Esse texto é um de meus xodós.
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Dona
Zelina era uma alegre professora de educação artística na 6ª série. Ela adorava
pintura. Sua frase preferida era: “Vocês cansam minha beleza”. Eu gostava muito
daquelas aulas coloridas, todo mundo falando ao mesmo tempo. Eu nunca soube
desenhar direito. Meus desenhos eram basicamente, uma casinha com chaminé, um
riacho, uma nuvenzinha rindo, um sol surgindo por trás dos montes e uma
vaquinha pastando. A professora falava: “Você está sendo repetitivo. Tente
criar outro tipo de desenho”. Um dia,de brincadeira, fiz o mesmo desenho, porém
com duas vaquinhas. Ela disse: “Não estou vendo nada de diferente”. Retruquei:
“Tem sim, agora existem duas vaquinhas, a fazenda está crescendo”. Ela riu: “Pelo
menos no humor você foi criativo. Vou te dar um sete por isso”.
Na semana
das crianças, foi organizada uma gincana cultural entre as salas, e teria
apresentação de palhaços, teatrinhos, dança, coisas regionais, folclore etc.
Nem éramos tão crianças, tínhamos entre treze e dezesseis anos. Eu, quatorze.
Tinha um rapaz, que deve ter virado artista, pois na época era muito bom no que
fazia. Ele faria teatro de bonecos, fantoches, marionetes, desses que se fica
escondido manipulando e fazendo vozes. Nossa sala seria a última na sexta-feira
e depois o encerramento. O rapaz escolheu ROMEU E JULIETA, mas teve um pequeno
acidente e não poderia representar. Dona Zelina, endoidou: “E agora, gente? O
que faço? Vai ser feio cancelar. Colocar o que no lugar?”. E assim, cada um ia
dando sugestão, umas engraçadas, outras malucas, outras boas, mas nenhuma se
aproximava da intenção da festa. Dona Zelina preocupada: “Nada disso serve. Tem
que ser o teatrinho ou algo parecido, pois foi anunciado assim. Vocês não
conhecem alguém que saiba fazer? Eu pago. Está tudo prontinho, o cenário, vai
ser uma pena não ter”. E começou a andar pela sala, mãos nos quadris. Ela amava
o que fazia. Senti certa tristeza em seu olhar e talvez isso me tenha feito
dizer uma loucura, numa atitude impensada: “Eu sei quem faz”. Levantou a cabeça.
“Quem? Apresenta para mim”. “Eu”. Entre
feliz e surpresa, perguntou: “Sabe mesmo, Carlos? Espero que não esteja
zombando de mim”. Sei sim, fessora, é
só decorar o texto, mudar as vozes. Só preciso treinar a manipulação. Sou bom
de memória”. Ritinha, uma menina magrinha, disse: “Ele deve saber sim, fessora. Ele é poeta, né?”. Dona Zelina veio
se aproximando devagar, olhando-me, apontando o dedo. “É verdade, tem a ver, arte
é arte. Tem certeza mesmo, Carlos, que pode salvar a pele da professora mais
querida e linda da escola?”. “Deixe comigo, fessora”,
piscando para ela. A senhora é linda mesmo. De boniteza nessa escola, a senhora
só perde pra mim”. Riso geral, com direito a algumas vaias. Sentada ao meu
lado, falou: “Menino, você merece um beijo”. E estalou um beijão na minha
bochecha. Adoro ganhar beijo na bochecha. Passei dois dias decorando,
manipulando na frente do espelho, treinando vozes. Não vou negar que fiquei
preocupado. Era coisa nova para mim, nunca tinha feito e era muita
responsabilidade. A escola inteira estaria lá. Felizmente deu tudo certo. Meu
teatrinho ficou legal. Só que mudei o final. O romance termina com drama.
Pensei: “Dia das crianças terminar em drama? As pessoas vão estar ali para
sorrir e não para chorar”. No meu texto, fiz o amor dos dois reconciliando as
famílias. Antes perguntei à professora se podia alterar daquela forma. “Você
pode tudo, menino. Com uma pequena observação. É um tipo de plágio, hein?”.
Balancei o dedo. “Não, é um alternativa. É um direito de sonhar que as coisas
vão terminar sempre bem. Quem sou eu para plagiar Shakespeare, um gênio, mas
não gosto de Romeu e Julieta, porque morrem no final. Prefiro um “viveram
felizes para sempre”. Custava as famílias fazerem as pazes e deixarem o casal
namorar? Então o ódio venceu?”. Ela ponderou: “Mas foi esse toque de tragédia
que fez a obra ficar tão famosa”. “Eu sei, tragédias vendem mais. A maior obra
literária de todos os tempos é uma tragédia”. Ela riu, mas aconselhou: “Cuidado
com esse mundo que você visualiza dentro de você. O desengano pode ser grande”.
“Fique tranquila, eu manipulo esse mundo melhor do que fiz com as marionetes”
Ela finalizou: “Não vou discutir com meu geniozinho poeta, o que importa é que
ficou muito bom”.No ano
seguinte, eu iria para o turno da noite. No fim do ano, quase saindo no portão,
me chamaram. Olhei e era ela: “Vai embora assim, sem me dar um abraço?”.
“Desculpe fessora, é que não gosto de
despedidas”. Segurando meu rosto, fixando nos meus olhos, falou: “Desculpo não.
Não tive a felicidade de ter um filho rapaz. Tenho três moças que amo. Mas se
tivesse um filho rapaz e eu pudesse escolher, ele seria você. Pode ter certeza
que você é sim, o mais lindo da escola”. Abaixei a cabeça, pois fico tímido
nessas situações. Com muito custo consegui falar: “Mas a senhora também é
pessoa boa”. “Sou nada, sou uma velha chata. Ser bom não é para qualquer um.
Ser bom é muito difícil. Seja sempre esse rapaz reto, conciliador, culto,
interessado pelas pessoas que você vai ser muito feliz. Levantou meu queixo
pedindo: “Dá um sorriso pra mim”. Tentei... mas não consegui. Abraçamo-nos
demoradamente. Sua última frase antes de eu sair, foi: “Você não precisa
aprender a desenhar, você já é uma pintura, Deus te abençoe sempre.”
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( imagem google )
Felize Natal !!!!!!!!!
ResponderExcluirGLUOSNIS - LlITHUANIA
Você não precisa mais fingir que nÃO É POETA, poetisa, como quiser. Pra mim você sempre foi.
ResponderExcluirBrisonmattos... POETA... Hetero com orgulho. bjs
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