( imagem vidaonlime.com.br )
Ele gostava muito de praia, sobretudo para andar pela
areia, bem próximo da água, para sentir o mar lhe beijando os pés, não em
reverência, o mar não faz reverência a ninguém a não ser ao Criador, mas pela
troca de energia que sentia no contato com o resquício das ondas. Na volta
parou em uma das barracas, tomou duas ou três cervejas, e quando passava
próximo à uma outra barraca, na hora de ir embora, percebeu que a atendente
deixou cair da bandeja o porta-guardanapos. Gentilmente abaixou e apanhou para
ela, que agradeceu: “Oh, muito obrigada! Que lindo!”. Ele disse
brincando: “O que é lindo?... a atitude ou eu?”. Ela sorriu: “As duas coisas.
Pessoas lindas, só fazem atitudes lindas”. Ele a fitou: “ E pessoas lindas
atraem pessoas lindas”. “Você é muito gentil”, disse ela, e completou:
“Já vai embora?”. Ele respondeu: “Preciso ir. mas eu volto
amanhã”. Ela entendeu: “Eu também estou um pouco apertada. A barraca está
cheia. Amanhã quero você na minha barraca. Tiau, pessoa linda!”. “Tiau, pessoa
linda”, ele respondeu. No dia seguinte, ela ainda não o tinha visto,
observando-a trabalhar, indo pra lá e pra cá, quando olhou de repente: “Não
acredito, você veio mesmo. Por que não me procurou? Ficou aí no cantinho”. Ele
disse: “Não quis atrapalhar. Estava vigiando se o porta-guardanapos ia
cair, pra eu pegar pra você. Torci tanto pra ele cair”. Ela respondeu: “Não
precisava ele cair, era só me chamar.”. Ele explicou: “Ora, sei lá se
você é casada, ou tem namorado, não quis me atrever. Fiquei daqui namorando o
mar, nunca resisto”. “Não... eu sou livre. Aquele atrás do balcão é meu irmão,
somos sócios aqui”. E olhou também para o mar: “Eu estou aqui há anos e também,
não me canso de ver o mar. Você me parece romântico, que lindo isso, nessa
época de hoje. Quem é você, que é meio galanteador e meio tímido ao mesmo
tempo? Em pleno 2014?
Ele não respondeu, apenas pediu uma cerveja, ela pediu
licença, disse que logo que folgasse um pouco voltaria à mesa. Dito e feito.
“Ufaaa... barraca cheia... Graças a Deus. Agora posso me sentar um pouco”.
Trocaram informações, sorrisos , elogios, vez ou outra, ela saía da mesa e
voltava, sempre que possível, até que lá pelas 15h, ele teve que ir. “Desculpe,
apesar de estar de folga, preciso checar uns emails de trabalho antes das
17h”. Ela disse: “Tudo bem. Como vê, ainda está cheio aqui. Vai ficar na
cidade até que dia?”. Ele: “Até quando Deus quiser. Eu moro aqui”. Ela
sentou-se de novo: “Não acredito. E por onde andava que nunca te vi?”. “Venho
pouco à praia, quase sempre trabalhando, saio mais à noite”. “Pode deixar, eu
te encontro à noite, não há nada que eu não conheça por aqui”. E perguntou: “Gosta de carnaval?”. Ele: “Já
gostei mais, mas acho bonito, ver as pessoas brincando, dançando, principalmente
as marchinhas antigas”, e cantaralou: “A Estrela Dalva no céu desponta, e a lua
anda tonta, com tamanho esplendor”... “Arlequim está chorando pelo amor da
Colombina, no meio da multidão”. Ela riu encantada: “Que maravilha... não
imaginei conhecer um cara tão... tão... legal, engraçado, gentil e que ainda
canta. Vamos dançar essas marchinhas hoje à noite? Carnaval começa hoje, tem um
clube legal aqui que só passa essas marchinhas antigas”. Ele pensou: “Ai,ai,
depois de tantos anos, lá vou eu brincar carnaval. Claro, por causa da companhia”.
Combinado!”. Ela: “Yessss... te vejo na praça central”. No meio
da pequena multidão que já se fazia, ele viu a beleza morena... num apertadinho short
branco delineando quadris e coxas, uma blusinha regata folgadinha, tiara na
testa prendendo os cabelos negros que desciam até os ombros. Nos dois lados do
rosto, pontinhos brilhantes de confetes de carnaval, na boca um batom vermelho
convidativo, e na testa uma simpática estrelinha amarela. Ele se aproximou: “Acho
que estou vendo uma estrelinha”. Ela disse: “A estrelinha é pra você não me
perder na multidão”. Ele correspondeu: “Perder? Perder como se não vou desgrudar?”.
Enfim, o baile começou, tomaram algumas doses, tudo muito animado, e quando ele
cantava “Vou beijar-te agora não me leve
a mal, hoje é carnaval”, ela pediu: “Beija logo”.. e se beijaram no meio do
salão. Depois de muito brincar, de cantar, de rir, de beijar muito, quase pela
manhã foram para a casa dele, e foi assim nos quatro dias... na avenida, nos
clubes, muita folia de carnaval... e naquela cama, muita folia de amor. Com ressaca de saudades.