Todos os dias quando vou trabalhar, passo numa estrada de terra de uns 8 km, dentro de uma floresta nativa, de rigorosa preservação. Evidentemente não se pode dirigir em alta velocidade, mas eu passo devagar, não por causa da proibição em si que busca minimizar o risco de atropelar animais silvestres, mas é mais por respeito mesmo. É como se eu pressentisse espíritos das matas, olhos me espreitando por entre as folhagens, ou nos galhos. Já vi muitos bichos de perto: preguiça, veados, tamanduá, gato do mato, cachorro do mato, raposa, muitas espécies de macacos, pássaros e borboletas raras. Coisas que me encantam. Mas a mata não é só isso. Ela desenha figuras pra gente assim como as nuvens fazem no céu. De vez em quando, desço do carro. Olho pro tronco de uma árvore e vejo uma carranca de índio. Uma casca de árvore no chão me mostra um lagarto, um teiú. Um galho torto na margem da estrada, me lembra uma cobra ameaçando o bote, com a cabeça alçada. Já desviei de um tronco caído porque confundi com um bicho se mexendo.
Bem no alto de uma árvore, avisto uma grande ave de rapina, mas não é, é a folhagem que parece abrir as asas para o vento. Sem contar os ruídos, como se alguém andasse por entre as árvores frondosas. E claro, a orquestra natural que fazem os pássaros e outros bichos que cantam, uns agudos, outros tímidos, outros tristes, outros alegres, outros sinistros, outros curiosos. Isso me remete à infância quando do alto de um morro, contemplava o rio, e do outro lado, a floresta. Eu tinha tanta vontade de ir lá, já até escrevi: ‘Quantas vezes sobrevoei, mentalmente aquela floresta, como se fosse um Peter Pan’. A Mata é mágica! A Mata não é uma vegetação, é um Espírito!
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( IMAGEM Mallunogueira.paisagismo- Google )