Hoje vou contar uma pequena e comovente história de minha mãe, entre tantas. Mesmo já morando na cidade, minha mãe conservou muitos hábitos da roça; ela saiu da roça, mas a roça não saiu dela. Hábitos como usar fogão de lenha, manter sempre uma hortazinha e umas galinhas no quintal, um vira-lata caramelo, remédios caseiros etc. Ela criava algumas cabras, duas ou três, de onde tirava o leite para nos alimentar. Lembro-me bem de dois detalhes, ou melhor três. Melhor, quatro. Um deles: ela sempre acariciava a cabra uns minutos antes de começar a ordenhar. Acho que era para criar uma certa intimidade. Talvez fosse uma conversa de mãe para mãe. Outro: eu achava bonito e gostoso de ver quando ela apertava a teta da cabrita, e esguichava forte no fundo do balde. Mais um: na hora da ordenha, ela nunca deixava os filhotes longe da mãe. Depois fui saber que era para não causar trauma na mãe, ela podia bloquear o leite. Como minha mãe sabia disso, se mal sabia ler? Coisas que só se aprende na escola da vida. E o mais importante: deixava os filhotes darem uma mamadinha primeiro, e dizia: “Os filhos são eles”. A Mãe Natureza servindo à natureza de uma mãe.
Tenho o dom de ser observador desde criança, e sempre estive no entorno de minha mãe, olhando o que ela fazia, como fazia, como falava. São essas coisas que cunham nossa índole, nossa forma de lidar com problemas, com derrotas e vitórias, com fartura e carências, com medos, como tratar as pessoas e os animais, enfim, ser bom ou mau, forte ou fraco. Não sei o nível que atingi nesses adjetivos, talvez esteja ainda distante, ou equidistante nessa corda bamba, mas posso repetir o que disse certa vez à minha mãe: “Mãe, o que aprendi de bom, foi a senhora quem me ensinou. O que aprendi de ruim, aprendi com o mundo mesmo”.
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É... hoje deu saudade. Como diz uma música antiga: “Eu tenho andado tão sozinho ultimamente...”.
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( imagem Wallhere.com.pt/Wallpaper
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