Nos anos 70, o cineasta brasileiro Glauber Rocha disse que os anos 90 seriam os anos da idiotice, já o Raul Seixas antecipou chamando os anos 80 de “charrete que perdeu o condutor. Talvez o Raul tenha exagerado, os anos 80 não foram tão ruins assim, acontece que o Raul tinha o senso crítico mais apurado do que o meu, tinha mais exigência, Raul era um chato no bom sentido. Talvez o Glauber também tenha exagerado, os 90 tiveram alguma coisa que prestou... mas de 2000 pra cá, pelo amor de Deus.A banalizaçãochegou a níveis impressionantes, em todas as áreas, na tevê as novelas, os programas de auditório, jornalísticos, parece que quanto mais fútil, mais sucesso faz. E assim, foi na música, na arte geral, até na literatura a banalização chegou. Na política, na vida social, violência só aumentando, tudo isso me levou a dizer várias vezes que estou desanimado do Brasil, que EU DESISTO DO BRASIL, e que se fosse mais jovem iria embora do país. Mas vão medizer que não adianta fugir, pois a banalização está no mundo inteiro. Está mesmo, mas quando acontece dentro do seu país, a revolta fica maior.
=
De tanto repetir, acho que sofri
uma autoinfluência e acabei tendo um sonho. No sonho eu peguei uma mala enorme,
pesada e carregava para todo lado, e apesar de ela ser pesada, eu a carregava
com um certo prazer, ela não era empecilho para mim, até porque era a minha
bagagem de viagem. O estranho é que eu não fiz a mala, ela já estava pronta,
apenas peguei e saí. Depois de muito
andar, cheguei a um aeroporto, entrei
num avião onde os passageiros não tinham rosto, mas isso também não importava
muito, o avião desceu sei lá em que país, e as pessoas daquele lugar também não tinham rosto, agora sim, isso me deixou preocupado. 'Por que essas pessoas
não têm rosto?'. Tentei falar com as
pessoas, elas não respondiam, e de repente as ruas foram ficando vazias, olhei
em volta me sentindo totalmente sozinho.
Triste, mas decidido, caminhei por bairros e vilarejos, andei por longas e
vazias avenidas, eu e minha mala. Num certo momento, cansado, sentei-me no
meio-fio, coloquei a mala ao meu lado... e de repente ela tombou... e abriu
sozinha... a mala só tinha livros. Isso mesmo, a minha bagagem eram somente livros. Abaixei a
cabeça nos joelhos e chorei. Chorei muito mais de convicção do que eu posso
fazer, muito mais por reconhecer minha essência, do que de tristeza. Acordei
com o sol na cara e os passarinhos cantando lá fora, foi aí que me situei. Por
que eu disse lá em cima que é um sonho
apenas 'meio triste'? Porque vejo coisas positivas nesse sonho. A mala
pronta que peguei, embora fosse pesada eu carregava com prazer... porque eu
carregava a minha poesia, a minha literatura. Literalmente ( olha o
trocadilho), a literatura é minha bagagem, minha essência, é
o que eu tenho de melhor. A mala
estava pronta para mim. O que ficou latente no sonho é que, mesmo ilhado em
solidão, isolado, não encontrando respaldo para mostrar essa essência ao mundo,
eu não desisti. Parecia (e parece) uma saga, continuo levando minha bagagem
aonde for. E daí, se eu chorei? E daí se eu chorar? Chorar faz parte. Poeta que
não chora, não é poeta! Ao contrário de durante o sonho, eu sorri, pois o sol
na cara quando acordei, os passarinhos cantando , renovaram em mim, reafirmaram
em mim oS dons que eu tenho: a poesia e a teimosia. A poesia
é uma bagagem leve, afinal POETA É O QUE SOU!
=
Triste fico sim ao não ver poetas e escritores defendendo a literatura.
==
( imagem jusbrasil )
Belíssimo texto! Amei
ResponderExcluirBeijo
Bom fim de semana
http://coisasdeumavida172.blogspot.pt/
AMIGO QUERIDO CARLOS
ResponderExcluirQuanto tempo sem aparecer aqui. Ou melhor não visito muito amigos. Parabéns belo texto.Voltando para o meu blog depois de algum tempo afastada.Um domingo cheio de paz para vc. Com carinho.
Um texto comovente por ser tão verdadeiro e sentido, querido Poeta amigo.
ResponderExcluirCarregue a sua bagagem de homem de Letras, que sempre foi e será, honesto consigo próprio e com os demais. Seja aquilo que é, no seu País, ou em outro qualquer, o seu valor é aquele que carrega a sua literatura e poesia.
Não desanime!
Um beijo de amizade.
Janita
Você é um poeta maravilhoso Carlos. Seus escritos são lindamente tecidos do fundo da alma. Siga com seus projetos porque vale a pena seguir os sonhos. Nunca desista da poesia.
ResponderExcluirÓtima semana!
Abraço grande!
Blog da Smareis
Acredito que a missão do poeta tenha várias nascentes, falar daquilo que deveras sente ou inventar as coisas, camuflar ou desvendar os sentimentos e as emoções que lhe vão na alma, inventar e desinventar as palavras, ter um cabedal de neologismos, criar futuros e apagar passados ou invertidamente, falar sobre um passado sem futuro... Ao poeta tudo é permitido entre o sonhar, se iludir, criar, apagar, construir, pois dentro do poeta um mundo se cria, se recria, se destroça, se reconstrói. E é por isso meu amigo que na mala onde um poeta viaja pelo mundo da imaginação só existem livros... A descobrir, a escrever, com páginas em branco onde a imaginação irá pousar e inventar, pois os maiores inventos do mundo passarão sempre pela imaginação do poeta...
ResponderExcluirCarlos, meu querido, que belo texto tu escreveste! E que bela demonstração de amor e dedicação naquilo que tão bem fazes que é ESCREVER, poetisar, defender a LITERATURA. Um dever sagrado de todo aquele que sabe da importância do seu lugar no mundo, pois como bem disseste “continuo levando minha bagagem aonde for. E daí, se eu chorei? E daí se eu chorar? Chorar faz parte. Poeta que não chora, não é poeta!” Há tanta verdade nisto que afirmaste, meu amigo!
E que belo este final “A poesia é uma bagagem leve, afinal POETA É O QUE SOU!”
Continue, meu querido Poeta, a abrir as asas e a voar pela imensidão dos teus sonhares, dos teus sentires, seguindo sempre na direção que o teu olhar inundado de beleza e de cores te levar...
Fica meu carinho num beijo no teu coração inundado de Poesia.
Leninha
Olá, Menino Beija-flor! Saudades de seus poemas. Passei aqui pra te deixar um abraço e desejar uma boa noite.
ResponderExcluir