando em Vitória para tratamento melhor. ”Carlos, tiraram outro pedaço de mim. Não tenho mais seios”. Ainda bem que eu estava sentado porque o baque foi grande. Tentando encorajá-la, falei. ”Ah, mas muitas mulheres fazem isso e vivem normal”. O que ela respondeu me fez calar. ”Não, Carlos. Você não sabe o que é uma mulher mutilada”. “Droga!”. Pensei depois. ”O que fazem esses cientistas? Tiram onda que vão à lua, viajam o universo todo, mas não curam o câncer”.
Depois disso, nossos contatos ficaram ainda mais difíceis, porque comecei a fazer curso de tráfego aéreo, inglês específico, meteorologia aeronáutica, alguma coisa de física, estágio em Belo Horizonte, enfim quase 08 meses praticamente recluso.
Algum tempo depois, a notícia. Lenir morreu aos 36 anos. Chorei muito à distância, a perda da amiga querida. Criançona, extrovertida, espontânea, adorava dar gargalhadas escandalosas, gostosas. Uns amigos antigos disseram-me meses depois que o poema Fênix,como havia me prometido, estava em sua bolsa, quando foi internada, com a seguinte frase escrita por ela: DO MEU AMIGO INESQUECÍVEL, POETA CARLOS SOARES DE OLIVEIRA.UM IRMÃO QUE GANHEI DEPOIS DE GRANDE. Claro que eu chorei de novo.Pra quem não conhece, eis FÊNIX ( meu poema mais pessoal):
FÊNIX
Sou eterno!
Não há derrota ou sofrimento
que me impeçam de viver mais um momento.
Noutro instante me torno gigante.
Quando tudo estava perdido e eu estava caído, ressurgi.
Levantei e venci!
Quando me sentia afogando
dei mais uma braçada e pisei firme em terra.
Quando mostrava estar mudo soltei com força meu grito de guerra.
Se um dia tive medo, no seguinte fui pra batalha,
não temia escuro, nem represália.
Se às vezes, fui fogo de palha,
noutras incendiei o mundo com meu calor.
Se às vezes fui pequeno como gota d’água,
noutras saí inundando de ânimo, esperança e amor.
Se num momento fui grão de areia, uma coisa feia ou estranha,
noutro fui uma bela e imponente montanha.
Sou assim!
Renasço, ressurjo, reacendo!
Quando eu parecia oco, uma casa vazia,
eu estava cheio...transbordando de poesia
NOTA: Fênix era um pássaro mitológico que renascia das próprias cinzas. A diferença é que eu não sou um mito. Sou real .
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4 comentários:
Olá Carlos
Desta vez você fez-me chorar com esta partilha maravilhosa.
É lindo seu poema da Fénix, mas mais linda é essa lembrança que guarda no coração dessa maravilhosa Amiga.
Gostei muito,vejo que é um ser humano muito especial.
Um abraço de alma
Salamandra
Eu também chorei de novo,amiga.Saudades de minha amiga Lenir.Você acredita que passei a noite toda relembrando e escrevendo isso? O que seria da poesia senão para partilharmos essas coisas do coração? Foi ela quem me trouxe até aqui.Por isso eu digo que o poeta é do mundo.Obrigado por suas palavras.Um ser humano especial ainda não,mas estou num processo de aprendizado incrível e constante.Todos nós,não é?A gente só precisa ligar as anteninhas.Um abraço de alma.
Lindamente triste e nostálgico, me emocionei, mas me fez bem ler vc hj, as 5 da manhã.
Ainda ontem minha mãe me disse. Todos somos provados, o importante é a gente sair das provações, aprovado.
F~enix fala disso.
Adorei!
Um beijo e bom final de semana.
É isso ai amigo,nada como a essencia da vida,seja ela nas asas de um passaro ou no coraçao de uma doce amizade,parabens!!!
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