Quem tem acompanhado, sabe que a Fadinha e o Bruxinho se mudaram para o Reino da Poesia, e têm um
lindo casal de gêmeos. Tudo uma maravilha, mas pensam que nunca brigaram? Brigaram
sim. O Bruxinho chegou de uma longa e estressante viagem, uma missão muito
difícil, viu a Fadinha sentada à mesa central da sala, bem compenetrada lendo
um livro. Beijou-a no rosto, e perguntou: “Como vai minha Fadinha?”. Ela mal respondeu: “Ah,
sim. Vou bem”, e voltou a ler. Ele perguntou ainda: “Não quer conversar?”. Sem olhar
para ele, ela respondeu: “Agora não, por favor. Estou lendo”. O Bruxinho se
sentiu ofendido, menosprezado, e foi se
deitar. Alta madrugada percebeu que a
Fadinha não estava na cama, foi até a sala, e viu-a dormindo debruçada sobre o
livro na mesa. Cuidadosamente pegou-a no colo, levou-a para a cama, e curioso, quis saber que
livro interessante seria aquele que prendera tanto a atenção dela. Voltou à
mesa e viu que era um livro de um Mago famoso de um reino distante. Folheou e
leu algumas páginas, pela primeira vez sentiu ciúmes, sua Fadinha se encantou
pelo livro e magia de outro. Depois de uma noite mal dormida, ele passou o dia
dando-lhe respostas curtas, mal humoradas, monossilábicas, até que ela
estranhou seu comportamento arredio, e perguntou aborrecida: “Posso saber por que está me tratando tão mal,
Bruxinho?”. Ele ironizou: “Você acha que estou lhe tratando mal? Engraçado, foi
assim que você me tratou ontem à noite. E eu posso saber por que me tratou mal
ontem à noite?”. Ela disse: “Não tratei você mal, apenas estava lendo um livro”.
“Ah sim”, disse ele, “livro de um tal Mago sei lá de onde. Cheguei cansado, de
uma missão arriscada, você nem ao menos perguntou como foi a batalha, sequer
respondeu meu beijo, acabou dormindo em cima desse.. desse.. dessa porcaria de livro”. Ela ficou brava: “Não é porcaria não!
É um grande Mago, muito respeitado”. Ele ficou bravo também: “Ah, vai defender
agora? Minha Fadinha está babando por um Mago que nunca viu. Só
falta ir atrás dele”. Ela ficou ainda mais brava: “Agora você está me ofendendo..
seu... seu... seu sapinho. Você está mais pra sapinho do que pra Bruxinho”. Ele saiu batendo a porta, ela gritou: “Volte
aqui, seu sapinho! Precisamos discutir nossa relação. Se não voltar, não dorme
na cama hoje”. Ele gritou lá de fora: “Discutir relação pra quê? Pra confirmar que você tem sempre razão? Oh
que bom, vou dormir no sofá!”. Dito e feito, quando ele voltou, seu lençol e travesseiro estavam no
sofá, e foi lá que ele dormiu. Lá pelas
tantas, sentiu a mão suave da Fadinha em seu rosto, chamando: “Bruxinho...
acorde, meu bem”. Acordou, se refez sentado no sofá, ela fitou-o por instantes,
sorriu, e alisou seu rosto de novo: “Será
que meu Bruxinho está com ciúmes de mim?”. Ele respondeu: “Não é bem ciúmes,
apenas me senti de lado, rejeitado, preterido. Peço desculpas, fui rude com você”. E ela: “Realmente, desconheci você, sempre foi
tão doce para mim. Mas eu também reconheço onde errei, devia ter lhe recebido
como sempre faço, com beijinhos e abraços, porém o livro é apenas um livro,
você sempre estará em primeiro lugar no meu coração. Não tenho mínima intenção
de conhecer o Mago, alguém me sugeriu que o livro era bom, e eu tomei emprestado. Apenas quero que
entenda que o mundo não somos só nós dois, eu preciso conhecer pessoas, você
também precisa. Achei lindo você ter ciúmes, mas desnecessário . Meu Mago é
você... aliás, meu Bruxinho”. Ele
sorriu: “Mas você me chamou de sapinho”. Ela riu ainda mais: “Meu bem, me
desculpe, lhe chamei assim, porque foi assim que você ficou, parecendo um sapo,
aborrecido, emburrado, bochechas estufadas”. E continuou: “Agora confesse. Teve
ciúmes de mim”. Ele negou: “Tive não”. “Teve sim”. “Tive não”. “Teve sim”. Até que ele concordou: “Tive sim.
Mas não ciúmes de desconfiança de você, mas porque você me acostumou de um jeito tão bonito, tão minha
que eu senti falta, não aceitei ter
alguém ou alguma coisa acima de mim. Fui egoísta, não vai acontecer mais”. Ela
tapou a boca dele com a mão: “Não foi só culpa sua, eu fui fria, desligada,
também não vai acontecer mais. Agora vem... tem uma cama quentinha nos
esperando, esse frio está terrível, e eu não quero dormir sozinha”. Ele não disse nada, apenas carregou-a no colo
até o leito de amor.