ESCREVER É DIVINO!

ESCREVER É DIVINO!
BONS TEMPOS EM QUE A GENTE PODIA VOAR. ERA MUITO BOM SER PASSARINHO.

CAMINHOS DE UM POETA

CAMINHOS DE UM POETA
Como é bom, rejuvenescedor e incentivador para o poeta, poder olhar para trás e ver toda a sua caminhada literária, lembrar das dificuldades, dos incentivos e da falta deles, da solidão de ser poeta e do diferencial que é ser poeta. Olhar para trás e ver tudo que semeou, ver uma estrada florida de poesias, e dizer: VALEU A PENA! O poeta vai vivendo, ponteando, oscilando, e nem se dá conta da bela estrada que escreveu. Talvez ele não tenha tempo porque o horizonte o chama, e o seu norte é... escrever... escrever... escrever. Olho hoje para trás... não foi fácil, mas também ninguém disse que seria. E eu sabia que não seria, ser poeta não é fácil, embora seja lindo. Contemplo a estrada que eu fiz, e digo com orgulho quase narcisista: Puxa... como é linda minha estrada!

quinta-feira, 6 de maio de 2010

DONA MARIA PRETA


( imagem i1.trekearth.com )
Era assim chamada porque na outra esquina tinha a Dona Maria branca. Dona Maria Preta, era mulher brava, dura, séria, sistemática, sofrida, compenetrada. Talvez pelas imposições da vida, essas coisas de pele, complexos, etc, encarava qualquer um, apesar de nunca ter tido visto briga ou discussão dela com alguém, acho que as pessoas já evitavam também. A vizinhança era boa. E ela tinha também as suas amizades, só não se podia esperar ela sorrindo solta nas ruas.
Nós meninos, éramos donos da rua, jogávamos bola o dia todo, até umas 10h da noite. Era só chegar da escola. Era preciso as mães virem com varas na mão, senão a maioria não tomava nem banho, agarrados com a “maldita bola”, segundo dizia Dona Maria preta. Eu mesmo deixava de jantar, já que não podia correr de barriga cheia.Claro, no fundo eu sabia que mamãezinha depois do banho faria uma vitamina de abacate com leite e biscoito ou um café com leite. Mas quem comia sempre mal acho que era dona Maria. Isso mesmo. Ela detestava aquela tremenda gritaria na esquina. E berrava lá de dentro. "Esses pestes não tem mãe, não?”. “Essa cambada não para nem com chuva...”. Mal sabia ela que justamente com chuva a gente gostava mais. Era só o céu escurecer que saíamos chamando uns aos outros.”Vai chover, vai chover... vamos jogar”. Mas enquanto era só gritaria, ainda passava, mas e quando a bola caía no seu quintal? Podia esperar xingamentos dobrados e uma bola despedaçada de faca, e ela gritando lá de dentro: “Toma sua bola, chuta agora...” “Um dia vou sumir desse lugar”, depois de jogá-la por cima do muro. Ficávamos tristes, desolados. Alguns xingavam de volta. Enfim...de onde saía, eu não sei, mas no outro dia aparecia outra bola. Porém o ponto máximo de tudo isso, foi no dia em que a bola, por um desses azares incríveis, mas também engraçados, em que um pé torto chutou a bola por cima do muro, e ela caiu exatamente dentro do prato de comida dela. Ai, meu Deus! Foi menino correndo para todo lado. E ela, esbravejando, xingando cada nome cabeludo. Alguns meninos correndo, riam fazendo zoeira com ela, irritando-a ainda mais. Uns corriam por medo, mas ainda assim com respeito. Eu estava entre estes, só não dava para parar de jogar bola. E nesse dia, talvez tenha sido uma das piores experiências de minha infância. Correndo atrás de um ou de outro, ela acabou me encurralando num muro. "Agora estou perdido”, pensei. E chorando, gritei minha mãe várias vezes, achando que ela ia me bater. Felizmente, ela só xingou: “Seus capetas, vocês não têm educação não?”, com a bola partida ao meio e suja de feijão, na mão. "Vou lá agora falar com sua mãe”. Claro que não fui em casa nas próximas horas para não tomar uma surra, também nem sei se ela foi lá. E se foi, minha mãe também não era muito de bater. O tempo passou, como tem de passar no grande ciclo da vida. Muitos anos depois, numa de minhas visitas à Ipatinga, tive idéia de ir à casa dela. Não estava com o lenço costumeiro na cabeça, assim pude ver como seus cabelos ficaram brancos. Já está velhinha, a ponto de quase não me reconhecer, se não fosse o marido, velho também, porém mais lúcido, dizer:  "É o Carlos, da dona Sebastiana, do” seu “Glicério. Morava na terceira casa”. Aí sim, ela se lembrou:  “Nossa, menino! Estou pensando que o tempo só passou para mim. A gente não imagina que as crianças crescem. Quantos anos você tem?”. Respondi:  "34". E claro, que no meio de vários assuntos, não podia deixar de tocar num que jamais esqueci. “Puxa dona Maria, a senhora lembra da raiva que  fazíamos na senhora com aquele jogo de bola? Quantas bolas será que a senhora furou?” E ela rindo respondeu:  “Ihhh... nem faço ideia”. E emendei: “O pior dia foi quando a bola caiu no prato da senhora.” E ela puxando pela memória, disse: ”Naquele dia eu pensei que ia morrer de tanta raiva. Eu correndo feito louca na rua e a molecada correndo, zombando. Lembro que cerquei um no muro que o bichinho ficou até branco”. Eu ri e disse: “Era eu”. E ela balançou a cabeça: “Você?... mas eu não ia bater não. Tá doido, bater em filho dos outros?”. Depois de uns trinta segundos interrompi o silêncio. “Acho que cada um de nós devia vir aqui e pedir desculpas à senhora. Mas ela solenemente, com a mão no meu ombro, enxugando os olhos, respondeu. “Menino bobo! Eu era uma tola. Você sabe que agora eu sinto é falta daquilo tudo? Saudade daquela gritaria. Essa rua acabou, não tem mais graça”.

Por isso eu escrevi, ‘nunca mais aquela rua, de jogo de bola na esquina, de botões na calçada...’. Saudades da rua Vital Brasil.

26 comentários:

chica disse...

Emocionante e muito lindas tuas lembranças! Adorei! abração,tudo de bom,chica

RENATA CORDEIRO disse...

Olá, Carlos! Faltam-me palavras. Só isto: Lindo!
**********

Um belo dia
O amor veio até mim
Quando o amor era raro
Como o amor pode ser
Vi estrelas
Brilhando no azul e claro céu
Flutuamos juntos
Pela primeira vez e para sempre
O amor veio até mim
Uma linda noite
O amor nos deixou ver
Quão longe estaremos
Quão bem estaremos
Vimos um mundo
Que ninguém jamais vira antes
Era o mundo
Onde o amor pode começar
Com o ritmo do coração
O amor veio até mim
Vi estrelas
Brilhando no azul e claro céu
Flutuamos juntos
Pela primeira vez e para sempre
O amor veio até mim
Uma linda noite
O amor nos deixou ver
Quão longe estaremos
Quão bem estaremos
Vimos um mundo
Que ninguém jamais vira antes
Era o mundo
Onde o amor pode começar
Com o ritmo do coração
O amor veio até mim
O amor veio até mim
O amor veio até mim
O amor veio até mim

O AMOR VEIO ATÉ MIM
Rita Coolidge
Trad. da Rê

Beijos
Bom Dia!

Bia disse...

Você sempre me faz"viajar" em tuas histórias, teu passado...escreve tão bem, que me sinto "lá"!!!
Beijos e lindo dia!

Bia

Everson Russo disse...

Meu amigo,,,é gostoso viajar nesse mundo de lembranças,,,a gente busca no fundo do bau da alma cada emoção,,,cada passagem que vivemos,,,,e cada pedacinho do que somos hoje,,,,,abraços fraternos de bom dia....


p.s. reboluxa? rs..rs..rs...essa foi boa,,,,ontem pra variar a velha choradeira volotu,,,,mas que saber? eu não to nem ai,,,EU TO RINDO A TOA...rs..rs..rs...eu já até estava sentindo falta de ve las reclamando,,,rs,rs,rs,,,

Rosa dos Ventos disse...

Parabéns pela bela prosa cheia de cor, movimento e ...saudade!

Abraço

Secreta disse...

Saudades, uma palavra tão cara!
Mas uma coisa podemos ter como certa, se sentimos saudade, é poruqe foi bom!
Um beijito.

Anônimo disse...

Carlos,que doces lembranças de infancia,apesar dos sustos e das bolas furadas...rsss...Vc era muito levado mesmo!Ficarei honrada se postar o texto da joaninha!Pode pegar!Abraços,

Unknown disse...

Oi Carlos!

Recordar é viver! Adorei!

Abraços

Lia♥

Nathália (Ná) disse...

Carlos, que historia linda, fui lendo e imaginando cada um de vocês. E confesso que no final chorei.

bjs!

(CARLOS - MENINO BEIJA - FLOR) disse...

Obrigado,Chica.Seu blog também tem esse tom de emoção. Beijos
///
Oi, Rê.Estou vend oque está bem.Que bom.E que belo texto o seu.Beijos
///
Oi,Bia. Sumiu, hein? Beijão
///
Obrigado,Rosa dos ventos(nome bonito).Beijos
///
Valeu,Everson.Deppois explico o reboluxa.Um abração
///
Ah, saudasdes sempre boas,amiga Secreta. beijos
///
Só um pouco, Anne. É amanhã a postagem. beijos
///
Lia,Beijitos.
///
Gente de bom é assim mesmo, Ná.Chora à toa.beijos

(CARLOS - MENINO BEIJA - FLOR) disse...

Ihhh. Estou achando que essa minha menina quietinha Anita, também já foi levada. Ai,ai. Era mesmo uma infância mágica, meu amor. Sabe o que pensei agora? Se naquele tempo a gente já se conhecesse acho que já íamos namorar.Aí talvez eu não seria tão levado, porque aqui pra nós, você sabe vigiar. Te adoro.Beijos

Juliana Carla disse...

Carlos,

Resgatar lembranças... Memórias vivas! Hora e outra também, tenho meus encontros com o passado.

Bjuxxx e xerooo amigo

Wanderley Elian Lima disse...

Oi Carlos
Tenho uma história bem parecida dom essa, só que a dona que furava as bolas chamava Dona Pompéia. A coitada já faleceu e que Deus a tenha.
Abração

Felina Mulher disse...

Fiz uma viagem nesta tua narração...nossa, lembrei de uma vizinha que era igual a D.maria preta, sempre cortava as bolas dos meninos....só que hj, no finalzinho, acabando de ler-te, rolou uma lágrima aki....acho que não estou bem hj....hj estou que nem a D.Maria, se cair uma bola aki eu corto...meu Corinthias perdeu...snif!Cuidado que até com o Everson eu já briguei.

Um beijo choroso.

(CARLOS - MENINO BEIJA - FLOR) disse...

Sempre é bom,Juliana. Eu gosto. Beijos
///
Incrível, Wanderley, como essas figuras entram na infância da gente e marcam. Um abraço
///

(CARLOS - MENINO BEIJA - FLOR) disse...

Ah,Felina. Por que não me avisou pra eu torcer? Eu não sabia que você era corinthiana, daí torci contra. Pôxa,brigou com Everson? Aprontou alguma? Mas ele não apronta,pelo menos diz que não,né? Poeta de alguma forma, é arteiro. Pode me xingar, vou torcer pra cair uma bola aí e derrubar uns copos hoje só pra você furar he he. Beijos.

Unknown disse...

essa imagem lembra as ruas de paraty...
abraço.

Sandra Gonçalves disse...

Na minha rua tinha uma dna maria...
Ela era fofoqueira, tudo que faziamos ela contava pros nossos pais.Sempre que juntava a turma da rua, faziamos uma arte, um dia um dos colegas fez xixi em uma latinha, colocamos em cima do muro a noite, Amarramos uma linha de nailon na latinha que ia de um lado ao ao outro da rua, seguramos a ponta da linha escondidos dentro do "alpendre" (ainda sou do tempo do alpendre).
Quando ela passou puxamos a linha e ela tomou um banho de xixi, para aprender a não ser linguaruda. Foi na casa de todos nós e contou e xingou e esbravejou.
resultado uma semana de castigo, sem tv.
Ah mais valeu a pena.
Ela nunca mais ficou dedurando nossas artes.E olha que eram muitas...
Gosto de suas história me fazem lembrar de minha infancia.
Bjos achocolatados

Felina Mulher disse...

Ah não, até tu Carlos?...O Everson torceu contra e ainda chamou o Corinthias de "timinho",,,pode?...Eu achei tão injusto, o meu time foi melhor...mas chega de falar de bola por hj...e o Everson está de castigoooo!!

Pelos caminhos da vida. disse...

Recordar é viver amigo.

Hoje as mães já não podem usar varas né?

beijooo.

Mariana disse...

Histórias belas e fascinante tu tens para nos contar.
Riqueza de infãncia, da vida, e isto é maravilhoso.

Carlos recebi da minha cunhada uma mensagem por e-mail falando do trabalho do O Hospital Mário Penna daí de BH,gostei tanto que foi a postagem de hoje.
Tu conheces o trabalho deste hospital? eu fiquei encantada.

Elaine Barnes disse...

Ai Carlos,moleque com bola no pé num vê nada,só o jogo de pelada mesmo rs...Sempre tem uma dona Maria que fura bola,no meu tempo também tinha,lembra das brincadeiras de queimada? A bola ia a toda velocidade e as vz na direção de alguma vidraça rs...Adorei a história.Obrigada pelo comentário. Vc sempre um doce de gentileza. Montão de bjs e abraços

IT disse...

Carlos Soares- Série nostalgia

Rememorar e resgatar lembranças, das histórias dos anos, de nossas vidas.

Volto ao passado, e na infância, com apenas 9 anos de idade, morria de medo de uma velhinha que tinha o nome de "Sá Rosa Barbuda" sim, isso mesmo! verdade. Era só querer a galerinha obediente em silêncio, chamava por "ela" aí corriam todos, sossegavam as traquinagens.Enfim,
até hoje existe o mito de "Sá Rosa barbuda" não é que ela tinha barba mesmo!!Quem sabe um dia publico a foto do "fantasma" que era a pobre da mulher.risos
(quem sabe, a essa hora 23:54, vc não está sonhando com "Dona Maria Preta)risos

Abraços.(rs)

Elzenir Apolinário disse...

Boa noite, amigo, bom final de semana. Bjs

Jacque disse...

Oi Carlos. Obrigada pela visita.
Convida a Anita e vão ver meus vídeos no SENTIMENTOS...

Beijo

JoeFather disse...

Meu amigo, suas histórias são de emocionar qualquer coração duro de pedra que venha a existir! É por isso que deve continuar sempre e sempre!

E sempre existirão pessoas maravilhosas como a sua Dona Maria Preta, sempre, ainda bem...

Abraços renovados e grato pela compartilhação!