ESCREVER É DIVINO!

ESCREVER É DIVINO!
BONS TEMPOS EM QUE A GENTE PODIA VOAR. ERA MUITO BOM SER PASSARINHO.

CAMINHOS DE UM POETA

CAMINHOS DE UM POETA
Como é bom, rejuvenescedor e incentivador para o poeta, poder olhar para trás e ver toda a sua caminhada literária, lembrar das dificuldades, dos incentivos e da falta deles, da solidão de ser poeta e do diferencial que é ser poeta. Olhar para trás e ver tudo que semeou, ver uma estrada florida de poesias, e dizer: VALEU A PENA! O poeta vai vivendo, ponteando, oscilando, e nem se dá conta da bela estrada que escreveu. Talvez ele não tenha tempo porque o horizonte o chama, e o seu norte é... escrever... escrever... escrever. Olho hoje para trás... não foi fácil, mas também ninguém disse que seria. E eu sabia que não seria, ser poeta não é fácil, embora seja lindo. Contemplo a estrada que eu fiz, e digo com orgulho quase narcisista: Puxa... como é linda minha estrada!

sexta-feira, 29 de maio de 2009

HOUVE UM TEMPO


( imagem dreamstime.com )
Houve um tempo de pardais
De borboletas nos quintais
De beija-flores voando sem medo nos jardins
namorando sem segredo a rosas e jasmins.
Um tempo sem o contratempo do despertador
para despertar a dor...
de não ser o se quer ser, de não ver o que se sonha
de abrir os olhos e não cair em escuridão medonha
sem medo de acordar, de dormir, de sorrir.
Um tempo sem fumaça nos olhos,
mais música que buzinas.
Sem meninas nas esquinas não brincando de bonecas,
mas brincando de serem bonecas nas mãos de quem deveria cuidar.
Infância roubada, mulher adiantada, sem futuro a vislumbrar.
Pra quê me assustar?
É tudo tão normal, nessa avenida boçal
Houve um tempo...
Em que não se confundiam
polícia, bandido e milícia.
Um tempo onde o passatempo
era passar um tempo na praça.
Cadê a praça?
Tempo de andar chutando lata na rua,
violão sob a lua
um tempo quando o tempo era de graça.
Precisamos tentar fazer voltar esse tempo...
enquanto ainda há tempo.

Nota: Tentei falar de alguns problemas sociais de nosso país e por que não, do mundo inteiro. Mas o tema principal foi ver meninas de 10 e 12 anos, toda semana na tv, vendendo o corpo por 01 real para comprar droga... e ninguém faz absolutamente nada. O mais revoltante, se não fosse trágico, seria engraçado, é que as reportagens de todas as emissoras vão lá, filmam, passam nos telejornais, ou seja, é uma coisa que todo mundo sabe e as autoridades não tomam providência. Claro que as providências são mais complexas, passam por uma grave crise social de muitos anos, de educação, de cultura, mas antes de tudo, é preciso de leis mais duras quanto a isso. Não basta ir lá e apreender as meninas, que são as vítimas disso aí. Muito mais revoltante é ver nas reportagens que em algumas cidades tem até políticos e outras autoridades metidas nisso. Gente que deveria estar cuidando dessas meninas. Carrões importados param nas esquinas e as meninas entram. O Brasil, esse país lindo, é muito mais atraente lá fora pelo turismo sexual, do que propriamente dito por suas belezas naturais. Que isso, meu Deus? .

segunda-feira, 25 de maio de 2009

EU E AS PEDRAS




Queria ser como as pedras.
Sem passado, sem presente e sem meta... mas nasci poeta.
Queria não sentir tudo tanto assim na maior dimensão
no patamar mais alto da emoção.
Queria não ser tão explícito,
ter uma vida mais discreta... mas nasci poeta.
Queria não chorar, nem rir... nem sentir.
Queria ficar inerte como as pedras
que recebem as águas e a brisa no rosto,
mas não sentem o gosto.
Queria não saber a diferença entre o mel e o fel.
Não me importar com a dor, nem felicidade.
Queria não ter saudade.
Queria enxergar ao invés desse horizonte azul
uma parede concreta... mas nasci poeta.
Queria não variar tanto de humor, de amor, de pavor.
Como gostaria de ter uma vida mais reta... mas nasci poeta.
Olhar a lua como um simples astro suspenso
e não cismar de fazer poema,
como se a rima resolvesse o problema
Deixar o beija-flor voar sem querer rimar.
Não que ser poeta seja ruim,
amo ser assim.
É que às vezes sou vulnerável
cultivando o improvável
e dói ver chamado de utopia
o que chamo de estilo de vida
porque tudo em mim é poesia.
Talvez seja minha única meta
Porque não nasci pedra... nasci poeta .

terça-feira, 19 de maio de 2009

COMO SE FAZ UM PAÍS?



Dona Jandira, era alta, não gorda, mas forte. Quase negra, dizia que era descendente de escravos e se orgulhava disso. Tinha cabelo pretinho, liso e curto. Todos os dias ela punha uma frase bonita no alto do quadro. Suas preferidas eram. "Educai a criança e não precisarás punir o homem". E a outra, de Monteiro Lobato. "Um país se faz com homens e livros".
Escola Estadual Costa Lacerda. Onde passei quase todo meu primário e onde escrevi meu primeiro texto poético. Eu nem sabia o que era isso, mas fiz. A professora iniciou um conto e mandou que os alunos o terminassem, cada um conforme sua imaginação. Eu completei usando minha mãe como tema. Quem quiser conferir leia em "Pérolas de minha infância- Iniciação poética", postado no blog em 17/julho/2008, mas a história não acabou aí, porém se fosse contar tudo, ficaria demasiadamente grande. O melhor da sala, ia concorrer com toda a escola e o prêmio era uma caneta de prata, cravejada de pedrinhas brilhantes. Sei lá se eram brilhantes de verdade, mas era linda sim, reluzente, de uma prata muito bem trabalhada. Eu ganhei. Fiquei tão metido que não deixei quase ninguém pegar. Nem mesmo a usei, guardei em casa dentro da caixinha.
Havia um menino bonito, loiro, riquinho, chamado Serginho, esse sim, era o nota dez da sala, que não gostava de mim de jeito nenhum e eu não sabia o porquê. Mas nessa ele perdeu e talvez isso tenha acirrado mais essa implicância comigo. O pior que eu e Francisco, tínhamos uma brincadeira de trocar os cadernos de todos no recreio. Um dia nós não fizemos isso, mas o tal Serginho deu falta de sua caneta de seis cores que gostava de exibir. Pronto. A caneta apareceu justo debaixo de minha carteira. Maior confusão, me chamou de ladrão, eu quis bater nele, até que Dona Jandira interveio. Só não fiquei de castigo até as treze horas, porque a professora garantiu à diretora, mulher carrancuda, mal humorada, que eu não havia pego nada, que era só um mal entendido. Mas acho que a diretora só queria dar uma satisfação à mãe do menino, que reclamava muito e exigia punição. Afinal, eram amigas. Isso foi em setembro, me lembro que era primavera, pois saíamos à ruas pedindo donativos para a festa da rainha.
Chegando o fim do ano, ia ter o amigo oculto e me arrependi de ter entrado. Meu pai havia morrido há poucos meses, a pensão custara a sair e as coisas apertaram em casa. Não tive coragem de pedir dinheiro à minha mãe. Foram passando os dias e eu ficando apertado, principalmente porque havia tirado para amigo oculto, justamente... Serginho. Tive uma idéia que em princípio me doeu um pouco, mas era a solução. Resolvi dar minha caneta. Fui nas gavetas de minhas irmãs que sempre guardavam papéis de presente e fiz um belo embrulho.
No dia, quando chegou minha vez, falei no centro da sala. "Meu amigo oculto, na verdade não é muito meu amigo...". Ia dizer mais coisas, de reconciliação, mas a turma não deixou, foram logo abafando, adivinhando. "Já sei, já sei. É o Serginho". Pronto, entreguei, ele nem me olhou.
Pouco depois em meio aos comes e bebes, Dona Jandira cortando o bolo em sua mesa me chamou, mandou que eu sentasse na cadeira e perguntou. "Quer um pedaço de bolo?". Disse logo que sim, eu adorava bolo. Ela cortou um pedação, me deu, ajoelhando à minha frente. Meus pés mal tocavam o chão. Lembro direitinho. Apoiou as duas mãos em minhas pernas, me olhou fixo por muitos segundos e perguntou já sabendo a resposta. "Por que você deu sua caneta?". Com a boca cheia, terminei de engolir um pedaço e respondi com naturalidade de criança. "Porque eu não tinha nada para dar". Ela pôs a mão no coração. "Ai, meu Deus, não me diga uma coisa dessa, menino. Não devia ter feito isso. A caneta era seu prêmio. Devia ter me falado, eu dava o dinheiro para você comprar o presente". Inocente, respondi de novo. "Ah, 'fessora. A caneta não importa. Importante é que eu tirei primeiro lugar, ganhei os pontos, isso ninguém tira de mim". Ela balançou a cabeça negativamente. "Importa sim. Claro que importa. Vou falar com o Serginho para devolver e eu dou a ele um presente". Arregalei os olhos e disse. "Não, 'fessora. Se a senhora fizer isso, aí mesmo que vou morrer de vergonha". Ela abaixou a cabeça por um tempo, me olhou de novo, apertou minha bochecha e concordou. "Melhor não mesmo. Deixe como está. Devia ter falado pra tia, meu filho. De qualquer forma foi uma bela atitude a sua. Demonstrou compromisso. Agora vá brincar, mas antes dá um beijo na tia." Disse pra ela levando a mão à boca. "Mas a senhora vai ficar com rosto sujo de bolo". Ela segurou minha mão. "Limpa não. Quero sujo de bolo mesmo, porque quero um beijinho bem doce". Beijei-a e quando saía, ainda a ouvi dizer. "Esses meninos me matam do coração".
Daí a três dias seria a entrega dos boletins e a despedida do ano.
As professoras gostavam de no final do boletim, escrever uma observação, uma mensagem ao aluno. No meu ela escreveu assim:
"Carlinhos. Nunca se esqueça de sua tia Jandira que amou muito a todos vocês, mas entre todos, você foi o mais doce. Que Deus ilumine sempre seu caminho para continuar sendo esse garoto de belas atitudes. É de cedo que se conhece os grandes homens. Parabéns". Eu não sabia direito o que queria dizer, mas se veio acompanhado de "parabéns", era coisa boa. Os coleguinhas gostavam de ver os boletins dos outros para saberem as notas. Eu vi de uns cinco ou seis, não exatamente pela nota, mas pelo que estava escrito. Ela escreveu igual em todos, menos no meu. No caminho de volta para casa, li para minha mãe e perguntei. “É coisa boa, né mãe?". "Claro, com certeza meu filho. Mamãe fica muito feliz", respondeu. Já bem longe, olhei para trás e tive a última visão da escola. Me deu uma vontade de voltar lá e perguntar ao Serginho por que ele não gostava de mim. Mas minha mãe estava com pressa. Quem sabe um dia. A vida sempre me deu uma segunda chance. Ou terá sido eu que sempre dei à vida uma segunda chance?
Há alguns anos voltei lá. A escola não existe mais, hoje funciona um clube de lazer. Como desculpa de ser um possível futuro sócio, pedi para entrar e " conhecer". Onde era minha sala, virou escritório. Onde era o grande pátio, tem várias quadras. Fui até o centro, fechei os olhos e pude ver... o sorriso farto e generoso de Dona Jandira, me olhando o tempo todo, com o rosto sujo de bolo, até o fim da festa. Agora entendo por que ela não limpou o rosto. Acho que queria que aquela imagem ficasse na minha retina. Ouvi também a gritaria dos meninos no recreio. Ecos de uma infância gostosa, quase sempre árdua, mas também divertida... porque eu fiz acontecer. Não sei por quê fecham escolas. Nenhuma pretensão de achar que sou um grande homem, mas sempre me pautei nos bons exemplos, e Dona Jandira, com certeza foi um deles. Vou emendar com todo respeito, a frase do grande mestre. "Um país se faz com homens e livros"... e professoras.

segunda-feira, 11 de maio de 2009

NAS TRILHAS DO SOL


( imagem thumbs.dreamstime.com)
Fátima foi minha primeira grande amiga já na fase adulta. Um dia falei para ela. “Fafá, além de minha irmãs, você é única mulher que não olho com olhos de desejo. Eu desejo todas, mas você é quase uma irmã pra mim”. Ela parou de tomar café e respondeu. “Que lindo isso que você me disse, Carlos”. Quando comecei a trabalhar no aeroporto, eu era maleiro. Carregava e descarregava os aviões e despachava cargas também datilografando. Fátima já tinha uma função melhor, função essa que aprendi depois. Mas eu era uma espécie de faz tudo também, ajudava não só a ela, mas a outros funcionários. Não deixava passageiro idoso pegar malas pesadas. Perguntava a todos se queriam que chamasse táxi quando faltava. Os taxistas me ofereciam gorjetas para que eu lhes desse preferência, mas jamais peguei, embora precisasse muito, afinal ganhava salário mínimo numa cidade industrial e cara. Só tinha dezoito anos e era arrimo de uma família numerosa. Dizia. “Não faço isso por dinheiro, faço por prazer porque sou amigo de vocês e também pelo passageiro.É meu trabalho”.
Eram cinco vôos diários e o das dezessete horas era sempre o mais cheio, por ser o último. Era sempre uma correria. Me lembro que podia torcer a camisa de tão suado. Numa dessas tardes, eu carregando duas malas de uns trinta quilos cada uma, vi um cenário lindo. O acesso ao pátio onde os aviões estacionavam, dava exatamente para o por-do-sol. E que por-do-sol! Mesmo em meio à correria, coloquei as malas no chão e fiquei estático parado na porta, contemplando. Fiquei olhando aquele vermelhão, espalhado, enxovalhado, em raios multicores, se misturando ao cinza da noite que pedia licença ao dia para entrar. Coroando tudo isso, um lindo, imenso e perfeito arco-íris. Era verão e tinha caído uma gostosa chuvinha. Achei boa, afinal refrescou meu suor. Sempre gostei muito da chuva. Quantas vezes joguei bola na chuva . Já andei e corri na chuva. Já beijei na chuva. Vivia cantando. “... eu perdi o meu medo, meu medo da chuva,pois a chuva voltando pra terra traz coisas do ar. Aprendi o segredo, o segredo vida,vendo as pedras que choram sozinhas no mesmo lugar”.
Fátima veio até a mim para colar uma etiqueta na bagagem e estranhou me vendo parado. Disse a ela. “Veja que quadro lindo, Fátima! Foi Deus quem pintou”. Ela, ocupadíssima, não pôde me dar muita atenção, o vôo estava meio atrasado e os passageiros estavam impacientes no balcão, mas ainda assim, deu um sorrisinho de ternura.
Quando acabou o sufoco, fiquei sentado no banquinho perto da porta. Ela terminou tudo lá e veio. “Ainda olhando o por-do-sol, Carlos?”. A aquarela já estava se desfazendo. A noite praticamente já havia engolido o dia, mas dava para ver os últimos raios. Respondi com olhar fixo no horizonte. “Sim, Fafá. Incrível que amanhã acontece tudo de novo, todos os dias, mas nunca igual”. Ela encostou o rosto no meu, com a mão no meu ombro e falou. “Só você, Carlos. A gente no maior sufoco e você vendo o por-do-sol”. “Desculpe se deixei você na mão, não me contive. É muita tentação para um poeta. Veja aquela nuvem longa, reta, parece uma trilha pra gente seguir e o sol está sumindo justamente atrás dela". Reparei que ela estava emocionada. “Não estou brigando com você. Estou enaltecendo você. Você é muito feliz, não é Carlos?”. Agora sim, olhando para ela, afirmei. “Sou sim, muito feliz. Sou otimista, sou forte. Nada me derruba. Sei do meu valor. Me acho bonito e inteligente. Todos os dias de manhã, escovando os dentes eu digo isso a mim no espelho.” Ela emendou. “Você é muito mais bonito do que imagina. Quando você me pede conselhos, eu que saio aconselhada. Você tem um jeito diferente de ser feliz. E olha que sei de suas barras". Respondi. “Desde pequeno fui privado de muitas coisas, então aprendi a ser feliz sem precisar de muitas coisas. Tenho sim minhas tristezas, mas tem gente que precisa de mim, não posso parecer fraco perante eles. Tenho meus sonhos também, eles não estão perdidos, só guardados, um dia eles vão acontecer. Um pelo menos eu já conquistei: ter muitos amigos. Se sou forte é por causa deles”. Deu mais um sorriso encerrando. “Vamos embora que a Kombi está esperando. Pelo jeito hoje vai ter poesia”. E teve mesmo. Escrevi...

OS TRILHOS
Vou andar por aí.
Passos firmes sobre os trilhos
fugir aos descarrilhos é minha meta,
sempre em vertical,
sempre em linha reta.
Vou viver o que couber
voar na altura que quiser
sintonizando razão e coração,
numa particular canção.
Nos caminhos que eu seguir,
espaços à amizade, um viva à liberdade.
Se houver amores, coroar de flores
e se brotarem feridas, ignorar as dores.
De riso fácil, de bom humor
que meu sorriso seja uma adorável epidemia
e que ninguém esteja vacinado contra a alegria.
Abrir cancelas que prendem a liberdade
ter o amor em sonhos,fazê-lo realidade.
Estar nas boas lembranças.
Ser um colunável dos corações,
ser talvez nessas andanças,
um portador de soluções,
levar as luzes coloridas do amor
ao breu das multidões.
Que a verdade seja meu dom,
extinguindo solidão e incertezas
com um toque de bruxo bom.
Mas, não quero ser um anjo
nem um líder dessa gente,
quero apenas ser um elo
entre os elos da corrente.

sábado, 9 de maio de 2009

NO DIA EM QUE EU SAÍ DE CASA

No Dia Em Que Eu Saí De Casa
Zezé Di Camargo E Luciano
Composição: Joel Marques

No dia em que eu saí de casa
Minha mãe me disse:
Filho, vem cá!
Passou a mão em meus cabelos
Olhou em meus olhos
Começou falar
Por onde você for eu sigo
Com meu pensamento
Sempre onde estiver
Em minhas orações
Eu vou pedir a Deus
Que ilumine os passos seus...

Eu sei que ela
Nunca compreendeu
Os meus motivos
De sair de lá
Mas ela sabe
Que depois que cresce
O filho vira passarinho
E quer voar...

Eu bem queria
Continuar ali
Mas o destino
Quis me contrariar
E o olhar
De minha mãe na porta
Eu deixei chorando
A me abençoar...

A minha mãe naquele dia
Me falou do mundo como ele é
Parece que ela conhecia
Cada pedra que eu iria
Por o pé
E sempre ao lado do meu pai
Da pequena cidade
Ela jamais saiu
Ela me disse assim:
Meu filho vá com Deus
Que este mundo inteiro é seu...

Eu sei que ela
Nunca compreendeu
Os meus motivos
De sair de lá
Mas ela sabe
Que depois que cresce
O filho vira passarinho
E quer voar...

Eu bem queria
Continuar ali
Mas o destino
Quis me contrariar
E o olhar
De minha mãe na porta
Eu deixei chorando
A me abençoar
E o olhar
De minha mãe na porta
Eu deixei chorando
A me abençoar
E o olhar
De minha mãe na porta
Eu deixei chorando
A me abençoar...

Essa música é tão antiga, que o próprio Zezé já cantava nas ruas, praças e mercados, quando criança,para levantar dinheiro. Mas com o tempo a identificação foi tanta com a dupla Zezé e Luciano, que acabou parecendo com a própria vida deles. Não é muito meu estilo musical, mas a música é linda. E tem muito a ver comigo também. Só que no meu caso, foi minha mãe quem precisou partir. Até escrevi QUARTOS DE PENSÃO (abaixo), meses depois em profunda depressão. Mas felizmente isso é um tempo que já passou e pude dar muito abraços em minha mãe na semana passada. FELIZ DIA DAS MÃES.

QUARTOS DE PENSÃO

Fim de tarde.
Por-do-sol covarde.
Eu, refugiado, escondido, aprisionado...
entre quatro paredes,
que mais parecem redes.
Que me prendem,não entendem
a minha carência, minha dependência.
Quartos de pensão são muito frios.
Blocos de cimentos insensíveis e vazios,
que não falam, nem escutam
o desabafo dos que lutam.
Apenas cantam a melodia do silêncio, triste demais
e desprezam os meus sonhos de rapaz.
Nem sabem das lembranças.
Do canteiro de esperanças.
Da infância, da minha meta.
Dos meus sonhos de poeta.
Meus amores, minhas flores .
Quatro paredes não entendem isso,
pois, são frias como Ipatinga...
essa mãe desnaturada sem alma e sem coração
que hoje me deixa órfão,
preso em quartos de pensão.

terça-feira, 5 de maio de 2009

ERA UM BOTÃOZINHO


( imagem orkutei.com )
Não sei quem estava mais ansioso.
A flor ou o beija-flor.
Ambos queriam se dar, se ter, se receber.
A flor até então era só um pequeno botão.
Sensível, amável.
O passarinho parecia sedento, insaciável,
mas soube tocar... com maestria, com poesia.
Não podia um lindo botão se machucar.
E assim, sem deixar de ser intenso,
sugou na medida certa.
E o botão que apenas sonhava
com um amor imenso, um grande desejo
depois daqueles beijos virou uma flor aberta.
O passarinho teve que partir no fim da tarde,
a vida infelizmente tem disso
e agora, no peito dos dois uma vontade arde.
Ele vai voltar.
Ele quer, a flor quer
e novamente vão se ter, se dar, se receber.
Amor a quem sabe dar amor.
Foi assim o primeiro encontro
do passarinho com a flor.

segunda-feira, 4 de maio de 2009

CERTOS PSEUDÔNIMOS

Essa foi uma das passagens mais engraçadas de minha vida.
Desde bem mocinho eu usava um certo pseudônimo que provocava risos. Sim, apesar de parecer pretensioso, as pessoas sabiam que eu não fazia por mal, que era só uma brincadeira. Não passava de um garoto carente, querendo chamar atenção.Gostava de muita gente à minha volta. Quantas vezes sentei-me no meio-fio de minha casa, com prato na mão, almoçando perto dos amigos. Às vezes quando chegava do trabalho já tinha gente me esperando. Lembro-me de eu explicando para alguns, as letras das músicas que ouvíamos na minha charmosa e excelente radiola que pegava rádios do Brasil todo. Por isso sabiam que eu apenas brincava quando me autoelogiava. Jamais fui egoísta ou pretensioso, apenas gostava de gente. Não sei como consegui ficar treze anos sem voltar à minha rua. Quando voltei foi uma festa. Andei chateado com a cidade, por isso fiquei tanto tempo. Cidade que amo. Só que essa história eu não vou contar.
Eu assinava de vez em quando nas provas como: ‘CARLOS SOARES, O BOM’. Certa professora da sexta série, Marli, já havia me avisado: “Muito bonitinho, mas isso pode te causar problemas um dia”. Não liguei muito, eu só queria saber de viver.
Mais crescido, já no primeiro ano, tive um professor de química. Gustavo era alto, gordo, careca. Sujeito bonachão, gozador, feliz com a vida, cooperava com os alunos adiando provas para a gente se preparar melhor. Toda sexta-feira, as duas últimas aulas eram dele e na penúltima, abria quinze minutos de piadas. Era uma festa. Dizia que era para descontrair da semana longa e dura. Ele era muito engraçado. Quando se aproximava o dia dos professores disse. “Não me venham com frescura de presentinho não. Paguem umas três rodadas de chopp para mim que é bem melhor”. A turma pagou mesmo. Era meio paizão também, gostava de dar conselhos à rapaziada. Em contrapartida, nas horas certas era durão. Detestava mentiras, dedo duro e gente conversando durante a explicação. Chegar atrasado, só para quem ele sabia que trabalhava. Namoricos, não perdoava. Dizia: Ô casal de pombinhos. Tem lugar melhor pra isso que na sala de aula”.
Pois um dia me perguntou: “Que palhaçada é essa desse pseudônimo?”. Eu ri. “É só brincadeira, professor”. E ele: “Pois pare, porque não quero. Você vai se dar mal uma hora com isso. Afinal, por que.. O BOM?”. Ironizei. “Ora, O BOM, já fala tudo. Sou o maior, o melhor entende? Não preciso dizer mais nada... sou simplesmente O BOM”. Ele quase riu, mas precisava manter a seriedade. “O recado está dado. Quem avisa amigo é. Você vai se lascar. Depois vá chorar na cama que é lugar quente”.
Para alunos que como eu, enrolam nos dois primeiros bimestres, o terceiro é fundamental. É preciso manter a média para não ter que comer livros no último. Eu andava sempre raspando pouco acima da média. Gustavo aplicou uma prova que valia trinta pontos. Na semana seguinte entrou na sala dizendo “Silêncio, cambada. O aluno que não receber a prova, me fale, que durante o recreio vejo nas outras turmas, posso ter misturado”. Chamou nome por nome, menos o meu. E perguntou. “Alguém não recebeu a prova?”. Levantei o dedo. “Qual seu nome?”, perguntou. Respondi pausado. “Carlos... Soares... de Oliveira”. Ele olhou, mexeu na papelada e disse. “Como eu disse, posso ter misturado com outras turmas, já já vejo no recreio”. Passei o recreio meio tenso, não que estivesse adivinhando, mas pela nota em si.Voltando à aula, perguntou de novo meu nome. “Realmente, não encontrei. Tem certeza que fez a prova?”. “Claro que tenho”, respondi preocupado. E ele emendou. “Posso ter deixado em casa, mas agora só semana que vem”. Acabei concordando, já que não tinha jeito. Passados uns cinco minutos, tornou a perguntar meu nome. E disse. “Com esse nome não, mas tem um nome estranho aqui, meio parecido, mas o seu termina com Oliveira. Encontrei ‘Carlos Soares, o bom”. Não, não é você”. Pus a mão na cabeça e fui andando ao encontro dele, dizendo “sou eu, sou eu”, mas com sinal de pare, disse. “Volte pro seu lugar. Não falei que ia se lascar? Falei que sua palhaçada ia te levar pro buraco, agora aguenta”. Fiquei em pé, perto da cadeira. “Mas é só uma brincadeira, professor, pelo amor de Deus”. Alguns amigos tentaram interceder. “Pôxa, professor. O cara é gente boa”. O outro gozador falou. “Gente boa mesmo, até me deu cola”. Falei pra ele entre os dentes. “Eu já estou sujo, você ainda fala isso”. Uma menina pediu. “Tadinho, ‘fessor. Ele é bonzinho”. Ele interrompeu logo. “Não adianta o fã clube pedir que não vai adiantar. Como vou mandar uma prova dessa pra secretaria? Isso é documento. Posso quebrar seu galho aplicando outra prova”. Sentei desolado, mão na testa, cabeça encostada na parede.Clima de velório na sala. Sinceramente quase chorei. Minha irmã havia conseguido uma bolsa de estudos com um vereador para mim na maior dificuldade e eu estava prestes a tomar bomba. Que vergonha! Ia dizer o quê para ela? Ia ter que comer livros no último bimestre.
Mais uns cinco minutos, me chamou na frente. Fui cabisbaixo, eu ficava envergonhado à toa. Ele levantou-se, deu a volta na mesa, me abraçou de lado, ombro a ombro e falou. “Era só uma brincadeira, seu bobão. Só queria dar um susto para você virar homem. Jamais eu faria isso. Você é um bom garoto. E muito querido, pelo que vi na reação da turma”. Mas que seja a última vez”. A turma toda aplaudiu, gritou, assobiou. E ele para encerrar. “Vocês querem saber de uma coisa? Depois dessa seção de ‘viadagem’, não estou mais afim de dar aula não. Vocês tem quinze minutos para zoar esse ‘oreiudo’. E pelo jeito não era tão bom, nem esperto assim, pois caiu direitinho”. Não percebi mesmo. Também não nasci com um pingo de astúcia. Não temia maldades. Achava que a vida era só uma festa.Continuo achando, mas já adquiri um pouco de astúcia, senão os leões engolem. Gustavo ainda me deu um cascudo leve quando virei as costas. E como zoaram. Mas não me importei, só queria comemorar meus dezoito pontinhos.
Já na saída do portão fui agradecer de novo e ele respondeu. “ Tudo bem. Lá nas suas poesias, você pode por o que quiser. ‘A bichinha indecisa’. ‘A mariposa alucinada’. Mas nas provas não”.
Depois disso usei vários pseudônimos, nas poesias claro. Fui ‘Passarinho aprendiz’... ‘Estrela’... ‘Só um poeta só’... ‘Fênix’.
Mas ando preferindo mesmo é o sonoro... CARLOS SOARES DE OLIVEIRA. Autenticidade é tudo. Essência é tudo.