Quem era e é Dona Maria preta? Era assim chamada porque na outra esquina tinha a Dona Maria branca. Essa última quase não saía de casa e para ela tanto fazia o rio correr para cima ou para baixo. Mas Dona Maria preta, essa sim, mulher brava, encarava qualquer um, apesar de nunca ter tido visto briga ou discussão dela com alguém. Acho que as pessoas já evitavam também. A vizinhança era boa. E ela tinha também as suas amizades, só não se podia esperar ela sorrindo solta nas ruas.
Mulher dura, séria, sistemática, compenetrada.Talvez pelas imposições da vida, essas coisas de pele, complexos, preconceitos imbecis, etc.
Nós meninos, éramos donos da rua, jogávamos bola o dia todo, todos os dias até umas 10h da noite. Era só chegar da escola. Era preciso as mães virem com varas na mão, senão a maioria não tomava nem banho, agarrados com a “maldita bola”, segundo dizia Dona Maria preta. Eu mesmo deixava de jantar, já que não podia correr de barriga cheia.Claro, no fundo eu sabia que mamãezinha depois do banho faria uma vitamina de abacate com leite e biscoito ou um café com leite.
Mas quem comia sempre mal acho que era dona Maria. Isso mesmo...Ela odiava aquela barulheira, tremenda gritaria na esquina. E berrava lá de dentro.”Esses pestes não tem mãe, não?”. “Essa cambada não pára nem com chuva...” rs mal sabia ela que justamente com chuva a gente gostava mais. Era só o céu escurecer que saíamos chamando uns aos outros.”Vai chover, vai chover... vamos jogar”. Mas enquanto era só gritaria, para ela, ainda passava, mas e quando a bola caía no seu quintal? Podia esperar xingamentos dobrados e uma bola despedaçada de faca, e ela gritando lá de dentro: “toma sua bola, chuta agora...” “um dia vou sumir desse lugar”, depois de jogá-la por cima do muro. Ficávamos tristes, decepcionados, desolados.
Alguns xingavam da rua: “Sua bruxa velha”. Mas enfim...de onde saía, eu não sei, mas no outro dia aparecia outra bola.
Porém o ponto máximo de tudo isso, foi no dia em que a bola, por um desses azares incríveis, mas também engraçados, em que um pé torto chutou a boa por cima do muro e ela caiu exatamente dentro do prato de comida dela. Ai, meu Deus! Foi menino correndo pra todo lado. E ela, claro, esbravejando, xingando cada nome cabeludo. Alguns meninos correndo, riam fazendo zoeira com ela, irritando-a ainda mais.Uns corriam por medo, mas ainda assim com respeito.Eu estava entre estes.Aprendi com meus pais sempre respeitar os mais velhos. Só não dava para parar de jogar bola. E nesse dia, talvez tenha sido uma das piores experiências de minha infância, o medo que passei.Correndo atrás de um ou de outro, ela acabou me encurralando num muro.”Agora estou perdido”, pensei. E chorando, gritei minha mãe várias vezes, achando que ela ia me bater. Felizmente, ela só xingou:
“Seus capetas, vocês não têm educação não?”, com a bola partida ao meio e suja de feijão, na mão.”Vou lá agora falar com sua mãe”. Claro que não fui em casa nas próximas horas pra não tomar uma surra, também nem sei se ela foi lá. E se foi, minha mãe também não era muito de bater. ( CONTINUA...)
ESCREVER É DIVINO!
CAMINHOS DE UM POETA
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário