ESCREVER É DIVINO!

ESCREVER É DIVINO!
BONS TEMPOS EM QUE A GENTE PODIA VOAR. ERA MUITO BOM SER PASSARINHO.

CAMINHOS DE UM POETA

CAMINHOS DE UM POETA
Como é bom, rejuvenescedor e incentivador para o poeta, poder olhar para trás e ver toda a sua caminhada literária, lembrar das dificuldades, dos incentivos e da falta deles, da solidão de ser poeta e do diferencial que é ser poeta. Olhar para trás e ver tudo que semeou, ver uma estrada florida de poesias, e dizer: VALEU A PENA! O poeta vai vivendo, ponteando, oscilando, e nem se dá conta da bela estrada que escreveu. Talvez ele não tenha tempo porque o horizonte o chama, e o seu norte é... escrever... escrever... escrever. Olho hoje para trás... não foi fácil, mas também ninguém disse que seria. E eu sabia que não seria, ser poeta não é fácil, embora seja lindo. Contemplo a estrada que eu fiz, e digo com orgulho quase narcisista: Puxa... como é linda minha estrada!

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

ENTRE A FLOR E O VULCÃO






(IMAGEM luisalavenere.blog.uol e baixaki.com.br)
Encante-se!
Levante-se!
Ecoe! Navegue! Entregue!
Voe! Soe!
Fale! Exale!
Exploda!
Seja plena, toda!
Veja as flores nos campos, as estrelas.
Emoções... por quê detê-las?
Tudo que desabrocha, que resplandece,
Que brilha, que aparece,
é lindo, é formoso
A simplicidade de uma flor que se abre
é tão intensa como um vulcão nervoso,
que jorra, que vai à forra
num mar de sensações, de lava
que lava os temores de nossos corações.
O fogo do vulcão é tão lindo!
O que parece ser assustador
muitas vezes pode ser o fogo do amor.... que vem vindo.
Então inflame, ame...
busque-me... chame.

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

RESPEITÁVEL PÚBLICO



Ah! O circo. O circo é uma das coisas mais espetaculares que o homem já criou. Nem sei como começou, um dia vou pesquisar. Gosto de saber dessas coisas. Ainda me lembro quando os carros passavam anunciando que o circo havia chegado. A molecada, inclusive eu, correndo atrás, para ver de perto o elefante, leão, macacos, dentro das jaulas. Aí era só esperar. Daí uma semana estava tudo armado. Algumas vezes eu gostava de ver os homens montando tudo, gostava de ver o esforço deles e pensava: “Que trabalhão! Eles devem gostar do que fazem. Montar e desmontar uma coisa desse tamanho não deve ser fácil”.
Dias antes de o show começar era um alvoroço. Os meninos dividiam as opiniões. Uns queriam ver os malucos do globo da morte em suas motocicletas. Outros queriam ver o elefante. O macaquinho que andava de bicicleta. A girafa. O mágico. De mágico nunca gostei muito, me passava impressão que estava me enganando. Acho que era porque eu fixava os olhos tentando descobrir o segredo, não conseguia e ficava com raiva.Mas eu gostava mesmo era do palhaço. A maquiagem já me encantava. Eu já vivia lendo estorinhas de heróis mascarados e via no palhaço mais um herói, só que sem armas ou espadas, mas com risos. Com piruetas e cambalhotas. Com piadas. No dia seguinte ele contava as mesmas piadas, mas a gente ria de novo. E assim porque eu já tinha cabecinha de poeta, via alguma tristeza, uma nostalgia por baixo da maquiagem, assim como os heróis dos quadrinhos, que não podem se revelar, até se apaixonam, mas precisam ficar em silêncio. Tinha vontade de falar pro homem-aranha: “Ô homem-aranha fala pra Mary Jane que você é o Peter Parker, o repórter atrapalhado e que a ama. Que atrás dessa máscara tem um homem comum que tem anseios e fraquezas, que ri, chora e sonha, salva a todos e se esquece de si mesmo”. Ou para o superman: “Para de disfarce superman. Fala pra Louis Lane, que você é o bobo do Clark Kent. Que esses músculos não são nada”. “E você Batman. Adianta tanto mistério e riqueza se é um solitário?”. Enfim eu via isso no palhaço e ficava me perguntando. “Como ele é na vida real. Será que tem filhos? Como é o rosto dele? Será que na vida real ele é feliz assim mesmo? Tem namorada? Gosta de futebol?”. Indagações de uma jovem cabecinha, mas só sei que simplesmente adorava. Minha mãe tinha que se virar para me dar dinheiro pra matinê. Um dia, para arrumar dinheiro, vendi tanto picolé que o dono até assustou quando cheguei na sorveteria com rosto todo vermelho de sol, camiseta no ombro, suor escorrendo e pedindo água. “Menino, sua mãe vai brigar comigo pensando que estou explorando vocês”. Pouco me importou, eu só queria ver o circo.
Não sou tão velho, estou numa de melhores fases de minha vida, aparentemente estou muito bem de saúde, mas sou de um tempo em que as crianças faziam seus próprios brinquedos. Eu mesmo fazia meus carrinhos de madeira. As bonecas das meninas não eram Barbies, eram de pano ou de cabelo de milho. Um tempo em que a gente brincava de pique. Tempo em que disputávamos queimada, meninos contra meninas. Tempo em que as pessoas se falavam nas esquinas. Sou o contra o progresso? Claro que não. Só que não precisamos ser escravos dele. Que bom que temos o celular, tv a cabo, carro, ipod, dvd e outros tantos recursos tecnológicos que facilitam sim a nossa vida. Não quero ficar preso à fita cassete ou ao vinil, mas também penso que automatizamos o mundo e fomos juntos com ele, robotizamos tudo, até a nós mesmos e não percebemos. Vivemos procurando alienígenas, seres estranhos no espaço e nós mesmos é que somos tão estranhos e alienados. O curioso é que tantas facilidades deveriam nos proporcionar mais tempo. E no entanto... cadê ele... o tempo?
Escrevi esse texto hoje, 19 de fevereiro de 2009 com dois propósitos:
Um... homenagear o primeiro palhaço negro do Brasil, que é de Minas Gerais, da cidade de Pará de Minas . Seu nome, Benjamim de Oliveira (1870/1954). É tema da escola de samba São Clemente, da divisão de acesso do Rio de Janeiro. Eu não sabia, vi anteontem, de madrugada, a reportagem e achei muito bonita a história. Além de pra lá de diferente é um exemplo de luta. Um palhaço negro. Não é demais?

Um pouco de história...
Benjamin Oliveira viveu no início do século XX. Ele levou o teatro para o picadeiro e é considerado o criador do circo-teatro brasileiro. Mauro Quintaes avisa que, por isso memso, o público pode esperar por um desfile teatralizado. Ele enxerga semelhanças entre o palhaço e a São Clemente.
- Assim como a escola, ele enfrentou dificuldades e preconceitos. Ele teve que se mascarar de branco para ser grande. Às vezes, a São Clemente também precisa se mascarar para ter uma outra aparência e poder crescer.
É. Pode ser.
(fonte O GLOBO)
( fonte das imagens: cifraantiga3.blogspot.com e africaeafricanidades.wordpress.com)

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

UM DIA DE ELVIS


Marcelo, desde que éramos crianças gostava muito de me desafiar. Ou era nas bolinhas de gude, ou no futebol, ou pra saber qual pipa ia mais alto. A minha perdia porque eu ficava mais maravilhado de vê-la no alto pra lá e pra cá enfeitando o céu, do que propriamente sumir nele. Assim como meus sonhos que gosto de ver no alto, mas controlados, sem perder de vista. Nada é mais belo que uma pipa no ar e os olhos de um menino brilhando. E o coração de um homem batendo.
Os desafios de Marcelo continuaram na adolescência e juventude. Era bom amigo. Ele mesmo se autodesafiava sempre. Porém um dia houve algo meio inusitado. Eu o aguardava terminar de se arrumar, vendo tv sentado no sofá de sua sala. De repente na reportagem mostraram cenas de Elvis Presley dançando eletricamente e eu comentei: “Como esse Elvis dançava! Dá vontade de dançar também. Não dá pra ver o Elvis dançar e ficar parado”. E ele riu: “Agora vai me dizer que dança igual ao Elvis”. “Claro que danço. Por que não? E bem”. Respondeu, aí sim , com gargalhada. “Ai, ai, eu ganho pouco, mas me divirto. Não me faça rir. Então se prepara que dia 30 vai ter o baile dos anos 60, quer apostar como você não dança?” Respondi : “Apostar não porque não gosto de apostas. Costuma a gente ganhar a aposta e perder o amigo”. “Sem problema”, disse ele. “Não é aposta. Se você imitar o Elvis eu te pago dez cervejas. Se não imitar, te zoar já vai ser bom demais. Agora vamos embora”.
Chegou enfim o dia. O clube se chamava Olímpico. Havia um outro, mas não gostávamos, tinha muito playboyzinho e as meninas do Olímpico eram mais divertidas. Ficava a uns 08 kilômetros do nosso bairro, mas fomos a pé, nada de carona ou ônibus. Aliás, fui eu que inventei isso. Falava para a turma que a pé era mais divertido”. Quando íamos de ônibus também era bom porque eu ia cantando na última cadeira do ônibus. O motorista que quase sempre era o mesmo, reclamava quando eu não ia. “O cantor não veio hoje?”. Todo mundo caracterizado, meninas de saias rodadas, rapazes com brilhantina no cabelo, olhares James Dean. Até eu que gostava de ser do contra. Já que ia imitar o rei do rock, precisei colocar uma calça branca mais justa, uma camisa também branca de gola levantada. Menos o cabelo, esse estava cuidadosamente enrolado. Eu passava uma hora ajeitando. O baile estava super legal. Os rock’s alegres dos anos 60. La Bamba, Bill Halley e seus Cometas. Beatles. Depois passaram pras baladas românticas dos 70. Como não dançar Do You wanna dance? Ou Massachussets, do Bee Gees. Ou San Francisco, de Scott Mackenzie, quase um bolero. Não vivi a época, mas cresci ouvindo. Eu gostava de dançar com a Rita, uma amiga negra muito divertida, que dançava muito bem e me ensinava passos novos. Vivia com a mão no meu ombro ou com o braço laçando minha cintura, como se fosse uma namorada. Eu brincava. “Tem um monte de gatinha olhando para mim, querendo se aproximar e você atrapalhando. Se quer namorar comigo fala logo”. Ela respondia. “Sabe o que acho bom em você, Carlos? É a sua modéstia”. A gente se gostava muito. Quando passou Jet'aime , uma música francesa de 1972, romântica, quase pornográfica, Verinha veio saltitante para meu lado; “Ah, Carlos. Dança essa comigo?”. Eu respondi na maior cara safada. “Verinha, não me leve a mal. Mas essa eu gostaria de dançar com uma estranha”. “Por quê estranha?”. Falei maliciosamente. “Porque é uma música pra dançar assim...”, fiz o gesto com as mãos, “ sarrando, esfregando, passando a mão”. Ela me deu um soco de mosquito no peito. “Ah, seu safado!”. E saiu. Mas foi só brincadeira. Sempre respeitei muito minhas amigas. Sempre me dei muito bem com as mulheres. Seja mãe, irmãs, amigas, sobrinhas. Gosto muito das mulheres. Quando tinha meus problemas era com elas, em qualquer época, com quem eu mais falava. Tive poucos amigos homens bons para isso. Mas eu era meio protetor delas também. Eu dava o carinho na medida exata de minha carência. De vez em quando, porque era tarde, acompanhava uma até em casa. Depois voltava sozinho. Os outros rapazes já tinham ido. Andava por ruas escuras por cinquenta minutos até meu bairro e de madrugada. Eu acreditava que jamais uma coisa ruim pudesse me acontecer. E continuo acreditando. Uma vez Martinha disse: “Você não existe”. O engraçado é que elas ficavam torcendo pra eu não arranjar namorada, porque não queriam me “perder”, expressão delas. Eu falava: “Vocês são mui amigas. Preciso de uma namorada”. Uma falou brincando: “Eu posso namorar com você, aí você fica no meio da gente. E eu sempre com piadinhas disse: “E você acha que eu ia ficar com você no meio desse bolo de gente? Ia levar pros escurinhos, escondidinho”. “Credo, Carlos. Você só pensa naquilo”. Arrependido e com pena da Verinha, procurei-a para dançar. Ela não quis. “Eu não. Você disse que vai fazer aquilo”. Coloquei a mão na cabeça. “Ai, meu Deus do céu. Era brincadeira. Vem, vamos dançar”. Ela que era muito bobinha e tímida virou o rosto. “Quero mais não”. Era a pureza da turma. Concordei enfim. “Mas não está com raiva, né?”. Ela riu: “Claro que não, bobão”.
Chegou a hora do Elvis. Comecei a dançar. Deve ter sido uns quinze minutos sem parar, sempre de olhos fechados. Só ouvia vozes, uns gritando, outros rindo. Num certo momento, abri os olhos, e o que vi? Um círculo enorme de pessoas à minha volta, eu sozinho no centro do salão, requebrando meus quadris magros. Claro que não podia parar e continuei até a última música. Foi um agito geral quando terminou. Então chegou Marcelo. “Você mereceu as dez cervejas. Quer tomar agora?”. “Eu não. Está louco? Já tomei muita porradinha hoje”. Porradinha, a gente fazia com vodka ou cachaça, dependendo do bolso e do gosto de cada um, misturada com soda limonada, tampava o copo com a mão e batia forte na coxa. Fervia e a gente tomava. Quase sempre molhava a roupa e subia rápido para a cabeça. Um dia, Salvador, olhem o nome do cara. De Salvador não tinha nada, me disse que uma amiga dele comentou. “Esse seu amigo é doidão, hein? Ele fuma o quê?”. E ele: “Fuma nada não ( não mesmo, graças a Deus, nem cigarro). É doido de natureza”.
Estive meses atrás com Rita em Ipatinga, hoje já é senhora, mãe, gerente de uma perfumaria. Os olhos dela brilharam ao relembrar aqueles tempos, em que nos divertíamos sem dinheiro. Quando ia saindo, me perguntou. “E você, já tomou juízo? Respondi: “Procurei na farmácia pra tomar, mas não achei”. Ela balançou a cabeça: “As mesmas respostas enroladas”. Mas tomei juízo sim... aliás, eu já tinha, fazia mais era gracinha para ver as pessoas rirem. Eu gostava um pouco de ser estrela. Por isso me concentrei tanto para viver... o meu inesquecível dia de ELVIS.

Marcelo está muito bem hoje na Austrália. De vez em quando me liga e a gente fica recordando algumas aprontações do bem que fazíamos... essa foi uma delas. Mandei um quadro com um poema meu "AQUELA RUA".Ele disse que está na parede e se sente dentro do poema, porque ele fala exatamente de nossa rua. Das pipas, das bolinhas de gude e dos sonhos.

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

GATOS ESCALDADOS

Como chovia! Parecia que ia arrasar o mundo. Só que ele não ligava muito. Andava na chuva despreocupado. Um pouco com pressa sim, mais pelo horário. Não queria chegar atrasado ao show de rock. Avenidas alagadas. Rajadas de vento e trovões. Nada o intimidava. De repente uma garota atravessou a avenida com sapatos na mão, correndo, linadamente molhada e falando alto. “Ei, ei. Você sabe onde tem táxi por aqui?”. Ele também teve que gritar, o barulho da chuva era demais. “Aqui perto tem não garota. Mas ali tem ponto de ônibus”. Ela completou. “Mas pra onde vou não adianta muito o ônibus, vou pro show, chega lá tenho que andar mais”. E ele. “Eu também estou indo e vou a pé e do jeito que nós estamos não adianta muito mais chamar táxi. Vamos andando. A gente vai conversando”. Ela concordou. “Quer saber? Você está certo. Eu só não queria ir sozinha nessa chuvarada”. “Legal”, disse ele. “Só vou parar no bar ali e comprar alguma bebida quente. “Oba! Aí gostei porque está um frio danado”. Comprou e foram andando. À medida que a chuva ia passando podiam conversar melhor. Andaram ainda uma meia hora e nesse tempo, perguntas normais e formais como:”Onde mora?”“.Qual seu nome ““.Trabalha em quê?”. Sempre no bico da garrafa e passando à mão do outro.
O show nem tanto foi bom. O cantor parecia muito bêbado e drogado e não saiu muita coisa, mas para quem é fã, tudo vale. Na saída, já com a chuva bem fininha ele disse a ela apontando para um táxi parado. “Aqui tem táxi”. Ela recusou: “Ah, não. Foi muito divertido vir a pé. A gente pode conversar mais”. O taxista ouviu e disse: “Leve meu cartão, pode precisar um dia”. O rapaz quase sem ver guardou no bolso o cartão. E seguiram. Agora mais lentos. O show acabou. Chuva quase nada. Noite gostosa. Entre tantas perguntas formais, outras nem tanto, ele disse numa forma despistada de saber se ela era livre: “Você é muito bonita para estar indo ao show sozinha. Cadê o namorado?”. “Não tenho mais. Terminamos há uns cinco meses”. Ele investiu. “E quem é o maluco de deixar uma menina bonita?”. “Fui eu que não quis. O cara nem me beijava. Mulher gosta de ser tocada”. E emendou devolvendo a pergunta. “Você também é bonito para estar sozinho. Não tem namorada?”. “Não”. “Que “não” mais seco!”, exclamou a moça. “Ele respondeu ainda seco”.Cachorro mordido de cobra tem medo até de lingüiça. E gato escaldado tem medo de água fria”. Por enquanto não quero. Estou mais para aventuras, mas não ando procurando também. Só se for mesmo alguém muito diferente para eu entrar nessa de novo e não estou com pressa. Amor é bom, mas mete medo”. Segundos de silêncio. A moça foi mais atrevida... ou curiosa. “Vocês transavam?”. Ele disse. “Não. Apenas ficávamos na intimidade quase total, muita carícia mesmo, mas nada de penetrações e talvez tenha sido meu erro. Dei flores demais, levei bombons demais. Telefonei demais. Como você disse, mulher gosta de ser tocada e pode ter faltado algo a mais na hora da intimidade”. Ela perguntou. “Ela era virgem?”. “Sim e eu respeitava isso. Mas eu achava gostoso assim mesmo porque era com amor. Tinha maior cuidado com ela” .“Que diferença e que ironia. Você perdeu porque deu carinho demais e eu reclamando porque não tive. Eu daria tudo para ter um homem assim. Mais emoção e carinho. Mais conversa. Quando falei “ tocada”, era mais nesse sentido. Meu namorado só queria saber de ir direto ao ponto final e eu ficava sempre com uma impressão de carência, de ter sido usada. Não se culpe de nada. Você fez o certo. E digo mais. Ela, já que era virgem, não acho que tenha ficado com sensação de faltar um algo mais. Ela deve ter encontrado um homem muito legal que era você e se assustou, e viu que não saberia cuidar. Pode crer, é por ai”. “Obrigado por suas palavras, amiga estranha. Agora não muito mais estranha”. “Estou no 3º ano de psicologia e tenho tino para perceber quando as pessoas são sinceras, além de instinto de mulher. Você não me parece uma pessoa ruim. Mas também não podemos tirar o direito dela de escolha, não é mesmo?”. “Claro, claro. Por isso eu disse que não quero mais tão cedo porque eu não sei amar diferente, só sei ser assim. E amor pela metade não dá. Às vezes penso que nunca mais vou querer mais ninguém”. “Ah, não”, ela discordou. “Aí não concordo e também não acho que você vai matar dentro de você uma capacidade tão grande de amar. Seria como morrer aos poucos. A gente pode perder as pessoas, não a capacidade de amar”. O rapaz ficou impressionado com a inteligência, sensibilidade e boa cabeça da moça e retribuiu o apoio moral. “Então lhe digo o mesmo. Você é uma garota moderna, mas romântica, sabe das coisas e quer ser feliz. E vai ser, porque você procura, quem procura acha. Com certeza vai encontrar um rapaz ao nível que merece, carinhoso, atencioso”. Ela respondeu. “É, concordo. Por acaso hoje eu encontrei você e gostei muito.Você é muito amigo”.
O assunto foi aos poucos se esgotando dadas tantas perguntas, umas bem íntimas, outras curiosas. Às vezes variavam e voltavam ao início.
Vendo que o local onde se encontraram na ida já tinha passado, ela perguntou. “Você não vai pra casa?”. Ele disse. “Não, vou acompanhar você até a sua. O papo está muito gostoso, inspirador e diria... até sexual”, e riu. “Oh, quanta honra! Obrigadíssima! Viu? Homem bom é isso. Eu também estou adorando esse papo inspirador e até sexual”, e riu também.
Andaram ainda uns cinco quarteirões. Chegaram frente a uma casa grande, quase escondida pelas flores, tudo apagado. Ela disse. “É aqui que me escondo, literalmente. Minha mãe adora flores, ama esse jardim”. Ela em cima do meio-fio, ele no asfalto olhando para ela disse contemplando sua beleza tendo como moldura , as flores do imenso jardim. “Você precisa ir agora? Amanhã é domingo. Fica mais”. Ela pensou, pensou. “Hummm... só porque você veio me trazer fico um pouco com você está bem? Vamos sentar no meio-fio, mas está molhado. Ah, não tem problema, uma noite tão gostosa dessa e vamos molhar o que mais?”.
Sentaram-se e falaram de tudo. Inclusive se acreditavam em amor à primeira vista. Ela disse que sim, mas acredita em engano à primeira vista também. Já ele também disse que sim, pois é no primeiro contato visual que a química acontece. Claro que o conhecimento vem depois. Ele pediu desculpas por perguntar a idade dela, não era muito gentil perguntar isso a uma mulher. Ela disse: “Isso não é uma pergunta indiscreta, é normal, isso é tabu que as pessoas inventam, como, mulher não paga a conta. Mulher é fragilzinha. Mulher não pode cantar homem. Acho isso tudo um saco. Tenho vinte e dois anos. Quer saber mais? Pergunte o que quiser”. Estando mais à vontade ele perguntou no embalo. “E você já cantou ou cantaria um homem?”. A moça pensou e respondeu. “Claro, não com banalização, que isso também não gosto. Mas encontrando um homem bonito, interessante, me insinuo mesmo, senão como ele vai saber que o quero?”.
O rapaz ficou calado por minutos, tentando encontrar um meio de dizer o que estava entalado. Até que ousou, afinal era uma menina moderna, embora sabendo do risco de ofendê-la. “E a mim, você cantaria? Tudo que você disse agora combinou com o que você mesma disse sobre mim ainda no início de nosso papo. Você sem querer me elogiou”. A menina se calou por longos minutos, não longos pelo tempo em si, mas longos pela ansiedade que a pergunta gerou no próprio rapaz que a fez. Sentados lado a lado no meio-fio ela olhou pra ele, cabelos cobrindo um lado do rosto e disse com charme e sedução. “Você está me cantando, seu malandrinho?”. Fitando seus lábios ele respondeu. “Sim”. Se olharam... e se beijaram... suavemente. Depois loucamente. Gulosamente. Repetidamente. De rostos colados, ela disse. “Acho que vamos precisar de um táxi”. Ela mesma tirou do bolso dele o cartão do taxista e riram muito juntos. Correram rápido a um telefone público... e fizeram amor até oito horas da manhã.
Encontraram-se ainda mais algumas vezes e com o tempo foram parando. Talvez porque eram dois gatos escaldados e o amor é bom... mas mete medo.

HOMENS


Homens fazem a história
com vergonha ou com glória
com sangue e paz.
Meio Criador,meio criatura.
Presa e predador.
Guerra e amor.
Acima de tudo sonhadores.
E jogando a moeda do cara e coroa,
do bem e do mal...
veja tudo que eles fazem:

Adão
Caim
Pilatos
Guevara
Napoleão
Lennon
Raul Seixas
Mozart
Nero
Bush
Saddam
Salomão
Evita
Gandhi
Hitler
Judas
Tiradentes
Jesus Cristo…

...e entre eles por que não?...Carlos.

Lá vão eles mundo afora
desde os tempos de outrora
semeando bombas e amores
colhendo feridas e flores.
Compondo sua história,
fortes e fracos,
mas,ainda não sabem dizer
se são homo sapiens ou simples macacos

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

ERA UM DIA COMO OUTRO QUALQUER

Era um dia como outro qualquer. Tudo estava no seu lugar. O asfalto, as árvores. Ainda dava para ver alguns passarinhos e borboletas no ar, apesar da fumaça. As pessoas cumpriam a rotina, andando pra lá e pra cá, em busca de não sei o quê. Buzinas e vozes se confundiam. Carrões e mendigos se distinguiam. O luxo e o lixo dividindo a mesma calçada. Nas lojas, liquidações. Nas ruas, a vida também parecia não valer muito. De um lado um arranha-céu imponente zombava do barraco do outro lado na favela quase tão alto quanto o edifício. Shopping center lotado. Os botecos também. Num só cenário, o trem e o avião. Gente chegando, gente partindo. Gente chorando, gente sorrindo. Gente amando, gente sozinha. O seguro que garante o carrão do doutor, o gás que acaba na hora do almoço preocupando a dona de casa que espera o seu amor. Rimei sem querer. Mania de poeta ou intuição sei lá. Tudo isso colorindo e compondo uma selva de concreto, uma selva de contrastes. Uma selva de um animal frio e estranho chamado homo sapiens. É... a lei da selva é dura. Quem tem a boca maior engole o outro. E domingo vão à igreja rezar. No fim do ano trocam até presentes.
De repente, um rapaz, magro, claro, cabelos enrolados (qualquer semelhança com o autor é mera coincidência), se destacou naquela mesmice selvagem, subindo num pequeno palanque que improvisara. Trajava roupas simples, palavras simples também... e ideias estranhas. Tinha nas mãos um megafone e no peito uma vontade de gritar. Nos olhos parecia carregar um sonho, um brilho diferente. Chamou a todos de irmãos, pedindo atenção aos transeuntes, conseguindo aos poucos reunir um grupo de curiosos à sua volta. E falou muito. Forte e alto. Falou da igualdade entre os homens tão lindamente estabelecida por uma tal de ONU e tão tristemente esquecida pela mesma. Lembrou Luther King e Gandhi. Mas lembrou Hitler também. Citou os heróis como Tiradentes e os covardes também. Mas frisou, não precisamos mais de heróis, precisamos apenas que cada um faça a sua parte. Mandou ver as coisas simples, onde habitam Deus e a felicidade. Mirar o sol, as estrelas, o ar e sentir DEUS. Pediu respeito às crianças. Mandou desligar somente por um dia as antenas parabólicas e ligar as antenas do coração, da sensibilidade. Que as peles são diferentes, mas todo sangue é vermelho. Que pessoas nasceram para brilhar e que o mendigo deitado na esquina é apenas um sintoma de que a sociedade faliu, perdeu para si mesma. Que a paz precisa sair dos slogans e ir direto pro coração, célula-mãe de toda uma sociedade. Que o segredo está no domínio do ego. Falou que a guerra é uma burrice e quem pensa ter vencido também fracassou. Não há paz real se não for geral. E falou, falou e falou... mais e mais. Até ficar rouco.
E tudo permaneceu no seu lugar. O asfalto, as árvores. Os carrões e os mendigos. O shopping estava intacto. O barraco talvez não, porque o barraco morre um pouco a cada dia. Enfim, pessoas "rotinando". Tudo igual.
Ele???
Meia hora depois, estava numa camisa de força, trancado num hospicio.
Acharam mais fácil.

NOTA: A narrativa é fictícia, mas a intenção é real. ( ê juventude! )

domingo, 8 de fevereiro de 2009

O FIM DO DON JUAN

Don Juan era um sujeito galanteador, conquistador
parecia um beija-flor
beijava aqui, beijava ali... sem olhar a quem.
Mas todo predador, tem seu dia de presa também.
Foi quando avistou na janela uma linda donzela
e ficou enamorado.
Quem diria,
o grande conquistador, acabou conquistado.
Desde então, Don Juan
não acorda uma só manhã sem pensar nela
e todos os seus galanteios e versos
dentre todas do universo
são somente para ela.

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

QUE MALDADE!


O sapo está tranquilo lá no seu habitat. Despreocupado comendo bichinhos, na beira da lagoa. De vez em quando um coaxar desinteressado, só de rotina mesmo. Porém ele não sabe que esse silêncio inquietante guarda um perigo. A serpente sorrateira, espreita entre as folhagens. Maliciosa e delicada ela evolui entre a plantação, até ficar à meia distância dele.
No primeiro instante ele se assusta, mas mantém uma aparente calma porque ela parece estar longe. Ele pensa que dá tempo de correr. E nessa expectativa de vigiar os movimentos dela, eles se fitam diretamente nos olhos. Ele tenta desviar o olhar... e até consegue. Mas uma tentação, uma atração maior faz com que olhe de novo. Essa indecisão, esse vacilo se repete várias vezes. Olha e não olha. Olha de novo... e vai ficando... ficando... ligado... hipnotizado... magnetizado. O olhar da cobra ganha mais força, mais energia, mais poder sobre a vítima. Com os olhos ela fala... veeeem ... veeeem... veeeem. O sapo não percebe que dá um passo para trás e dois para a frente. Ele não quer ir... mas vai... aos poucos... cair na armadilha sedutora. Duas lágrimas caem de seus olhos pois começa a sentir que não tem mais jeito. Que vontade de voltar! Mas como, se agora não é mais dono de si? E continua evoluindo para a tragédia. Um passo para trás e dois para a frente. O olhar da cobra toma traços quase diabólicos, rindo sarcasticamente da tola vítima. Veeem... veeem. De repente... craaau!!! O sapo é engolido. Lutou, mas não conseguiu.
É mais ou menos desse jeito quando a gente não quer amar uma pessoa... e acaba caindo.

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

AMOR POR INTEIRO

Amor é bom quando é inteiro, parceiro.
Pleno, mútuo. Dinâmico, visceral.
Sem limites e restrições.
Revestido de emoção.
Amor pela metade, não é felicidade, é ilusão.
Amor é querer toda hora.
É não querer ir embora.
É dizer mais sim do que não.
Amor, é ficar bobo na frente do espelho
se barbear pensando que é a mão dela.
E ela por sua vez, também retoca o batom
e vai sonhar na janela.
Amor assim que é bom.
Se tornar adolescente novamente.
Sorrir como num parque de diversões,
sonhar o mesmo sonho todos os dias
repetir as mesmas declarações.
É chamá-la de menina e ser chamado de menino também.
É ser fera e cordeiro nos braços dela.
Dormir pensando no novo dia que vem.

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

COMO DIRIA DYLAN -ZE GERALDO

Hei você que tem de 8 a 80 anos
Não fique aí perdido como ave
sem destino
Pouco importa a ousadia dos seus planos
Eles podem vir da vivência de um ancião
ou da inocência de um menino
O importante é você crer
na juventude que existe dentro de você
Meu amigo meu compadre meu irmão
Escreva sua história pelas suas próprias mãos
Nunca deixe se levar por falsos líderes
Todos eles se intitulam porta vozes da razão
Pouco importa o seu tráfico de influências
Pois os compromissos assumidos quase sempre ganham
subdimensão
O importante é você ver o grande líder que existe dentro
de você
Meu amigo meu compadre meu irmão
Escreva sua história pelas suas próprias mãos

Não se deixe intimidar pela violência
O poder da sua mente é toda sua fortaleza
Pouco importa esse aparato bélico universal
Toda força bruta representa nada mais do que um sintoma
de fraqueza.
O importante é você crer nessa força incrível que existe
dentro de você
Meu amigo meu compadre meu irmão
Escreva sua história pelas suas próprias mãos.

SEMENTE DE TUDO -ZE GERALDO

Eu sou o atalho de todas as grandes estradas por onde passei
Das vilas e pequenas cidades por onde andei
Heranças de casos passados, migalhas do pão consumido
Eu sou a metade de tudo o que você tem sido
Nas ruas no sol de dezembro eu sou o farol e a contra-mão
Da flor que carregas no peito, um simples botão
Sou parte maior desse germe, que prolifera e contamina
Querendo construir morada em você menina
Doce menina (2X)
Eu sou uma parte do pó
Que compõe a estrada de terra
Você é água cristalina lá do pé da serra
Lembranças de noites vividas, num albergue pensão hotel
Mostrando um caminho seguro,
Um jeito de céu
Eu sou uma parte da noite que entra no dia no alvorecer (2X)
Você é a semente de tudo
Eu vivo a partir de voce