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quinta-feira, 4 de junho de 2009

QUANDO DRUMMOND MORREU




Quando Drummond morreu em 1987, recebi muitas ligações de amigos, se solidarizando comigo, como se fosse um parente meu que havia morrido. Sabiam do quanto eu gostava e gosto dele. A literatura brasileira é muito rica e nem dá para ficar escolhendo o melhor, e seria até injusto, de tantos grandes nomes que temos. Além de tudo, em poesia não existe o melhor. Existem todos e pronto.Mas Drummond é diferente. Diferente em tudo, a ponto de recusar propostas de ingressar na Academia Brasileira de Letras, onde a briga é feia por uma cadeira. Eu diria que até se “acotovelam” por uma cadeira da imortalidade. Mas ele estava acima disso tudo. A imortalidade está na obra. Gosto tanto dele e não sei falar dele. Sei que nele me fascinava, além dos poemas, contos e crônicas, seu jeito recluso, restrito e até tímido de ser. Sabia ser ao mesmo tempo profundo e singelo. Eu amava sua simplicidade de falar até das coisas mais duras, como por exemplo: “Hoje Itabira, é só um retrato na parede. Mas como dói”, vendo o grande buraco em que a cidade estava se transformando.Isso foi em protesto contra uma mineradora que até hoje explora a cidade. A mineradora se não me engano é uma das mais ricas do mundo, já a cidade, não cresceu muito economicamente. Mas ganhou em fama, em notoriedade por causa do cidadão mais ilustre. Não quero falar muito disso. Quero falar de poesia e não de minério.
Quando Drummond morreu, escrevi AQUI JAZ UMA FLOR. Claro que a poesia falava de mim, mas fiz uma pequena homenagem a ele numa das estrofes dizendo: ‘e esse mundo já tão vazio de amor, esvazia-se mais agora, porque morreu uma flor’. Há alguns meses li certa frase: “cada poeta que morre é como uma flor que morre deixando mais triste o grande jardim do mundo”. Não sei de quem é, mas achei incrível a coincidência, além de linda frase. Eu ia participar de um concurso nacional e quis colocar no final da poesia uma nota dizendo: HOMENAGEM A CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE. Mas alguém me intimidou. “A família pode não gostar e te processar. Sabe como é gente famosa”.
Não entendi por que me processar se eu estava homenageando e não difamando, mas inexperiente que era, tirei e coloquei outra nota no final. Talvez se tivesse colocado a nota que pretendia colocar se referindo a ele, eu teria uma colocação melhor no concurso, pela sua morte em evidência, principalmente nos meios literários
De qualquer forma me rendeu meu primeiro grande prêmio de poesia. Ficar no número 96 entre 15.600 trabalhos inscritos, foi para mim sim, um grande prêmio. A editora na época, pertencia a ninguém menos que Paulo Coelho, ex parceiro de Raul Seixas, hoje um best seller.
Houve gente amiga que se preocupou comigo por causa do teor das palavras, pelo grande grau de solidão que a poesia refletia. Alguém disse: “Parece alguém se despedindo da vida, entregue, meio suicida”. “Aí que está”, respondi. “Você não sabe como ressurgi nessa poesia, nessa premiação. O poeta faz da dor o seu triunfo. A dor é passageira, a vontade não. Quando se está no fundo do poço, você tem duas opções: permanecer no fundo ou escalar as paredes. Eu prefiro a segunda opção, ainda que seja para sangrar os dedos”.
Eu preferi ficar com o comentário de um professor de literatura a quem dei um livro, que nem sabia de minha grande admiração por Drummond e disse: “Você conseguiu dar um toque drumondiano a essa poesia”. Fiquei duplamente feliz. Muito motivador numa fase de transição.
Ainda bem que os homens passam, mas as obras ficam... como ficou a de Carlos Drummond de Andrade, norteando a mim... um passarinho aprendiz.

AQUI JAZ UMA FLOR

Aqui jaz uma flor.
Beira de vida, beira de estrada.
Ela foi esquecida, ela foi ignorada
e esse mundo já tão vazio de amor
esvazia-se mais agora porque morreu uma flor
Quem nessa vida somente exalou o melhor dos perfumes
vive hoje de queixumes;
eram fortes as ervas daninhas.
Até quando vão as flores viver sozinhas?
Na beira da estrada?
Na beira da vida?
Aqui jaz uma flor... uma flor esquecida.
Sobre ela se fez sol, se fez chuva, se fez sombra
mas, não se fez atenção.
Que bobagem,
pensam que as flores não têm coração.
Como não, se elas emanam o amor?
Chegará a primavera desfalcada de uma flor.
Quem não foi regada
quem não foi cultivada
quem foi esquecida,
morre na beira da estrada...
morre na beira da vida.

Nota: Inspirada na solidão que me assusta

14 comentários:

  1. Falei tudo não Carlos...
    Aqui você completa muito o que afirmo...
    Amo Drummond...
    Sua alma vive e seus sentimentos valorosos nos acalentam quando até a ele vamos em sua literatura...
    BJKS...
    Cheys
    ;)

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  2. Oi Carlos!
    Vc já esteve em Itabira?
    Quase todos os pontos turísticos fazem referência ao poeta que tb gosto muito.
    Se já conhece a cidade volte outra fez. Eu e minha família teremos muito prazer em te receber.
    Bjs.

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  3. CARLOs
    MaS O QUISSONDE É UMA DAS MINHAS RECORDAÇÕES E DA MINHA SAUDADE.
    áFRICA É MESMO ASSIM ENSINA-NOS A GOSTAR DO BONITO E DO FEIO E A TIrAR LIÇÕES dE vida...


    tU SABES QUE SIM...


    uM BEIJO



    Canto da lua

    O teu canto da Lua
    Que é feiticeira
    Que se deixa observar...
    Que se deixa beijar...

    Apenas com um beijo...
    Soprado...
    Mas a tua Magia está...
    No teu tocar...

    Nunca a deixará...
    Porque tu...
    Lua encantada...
    Serás sempre...Intocável!...



    Lili Laranjo

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  4. Excelente postagem e lindíssimo seu amor pelo Mestre Drumond!!!!!!!!!!Parabéns pelo blog.Um poema pra você com carinho!

    Amor é bicho instruído
    Amor é bicho instruído
    Olha: o amor pulou o muro
    o amor subiu na árvore
    em tempo de se estrepar.
    Pronto, o amor se estrepou.
    Daqui estou vendo o sangue
    que escorre do corpo andrógino.
    Essa ferida, meu bem
    às vezes não sara nunca
    às vezes sara amanhã.

    Carlos Drummond de Andrade

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  5. Lamento ficar tanto tempo sem vir te ler.
    Faz bem pra alma vir aqui.
    Um beijo e bom final de semana.

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  6. Que coisa maravilhosa sua maneira de se expressar! Estou sem net há 4 meses e ainda ficarei mais um pouco. As vz uso o pc de al
    guém pra estar aqui um pouquinho.
    Amei seus comentários. Obrigada pela visita e parabéns pelo gde poeta que é. Bjs migo!!

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  7. Maravilhoso poema amigo quantas são as flores que morrem, algumas mal tinham desabochado para a vida, outras ficam tão pisadas que jamais se conseguiram um dia erguer.
    E assim vivem as flores deste planeta tão carente do seu perfume.
    Beijo em sua alma

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  8. CARLOS
    Eu sei ...
    agora deixo...


    PALAVRAS SOLTAS


    Palavras soltas,
    Palavras perdidas.
    Palavras partidas.
    Palavras caladas…

    Palavras, muitas palavras.
    Mas o saber que são importantes…
    Pois mesmo soltas…são nossas,
    E todas juntas formam um todo…

    Palavras enroladas…
    Palavras perdidas…
    Metidas com carinho…
    No mesmo baú…

    E aí com as mãos…
    Envolve-as e acolhe-as…
    E de palavras soltas…
    Fazemos um mundo de sonho!...

    Lili Laranjo

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  9. Caro escritor, tanto o texto quanto a poesia são bonitos e intensos expressando ricos sentimentos do seu eu-lírico. E quem não aprecia Drummond ? Ele se tornou imortal mesmo sem ter desejado isso... Um abraço e obrigada pelo carinho de sua visita.

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  10. Sua sensibilidade me emocionou...

    Linda poesia para um grande poeta...!

    Beijo

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  11. "Conte a sua história ao vento,
    Cante aos mares para os muitos marujos;
    cujos olhos são faróis sujos e sem brilho.
    Escreva no asfalto com sangue,
    Grite bem alto a sua história antes que ela seja varrida na manhã seguinte pelos garis.
    Abra seu peito em direção dos canhões,
    Suba nos tanques de Pequim,
    Derrube os muros de Berlim,
    Destrua as catedrais de Paris.
    Defenda a sua palavra,
    A vida não vale nada se você não
    viver uma boa história pra contar."
    (Pedro Bial)

    Na impossibilidade de entrar em detalhes, como eu gostaria imensamente como todos amigos que tenho, venho trazer um pouco de poesia e desejar que seu domingo, sua nova semana seja de mil cores, que tenhas muitas alegrias!

    Um abraço

    Sônia

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  12. Sorri quando a dor te torturar
    E a saudade atormentar
    Os teus dias tristonhos vazios

    Sorri quando tudo terminar
    Quando nada mais restar
    Do teu sonho encantador

    Sorri quando o sol perder a luz
    E sentires uma cruz
    Nos teus ombros cansados doridos

    Sorri vai mentindo a sua dor
    E ao notar que tu sorris
    Todo mundo irá supor
    Que és feliz


    (Charles Chaplin)

    Desejo um lindo domingo com muito amor e carinho.
    Abraços Eduardo Poisl

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  13. Carlos,

    Fico tão feliz, sabendo que o amor entre você e Anita fortalece a cada dia. Anita é aquele tipo de pessoa que dá pra sentir só de olhar, a alma boa que habita dentro dela. Parabéns por escolher a melhor pra você!

    Muito obrigada pelo carinho na data de hoje. Receber os amigos no dia do nosso aniversário é uma alegria.

    Estava vendo que você trabalha com aviões... aff, não tem jeito, tenho verdadeiro pânico... mas fazer o quê? A ponte aérea agora faz parte dos meus dias.

    Um grande abraço, adoro vocês dois.

    Rebeca

    -

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