Dizem que loucura e genialidade estão muito próximas, se separam por um fio tênue, invisível, mas é fato sim, na própria história tivemos gênios que destoavam dos padrões da sociedade, alguns até excêntricos. Na vida comum conheci alguns também. Há uns dois anos queria contar isso, até deixei para lá, mas ao rever o personagem na semana passada, não resisti. Tem um rapaz, quase vizinho, pouco mais velho que eu, que transita facilmente nos dois lados, é muito inteligente, debate qualquer assunto, mas tem uns momentos extremados de loucura, afora isso tem vida normal, até trabalha fazendo seus bicos. De vez em quando para, e falamos por longo tempo, sobre cultura geral. As perguntas quase sempre as mesmas: “Tem escrevido muito? Quando vai publicar mais livros para nós? ”. Eu respondo, e ele emenda: “Isso aí! A cultura não pode parar”. Quando não pode conversar, passa numa bicicleta antiga, enorme, com corpo reto, nem me olha, apenas levanta o braço e diz: “Olá, poeta. Como vai? ”. Dei a ele, livros de coletâneas em que participo, e também meu livro solo de poesias; ele considera uma coisa do outro mundo ser meu amigo, já que sou “um poeeeta, um escritoooor”, como ele diz, até levantando a voz. Fica lendo meus poemas e interpretando em voz alta perto de mim. Certa vez, aconteceu um assassinato ali perto, o corpo ficou estirado na calçada por umas duas horas, até que chegasse polícia, perícia, rabecão etc, uma cena horrorosa, que eu, claro, não fui ver, mas vi a pequena multidão em volta. De repente chegou a imprensa local, e Edvaldo logo interceptou a repórter: “Ô moça... ô minha filha, vai filmar tragédia não, vem entrevistar o poeta aqui, um escritor. Melhor que ficar mostrando uma coisa feia dessa aí”. Ela ficou meio surpresa, riu um pouco sem entender nada, mas seguiu. Ele não se conformou, segurou no braço do cinegrafista: “Ô rapaz, faz isso não. Tem cultura aqui”. O cara riu: “Você tá doido? Me larga, tenho que fazer meu trabalho”. Pois Edvaldo foi atrás, a moça teve um pouco de dificuldade para fazer a matéria, pois ele falava ao lado quase aparecendo na câmera. Por fim, ele desistiu, e voltou indignado para perto de mim com o mesmo assunto: “É por isso que esse Brasil não anda, preferem mostrar tragédia do que cultura. Eu fico nervoso com essas coisas. Deixar de entrevistar um escritor para filmar uma porcaria dessas”. Eu falei consolando-o e controlando-o: “Liga não, Edvaldo. Nós sabemos que é assim, sempre foi assim, e não vai mudar”. E ele: “Tá bom... mas eu não me conformo”.
Nem estou falando de mim, ou por mim, mas pensando bem, até que ele não está errado.
Como eu disse acima, já conheci outros como ele, até mesmo na infância quando conheci um que tinha mesmo problema sério de cabeça, mas gostava de mim... dos meninos da rua, somente de mim. Acho que OS LOUCOS ME AMAM.