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quarta-feira, 29 de junho de 2011

DESTINOS CRUZADOS - FINAL


( imagem google )

Os quatro dias que antecederam a cirurgia ele passou pensativo. Prevaleceu o dever médico, associado à boa índole e aos conselhos de dona Deda. “Vou operá-lo, não vou me revelar, ele que siga sua vida”. No entanto outras indagações surgiram no seu labirinto de sensações . Orgulhava-se de nunca ter perdido um paciente, e se o homem morresse em suas mãos? Dona Deda pensaria que ele o deixou morrer? Fervoroso na fé, orou na véspera. “Cristo. O Senhor que foi o maior salvador de vidas, foi Quem me deu o dom da medicina. Humildemente peço, controle minhas mãos durante a operação, não posso perder aquele homem”. Só não falou de perdão durante a oração, ainda não estava preparado. Perdão tem que ser espontâneo, precisa nascer dentro de você, antes mesmo de ouvir o pedido. Se o perdão não acontece dentro de você, não adianta ficar fazendo permutas. Cinco horas cansativas, mas a cirurgia foi um sucesso. Aliviado com o estado clínico do paciente, simultaneamente uma brisa, mesmo numa sala fechada, passou-lhe pelo rosto e pareceu lhe arrancar algo ruim. Estranha e divinamente não sentiu mais ódio. Isso o deixou duplamente feliz, não o amava, isso ainda era precoce, mas também não odiava. Pelo contrário, nos dias em faltavam para a alta do paciente, mostrou-se empenhado demais, a ponto da enfermeira comentar. “Puxa, doutor. O senhor mal está almoçando, visita esse paciente a cada hora, mesmo fora de risco”. Com um sorriso no canto da boca, respondeu. “Talvez eu tenha me identificado com ele”. O homem ainda não tinha recobrado os sentidos, às vezes ele mesmo o sedava e numa dessas ‘visitas’, olhou-o e murmurou. “Eu o perdoo, pai”. Quando saía do quarto, a voz que nunca ouvira antes, chamou. “Filho, espere”. A voz do pai ecoou dentro de si provocando tremedeira, abalando suas estruturas. Virou-se devagar, caminhou lentamente até a cama. “Como sabe que sou seu filho?”. Ainda grogue de remédios, o velho respondeu. “Sei tudo de você, meu filho. Sei também que devo explicações e um pedido de perdão. Prometi lhe conhecer um dia, mas jamais tentar tirá-lo de Deda, não seria justo. Num dos encontros sua mãe disse à Deda perto de mim. ‘Pressinto algo terrível. Se algo me acontecer cuide de meu filho’. Chorei muito a morte dela. Quando soube que o bebê ficou com Deda fiquei aliviado, pois eu era um irresponsável. Voltei para essa cidade há uns dez anos e por várias vezes escondido na esquina vi você sair e voltar do trabalho. Tive medo de morrer sem pedir seu perdão e agora estou aqui fazendo isso”. Doutor Suarez, interrompeu em lágrimas. “Claro que perdoo, pai. Não quero saber de passado, nem de explicações mais, quero ver no futuro breve, o senhor morando comigo e Deda, temos uma casa enorme”. Abraçaram-se demoradamente. Disse para a enfermeira que entrava. “Cristina. Cuide muito bem desse paciente, ele é meu pai”. E saiu eufórico, falando alto pelos corredores, sob olhares perplexos. “Meu pai está vivo. Encontrei meu pai. Venham ver o meu pai”. Alegria maior teve Deda. “Esse sim é o filho que criei. De bom coração, receptivo, humano. Não sabe como estou aliviada, é como se estivesse recebendo você de volta”. Faltavam poucos dias para a alta, doutor Suarez descansava em casa, quando o celular tocou. “Doutor, venha rápido, seu pai inexplicavelmente entrou em coma”. “Como assim... em coma? Ele estava tão bem. Estou indo”. Em alta velocidade passou sinais vermelhos, quase bateu o carro e entrou às pressas no hospital. No quarto, enfermeiras tentavam de tudo. “Deixe comigo, com licença”, disse. Dezenas de massagens toráxicas, oxigênio, choques, e tudo que eram tentativas de reaver o pai foram repetidas incessantemente, inultimente, mas ele não parava. Até que a enfermeira, pôs a mão em seu ombro. “Não adianta, doutor. Sinto muito, ele morreu”. Aos gritos ,debruçou-se sobre o corpo inerte. “Não... não... pelo amor de Deus. Não me deixe de novo, pai. Vamos morar juntos, a gente combinou”. Sem resposta. As enfermeiras o abraçaram chorando também. No fim do sepultamento, abraçado à mãe Deda, comentou. “O melhor médico não conseguiu salvar o pai”. Dona Deda o corrigiu. “Não diga isso. Tudo isso estava traçado, essas coisas não nos pertencem. Deus permitiu que ele vivesse mais uns dias para lhe dar a oportunidade de perdoá-lo. Saiba que ele mesmo se penitenciou todos esses anos, e morrer com seu perdão foi a absolvição para ele, pois passou a vida preso em culpa. E você por sua vez, não ficou diminuto como médico, mais dia menos dia algum paciente morreria em suas mãos. Ao contrário disso, você cresceu como gente, pois o perdão ao mesmo tempo que liberta quem pede, dignifca quem o concede. Eu me sinto honrada de meu destino ter cruzado com o seu”. Foram para casa abraçados. Um grande filho, uma grande mãe.

23 comentários:

  1. Que história comovente Carlos. Enfim, o perdão é o que liberta, o que move, o que une.
    Adorei, meu querido amigo, que Deus nos ensine a perdoar como ensinou o dr Suarez.
    Beijokas doces.

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  2. Amigos(as). Desculpem-me pela demora. Primeiro, demorei porque fiquei dias pensando no melhor final. Tentei focar num ponto principal que acho que deve haver entre as pessoas: o perdão fácil. E segundo, numa mancada, com texto todo prontom eu o perdi, não salvei e tive que refazê-lo todo. Muito obrigado pela audiência.

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  3. Que lindo e tão emocionante,Carlos!Um arraso! abraços,tudo de bom, chica

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  4. Carlos adorei o final, apesar da morte do pai...ficou mesmo marcada a lição do quanto o perdão é algo maravilhoso em ser exercitado.
    Beijos...
    Valéria

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  5. Que final inesperado Carlos! Um estória cheia de calor humano e emoção. Parabéns.
    Hoje tem, vamos ver se embala.
    Abração

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  6. Lindo e emocionante Carlos!
    ;D
    Boa noite!
    Carla

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  7. Foi triste!!!!Mas gostei!
    Estou esperando por outra...
    Não demore muito.

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  8. Olá, Carlos!É... saber perdoar é uma das maiores virtudes que o ser humano precisa praticar. É dificil, muito difícil.
    Beijos!

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  9. O perdão é o poder daqueles que tem alma,,,que são nobres...abraços de boa quinta feira pra ti meu amigo poeta...

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  10. Bom dia Carlos!!

    O perdão é sempre difícil, mas é o melhor caminho e nos liberta do passado!!Adorei o final!Um texto emocionante!!
    *Gostaria de um dia encontrar meu pai, não sei nem se ele está vivo...
    Nos abandonou quando eu tinha 6 anos...e nunca mais tivemos notícias...quem me criou foi meu padrasto, quem sempre chamei de pai(ainda chamo, mesmo estando separado da minha mãe...)
    Beijos pra ti!!
    parabéns!!
    **Ah!!Está chegando o grande dia né??!!!

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  11. Querido Carlos.
    Depois de ler os dois episódios que me faltavam, deixa-me dizer, cheia de emoção, que aquilo que tu escreveste não foi uma novela. Foi uma bela e edificante história que poderia muito bem passar na vida real. Digo não ser novela porque a ideia que faço, é que novela é uma espécie de entretenimento, muitas vezes sem nada em comum com a realidade.
    Parabéns, meu amigo! Acredito que os desígnios de Deus são insondáveis e que a bondade do perdão só nos pode conduzir à felicidade.
    Adorei a imagem que escolheste para ilustrar este último episódio: Cristo a abençoar e perdoar Maria Madalena, a famosa pecadora!
    Meu amigo, a blogosfera está de parabéns.
    Beijinhos com meu carinho.
    Janita

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  12. Carlos,você contou uma grande e linda história de amor.Emocionei-me muito.bjs

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  13. Estou esperando o final da história, não me deixe ficar roxinha de curiosidade, tá?

    Beijocas

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  14. é sempre tão bom te ler!

    Muito beijos querido amigo!

    Gosto sempre de você lá no meu OLHAR!

    Bia

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  15. Carlos parabéns , o final não foi apenas criativo...O sentimento de ser cristão, compreender , amar e perdoar orientaram este The End, que bem sintetiza o que você é.Com certeza , pai e mãe o seu personagem teve: Dona Deda, grande mulher! Abração , além de poeta escritor dos bons!

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  16. Amei...Assim é que o mundo se torna melhor.E se vc deu este fim ao teu texto é porque no teu coração mora o perdão. Parabens querido, me emocionei.
    Beijos achocolatados

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  17. Belo conto! Um ensinamento de vida. A realização de um perdão!
    Aí entendemos as voltas que a vida dá!

    Parabéns!

    Grande Abraço!

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  18. Carlos,que história mais bonita!!
    O difícil mesmo é perdoar para muitas pessoas né?
    Mas que Deus nos ajudem a cada dia!
    Um beijo enorme!

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  19. Belissima historia meu amigo...abraços de bom final de semana...

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  20. "Passado, presente e futuro brincam de ciranda com a gente e ñ perguntam se a gente quer brincar"

    "O perdão não só liberta quem pede, como também dignifica quem o concede" (Menino passarinho)


    #DestinosCruzados->
    significa....
    Memórias e Perdão.

    Ai ai ai..está aproximando o dia!:)

    Beijos pra vc meu querido.

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  21. Olá menino querido.

    Uma estória bem contada, com uma narrativa que flui e um final que é uma lição de vida... Realmente, o perdão nos liberta!

    Beijinhos e tenha um lindo fim de semana.

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  22. Oi amigo! Vim ver o final da história. Gostei!
    Um momento emocionante, é quando - “Eu o perdôo, pai”. Quando saía do quarto, a voz que nunca ouvira antes, chamou. “Filho, espere”.

    Bem, é triste para o filho não poder salvar a vida do pai, porém, coisas do destino, o mais importante é que ambos tiveram oportunidade de pedir perdão. E o abraço.

    Parabéns amigo! Uma boa história...continue escrevendo novelas, ou contos...

    Tenha um lindo final de semana* Tudo de Bom***

    Abraços,
    Lu

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  23. Não poderia ter tido um final melhor, meu amigo, emocionante!

    Parabéns!

    E que outras belas histórias venham!

    Abraços renovados!

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