Sempre tive uma teoria de que o poeta não faz poesias, que
elas estão prontas em algum lugar, em outra dimensão, em outro mundo abstrato,
porém muito real, esperando que alguém lhes sirva de ponte para o mundo
terreno, e o poeta tem essas antenas, antenas de sensibilidade. Por que digo
isso? Porque releio algum poema, às vezes anos depois de escrito, e encantado,
me pergunto: “Fui eu mesmo quem escreveu isso?”. Tirando os textos opinativos,
ou com temas específicos, um ou outro conto, alguma crônica, eu não escrevo de
‘caso pensado’, os poemas e textos saem como são, e pronto. Sabe o que é
acordar de manhã com um texto de 40 linhas na cabeça? Parece que alguém (Anjo)
veio de noite quando eu dormia, e colocou dentro do meu Ser. Assim eu penso que
ocorre com os grandes pintores quando estão de frente para a tela vazia, e
surge uma obra maravilhosa, com certeza, vinda também de alguma fonte divina. Sim,
um quadro pintado tem poesia. Assim como a música, a dança. Toda a arte, na
melhor acepção da palavra, tem. No momento, no ato de escrever, é como se eu
estivesse debaixo de uma cachoeira, sendo banhado, recebendo tudo, e a água se espalhando
à minha volta, correndo para o rio, e do rio para o mar, e eu me sentindo
importante por isso porque a água tem que passar por mim, antes de banhar o
mundo. Já escrevi textos que quando terminei, percebi que estava chorando,
aquele chorinho bom. Enfim, não há muita explicação para isso, apenas viver
isso é o que me cabe, e me basta. A poesia é meu melhor instante, é o que tenho
de melhor em mim, é minha aura, ela moldou e molda até hoje a minha pessoa.
Claro que já ouvi: “Mas, Carlos, existem os sentimentos ruins também, o mundo
não é só poesia”. Eu respondo com a serenidade que a própria poesia me dá: “Infelizmente
não. Mas cada um visita a fonte que lhe interessa, não é?”.